Dívida de Sangue escrita por Tsuki Dias


Capítulo 5
Cinco - Gentleman




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A chuva finalmente havia dado uma trégua. Em algum lugar se ouvia notícias sobre alagamentos em outras cidades, algumas pontes caídas e pessoas sumidas. Precisava admitir que era preocupante, mas sentia-se segura por morar num prédio tão alto numa cidade sem problemas como aqueles.

Serra Vermelha era situada em um terreno consideravelmente alto. Cercada de montanhas e verde, mesmo para uma cidade daquele porte. Havia apenas um rio que a cortava e ele ficava num bairro nobre bem afastado. Por isso nunca se ouvia falar dele transbordando.

Fazia dias que Caleb não a chamava para algum trabalho, sendo sua última cobrança em um antiquário no centro da cidade. O dono não pagara todo o material que Caleb havia lhe entregado, mas aquilo não podia ser chamado de cobrança. Ele só havia ligado e pedido para ela ir lá, durante o horário de funcionamento, e pegar o restante do pagamento.

Olhou para o envelope em cima da mesa de centro, ao lado de seu celular e suspirou. Desde aquela vez no clube, sentia-se estranhamente dependente dele. Praticamente contava os minutos quando anoitecia, apenas para receber aquela ligação e a permissão para encontrá-lo.

Fazer aquelas cobranças com ele era divertido, agradável mesmo com os perigos que corria. De alguma forma, sentia-se apta a fazer qualquer coisa desde que ele estivesse ali, observando-a. Sentia-se forte, ousada... E se ele lhe sorrisse depois do serviço, era a melhor recompensa que poderia ganhar.

Tinha que admitir que estava se apaixonando por aquele cara, tal como Emília Rosemouth havia previsto. Não tinha como não se apaixonar por ele! Tudo nele era digno de ser admirado: aquela aura de mistério, aquele senso de preocupação, aquela mania de perguntar se estava bem, aquela capacidade de dizer o que precisava ser dito, aqueles olhos violetas... Inferno! Não tinha como não se apaixonar por ele!

Suspirou tocando o vidro da janela com a testa. Queria vê-lo, ouvir sua voz, desafiar suas expectativas, admirar aquele sorriso... Era duro. Era duro desejá-lo em silêncio. Era duro agir normalmente, como se fossem apenas colegas de trabalho, e encará-lo sem demonstrar qualquer um daqueles sentimentos que sentia era uma tortura.

Seria tão mais fácil se tivesse nascido homem!

Deixou o celular tocar três vezes antes de atender. Não queria demonstrar o quanto estava ansiosa pra falar com ele. Devia manter distância. Não queria acabar como Emília. E se mantivesse aquela relação profissional, poderia ficar ao lado dele por muito mais tempo.

O que, por enquanto, bastava.

— Eu... — atendeu com a melhor voz entediada que conseguia fazer.

— Danika? — seu coração bateu mais forte quando aquela voz proferiu seu nome. — parece entediada.

— Normal. — deu de ombros, como se ele pudesse vê-la. — e aí?

— Está ocupada?

— Estava navegando. — mentiu um pouco. — por quê?

— Pensei em fazermos algo diferente esta noite. — a voz dele parecia diferente do habitual. Ele estava encabulado?

— Diferente como? — seu coração deu um salto com isso. — o que está tramando?

— Nada demais. É só um jantar social. — podia sentir a força que ele fazia para continuar a conversa. — então? Aceita?

— Seria uma boa. — tentou não parecer nervosa. — onde?

— Você vai ver. — podia sentir o sorriso na voz dele. — só para adiantar: vista algo elegante.

— Entendido... Então, aproveitando, te levo o pagamento do Sr. Zing.

— Ah, sim. Te vejo naquele parque daqui a duas horas, tudo bem?

— Certo. — concordou, analisando o envelope. — Ah, estaremos à pé?

— Vamos dar um pequeno passeio de carro, não se preocupe. — ele riu. — Até.

— Até. — ela sorriu, desligando o telefone. — cara... Isso vai ser estranho...

==**==

Ela chegou ao parque com um minuto de vantagem. Sua inseparável mochila, com tudo o que precisava para uma emergência, estava içada num dos ombros, contrastando erroneamente com a roupa que usava, enquanto mantinha a bolsa-carteira segura numa das mãos. Seguiu pelas trilhas, perguntando-se se ele se esquecera de marcar um ponto de encontro ou se era proposital, pois algo lhe dizia que ele estava ali, caçando-a oculto na escuridão.

