Duelo de Emoções escrita por Flor de Cerejeira


Capítulo 1
As preliminares




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Rin Horisawa olhava para o aparelho telefônico apertado em sua mão. Sua vontade era de jogá-lo longe, mas con­trolou-se e colocou-o delicadamente na mesa lateral. Era de tarde e, até aquele momento, o dia não tinha sido nada bom. Para começar, uma dor de cabeça terrível a acometera pela manhã, uma hora antes de seu costumeiro horário de acordar, o que acontecia sempre às seis e quinze. Rin jamais se sentia esfuziante pela manhã, mas preferia ficar apenas calada, e não mal-humorada.

No ônibus, a caminho do serviço, acabara por se sentar ao lado de uma jovem tagarela, mas não tivera escolha, já que aquele era o único lugar vago no veículo. O caminho até os escritórios de contabilidade da Styer Brothers nunca lhe pareceu tão longo quanto nesse dia... Ali, ela era gerente administrativa do setor contábil e da controladoria.

Ao chegar ao escritório parecia dopada, de tanto que tinha ouvido da boca daquela estranha. Mal colocou os pés em sua sala, veio-lhe a informação de que um cliente, um dos maiores e mais interessantes para a firma, tinha esquecido de incluir alguns recibos de vital importância no pacote de documentação que lhe enviara na semana anterior. Rin tinha trabalhado até bem tarde na noite anterior, para terminar a contento o formulário de recolhimento de imposto de renda desse mesmo cliente, e agora tudo parecia em vão.

Que belo começo de primavera! O comprimido que tomara para a dor de cabeça, e que apenas começara a fazer efeito, praticamente perdeu sua eficácia de repente.

No entanto, como era uma eficiente profissional, ela logo começou a trabalhar, refazendo todo o material. Terminou, por fim, e estava em seu muito merecido intervalo para o cafezinho quando o telefone tocou, e ela ouviu a voz do pai, percebendo, de imediato, que algo não estava bem com ele. Na verdade, havia um tom de pânico na voz de Horisawa-ama quando lhe disse:

— Preciso falar com você, filhinha.

Aquele modo de tratá-la deixou Rin alerta de pronto. Seu pai só a chamava de "filhinha" quando queria alguma coisa e algo que ele sabia que iria aborrecê-la.

— Há algo errado, pai? — ela precisou se controlar para não deixar transparecer a impaciência em sua voz. E logo se sentiu culpada, mas seu pai era difícil, às vezes.

— É que... estou com problemas — ele admitiu, sem vacilar.

Tal declaração deixou Rin ainda mais tensa. Proble­mas não eram novidade, avaliou, sentindo-se mal pela ironia do pensamento, e sua voz soou, por isso mesmo, mais suave:

— Quais problemas, pai?

— Financeiros, mas não posso discutir isso pelo telefone. O que acha de nos encontrarmos depois do expediente hoje? Posso comprar um jantarzinho gostoso para você... — ele he­sitou, depois acrescentou, tentando ser ainda mais agradável: — Posso levá-la ao restaurante Bookbinsder's.

A primeira vez em que seu pai a levara ao Bookbinsder's fora quando Rin tinha quatro anos, quando conheceu seus pais de criação, e ela adorara o lugar. Desde então passara a considerá-lo um de seus locais favoritos, e a oferta do pai teve o efeito desejado:

— Está bem. A que horas, então?

— O que acha de... seis e meia?

— Prefiro às seis. E encontro o senhor lá.

— Está bem, filhinha — o alívio na voz dele era óbvio. — E... obrigado.

Depois de um longo e terrível olhar para o pobre telefone, que acabara de deixar sobre a mesa, Rin recostou-se a sua cadeira e cerrou os olhos. A dor de cabeça tinha voltado, mais forte. Até as maçãs de seu rosto doíam, seus dentes su­periores, sua testa... e suas têmporas pareciam querer explodir.

Ser filha única tinha seu lado bom e seu lado ruim, avaliou. Mas ser inteligente, desenvolta e batalhadora fazia com que o lado ruim fosse maior.

Estava cansada e a cada dia parecia-lhe mais difícil admi­nistrar tanto sua vida profissional quanto particular. Não con­seguia entender em que momento sua vida começara a des­moronar...

