Dívida de Sangue escrita por Tsuki Dias


Capítulo 3
Três - Caleb


Notas iniciais do capítulo

Essa historia é inteiramente minha. Não há nada copiado e espero que nao seja.
Espero que gostem!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/118799/chapter/3

Estava jogada no sofá de casa, assistindo um filme que achara jogado em suas coisas. Tinha esperado o dia inteiro pela ligação do “Chefe”  mas nem sinal do cara!  Podia ter limpado a casa se soubesse que ele não ligaria.
Imaginava se aquilo tinha sido um sonho. Se fosse real, especulava sobre o que ele era. Sabia que ele não era normal, mas não podia deixar de ficar atraída.

“CORRA! CORRA!” - o rapaz na tela gritou para a mocinha enquanto algo se aproximava por trás. A coisa se aproximava rapidamente e quando ambos se viraram...

Saltou do sofá quando seu celular tocou “Untouched” de The Veronikas. Riu sem graça pelo susto que tomara. Já era bem grande para assustar-se com aquelas coisas. Pegou o aparelho e olhou o identificador. Numero desconhecido. Quem seria?

- Alô? - ela soou do outro lado da linha.

- Danika? - perguntou. - sou eu. Me encontre na Rua das Cruzes nº 75. Sabe onde é?

- Boa noite para você também. - ela bufou. - estou perto. Espera um pouco que já te encontro.

- Não demore. - advertiu e ela desligou.

Guardou o celular no bolso e suspirou. Não tinha certeza se era necessária a ajuda dela. Podia fazer aquilo tudo sozinho. Então por que envolvê-la?

Será que aquele súbito interesse nela era forte o bastante para quere-la por perto? Ou é por que queria que ela saudasse sua dívida? Ou, também, pelo fato de não ter coragem de fazer o que ia pedir a ela? Vai saber.

- Desculpe o atraso! - ela gritou enquanto corria. - tive que resolver...

- Já ia atrás de você. - ela parou ofegante.

- O que... eu... vou... fazer...? - ela articulou sem ar.

- Primeiramente: respirar. - ela tentou obedecer. - devagar.

Ela se escorou na parede tomando ar. Tomou distancia e observou-a. Danika usava uma calça de tactel preta e uma regata azul escuro, quase igual ao que ela usava quando se encontraram pela primeira vez. Nos pés um tênis de amortecedor preto e cinza e nas mãos luvas sem os dedos. O cabelo escuro estava preso no alto da cabeça e algumas gotas de água teimavam em cair das pontas. Ela cheirava a sabonete e hidratante. Flores brancas e botão de laranjeira.

Afastou algum pensamento inconveniente que teve com um leve balançar de cabeça quando ela se endireitou respirando fundo.

- Respirou?

- Sim... - bateu no peito com um sorriso nos lábios. - nada que cinco segundos não resolvam!

- Creio que foram mais que cinco. - ela riu.

- Então, quem eu devo matar? - perguntou procurando algo na bolsa.

- Ninguém. - sorriu. - guarde a arma.

- Vou bater em alguém?

- Você quer?

- Seria bom! - riu estralando os dedos. - socar sacos de areia não tem graça. Eles não reagem.

- Você treina?

- Kung fu e Aikido. As vezes faço boxe. - ela socou o ar. - Só as vezes.

- Quanto a escalar paredes?

- Isso se chama Le Parkour. - ela rodopiou. - é bem radical quando não se está sendo seguida.

- Sei. - desfez o sorriso e fixou-se na mansão a frente.

- O que você estava fazendo lá? - ela perguntou recostando-se a seu lado. - ia pular ou só estava olhando?

- Não acha que isso é assunto meu? - o olhar que ele tinha a fez arrepiar.

- Desculpa. - encolheu-se. - Vou roubar alguma coisa?

- Não. - negou procurando algo no bolso.

- Então?

- Vou fazer um teste. Se você passar, posso ter certeza de que você pode me ajudar com outras coisas. - ele tirou uma carta do bolso interno do sobretudo preto e estendeu a ela.

