Dívida de Sangue escrita por Tsuki Dias


Capítulo 4
Quatro - A Bela Estrela


Notas iniciais do capítulo

Desculpem o atraso ^^'



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Acordou de seu cochilo com o celular tocando. Olhou atordoada para a janela e constatou o véu noturno. Suspirou sonolenta, procurando o telefone. Não estava a fim de sair de casa, mas não tinha muita escolha.

- Eu. - falou entre bocejos.

- Estava dormindo? - a voz de Caleb pareceu divertida.

- Caí no sono. - explicou, sentando-se, cansada. - e aí?

- Rua três, Beco cinco, sem número. Haverá uma placa neon. Sabe onde é?

- Aquela boate de stripers? - perguntou surpresa. - o que você faria lá?

- Eu, nada. Tenho um devedor. - falou divertido. - vou esperar até você acordar.

- Ok, ok. - bocejou novamente. - qual minha participação?

- Veremos. - e ele desligou antes que pudesse dizer outra coisa.

- Esse cara... - suspirou se levantando. - ainda vou perder a paciência!

Guardou o aparelho com a visão de seu alvo entrando na boate abaixo. Fazia algum tempo que se instalava no topo daquele prédio para vigiar os movimentos daquele homem.

Todas as noites ele ia á aquele lugar. Entrava como cliente VIP e era o ultimo a sair. Passava horas lá dentro, vendo as moças dançarem e se despirem. Não se importava com o que ele queria. Tudo o que importava era o que lhe devia.

- Onde ele está? - ouviu logo abaixo.

Sorriu para si mesmo e desceu de seu esconderijo, dando apenas um passo no ar, iria cair no meio da escuridão. Seria a primeira vez que conseguiria pegá-lo de guarda baixa e tinha certeza de que, com a ajuda de Danika, iria, finalmente, cobrar aquela dívida de anos.

- Será que já entrou? - perguntou-se ao encostar-se á parede do prédio em frente. - mas eu nem demorei tanto assim! Eu acho...

- Está procurando alguem? - perguntou, de repente, em seu ouvido.

- Aie! - pulou com o susto, chamando um pouco de atenção. - mas que...!

- Te assustei? - sorriu, divertido, pela reação dela.

- Isso é maldade! - ela choramingou, agarrada á mochila.

- Simplesmente não resisti, desculpe. - sorriu solícito, tocando-lhe o ombro. - sabe por que estamos aqui?

- Você quer que eu intimide alguém daí de dentro. - ela falou, pouco animada. - não sei se você reparou, mas eu não tenho a imagem de uma moleca.

- Mas eu não quero esse tipo de imagem mesmo. - falou, encostando-se na parede. - pra essa cobrança, preciso de uma imagem feminina e sedutora.

- Por que será que eu imaginava que você diria algo assim? - ela resmungou, remexendo na bolsa. - qual o plano?

- Não pensei nisso ainda. - admitiu, encarando o segurança na porta. - não posso entrar lá sem que meu devedor saiba. Precisava de uma distração.

- Espera. Você quer que eu distraia o segurança? - ela falou alto demais.

- Queria... - suspirou, vendo o homem sorrir desdenhoso e seu plano evaporar com as palavras dela. - agora...

- Isso não ia dar certo de qualquer maneira. - falou com um suspiro. - bem, como não há outro jeito... eu me encarrego de nos colocar lá dentro e de distrair seu devedor. Tudo bem?

- E como fará isso? - intrigou-se pelo seu plano. O que ela tinha em mente?

- Só cala a boca e me siga. - pediu pegando-lhe a mão e arrastando-o até a porta. - Como vai, Cal?

- Danika! - Cal, um cara negro de cem quilos de músculo e sorriso muito branco, transpassou os fortes braços ao redor de seu delicado corpo e a rodou, a alguns centímetros do chão. - garota! Por onde é que você esteve? Isso aqui é um porre sem você! Caramba! Está mais linda que nunca! Quase não reconheci! E esse aí? Por que está com ele? Esse cara já me causou problemas antes! É seu namorado? Caraca! Como é bom te ver!

