Samantha escrita por Mirella1995


Capítulo 2
Capítulo 2 - Lembra-se disso Sam?


Notas iniciais do capítulo

Não é porque são grandes amigos que o respeito diminui. Pelo contrário, o respeito aumenta. E é por isso que não se abre a geladeira do outros.



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A discussão já havia terminado há um bom tempo, e Samantha estava cortando legumes para uma sopa. A campainha tocou, mas ela já sabia quem era, e até hoje não entendia porque Taylor ainda tocava-a, sendo que eram praticamente irmãs e uma vivia na casa da outra. Mas tudo bem, digamos. Não é porque são praticamente irmãs que o respeito diminui. Pelo contrário, o respeito aumenta, e era por isso que Taylor tocava a campainha; A final de contas, não era a casa dela.

Samantha nem se quer largou a faca e parou de cortar os pepinos. A bancada ficava bem perto da porta, então, ela só precisou falar: 'Entre, Taylor'.

Com um ar de não muita surpresa, por saber que era ela, Taylor disse:

- Nossa, como sabia? - enquanto abria e fechava a porta.

- Ora, eu chutei. Se não fosse você, quem estivesse do outro lado provavelmente não entenderia quando eu falasse ' Entre, Taylor'. E eu já estava te esperando.

- Argumentos aceitos - disse Tay, com um risinho suave pelo canto da boca, enquanto acomodava sua mochila cheia de roupas e livros no canto da sala - Quer que eu te ajude a cortar os legumes? - perguntou com vontade de ajudar, como costumava ser.

- Ahh, sim, eu quero. Faltam poucos. Eu vou lá em cima pegar o rádio, daí nós podemos dar uma de loucas - completou Samantha, rindo e se divertindo com sua velha e melhor amiga.

Elas riam como duas crianças aprontando uma nova arte.

Taylor subiu as magas da blusa, prendeu o cabelo e começou a cortar os últimos dois pepinos. Não demorou um minuto, e ela já podia ouvir os passos apressados de Samantha descendo as escadas. Ela conseguia até imaginar a cena: Samantha estaria com o rádio em uma das mãos, e milhares de CD's embaixo de um braço, e como sempre, com seu CD favorito na boca. Era uma coisa mais dançante, e as duas soltavam a franga com aquelas músicas. Quando Tay virou-se, avistou a mesma cena que tantas vezes via, mas que sempre a vazia rir. Samantha já tinha feito isso tanto, que não deixava nem um CD sequer cair ao chão. Uma verdadeira porfissional de carregar discos.

- E ai já pediu o rango? – disse Tay que estava morrendo de fome, colocando os pedaços cortados de pepino dentro do resto da sopa – eu não comi quase nada hoje. Minha mãe resolveu ter uma crise existencial e não fez as compras! Não tem comida na minha casa, e aquela doida deve estar trancada no quarto chorando até agora. E meu pai nem deve ter chegado ainda. O jeito foi ficar com fome e esperar até dar a hora de vir para cá.

- Mas por que você não veio para cá antes?! – exclamou Samantha, como a boa amiga que era, ainda com o CD na boca, ajeitando o rádio e discos em cima da bancada.

- Eu não queria dar uma de morta de fome, não é Samantha! – riu Taylor – Mas, e ai, você pediu o rango? – reforçou à pedido de sua barriga ‘roncadora’.

- A sim, já pedi. Pedi tudo. E quando eu digo tudo, quero dizer tudo mesmo. Só não pedi o restaurante inteiro porque não sabia que você também estava com fome – ironizou com seu jeitinho simples de ser – E você sabe como minha mãe ‘adora’ comida japonesa. Ficou olhando para mim como se eu fosse um Alien enquanto pedia pelo telefone.

- É sim. Eu percebi. Foi fácil porque todas as vezes que nós pedimos, ela faz alguma outra coisa para comer. E vivendo todos esses 17 anos com você deu para notar que vocês duas têm gostos bem diferentes... Lembra sua festa de 15 anos, quando ela queria tudo rosa e florido, e você acabou com a felicidade dela escolhendo uma decoração pesada e decidiu que seria uma festa de Dia das Bruxas? – enfatizou Taylor, lembrando-se dos velhos tempos.