Encarou aquele envelope com curiosidade depois analisou o entregador. Ele estava lindo mesmo com aquela coisa cobrindo-o. A camiseta branca estava justa o bastante para revelar os músculos e o jeans escuro também não fazia feio. Já o cabelo, com exceção da franja, estava todo para trás. Pena.

- Pegue. - ele sacudiu o papel, despertando-a de seu torpor. - isso é para hoje.

- Desculpa. - pegou o envelope com firmeza. - estava imaginando o que teria aqui.

- Uma carta. - ok, merecia essa.

- Claro. - podia imaginar uma gota descendo ao lado de sua cabeça. - desculpa.

- Você se desculpa demais. - ele encostou no muro esperando alguma reação.

- Desculpa. - ambos falaram juntos e riram.

- Ok. vou tentar não me desculpar tanto. - ela riu. - o que tenho que fazer?

- Conhece os donos desta casa? - ele perguntou apontando por cima do ombro.

- O casal Rosemouth? Quem não conhece? - ela encarou o grande portão de ferro. - agora, quanto a esse palácio ser chamado de “casa”...

- Já vi maiores. - ela o olhou exasperada. - bem... basicamente, quero que entregue essa carta a Emília Rosemouth. Consegue fazer isso?

- Á senhora Rosemouth? Não é mais fácil mandar por correio? Ou...

- Essa carta é de via pessoal e ninguém pode saber dela ou da mensageira. - o olhar dele era penetrante e vítreo. - a missão é entrar e sair sem ser notada e me trazer a resposta, se tiver.

- Você é amante dela? - essa notícia a desagradou.

- Não diria isso. - ele estava incomodado. - vai fazer ou não?

- Vou. - ela ficou séria. - só me diga onde posso encontrá-la e se há cães.

- Emília estará numa suíte nos fundos da mansão. Vá pelo lado esquerdo e siga até a piscina. A janela vai estar aberta. É a primeira que verá se olhar para cima. - esperou uma resposta que não veio.

Me meto em cada uma! - pensou se preparando. - não vá embora.

- Por que iria? Quero ver seu desempenho. - ele sorriu.

- Não se surpreenda. - disse tomando distancia.

Então ela correu em direção á parede, e, tomando impulso, Danika escalou-a sem as mãos e se sentou no alto do muro(que não era nada baixo), depois sumiu do outro lado antes que a câmera de vigilância a captasse.

Habilidade ela tem. - sorriu ao pensar. - vamos ver como ela se sai.

Saltou no muro e observou-a se esgueirar sorrateiramente pelo jardim noturno em direção á casa. Sabia que era crueldade fazê-la enfrentar os quatro dobermans bem treinados de Joel Rosemouth. Para falar a verdade, nem achava aqueles cães tão ferozes assim. Também, nunca tivera que enfrentá-los.

Danika ladeava o muro escondida pelas plantas. Os cães ainda não a detectaram. De três, uma: Ou era por causa da sua presença, ou o dono estava passeando com eles(o que era provável, já que nunca estava quando ia visitar Emília), ou, ela tinha habilidade, astúcia e sorte, muita sorte.

Ou nem tanta sorte assim.

- Calma... - ouviu-a dizer baixinho entre os rosnados de um dos cães.

Ok. O Sr. Rosemouth estava em casa e os cachorros também.

Aquele doberman tinha os olhos raivosos. Os músculos do cão estavam tensos e prontos para cumprir sua função. Tinha que acalma-lo antes que tivesse mais problemas. ELE estava observando-a. Podia sentir. Então tinha que dar seu melhor.

- Calma... - pediu se aproximando, sem quebrar o contato visual.

Aproximou-se do cão em sua pose felina. Todo cuidado era pouco e não bastava muito para os outros cães virem atrás dela. Se não bastasse tudo, seu tempo era curto.

O doberman rosnou mais alto e a atacou.

Laçou-lhe o pescoço com um braço e fechou-lhe a boca. O cão rosnava e se debatia numa luta perdida. Apurou os ouvidos quando silenciou o cão com um toque num ponto de sua cabeça. Nada, apenas o movimento da casa. Espiou por cima do ombro e seguiu seu caminho evitando as janelas iluminadas e um vigia desavisado.