- Calma aí, amigão! Me põe no chão! - ela pediu sem fôlego.

- Foi mal. Mas e aí? Como anda? Resolveu matar saudade do poste ou de mim? - ele riu, mostrando os músculos.

- Poste ou montanha? - ela pensou com um dedo na bochecha. - na verdade... não voltei. Só vim pagar um favor. Nada mais.

- Pra quem? Para todos os fãs que vêm aqui na esperança de te ver? - ele falou nostálgico e virou-se para seu acompanhante. - não vai dizer que vai dançar para esse cara aí.

- É complicado. - riu sem graça, passando a mão pelas madeixas soltas. - você acha que poderemos entrar pela outra porta? Pode?

- E esse cara?

- Ele vai se comportar, te juro. - cruzou os dedos e beijou-os. - deixa, vai!

- Sei não... se fosse apenas você... - ele hesitou, pensando se podia recusar algum pedido dela.

- Por favor! - ela pediu com olhos brilhantes e pidões. - por favorzinho!

- Vai me dever essa. - cedeu a contra gosto.

- Tudo bem. Meu cartão. - ela entregou um quadrado verde. - apareça lá.

- Ok. Vão logo antes que eu me arrependa!

- Certo! - sorriu para o grandão e agarrou a mão do chefe. - vamos.

- Hã...? - perguntou bobamente, enquanto era arrastado para outro lado. - o que foi isso?

- Carlos é casado e tem três filhos. Técnicas de sedução não funcionam. Ele ama muito a esposa e só está nesse emprego por falta de oportunidade. Ele é um fofo! Batia altos papos com ele quando trabalhava aqui.

- Já trabalhou aqui?

- Tinha que me sustentar... afinal, era apenas uma menina que veio sozinha de outra cidade. Não tive muita escolha, sabe? Mas juro que nunca fiz nada demais! - virou-se para ele com olhar culposo. - você credita em mim?

- Por que não acreditaria? - sorriu amavelmente, tocando-lhe a ponta do nariz. - todos tem vergonha de, pelo menos, um emprego que já teve. Isso só me pegou de surpresa.

- Sério?

- Claro! Mas... ficaria muito agradecido se me contasse seu plano. - falou.

- Você vai ver. - suspirou, abrindo uma porta escondida depois de uma esquina. - aqui é a entrada das dançarinas.

- Sei... e o que pretende?

- É o seguinte. - disse, empurrando-o pelo corredor vermelho. - indo reto, você dará no bar. Seja rápido e tente achar o tal cara. Fica de olho nele e só aja ao meu sinal. Sacou?

- E qual seria?

- Você vai ver. - disse corada. - me prometa que não faremos isso de novo!

- Não vamos. - concordou, imaginando que tipo de plano embaraçoso seria aquele.

- Ótimo. Vá logo. - empurrou-o uma ultima vez e voltou-se para um corredor. - se te pegarem, diga que veio acompanhar a Estrela.

E antes que pudesse dizer algo, viu-a correr pelo corredor e entrar numa porta á esquerda onde devia ser o vestiário das stripers. Aquela garota não era mais interessante. Era muito interessante e muito intrigante. Estava curioso para ver que tipo de performance ela faria.

Voltou-se para seu caminho e seguiu por ele. Nunca o pegariam se não quisesse ser pego.

Apareceu nas sombras perto dos camarotes. Ali teria uma visão privilegiada de tudo e todos. Procurou Danika entre as garotas que faziam atendimento individual. Ali era um paraíso sexual, mesmo com a regra de não tocar nas moças. Ela não estava em lugar nenhum. Estranhou essa condição. O que ela faria?

Procurou mais uma vez e encontrou seu devedor. Ele estava sentado em um sofá vip perto da pista. Olhava desinteressado para a garota a frente e lhe prendia á roupa notas um pouco baixas. Ele era pão duro até ali!