Rin passou a raciocinar sobre o caso, enquanto bebe­ricava o café, agora morno. Sua vida sempre fora interessante, alegre, um desafio revigorante.

Mas não era mais assim... Ultimamente, sua vida particular e profissional havia se transformado em um amargor sem fim. O desafio revigorante transformara-se em uma rotina massa­crante, com quase nada de interessante, e muito menos alegre. E quem dissera, mesmo, que o feminismo era libertador?, ques­tionou-se, sem encontrar resposta. Se pudesse encontrar as mu­lheres que tinham iniciado o movimento... Tinha na mente per­guntas muito boas e inteligentes para fazer a elas, sendo que a primeira e mais importante era: "Vocês estavam malucas, ou o quê?"

O voto e o conceito de igualdade eram dois ideais maravi­lhosos, sem sombra de dúvida, mas... os encargos decorrentes disso tudo pareciam enormes! Rin sempre se sentira mi­litante. Fora decidida e contestadora na faculdade. Debatera muito, colocara suas opiniões, lutara por elas, fizera pratica­mente de tudo. E fora tão divertido! Revigorante! Inspirador!

Depois de se formar, armada com o conhecimento e com um diploma, desprezara um trabalho dentro da firma de sua família e passara a desafiar os bastiões das companhias domi­nadas por homens.

Não fora fácil, mas conseguira a posição desejada em seu primeiro emprego. Ela e uma de suas melhores amigas tinham comemorado a conquista com muito champanhe.

Animada com o sucesso que a esperava na firma, ela se vestira a caráter para sua nova função, seguindo, com confiança arrogante, pelo mundo corporativo.

Grande coisa... analisava agora. Isso acontecera havia dez anos. E dez anos poderiam ter se passado em um piscar de olhos... ou no arrastar de uma lesma...

E agora, dez anos depois, Rin encontrava-se perdendo seu entusiasmo inicial. Mesmo que os princípios fossem jo­viais, as práticas mostravam-se muito cansativas. Porque aque­le doce começo transformara-se tanto assim, sendo agora tão amargo? E por que ela se sentia agora tão solitária?

Rin olhou para o restante do café, agora completamen­te frio, e seus pensamentos pareceram feri-la ainda mais. Che­gou à conclusão de que, como na vida profissional, tudo ao seu redor tinha se transformado em algo amargo, perdendo por completo a doçura original. Resumindo tudo o que pensara até então, sentia-se absolutamente cansada...

Como, afinal, mulheres que tinham uma carreira, marido e filhos podiam sobreviver, e, ainda por cima, administrar suas vidas? Seus olhos estavam mergulhados no café, como se pu­desse tirar dele alguma resposta definitiva e inteligente. Mas tinha apenas a si mesma para considerar. E estava "cansada"!

Cansada do que era, de tudo o que fazia, de tudo o que tinha. Seu presente não era o que o passado lhe prometera. E agora queria apenas... descansar.

Não queria comprar seus alimentos, chegar em casa e pre­pará-los. Aliás, nem gostava de cozinhar. Queria isso sim, es­tar em uma deliciosa banheira, com uma taça de vinho nas mãos, sozinha...

Sozinha. Isso a fez lembrar-se de que sentia esses lapsos periódicos de uma terrível sensação de solidão.

Talvez por não ter um companheiro, sem alguém que a completasse, que lhe fosse significativo, alguém com quem pudesse partilhar as dificuldades do dia-a-dia, as preocupa­ções do serviço...

Bobagem. Fez uma careta e mexeu-se para procurar uma posição melhor na caríssima e super confortável cadeira gira­tória de seu escritório.

Afinal, quem precisava de um homem por perto, sempre querendo estar no comando, exigindo, reclamando e enchendo seu mundo com palpites, egoísmo, meias e cuecas sujas?

Não que ela não gostasse dos homens. Rin gostava, sim, de alguns homens e chegava até a admirá-los, embora conhecesse alguns seres alienígenas, sem cérebro suficiente. Mas não havia um único que ela amasse... no sentido romântico da palavra.