Chegou aos fundos e se demorou um pouco admirando a “pequena praia particular” do casal Rosemouth. Eles deviam dar grandes festas naquela piscina.  Festas realmente grandes. Colossais.

Saiu de seu deslumbre e analisou as janelas superiores. Grandes vigas de gesso surgiam do chão e sustentavam a varanda a quase seis metros do chão. Não era tão alto para pular. O difícil era subir.

Tinha que pensar... como iria subir? Como ELE subiria? Não tinha muitas opções além de escalar as vigas de gesso. Se fizesse isso estragaria as unhas.

Ótimo.

Olhou em volta e colocou seus olhos na grande árvore ao lado da sacada. Era tão grande que ultrapassava o telhado. O melhor era que o primeiro galho estava apenas a 3 metros do chão. Agora estava ficando fácil. O difícil era chegar a ela antes das câmeras mudarem de posição.

Agora era esperar... 1... 2... 3...

Correu para a arvore o mais rápido possível. Não sabia se fora filmada, mas quem se importa? Logo teria os filmes apagados pela dona. Isso se ela fosse tão boa quanto dizia-se nos tablóides da cidade.

Escalou a madeira sem problemas e engatinhou por um galho até a janela da sacada. Era mole fazer aquilo e mesmo a pequena altura de seis metros em que se encontrava, era fácil completar a missão.

Saltou a grade e se aproximou da janela aberta. O quarto era espaçoso e luxuoso em tons de amarelo e mostarda. Havia uma enorme cama de casal encostada em uma das paredes, perto de um divã e uma poltrona do outro lado. Havia também uma porta que dava para um banheiro e uma penteadeira onde uma mulher, vestindo seu melhor robe de seda vermelha por cima de uma lingerie da  Victoria's Secret, estava terminando de se pentear. Emília sequer a notou.

- Está atrasado, querido. - ela disse sem abrir os olhos. - Você nunca se atrasou assim.

Ficou sem fala. Era uma situação constrangedora. Estava tão sem graça que nem tivera coragem de dizer algo. E se Emília estivesse esperando o Sr. Joel Rosemouth? Bizarro.

- Está tão quieto. Não quer falar nada? Por que não vem aqui e... - ela se virou e tapou a boca com a mão. - quem é você? O que faz aqui?

- Desculpe o incômodo, senhora Rosemouth. Mas estou aqui a pedido de uma pessoa. - explicou-se devagar.

- Que pessoa? - ela se levantou fechando o robe.

- Conhece um rapaz alto, moreno, bonito, bem apessoado, de fala curta e misteriosa? - gesticulou enquanto descrevia seu chefe. Emília corou furiosamente.

- Você o conhece? - seu rosto era mais vermelho que sua roupa.

- Trabalho para ele. - sorriu.

- E... tem algo para me dizer?

- Bem. Eu não. Mas ele sim. - estendeu-lhe a carta. - ele estava meio ocupado, por isso não deu para ele mesmo vir te visitar.

- O que diz aí? - Emília perguntou ao pegar o papel.

- Não sei, desculpe. Ele só me disse para esperar uma resposta.

- Resposta? - perguntou enquanto abria o envelope. - sente-se.

- Obrigada. - agradeceu obedecendo.

Emília leu a carta em profundo silêncio. O rosto jovem estava sulcado pelas marcas do descontentamento. O cabelo louro caia em ondas sobre o ombro. Ela tinha olhos verdes e a pele branca. Realmente, Emília Rosemouth era linda. Sabia por que Joel a escolhera como esposa.

- Caleb não te disse mais nada? - ela peguntou com uma raiva contida.

- Não. Ele só me mandou lhe entregar a carta. - disse tentando esconder a leve pontada de surpresa por descobrir o nome dele. - Caleb deveria dizer algo?

- Bem. - ela bufou. - Eu esperava que ele aparecesse por aquela janela, rindo, e dizendo que esta carta é uma brincadeira de péssimo gosto.

- Olha... eu o conheço a pouco tempo, mas eu diria que ele não é de fazer brincadeiras de mal gosto. - Emília a olhou raivosa. - desculpe. Creio que o conhece a mais tempo que eu.