Resistiu á vontade de aborda-lo naquele momento. Aquele cara era poderoso. Um dos mais poderosos que lhe deviam. Alphonsus Edward Withehouse III era um herdeiro mimado de muitas posses e de guarda bem alta. Sua linhagem era tão antiga quanto a de seus pais. Nunca se aproximara dos Withehouses, exceto quando Alphonsus I lhe implorara um empréstimo que levaria duas gerações para pagar. E como todo mau herdeiro que não se importava com honra familiar e tal, Al III se negara a pagar sua parte.

E era por isso que estava ali. Simples assim.

- Com licença, senhores. - a voz de um homem soou nos alto falantes. - Sei que estão se divertindo com suas dançarinas e sei que muitos só vieram aqui hoje na esperança de verem alguém especial, certo? Muito bem! Tenho uma surpresa para todos! Depois de muito insistir, somente essa noite, há uma atração especial e velha conhecida de alguns! Por favor! Olhem para o palco e aproveitem! Com vocês apenas por hoje: a ESTRELA DA NOITE! LeBelle Estelle!

Intrigou-se ainda mais com aquele anúncio. As poucas luzes do lugar se apagaram e apenas as da pista ficaram acesas. Não imaginava quem seria LeBelle Estelle ou o que viria a seguir. Tudo estava fora de órbita desde que Danika assumira o controle.

Focou-se em seu alvo desinteressado. Ele estava prestes a ir embora quando aquela musica começou. E eis sua surpresa ao ver Danika entrar dançando entre os postes, vestida de colegial.

Por um momento, tudo a sua volta sumiu com aquela visão erótica. Seu corpo esbelto e curvilíneo chamava atenção, e suas belas pernas ficavam em evidência pela saia curta e as passadas sensuais. Os longos cabelos negros estavam presos no alto da cabeça e balançavam sensualmente ao acariciarem seu busto.

Ela estava linda e provocante. E a força que demonstrava ao dançar naqueles postes a fazia merecedora do codinome Estrela da Noite. Ela era, realmente, um show a parte. Era A estrela.

Voltou a si com o olhar fatal que ela lhe lançou quando conseguiu avistá-lo dentre as sombras. Olhou para seu alvo e se surpreendeu por sua postura e pelo olhar fixo em Danika. Estava atento a cada movimento que ela fazia e jogava notas altas sobre o palco, na esperança dela seguir para seu lado e pegá-las, sensualmente, como parte da dança.

Sentiu-se um pouco enciumado por toda aquela atenção em sua garota. Não, ela não era A garota dele. Mas era a garota que TRABALHAVA para ele. Tinha certo sentimento possessivo quanto a ela, mas era só profissional. E quanto mais rápido terminasse aquela dívida, mais rápido ela desceria dali e iriam embora.

- Se divertindo, Al? - perguntou, de repente, já ao lado do rapaz. - Linda, não acha? Não é a toa que a chamam de A Bela Estrela.

- Caleb? - segurou-o pelo colarinho quando este tentou levantar-se. - merda! O que você quer?

- O que você me deve, ora! - sorriu, colocando uma nota na meia de Danika. - vejo o por que você prefere gastar seu dinheiro com ela do que limpar o nome de sua família.

- Não é problema meu. - arrumou-se, com olhos fixos na moça. - suma.

- Só com meu dinheiro. - informou, vendo-a dançar. - não me provoque, Danika. Não sou boa coisa quando provocado!

- Por que isso é importante agora? Aproveite o show e... - ele parou de falar quando Danika mergulhou ao chão e se aproximou, engatinhando.

Observou a interação deles. Alphonsus estava hipnotizado e Danika conduzia-o á decadência racional ao provocá-lo a tocá-la. E o sorriso maldosamente sensual por vê-lo se contorcer no lugar a deixava ainda mais sexy em sua brincadeira. E quando ela se permitiu chegar mais perto, quase a ponto de ser beijada, levantou-se num rápido movimento e dançou do outro lado, dando atenção aos outros homens.

Tinha que admitir que também ficara excitado com aquilo.