- Ahh, claro, como iria esquecer a melhor festa da minha vida? Eu sempre quis fugir de tudo que é muito tradicional, você sabe bem disso. Bom, mas voltando. Como ela não gosta desse tipo de comida eu resolvi fazer uma sopa para ela. Assim ela não precisa vir à cozinha, não precisa nem ficar na cozinha, e muito menos ficar nos monitorando... Sabe o que isso significa? – perguntou com um sorriso de criança arteira.

- Cupcakes! – energizou Tay como uma criança quando descobre que seu presente de natal é um cachorrinho.

- Em cheio! Olhe aqui – Samantha tirou do bolso esquerdo da calça um papelzinho meio velho e desgastado – Eu encontrei nas coisas do meu pai. Passei o dia no porão lembrando-me de como a gente se divertia fazendo isso. É a receita especial de cupcakes dele. E depois de chorar rios de lágrimas lembrando, minha mãe começou a tentar fazer minha cabeça para irmos à casa de veraneio.

- E você vai? – perguntou Taylor, preocupada.

- Sim. Uma semana. Demorei mas eu acabei aceitando. Afinal, para onde iríamos? Mas não se preocupe. Nós só vamos amanhã, e agora eu tenho a noite inteira para ficar com você!

As duas se abraçaram agradecendo em silêncio por ainda estarem juntas depois de tanto tempo. Sabe aquele abraço apertado de duas irmãs que não se viam faz um ano? Igualzinho.

- Bom, então vamos ver o que tem nessa receita! – sugeriu Taylor.

- Bem, aqui diz:

  • 70 g de manteiga
  • 200 g de açúcar
  • 1 colher chá de açúcar com baunilha
  • 1 ovo
  • 210 ml de leite
  • 1 colher chá de vinagre
  • 2 colheres chá de fermento em pó
  • 1 colher chá de sal
  • 80 g de chocolate amargo em pó ou 100 g de chocolate meio amargo derretido
  • 75 g de flocos de chocolate
  • Já separei todos os ingredientes antes mesmo que chegasse, então, mãos à obra porque vai ser uma lambança total!

    As duas colocaram o CD da Britney Spears para tocar e não demorou nem dez minutos para a sopa ficar pronta. Mas isso foi tempo suficiente para o furacão Samantha & Taylor passarem pela cozinha inteira. Sam foi levar a sopa para sua mãe que estava assistindo Dr. House sem parar, enfurnada no sofá do quarto por sabe-se lá Deus quantas horas. Ela agradeceu e pediu que abaixassem o volume, pois estava de se estourar os tímpanos.

    Realmente.

    Estava alto.

    Alto mesmo.

    Quando voltou à cozinha foi que a bagunça geral realmente começou. Voava farinha de trigo para todos os lados, enquanto acontecia um concurso de Dança da Galinha em cima da mesa. Samantha sem querer deixou escorregar a batedeira e lá se foi massa de chocolate em todo o cabelo de Tay. Ela ficou brava.

    Pra valer.

    Mas não parou por ai não. Ainda teve uma guerra de ovos e Taylor não acertou nenhum sequer. E adivinhe qual era o alvo dela? Não, não era Samantha, era um balde que estava do outro lado da casa praticamente. Mas infelizmente, o alvo de Sam ERA a Taylor. E ela acertou todos os cinco ovos... na nuca.

    Não demorou muito para que terminassem e colocassem para assar. Quando se deram conta de que a cozinha estava de pernas pro ar, ainda lhes restava energia de sobra para limpar tudo com o maior estilo: ao som de ‘Baby One More Time’. Tudo bem que a vassoura escapava algumas vezes da mão, mas era um ótimo microfone. De repente, ouviram o barulho de moto. Era a comida japonesa.

    As duas estavam em estado de calamidade. Brancas de farinha da cabeça aos pés e cheirando a ovo estragado. Foi como aquelas maratonas em que se passa o bastão. Samantha foi correndo pegar o dinheiro, que estava no andar de cima, em seu quarto, enquanto Taylor tentava se espanar e disfarçar um pouco a sujeira. E lá vinha Sam descendo as escadas. Ela passou o cheque para Tay, que abriu a porta, desesperada, pois estava morrendo de fome, como um leão preso por um mês sem nenhum bifinho sequer. Ela pagou o carinha e voltou para dentro com uma montanha de comida. Realmente, Samantha havia pedido ‘tudo’.

