Number Corp. escrita por Chacall


Capítulo 3
Capítulo 3


Notas iniciais do capítulo

Dificuldade pra surgir a ideia aqui.. xD
Boa leitura ;D



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Gabriel estava respirando com dificuldade. Parecia ter alguém segurando seu pescoço, impedindo-lhe de respirar. O telefone começou a tocar novamente. Se movia novamente. Acabara de receber um aviso. Não atender o telefone. Mas por que? Quem estaria ligando? Suas pernas tremiam. Nunca havia presenciado algo igual. Afastou-se do telefone. Dava passos lentos para trás. O telefone parou de tocar. Estava assustado. Nunca tivera tanto medo em atender um telefonema. Poderia ser qualquer pessoa. Seu pai, avisando-lhe algo. Algum cobrador atrás de seu pai. Alguém poderia ter ligado por engano. Mas a voz lhe dissera para não atender. Talvez não fosse qualquer pessoa, afinal, se fosse, algo assim não aconteceria. Sentou-se no sofá. Ajeitou os óculos e respirou fundo. Impossível se acalmar naquele momento. Foi até a cozinha beber água. Sua mão tremia. Era raro presenciar sustos na sua própria casa. O máximo com que se assustara foi com baratas que surgiam de lugares escondidos no meio da noite. Voltou a sala e procurou o controle. Estava jogado no chão, próximo ao sofá. Mirou para a TV e a ligou. Apertou os botões procurando algum canal para descontrair. Nenhum desenho estava passando. Algum canal de música? Nenhum. Noticiários e mais deles. Fofoca, receita de comida, pastores, anéis a venda. Nada lhe interessou. Escolheu os noticiários. O jornalista acabava de anunciar a matéria da morte de um rapaz em outra cidade. O enviado especial explicava a morte. Foi horrível. Um corpo decepado. Sua cabeça foi cortada e estava separada do corpo. Decidiu desligar a TV. Não estava lhe ajudando a esquecer do trauma. Era melhor subir ao quarto e escutar o rádio. Alguma música lhe acalmaria. Subiu as escadas ao mesmo tempo que a porta da sala era aberta. Olhou para trás. Seu pai, Renato. Tinha um sorriso em seu rosto.

-E então, pai? Conseguiu? - Gabriel desceu as escadas indo de encontro ao pai.

-Quase, filho. Amanhã eu saberei a resposta definitiva. - levantou a mão esquerda e fechou-a com força. - Vou conseguir, filhão! Você se orgulhará de mim!

Gabriel mostrou um pequeno sorriso. Virou-se indo novamente para seu quarto.

-Eu já me orgulho do senhor, pai.

Renato ficou parado por alguns segundos na porta da sala. Nunca ouvira seu filho falar daquele modo. Sentiu-se feliz, mostrando um sorriso. Mesmo estando velho e desempregado, seu filho gostava dele.

Gabriel procurou a tomada atrás da escrivaninha. Ligaria o rádio e descansaria, esquecendo o que ocorreu. Encontrou. Colocou o plugin na tomada, ligando o rádio. Sintonizou numa estação com músicas para sua idade. Ao som da guitarra da música, deitou-se na cama. Retirou os óculos e os colocou na escrivaninha. Queria dormir um pouco. Talvez o esforço e ansiosidade no final do ano o estava deixando maluco e estaria pregando peças em sua mente. O sol já estava se pondo no horizonte, dando o tom alaranjado no céu. Logo seria noite. Fechou os olhos, tentando esquecer do mundo ao redor. A música continuava tocando e lhe acalmava. Silêncio, imóvel. Dormiu.