- O que dizia, Al? - perguntou sorrindo, vendo o outro ofegar excitado.

- Espere, vou fazer a droga do seu cheque. - ele disse, desabotoando a camisa. - cara! Esquentou demais aqui! Ligaram o aquecedor?

- Ou foi ela que te aqueceu? - debochou, vendo-o escrever numa folha do talão. - você é tão vulnerável a esse tipo de coisa...

- Dane-se! - ele resmungou, jogando-lhe o papel. - pegue e me deixe em paz. Estamos quites com isso.

- Certo! - sorriu, guardando o papel.

Danika dançou para aquele lado novamente ao perceber que a musica estava quase acabando. Ela se arrastou pelo chão, pegando cada nota jogada, e deitou-se na borda, deixando a cabeça pender no ar, numa posição que chamava atenção para seu decote.

Viu Al se esticar, trêmulo, para por uma nota alta dentre os seios dela. Danika não se mexeu e não desviou os olhos escuros dos seus. Sorriu satisfeito e inclinou-se para ela, visando beijá-la.

- Não pode tocá-la. - Al advertiu, ciumento.

- Eu posso, não é, querida? - sorriu vitorioso, ao olhá-lo soberbo.

- Sim, Caleb. - ela respondeu corada pela proximidade sedutora do chefe.

- Consegui o que queria. Pode descer daí. - sussurrou em seu ouvido, colocando outra nota em sua blusa. - vamos embora.

Ela não disse nada. Levantou-se de súbito e saiu da pista, agradecendo a todos e lançando-lhes beijos voadores(que eram disputados aos empurrões). Registrou, satisfeito, aquela visão sexy de Danika e saiu dali, antes que Alphonsus lhe arrumasse problemas.

Esperou-a na porta, por onde entraram, lembrando-se de cada movimento que ela havia feito. Aquela cobrança havia sido, no mínimo, aproveitadora, mesmo se Alphonsus não tivesse lhe pagado.

- Vamos embora. - ela apareceu de cabeça baixa a sua frente. - não quero mais voltar aqui...

- Claro. - abriu-lhe a porta e ela passou, encolhida. - você foi bem, Danika. Sabia que podia contar com você...

- Ele pagou, pelo menos? - ela continuava de cabeça baixa, envergonhada pelo sucesso de sua performance.

- Sim. E tenho certeza de que ele precisará de um banho frio mais tarde. - sorriu com a visão e ela se encolheu mais ainda. - tudo bem?

- Há mais alguma cobrança para hoje? - ela perguntou, com um passo para trás quando tentou se aproximar.

- Não. Obrigado por sua ajuda. - sorriu gentilmente, afastando todas as lembranças da cobrança e de sua atuação. - vá para casa e descanse.

- Certo. Preciso mesmo. - ela tateou os bolsos da calça e tirou duas notas. - esse é o dinheiro que colocou em mim.

- Pode ficar.

- Não. - ela disse, colocando as notas no bolso de sua camisa. - não preciso desse dinheiro, nem de todo aquele que ganhei dançando.

- O que fez com ele?

- Hoje era o dia do atendimento individual e eu roubei a chance delas. Aquele dinheiro não era meu, de qualquer forma. - ela falou, encarando-o séria. - prometa que isso não vai se repetir.

- Não vai. Te juro. - levantou a mão e cruzou o peito.

- Bom.... pode me escoltar? - estranhou aquele pedido. - pelo menos até meu bairro?

- Sem problemas. - sorriu, abrindo-lhe passagem.

- Caleb! - ambos pararam á visão de Alphonsus, ofegante, parado um pouco depois da esquina. - seu cachorro ordinário, trapaceiro!

- O que você quer, Al? - perguntou, colocando-se a frente de Danika. - veio fazer outra dívida? Não acho que seus filhos irão gostar.

- Cale-se, seu sanguessuga ordinário! Vim negociar! - viu-o ficar sério com aquele insulto. Não que Danika pegaria a dica daquela fala, mas não gostava de ser camado daquele jeito. Era tão revelador

- O que você quer?