- Dois anos. - ela passou a mão pelas ondas douradas e suspirou. - mas nunca fomos além. Ele nunca falou de si mesmo, nem onde morava, o que fazia, se queria sair comigo outras horas... só chegava, fazíamos algumas coisas e ele ia embora. Só.

Engoliu a seco. Imaginava muito bem que tipo de coisas que eles faziam. Acomodou-se desconfortável no divã de couro vermelho. Emília estava entrando em uma fase emocional complicada. Um turbilhão de emoções irromperiam sua pele e ela poderia ficar muito perigosa se não seguisse a ordem.

Emília se levantou, rasgou o papel e jogou os objetos da penteadeira no chão. O carpete abafou a maior parte do som, mas seria impossível retirar o cheiro de perfume e outras coisas. Levantou-se do divã e se encostou perto da janela. Além de dar espaço para a loira se zangar a vontade, era uma maneira de se proteger de um ataque de fúria.

- Aquele desgraçado! - apesar da raiva, sua voz era baixa e comedida. - ele vem aqui, faz o que faz e me rejeita depois de tudo?!

Não disse nada. Naquele estado não era aconselhável dizer qualquer coisa, contra ou a favor. Apenas se calou e observou-a esbravejar e amaldiçoar seu chefe e ela mesma. Emília se jogou na cama e chorou copiosamente, miserável por se sentir um objeto usado e quebrado. Era digno de pena. Muita pena.

E com um suspiro trêmulo ela se levantou, limpou os olhos, e se recompôs, retomando a elegância e altiveza que sempre demonstrou ter.

- Muito bem. Ele quer resposta, não é? - Emília falou, remexendo na gaveta da penteadeira. - pois bem. Não a culpo pelo chefe que tem. Mas fique avisada que, algum dia, será você em meu lugar. Por isso digo que tente não se envolver com Caleb. Seja forte e resista. Vai ser duro, mas tente. Ele não tem piedade quanto a isso.

- Sim, senhora. - aceitou o concelho com um pouco de dúvida. - não vale a pena chorar por um homem estação.

- Homem estação... - ela repetiu gracejando. - gostei de você. Seu nome?

- Danika.

- Vejo que é inteligente. Diga, o que faz com um cara como Caleb?

- Sabe aquelas de destino e pagar pela língua? Imagine só, ele me salvou de uma violação e agora estou trabalhando para ele pra saldar essa dívida.

- Como ele te trata?

- Não dou liberdade para brincadeiras. É inteiramente profissional.

- Embora ele não ser do tipo brincalhão, é assim que começa. - ela falou e se aproximou, entregando-lhe um anel. - devolva isso a ele. E diga que não sentirei falta.

- Quer que eu minta? - aquela pergunta a desagradou.

- Não é mentira!

- Tudo bem, tudo bem. Desculpe. - aceitou o objeto e se preparou a sair. - mais alguma coisa?

- Não.

- Bem... vou indo. Mas posso te dar um conselho?

- Que tipo?

- Não minta para sim mesma e dê mais valor a quem te ama. - falou caminhando a beira da barreira. - creio que Joel sinta sua falta.

E antes que qualquer uma das duas dissesse mais alguma coisa, saltou para a árvore e caminhou pelo galho em que subira. Não ia se arriscar a encarar outro cachorrão. Queria sair dali o mais rápido que podia.

Equilibrou-se no muro e correu até o portão da frente, tentando evitar ao máximo as câmeras. Saltou para o chão e respirou fundo, encostando-se na parede ao lado do chefe.

- E então? - ele perguntou casualmente.

- Bem, ela vai sentir sua falta. Mas vai seguir em frente e dar atenção ao marido. - falou entregando o anel. - nada demais. Coisa básica.

- Bem... isso é uma boa. - ele falou, conformado. - vamos indo.

- Terei mais entregas? - pediu animada.

- Não. Por hoje chega. - ele estava sério, ainda apertando o anel.

- Foi o melhor a se fazer. - falou, tentando consola-lo. - e você sabe.

- Claro que sei disso! - ele virou-se alterado. - Por isso rompi.

- Mas?

Ele não respondeu. Virou-se e saiu andando pela noite, alterado e abalado.

- Te vejo amanhã, Danika.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Reviwens? por favor!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Dívida de Sangue" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.