    Foi o tempo de ela fechar a porta novamente e aconchegar o ‘jantar dos Deuses’ como dizia na bancada, e ouviu-se o ‘pim’. Os cupcakes estavam prontos.

    Elas de sentaram no chão da sala, amarraram um pano no pescoço, e começaram. Tay preferiu as bananas carameladas primeiro, porém Sam nunca substituía seu velho e bom gyosa.

    As duas comeram como rainhas ao longo da note inteira, e quando sentiram que estavam prestes a explodir – o que para uma pessoa normal é o sinal de que se está na hora de parar de comer, porém, como devem ter percebido, elas não são normais -, era a hora de nada mais e nada menos do que a sobremesa!

    Elas experimentaram com receito de os cupcakes estarem ruins, mas a velha receita do pai de Samantha nunca falha. Estavam ótimos! Um pouco queimadinhos, mas ótimos!

    Ficaram ali, paradas e sentadas por umas duas horas, passando mal de tanto que comeram. Mas já se sentiam bem o suficiente para ler uma boa história antes de dormir. Taylor pegou sua mochila, que ainda estava intacta no mesmo lugar onde a deixou, e subiram para o quarto. Sam puxou a cama duplex e afofou o travesseiro. Tudo já estava no jeito já que Tay sempre dormia lá. Elas sentaram na cama, uma do lado da outra, e de repente sentiram uma ‘saudade instantânea’.

    - Eu nem acredito que só vou te ver daqui uma semana, Sam – entristeceu Tay, pois pensava que pela primeira vez desde que se conheceram passariam o verão inteiro juntas. Pensando bem, uma semana não é o fim do mundo, porém nessas horas quem manda não é a razão, é o drama.

    - Ora, o que é isso. Pensa que só para você será difícil? Também sentirei sua falta. Você é a única louca que tem loucuras parecidas com as minhas – disse Sam entre risos.

    - E foi por isso que eu trouxe uma coisa muito especial para lermos hoje! – exclamou entusiasmada para falar o que era.

    - O que você trouxe Sam? Mostra?

    - Claro. Você se lembra daquele livro estranho que encontramos na biblioteca da cidade quando éramos pequenas, e depois ele sumiu e nunca mais encontramos?

    - Sim, eu lembro! Não me diga que encontrou novamente?

    - Pois é. Eu encontrei. E o encontrei no mesmo lugar em que encontramos da primeira vez. Estou doida para ler de novo. Eu nem abri. Estava esperando para abrirmos juntas.

    - Bom, então vamos, eu também estou doida para ler!

    Elas sentaram-se e acomodaram-se no chão para lerem o tal livro bem confortáveis. Sam abriu-o e de repente começou a garoar suavemente, e um brisa meio fria soprou em seus cabelos. Nada que não a fizesse sentir ainda mais vontade de lê-lo.

    ‘A Terra dos Sonhos’

    Autor desconhecido

    Há muito tempo atrás, em um velho reino regido por um ambicioso rei, que andava descontete, pois seus companheiros não aceitavam que o enforcamento ainda fosse uma forma de pena, existia um mago extraordinário, por assim dizer.

    Um dia, quando as nuvens traziam magia negra consigo, o rei foi fazer uma visita ao tal mago, e pediu-lhe que enfeitiçasse a mente de seus companheiros para fazê-los mudar de idéia e aceitar o enforcamento.

    Ele pensava que matando as pessoas por seus atos errados, faria com que a sociedade o temesse, e assim, poderia mandar e desmandar sem muitos esforços.

    O mago aceitou, pois contrário a isso, seria morto na mesma fração de segundos. Se não pelo próprio rei, pelos cinqüenta homens que estavam armados junto dele. Assim sendo, o mago começou a entrar na cabeça dos tais ‘companheiros’ com vozes de pessoas conhecidas e confiadas por eles. Come suas mães, esposas, ou filhos.