- Pago o triplo da dívida se você me der ela! - ele apontou apara a moça atrás do rapaz.

- O que? - ela ofegou, sentindo-se pior ainda.

- Como ousa pedir algo assim? - o tom debochado de antes deu lugar a um perigo reprimido. Ele estava irritado.

- Eu venho a essa boate a meses só para vê-la! Acompanhei todos os shows que ela fazia! Negociei a venda dela com o dono e continuei vindo mesmo quando ela se demitiu! E agora você é o dono dela? Eu a quero!

- Seu... - mordeu a boca, segurando no fundo da garganta o palavrão que queria dizer. Ele não tinha idéia do que estava falando. Não mesmo!

- Foi você... - aquele sussurro tremido soou depois do barulho da bolsa se chocando no chão. - então, foi...

- Danika? - virou-se devagar, para encará-la. Sua expressão não era nada amigável. - você...

- Doze horas de cativeiro... e você foi o mandante... - ela caminhou até o rapaz á passos pesados e olhos perigosos. - quase fui morta... por sua causa...

- Eu ia te dar tudo e você só teria que ser minha. - pegou-lhe o rosto, trazendo-a para mais perto. - mas você preferiu fugir... não tive escolha.

- Seu... imundo! - livrou-se da mão dele e jogou-o no chão. - por sua causa não enxergo com um dos olhos!

- Sua... - calou-se ao ser espancado pela garota raivosa.

- Pare, Danika. - pediu, tirando-a de perto do fardo caído. - chega.

- Me deixa bater nele! Quero esmagar aquela cabeça! - ela gritou, se debatendo para se soltar. - me deixa!

- Vai se rebaixar tanto? Quer destruir a imagem que tenho de você? - disse suavemente em seu ouvido e ela parou. - deixe isso para outra pessoa.

- Me tira daqui... - ela pediu, agarrando-se, chorosa, em seu braço.

- Vamos. - pegou a bolsa dela e conduziu-a até a frente da boate.

- Volta aqui! - Alphonsus gritou, tentado golpeá-la.

Virou-se e interrompeu-o, antes que ele a machucasse. Danika ficou estática. Acompanhou o movimento de seu corpo e afastou-se, para dar-lhe liberdade. Firmou-se no lugar e assistiu a métrica de força. De alguma forma, sentia que não podia com nenhum deles.

- Que furdunço é esse? - Cal apareceu, segurando uma barra de ferro. - Dani, o que está havendo?

- Lembra do por que fugi? - ela perguntou ao grandalhão, olhando funesta, para a disputa. - do por que saí daqui?

- Por causa do sequestro. - ele falou, com o sorriso invertido.

- Aquele é o mandante. - ela apontou raivosa.

- Ah, é? - o olhar macabro de Cal fez a briga parar instantaneamente. Caleb se afastou quando o segurança pegou Al pelo colarinho. - foi esse mauricinho que te aterrorizou, Dani?

- Deixo-o em suas mãos. Não faça nada que te prejudique. - pegando a mão do chefe e puxando-o dali. - até mais, Cal.

- Até, Danika! - ouviu a voz grutual do amigo se perder entre o som de socos e chutes.

Ficaram em silêncio a maior parte do caminho, enquanto atravessavam o parque do centro. Danika tremia e não fazia questão de esconder isso. Estava preocupado com ela. Sua mão ficava gélida a cada minuto de silêncio. E isso não era bom. Ela precisava se recompor.

- Danika... - começou, quando ela parou.

- Me diga, Caleb. - ela falou, ainda de costas. - Qual a imagem que você tem de mim? Afinal, tirando as cobranças em que te ajudo, somos dois estranhos. Não sabemos nada um do outro. Que imagem você teria de mim?

- Uma positiva. Garanto.

- E, depois do que aconteceu agora, essa tal imagem positiva mudou?

- Sim. - ela se encolheu, soltando-lhe a mão.

- Então... é isso... - ela sussurrou, caminhando lentamente. - boa noite...