Não sabia se aquele vestido era elegante o suficiente para a surpresa que ele tinha preparado. Aquele tomara-que-caia de corpo justo e saia armada, que comprara há anos, era um tanto informal com aquela estampa abstrata em cinza, ainda mais pelo comprimento ser acima do joelho. Mas, nada como um bolero para cobrir os ombros e uma meia-fina para esconder as pernas.

— Você está linda. — ouviu logo atrás, num dos bancos que acabara de ver vazio. — onde é a festa?

Virou-se devagar e viu-o sentado, de um jeito tão à vontade que não condizia com a imagem que ele passava, num banco que acabara de ver vazio.

Ele vestia um traje social. Uma camisa branca repousava, aberta em três botões que revelavam o pescoço e a clavícula, sobre seu peito debaixo de um blazer escuro. A calça de alfaiataria parecia feita sob medida, ao terminar exatamente a três dedos do tornozelo. O cabelo estava penteado, daquele jeito meio bagunçado (que demorava horas para ficar perfeito). E o suave perfume que exalava atingia suas narinas como o gosto da limonada que vinha tomando desde o dia em que o conhecera. Ele estava lindo e não podia sequer tocá-lo para certificar-se de que era real.

— Me diga você. — riu, ocultando no fundo da mente todos aqueles pensamentos que não podiam tomar forma. — estou aqui ao seu pedido.

— Mencionei que esse encontro não tem nada a ver com trabalho? — ele perguntou, reparando em sua carga. — acho que disse que era um jantar social.

— Eu sei. — respondeu, colocando a mochila no chão. — mas não custa nada ser precavida, mesmo em eventos sociais. E não estaremos de carro?

— Sim. — ele pensou um pouco. — tem razão. Precaução não mata, ainda mais quando se anda comigo. Ponto pra você, Danika.

— Eu sempre marco algum. — ela riu, liberando um pouco de superioridade. — e então? Posso ter uma prévia ou seguirei às cegas?

Ele riu.

— Será uma surpresa. Pronta?

Não respondeu. Sorriu suavemente, ainda escondendo seus reais sentimentos, e estendeu-lhe a mão. Por um instante, Caleb olhou-a desconfiado. Às vezes tinha dúvidas quanto à ela, sua conduta... Apesar de tudo, ainda não podia confiar cegamente nela. Queria confiar, mas não conseguia. Era uma questão de bom senso e autopreservação. Não sabia o que se passava naquela cabeça morena e se arrepiava só em pensar que ela poderia tramar algo contra ele se soubesse da verdade...

Pena... Deveria parar de pensar demais.

Ele demorou muito para aceitar sua mão. Por alguma razão sentia que ele não lhe dava plena confiança, como fazia com ele. Mas, talvez, ainda fosse muito cedo para exigir dele qualquer coisa do tipo, afinal ainda eram estranhos! Caleb não tinha a obrigação de confiar nela, então por que ela o fazia tão cegamente?

Porque era uma idiota apaixonada.

— Levanta daí, que já estou curiosa para ver aonde você vai me levar. — disse com um sorriso, puxando-o pela mão. Ele era pesado, mas não precisou fazer tanta força para puxá-lo. Ele foi gentil em segurar a maior parte de seu peso.

— Muito espinafre, Popeye? — ele perguntou, apalpando seu braço.

— Não, Brutos. Isso é puro exercício. — respondeu, quase que rudemente, em meio ao barulho de um estômago.

— Entendo. E imagino que, com fome, você não vá fazer muita coisa.

— Exercerei meu direito de permanecer calada. — retrucou mal humorada, virando-se para o outro lado.

— E nem fazer piadas. — ele comentou com um sorriso, conduzindo-a pelo parque com uma mão na base de suas costas. — desculpe.

— Não por isso. — sorriu um pouco, parando ao ver o carro. — nós vamos andar nisso?

— Por quê? — ele perguntou, abrindo a porta do luxuoso auto. — acha que esse modelo é ultrapassado?

— Isso é uma Audi! Até o mais antigo é atual! — ela exclamou, analisando o veículo com espanto. — se a intenção era se exibir, meus parabéns. Conseguiu.

— Ora! — ele sorriu zombeteiro. — esse é um modelo velho bem popular! Qualquer um pode ter.

— Só se for no seu mundo. — ela resmungou, entrando no luxuoso carro.