Arranjara um namorado, mas ele se mostrara desinteressado no que um bom relacionamento poderia criar e chegara a deixar suas meias e cuecas sujas no chão do quarto, para que ela la­vasse. Erro fatal. Rin o mandara embora de imediato. O sujeito vivia vangloriando-se de ser um verdadeiro deus para com as mulheres, mas, para ser sincera, Rin nem mesmo achara que o sexo que tinham feito fosse interessante. E assim, considerando-se o todo, chegara à conclusão de que era muito mais interessante e satisfatório vingar-se da solidão com uma boa caixa de chocolates ao lado.

Não precisava de homem algum. Precisava, isso sim, des­cansar. E era exatamente isso que a tinha levado a preparar as pequenas férias com carinho. Tudo estava já acertado: ia em­barcar em um avião no domingo seguinte para uma semana de descanso.

Suspirou e cerrou os olhos, que agora também pareciam pesados. Desejara tanto desfrutar alguns dias gloriosos no Ha­vaí, expondo-se ao sol delicioso e ouvindo Tchaikovsky em seu diskman!...

A última coisa que poderia querer ou desejar agora era re­ceber um telefonema com um pedido desesperado de ajuda de seu pai...

O telefone tocou, fazendo-a ter um sobressalto. Olhou mais uma vez para o aparelho, agora como se ele houvesse roubado as conclusões de seus pensamentos. O aparelho tocou de forma insistente. Rin sorriu diante das idéias selvagens que ti­nham tomado sua mente nos últimos minutos, deixou a xícara de café de lado, endireitou-se na cadeira e atendeu, no tom mais profissional que poderia ter:

— Rin Horisawa.

Como sempre, eram negócios...

Norman Horisawa recostou-se em sua cadeira, no escritório de sua firma, sentindo-se aliviado. Seus lábios ainda tremiam, mas conseguia controlar-se melhor depois do telefonema. Se al­guém poderia ajudá-lo, esse alguém era sua filha, assegurou mais uma vez a si mesmo, tirando um lenço de algodão do bolso do paletó para com ele enxugar a testa úmida.

Ela encontraria um jeito de resolver as coisas, consolou-se. Afinal, só tinha a ela a quem recorrer. Ela e...

Não, não, disse a si mesmo, com um calafrio. Podia contar também com sua esposa, Janeth, o verdadeiro amor de sua vida. Mas não podia pedir a ela que o ajudasse; nem queria dizer uma só palavra a ela sobre a encrenca em que se metera. A verdade acabaria com qualquer ilusão que ela pudesse ter a seu respeito. E, antes de abrir-se com ela e ver o amor desa­parecer de seus olhos suaves, substituído pela decepção e pelo desespero, Norman preferia vender sua alma àquele demônio, Sesshoumaru Akashi.

Mais uma vez, ele sentiu um arrepio passar-lhe pela espinha. Suava em bicas, tamanho era seu nervoso. E seus olhos, fixos e muito abertos, pareciam olhar para dentro do inferno que criara para si mesmo.

Rin pensaria em algo, tentou consolar-se novamente. Ele sempre tivera até certo medo da inteligência dela, de sua determinação, sua capacidade de gerenciar a própria vida e os negócios da firma em que trabalhava. Ela pensava rápido e decidia acertadamente... Sim, Rin pensaria em algo para tirá-lo daquele atoleiro financeiro. Ela tinha de fazê-lo, imagi­nou, com esperança desesperada, porque, se ela não conseguis­se ajudá-lo...

Nem queria pensar nessa possibilidade. Sentou-se melhor e puxou o telefone para si. Precisava ligar para Janeth e avi­sá-la de que não iria jantar em casa esta noite.


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Notas finais do capítulo

N/A: Informo desde já que esta trama não me pertence, e nem os personagens... XD
É uma adaptação como “Encontro Surpresa”, já posta aqui.
Novamente deixo bem claro, para que depois ninguém me acuse de plagiar outras historias ou afins. Esta história pertence à Joan Hohl. No fim desta darei os detalhes do livro, editora e etc.
Divirtam-se com mais uma “história’’ de Sesshoumaru e Rin!

Os títulos dos capítulos foram criados por mim, como algumas partes da história que citarei em sequência em que aparecerem.



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