- Espera! - parou-a ao pegar-lhe a mão. - não tire conclusões precipitadas.

- Eu vi seu olhar. - ela falou, com lágrimas rolando. - Reconheço aquele olhar em qualquer lugar. É o mesmo que tive que aturar... odeio isso... odeio aquele lugar... odeio o tipo daqueles homens que vão lá... e me odeio por...

- Por ter sido a diversão deles. - completou sua frase e ela soluçou.

- Me odeio por gostar... por gostar de aparecer e brincar daquele jeito... eu não sou assim... não...

- Eu sei que não. - garantiu-lhe, chegando mais perto.

- Como pode saber? Você não me conhece...

- Mas é o que você está falando não é? Não está sendo sincera comigo agora? - sorriu, vendo-a ceder ao próprio peso. Apressou-se em ampará-la, antes que se machucasse. - você está bem?

- Eu estava dançando... - ela balbuciou, com a voz tremula pelo choro. - de repente só ouvi os tiros para o alto. Foi uma confusão infernal... ás vezes ainda ouço o “peguem-na antes que fuja!”. Estava tão apavorada que não pude reagir. Me mantiveram presa num apartamento perto da área nobre... eles tentaram... mas na época eu ainda me virava com o que eu copiava dos filmes... depois de doze horas resolvi fugir antes que conseguissem alguma coisa. Roubei o celular de um deles e chamei a polícia. Chegaram em pouco tempo, mas não foi o suficiente. Atiraram em mim quando tentei fugir... mas a bala desviou e me acertou de raspão no rosto... comprometeu a visão daquele olho... me joguei da janela quando começaram a troca de tiros. Fiquei em coma um tempo e perdi a visão do olho esquerdo... então...

- Você jurou não voltar mais lá... - sussurrou apertando-a contra o peito.

- A partir daí, recuperei os movimentos com Kung fu e Le Parkour e aprendi a me defender com Aikido, o boxe... e as aulas de tiro... mas...

- Você ainda se sente indefesa. - completou, vendo-a chorar.

- Me diga... qual era a imagem que você tinha de mim antes disso tudo?

- De uma garota intrigante que, mesmo se metendo em encrenca, não se incomoda em fazer o que é mandado.

- E agora?

- Agora só coloco incrível antes do intrigante. - confessou, vendo-a se surpreender. - não é porque vi aquele seu lado sedutor que vou achar que você é vulgar ou outra coisa. Todo mundo te dois lados. Não se envergonhe daquele.

- Diria isso se fosse você no lugar daquele cara?

- Eu estou no lugar de Alphonsus. Digo...

- Sei... - ela suspirou, se endireitando com um sorriso. - cara! Devo estar horrível! Não estou? Diga a verdade!

- A verdade? - perguntou surpreso. Esperava mais alguns minutos de choro. - bem... seu rosto está inchado pelo choro. Só isso.

- Só isso? Menos mal. - ela riu. - desculpe por ter que me ouvir, Chefe. Precisava desabafar. Por isso pra fora. Sabia que é a primeira pessoa que ouve isso? Nem o Cal ouviu essa história. Desculpa te aborrecer com isso.

- Sem problema. - sorriu. - não se preocupe, isso não vai pra sua conta.

- Aí seria demais! - ela bufou. - ei. Ficou chocado com a minha atuação?

- Perplexo. - confessou, passando-lhe a frente. - a melhor parte foi a surra que você deu no Al.

- O que ele te devia?

- Dinheiro. Meio milhão, para ser exato.

- Minha... nossa... e você fala disso como se fosse uma ninharia.

- Tem gente que me deve mais. - parou-se para encará-la. - e essa dívida é muito preciosa para se medir em cifrões.

- Não me olhe como se eu fosse uma má pagadora. - reclamou, sentindo-se arrepiar. - estou pagando minha dívida, não estou?

- Está. E melhor do que eu pensava. - sorriu, voltando a andar. - boa noite, Estelle.

- É Danika! - gritou raivosa, ao vê-lo sumir.


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