Ele riu entrando no lado do motorista, depois de colocar a bolsa dela no banco de trás. A cidade passava rápida pela janela. As luzes dos prédios e lojas da parte nobre formavam uma linda pintura abstrata em movimento.

A conversa era leve e o fato de estar sentada num banco de couro de um Audi ao lado do chefe mafioso mais lindo que já vira na vida por alguns instantes lhe passava despercebido, antes de voltar a si com a realidade chocante. O sorriso dele era radiante naquela semiescuridão e seus olhos brilhavam como pedras preciosas. Ainda não sabia em que curva perdera o bom senso e se apaixonara por ele. Talvez fora em algum momento entre as cobranças e os elogios.

— Chegamos.— ele anunciou parando em frente ao cinco estrelas mais requisitado da região.

— Você está falando sério?— ela perguntou surpresa.

— Claro que estou! No que pensou? Mcdonalds?— ele riu.— ou achou que seria algo mais... Íntimo?

— Digamos que não imaginava que me traria ao Le Cosset sem um pedido de casamento em mente.— ela falou ainda observando a fachada do prédio, sem notar o leve rubor nas faces dele.— nunca entrei aqui... O máximo foi ver a entrada dos fundos quando venho entregar doces...

— Hoje você vai entrar com o pé direito pela porta da frente.— ele sorriu amavelmente saindo do carro.

Danika assistiu Caleb dar a volta e abrir sua porta elegantemente, como um cavalheiro das antigas, oferecendo-lhe a mão para ajuda-la a sair. Se já se sentia apaixonada por ele, aqueles gestos foram a sentença de morte para sua parca resistência. Pousou sua mão na dele e sorriu tímida ao sair do veículo.

— Não tenha medo. Nada pode ser maior que você no momento.— ele sussurrou ao seu ouvido, conduzindo-a pela entrada luxuosa do edifício.

— É fácil falar.— ela suspirou arrepiada, observando cada detalhe brilhante do hall de espera, onde um homem elegantemente vestido consultava um livro impecável sobre um leitor.

— Sr. Caleb.— o anfitrião cumprimentou com um sorriso sutilmente esnobe.— creio que sua reunião tenha sido remarcada, pois nenhum dos outros sócios chegou ainda.

— Não vim a negócios hoje.— Caleb respondeu altivo e frio, enquanto enlaçava a cintura da moça, fazendo o outro se encolher um pouco em seu pedestal.— quero a mesa de fora.

— Mas senhor...— o olhar que Caleb lhe dirigiu terminou de deixa-lo diminuído.— Sim, Senhor. Já lhe levaremos à mesa.

Caleb assentiu uma vez e virou-se para Danika com uma piscadela travessa. Ela sorriu incerta e deu de ombros em retribuição. Nunca tinha visto aquele olhar frio, e testemunha-lo em primeira mão era um tanto desconcertante. Mas não quanto ser alvo daquela faceta marota.

Poucos minutos depois um garçom apareceu e, com uma reverencia inicial impecável, conduziu-os pelo restaurante. Danika reparava em cada detalhe do salão, das mesas e dos clientes. Um dia seu sonho teria aquela aparência e aquele volume de público. Isso era certeza.

— Por aqui, Danika. — ouviu Caleb chama-la ao pé da grande escadaria e deu-se conta que estava parada no meio o caminho.

— Desculpe. — ela falou corada, aceitando a mão dele.

— Admirando a paisagem? — ele sorriu.

— Idealizando um projeto. — ela confessou antes de ver duas portas de vidro ladrilhado se abrirem e a brisa noturna acariciar suas faces. — isso é...

A vista iluminada da cidade se estendia quase infinita até a escuridão das montanhas ao longe, logo depois da barricada de balaústres brancos em estilo grego. Duas das três mesas estavam ocupadas e pelo que podia ver, eram casais.

— Ok... Será que saio daqui solteira? — ela caçoou incerta, finalmente notando o leve rubor na face dele. — você...

— Se dependesse de mim... — ele comentou por alto, puxando a cadeira para ela se sentar. — Senhorita?

— Obrigada... — ela ruborizou com a proximidade dele. Tão perto que o vislumbre de seu pescoço lhe trouxe o gostoso cheiro de limão. — você tem uma pinta na nuca!

— Estava olhando meu pescoço?— ele riu divertido, vendo-a enrubescer mais.— aqui, veja essa.