Seu despertador tocou, tirando-lhe do descanso. Já era de manhã! Perdeu toda a noite. Seu novo dia começaria de novo. Foi ao banheiro se arrumando. O uniforme estava passado na cadeira da escrivaninha. Seu pai tinha arrumado seu uniforme, o que não era natural. Vestiu-se e colocou seu óculos. Desceu as escadas procurando pelo pai. Não estava na sala. Voltou e procurou em seu quarto, mas também não estava. Provavelmente teria saído mais cedo aquele dia. Torcia que fosse por causa do seu emprego. Seu pai estava tão animado com isso, o que o deixava animado também. Mesmo que não precisasse do dinheiro do pai para sobreviver, seria bom que o pai se sentisse animado. Se sentisse responsável. Pegou sua mochila e o bilhete do ônibus. Foi em direção ao ponto. Novamente, o rapaz do dia anterior estava ali, esperando o mesmo ônibus que Gabriel. Seu traje continuava sendo o sobretudo cinza, acompanhado de uma calça preta por baixo. Lembrou-se do dia anterior. Se não estivesse errado, ele estava na porta de sua escola. Fazendo o que? Tinha sumido antes de sair da escola, por isso não confirmou o que ele estaria fazendo. O rapaz se tornara um pouco suspeito. Suas atitudes fizeram dele um suspeito. Criminoso, espião? Os olhos do homem que pareciam estar vagando pela rua movimentada agora estavam olhando para o garoto. Gabriel revirou os olhos no mesmo momento. Seria ele mesmo a caça do rapaz? Decidiu olhar o menos possível para o homem. A rua tornou-se barulhenta com o ronco do motor do ônibus chegando. Estendeu o braço dando sinal ao motorista. Novamente, pegou seu bilhete e passou pela catraca. Dessa vez somente ele e o próprio rapaz estavam no ônibus. Logo estaria na escola.

Apressou-se em subir as escadas e procurar por Felipe. Lá estava o amigo, que parecia estar dormindo sobre a carteira. Aproximou-se o chamou. Felipe levantou-se e cumprimentou o amigo que parecia um pouco assustado. Teria dormido pouco aquele dia?

-Que aconteceu, cara? Cê parece estranho. Tomou bronca do seu pai?

-Nem é isso. Se eu te falar, cê vai me chamar de estranho, mas... - engoliu seco. - Ontem eu tava em casa e do nada o telefone tocou. Eu tava sozinho... Meu pai tinha saído de casa.

-Sério? Cê tá assustado porque o telefone tocou e cê tava sozinho? Você realmente é estranho. - riu Felipe fazendo Gabriel rir também.

-Não só isso. Eu ia atender normal, só que quando eu cheguei perto... Eu me senti paralisado e não consegui atender!

-Já sei o seu problema, não se preocupe. Você tem fobia de telefone. Isso é normal, cara. - continuou com as piadas, mas dessa vez, Gabriel não riu.

-O estranho é que parecia que tinha alguém lá em casa... Eu não consegui olhar pra ela... Parece que foi ela que não me deixou atender o telefone.

-Tá, agora isso realmente tá estranho. Cê não tinha trancado a casa?

-Tranquei, mas... Tinha realmente alguém lá. E ele disse... "Não atenda".

-Nossa! Cena de filme, mano! Cê tá vendo muito desenho, cara. Eu com certeza teria ido atrás da minha mãe.

-E você acha que eu não fiquei traumatizado? Isso foi muito bizarro! Eu nem atendi o telefone e fui dormir. Pelo menos meu pai tinha chegado logo depois e me contou que talvez iria ganhar um novo emprego.

-Pelo menos uma boa notícia, então. Enfim, cara... Muito estranho isso aí. Vê se tranca direito as portas e as janelas.

O sinal tocou fazendo todos os alunos entrarem na sala. O professor entrou e fechou a porta, dando início a sua aula. Gabriel, sentado na janela, ficou imaginando no acontecimento do dia anterior. Nem sequer prestou atenção na aula. Ficou perdido em pensamentos. Telefones tornaram-se os piores inimigos de Gabriel. Evitaria atendê-los. Mas e quanto ao seu pai? Teria o mesmo destino? Outro calafrio. Telefones estariam amaldiçoados? Iria conferir quando chegasse em casa. Vasculhou novamente a rua esperando ter a mesma cena do dia anterior. Suas esperanças estavam certas. O homem estava lá de novo. Olhando para uma das janelas da escola. Mais precisamente, a janela de sua sala. Os acontecimentos mais se pareciam com um filme de perseguição e ele era o perseguido.