    Porém eles eram muitos, e o mago sozinho não estava dando conta. Foi então que ele resolveu que estava na hora de colocar seu projeto, o qual demorou sua vida toda para desenvolver, em prática.

    Resumindo seu projeto, nada mais e nada menos era que uma dimensão nova. Lá ele criaria seres mágicos, os quais chamava de Fazedores de Sonhos. Esses seres eram encarregados de fazer pequenas encenações. Podendo trocar de forma, e ficar parecidos com qualquer pessoa. Esse teatrinho, então, seria ligado diretamente com a mente dos companheiros do rei, e quando eles dormissem, teriam visões, como se estivessem assistindo a um filme. Foi o que o mago chamou de ‘sonhos’. Nestes sonhos seriam colocados os enredos que o rei gostaria que acontecesse. Influenciando assim, em suas decisões posteriores.

    Confiando em seu invento, o mago não se preocupou, pois acreditava estar tudo dando certo. O que ele não imaginava era que seus seres, os Fazedores de Sonhos, tinham noções de vida, e sabiam o que realmente seria melhor para a vida daquela sociedade. E com certeza, enforcamentos estavam fora de cogitação. Dessa maneira, eles começaram a fazer sonhos contrários ao que o rei realmente queria, e acrescentando conselhos para que ele fosse banido do reino para sempre, e a paz pudesse prevalecer.

    Descontente, e vendo que seu plano estava indo por água abaixo, o rei mandou que matassem o mago. E após isso, seus próprios homens o mataram e foi encolhido um novo rei, que felizmente era um de seus antigos companheiros.

    Com isso feito, os Fazedores de Sonhos continuaram com suas funções, e hoje, cada ser possuí sua própria Terra do Sonho.

    Por entre os papéis que ficaram abandonados na mesa do mago, existia um com instruções, mas que ninguém nunca havia descoberto para que servia. 

    1 – Entrando em sua Terra dos Sonhos, você pode manipular todos os sonhos que têm. Porém estará matando todos os seus Fazedores de Sonhos, e poderá nunca mais sonhar.

    Por isso, nunca durma lá dentro.

    2 – Para evitar que isso aconteça, a Terra dos Sonhos fica localizada no lugar que mais odeia, ou que mais lhe traz mágoas. E que provavelmente nunca irá visitar.

    3 – Para existir, a Terra dos Sonhos precisa que pelo menos uma pessoa acredite nela, por isso, deixo todos os meus amigos magos cientes de sua existência, cuidando para que de agora em diante todos os seres possam ter sua Terra também.

    4 – Pedi então que quando cada um de meus amigos magos morrerem, que contem para uma pessoa de bom coração sobre a Terra dos Sonhos.

    5 - Os sonhos são feitos com a intenção de termos sempre um guia para nos ajudar em nossas decisões. Portanto, prestem atenção e filtrem seus sonhos todas as noites.

    Suas últimas palavras foram: Durma com Deus e sonhe com os Anjos. Ele disse isso para o homem que o matou, mesmo com lágrimas escorrendo, pois não era isso o que queria fazer. O homem queria mesmo era matar seu rei.

    Então, ajudem a Terra dos Sonhos a permanecer viva, e digam bem alto...

    - Eu acredito na minha Terra dos Sonhos! – Disseram as duas juntas, agora mais alegres por terem finalmente lido a história novamente. Apesar de o livro ser grande e pesado, apenas suas primeiras páginas estavam escritas, e escritas à mão.

    - Nossa, é mesmo uma bela história – comentou Taylor.

    -É sim – bocejou Sam – e que tal agora nós deixarmos que os Fazedores de Sonhos cuidem da gente?

    - Ótima idéia...estou morrendo de sono agora.

    Elas guardaram o livro na estante e deitaram, rezando para que dessa vez ele não sumisse de novo.

    - Boa noite, Tay.

    - Boa noite, Sam.

    Samantha ficou pensativa por uns minutos antes de cair no sono. Ela não sabia por que mas sentia uma plena necessidade de ir à casa de veraneio. Mesmo sendo, naquele momento, o lugar que mais odiava.


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    Notas finais do capítulo

    No próximo capítulo Samantha vai à casa de veraneio, e coisas estranhas começam a acontecer.



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