Caleb se abaixou a seu lado e, após olhá-la intensamente com aqueles olhos violetas, ele os fechou se aproximando do rosto dela. Danika engoliu em seco, mas não se mexeu. Observou com atenção aquele belo rosto e percebeu, bem pequena, uma pinta em sua pálpebra, quase escondida dentre seus cílios.

— Que... Fofa... — ela pigarreou, tentando disfarçar. — quase não vi.

— Você é a primeira a ver. — ele sorriu, antes de sentar-se na outra ponta da mesa. — então, como foi com o Sr. Zing?

— Ele é uma graça. E gosta muito de você. — ela pigarreou, imitando caricatamente os trejeitos do velhinho. — “moça bonita é gentil. Eu feliz por moça bonita ser amiga de Moço Caleb. Moço Caleb sempre solitário. Moça Bonita e Moço Caleb devem visitar Zing. Dois amigos... muito bom muito bom! Eu feliz”!

— Ele é uma figura mesmo. — Caleb sorriu nostálgico. — faz tempo que lhe devo uma visita.

— Se conhecem há muito tempo, então...

— Uma vida. — ele suspirou vendo o garçom se aproximar com o Menu e a cartela de bebidas.

— Gostariam de algo para beber? — o rapaz sorriu solicito, pousando brevemente os olhos sobre Danika.

— Merlot... — Caleb começou, avaliando as ações do rapaz.

— E um suco de uva completo, por favor. — Danika interpôs, sem desviar os olhos do menu.

— Merlot para um e o suco dela. — Caleb repetiu um tanto frio.

— Logo trarei. — o rapaz fez uma reverencia tímida e se retirou, depois de olhar discretamente para Danika.

— Abusado... — ele resmungou desgostoso.

— Ciúmes? — ela riu.

— Você não bebe, certo? — ele mudou de assunto antes que pudesse dizer mais alguma coisa. Ela sorriu compreensiva e engatou uma conversa leve.

Alguns minutos se passaram antes do garçom voltar. Danika pediu massa enquanto Caleb embarcou na carne. A conversa seguiu até mesmo depois da sobremesa (Petit Gateou de chocolate, frutas vermelhas e sorvete de creme). Caleb revelou muito de si mesmo e Danika se viu contando mais do que normalmente diria a qualquer um. Era interessante saber de tanta coisa sobre ele. Era como se ele a estimasse mais, que a considerasse especial.

— Sempre morou aqui? — ela perguntou, bebericando sua agua.

— Família tradicional, mas morei muito tempo fora. Voltei há poucos anos. — ele revelou, terminando a ultima dose. — de onde você veio, Danika? Seu sotaque é diferente.

— Da Selva de Pedra. — ela revelou, limpando os lábios. — mas estou há muito tempo no interior. Pretendo voltar logo para os cipós de concreto.

— Não gosta da nossa humilde cidade? — ele perguntou impassível.

— Adoro. Mas não quero ficar no interior para sempre. — ela explicou. — você ficaria aqui para sempre?

— Só o necessário. Ou o tempo que meu trabalho durar. — ele suspirou.

— Está aqui contra sua vontade? — ela perguntou incomodada.

— Só cumprindo meu dever. Mas admito que gostaria de estar em outro lugar. — ele pousou a mão sobre a dela e encarou-a com aqueles olhos violetas tão penetrantes. — mas não tenho do que reclamar. Devido aos recentes acontecimentos, tenho me divertido muito.

— Que bom. — ela sorriu encabulada.

— E sabe quem é o motivo? — ele perguntou ao se levantar, ainda a encarando no fundo dos olhos, com aqueles poços violetas brilhantes. — uma doida que salvei no topo de um prédio.

— Ela deve ser bem estranha.

— É o charme dela. — ele sussurrou perto de seu rosto, ainda mantendo o contato visual. — Danika...

— Caleb! — uma voz jovem soou no local.

Caleb bufou irritado e se endireitou, encarando o recém-chegado com desgosto. O rapaz era mais novo e ligeiramente baixo; os cabelos louros estavam bagunçados e os olhos castanhos estavam aflitos. Como Caleb, ele se vestia bem, mas diferente dele, parecia forçado.

— Alan, eu disse que não queria ser incomodado! — a frieza de Caleb se mostrou novamente. — o que vocês querem?

— Temos problemas! — Alan falou alarmado, pouco se importando com a moça ao lado. — precisamos de você.

— Vocês me garantiram que não precisariam da minha ajuda. Garantiram que davam conta de subjugar aquele lobo. — Caleb rosnou irritado, fazendo o outro se encolher. — estou ocupado. Se virem.