O ultimo sinal da escola tocou, anunciando o fim das aulas. Antes de sair da sala, olhou pela janela à procura do homem. Não estava mais ali. Novamente, tinha desaparecido antes de poder se aproximar dele. Mas mesmo que se aproximasse, o que iria fazer? Não tinha certeza. Despediu-se de Sofia e de Felipe e correu ao ponto de ônibus, esperando chegar em casa o mais rápido possível. Talvez seu pai estivesse lá. Teria de confirmar se o mesmo que ocorrera com ele na noite seguinte teria se repetido com Renato. O ônibus chegou e foi no caminho de casa. Alguns pontos se passaram até chegar no ponto próximo de sua casa. Desceu do ônibus e correu para casa. Destrancou a porta e a fechou logo depois de entrar em casa. A TV estava ligada, mas não tinha ninguém na sala. Talvez estivesse na cozinha. Aproximou-se na cozinha. Algumas panelas estavam no fogão, soltando fumaça. O fogo estava ligado. Seu pai estava ao lado, lavando a louça enquanto a comida era feita. Alívio. Nada aconteceu. Mas mesmo assim, não teria certeza do que iria lhe acontecer caso tivesse atendido o telefone naquele instante. Renato percebeu Gabriel parado na porta da cozinha, com aparência de cansado. O que o deixou daquele jeito?

-Filho? O que aconteceu? Veio correndo? - revirou-se Renato enquanto lavava alguns dos pratos.

-Hã? Ah, não é nada. Eu só tava correndo porque eu queria usar o banheiro.

-Ah, tudo bem. Tire a mochila e o uniforme, tá? - voltou a prestar atenção na pia.

Gabriel virou-se e retirou a mochila, guardando-a no armário. Ajeitou seus óculos. Voltou à cozinha.

-Pai, teve alguma ligação aqui em casa hoje?

-Teve sim, por que?

-Você atendeu? - ficou curioso, esperando a resposta.

-Claro, oras. Por que eu não atenderia? Era do meu emprego. Eu fui aceito. Irei trabalhar como um motoboy, filhão. - soltou uma risada, animado com a notícia.

Gabriel espantou-se. A cena só tinha acontecido com ele. Ao mesmo tempo que estava surpreso, também estava aliviado. A cena que ocorreu no dia anterior podia ser apenas sua imaginação. Seria maluquice dele estar vendo coisas daquele tipo. Bobagem. Felipe tinha razão. Estava vendo muito desenho. Deveria se animar com a notícia do pai. Finalmente sentiria-se feliz com um emprego.

-Estava esperando alguma ligação, filho?

-Ah? Não, não. É que o telefone estava sem sinal ontem, então, pensei que não teríamos ligações por algum tempo. - quis esconder o que aconteceu.

-Então tá... Bem, daqui a pouco a comida vai ficar pronta. Vai se arrumar e desce pra comer.

-Tá bom.

Gabriel subiu para seu quarto aliviado. Tirou a camiseta e foi até a janela. O dia estava no mesmo estado de antes. O sol estava forte, esquentando à todos. Pouco vento naquele momento. Algumas pessoas na calçada, carros na rua, cachorros com seus donos. Um belo dia até. Retirou os óculos por um momento, coçando os olhos. Ajeitou-os de novo. Trocou o uniforme e desceu, pronto para almoçar com o pai.

*****************

O sol batia forte em suas roupas escuras. Estava vestido em seu colete cinza. A camisa branca de manga curta por baixo não esquentava tanto. Sua calça de tecido fino e cor preta não evitava o vento de tocar em seu corpo. De pé, calçado em seus sapatos negros, observava a janela de uma casa. Dois rapazes estavam almoçando. A tentativa na noite anterior não tinha dado certo. Mas logo o pequeno jovem alvo se esqueceria e seus planos iriam começar. Um vento forte veio em sua direção, quase levando seu chapéu gangster listrado em preto e branco. Segurou-o, evitando de voar. Encostou-se na chaminé de tijolos no telhado da casa. Outro vento forte. O rapaz olhou em volta. Parecia estar procurando por algo. Suas mãos enluvadas foram de encontro ao seu cabelo castanho e ondulado, colocando-os no lugar. Fechou os olhos e sorriu.

-Alguém está me atrapalhando por pouco tempo.


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Notas finais do capítulo

Sem previsão para novo capítulo.. xD
Feliz Ano Novo a todos o/



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