— Ele apareceu com um campeão, Drew está em apuros! Mais ninguém pode dar conta de um cara daqueles além de você! — com aquela declaração do jovem, Caleb se calou.

Realmente se aquele lobo contrariou a decisão mútua e levou um lutador experiente, então ele não estava para brincadeiras. E se Drew não conseguia vencê-lo, o campeão deveria ser um monstro, e o único monstro entre os três...

Olhou tristemente para sua acompanhante e suspirou indeciso. Tinha prometido a si mesmo que naquela noite ia se dedicar a ela, que se desligaria totalmente de seu trabalho. Uma noite, apenas uma noite de folga com Danika. Era tudo do que queria.

— É importante, não é? Vai! Não se preocupe comigo. — ela sorriu se levantando. — obrigada pela noite.

— Me dê um minuto, te encontrarei lá fora. — falou para o rapaz que, contrariado, atendeu ao pedido. — parece que nosso “jantar social” foi brutalmente interrompido.

— Foi inevitável, imprevistos acontecem. — viu-o contar notas e pousa-las na caderneta da conta. — pelo menos terminamos de comer.

— Pelo menos. — ele riu sem graça.

— Você não quer ir. — ela observou.

— Não. Mas, como parte do acordo, tenho que ir a favor dos fracos e oprimidos. — ele deu de ombros. — é difícil ser herói.

— É algo em que eu possa ajudar? — Danika perguntou calmamente, vendo-o cerrar os punhos. — pelo que entendo de campeões, envolve luta e em pancadaria eu sou mestre.

— É uma proposta tentadora, dado o quanto gosto de te ver em ação. — ele sorriu de lado, antes que a face séria lhe roubasse as feições. — Se fosse apenas um problema meu, levaria você comigo. Mas...

— Entendo. — suspirou chateada, ignorando aquele comentário ambíguo. — Fica para a próxima, então.

— Me desculpe por ter que terminar assim. Cuide dele. — ele pediu, entregando-lhe a chave do carro. — Amanhã irei busca-lo. Boa noite, Danika.

— Boa noite. — ela sorriu aceitando a chave e viu-o se afastar com Alan em seu encalço.

Deu-se um tempo ainda ali, absorvendo toda a situação e bufou irritada. Seu bom humor evaporara como água e precisava muito socar alguma coisa. Recolheu suas coisas e percebeu o bilhete sob o vaso que não estava ali antes. Nele, Caleb pedia desculpas pelo transtorno e dizia que se divertira como nunca tinha feito em muito tempo.

Aquilo era demais.

Saiu dali apressada e ainda pode vê-los discutindo parados na calçada enquanto esperavam o carro. Conversavam numa língua estranha e pelo que sabia da faculdade, era antiga e morta. Aproximou-se despreocupada e assistiu-os encerrar a discussão com o endereço do local aonde iriam.

Lugar que conhecia bem.

— Boa sorte para vocês. — acenou com um sorriso, entregando as chaves do Audi para o manobrista.

— Percebo uma pitada de irritação, Danika. — Caleb se aproximou, encarando-a com intensidade. — E acho que a culpa é minha.

— Você vai se divertir, batendo em alguém, enquanto eu volto para casa como uma boa menina. Meu suco de uva me deixou zangada, sinto muito.

— Não há nada de divertido no que estou prestes a fazer. — seu olhar sério ganhou ares mórbidos com aquela declaração.

— Não se preocupe comigo. — suspirou, empurrando o ombro dele com um soco. — vê se toma cuidado.

— Caleb. — Alan chamou quando o carro chegou.

— Não faça nada que eu desaprove. — ele sorriu de lado, dando-lhe um peteleco na testa antes de acariciar os cabelos. E com um ultimo suspiro, se afastou dela, entrando rapidamente no Mercedes.

Danika ainda ficou ali, atônita, tentando entender que diabos fora aquilo. Caleb, seu chefe mafioso mais gostoso do mundo, dando uma de mocinho tsundere de mangá? Era sério? E aquele olhar assassino que o tal Alan lhe lançou? Também era sério aquilo?

O carro chegou logo depois e o manobrista devolveu-lhe as chaves. Entrou, ajeitou-se no banco do motorista, respirou algumas vezes e saiu cuidadosamente pelas ruas, tomando uma decisão perigosa: ou iria para casa como uma boa menina ou seguiria seu instinto; não só para ajuda-lo, mas também para aplacar aquela vontade crescente de socar alguém.

 


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