Skater Girl escrita por sisfics
Notas iniciais do capítulo
Meninas, esse capítulo tem música. Então, por favor, não deixem de ouví-la quando eu der a indicação, está bem? Muito obrigada.
Bella Pov
Subi pela escada de incêndio e entrei no quarto tentando não derrubar todas as tralhas que estavam em cima da cabeceira. Nessie não estava no nosso quarto, então pude trocar de roupa e deitar sem me preocupar.
Ouvi a risada dela vinda da cozinha e depois a voz de Emmett. Talvez se eu fosse mesmo embora, ela ficasse bem. Quero dizer, antes era difícil, meu pai e Emmett nem olhavam para ela ou para mim quando ela ainda era um bebê, mas agora era diferente. Eles cuidariam dela se eu fosse.
Eles também a amavam, a única que não faria falta era eu. Mas também me importava com o que ela pensaria de mim, afinal apesar de não saber da verdade, Nessie me via como mãe. A fronha já estava molhada com minhas lágrimas e cobri a cabeça com o edredom. Eu não poderia dizer a verdade, meu pai não me perdoaria e eu só confundiria a cabeça dela. Não agora, nem nunca. Respirei fundo, tentando me manter calma, mas era quase impossível.
Se eu conseguisse conversar com os caras da Spitfire e tivesse a certeza que começaria a ganhar dinheiro suficiente para pelo menos pagar um aluguel, eu até saíria dali. Deixando o meu pedaço mais precioso, mas fugiria.
Um calafrio me percorreu quando pensei no que minha mãe diria sobre tudo isso. Ela era diferente e sempre me apoiava nas coisas que eu fazia.
Foi ela quem me impediu de fazer um aborto naquela época e quem sempre me deu fé de que tudo daria certo. Será que ela teria orgulho de mim hoje? Ela sempre gostou da idéia do skate e me lembro bem de quando tinha doze anos e ela me ajudou a grafitar meu nome atrás da prancha. Meu pai dizia que ela era louca, mas só conseguia a ver como a melhor mãe do mundo. Queria ser como ela para minha filha. Sentei na cama, empurrando o edredom com os pés. Se tinha uma coisa que minha mãe me ensinou foi ser persistente. Ela enfrentava meu pai, porque eu não faria o mesmo? E se tinha ajuda agora, era a minha hora de seguir em frente.
Estava feliz por saber que ele continuava do meu lado ainda mais depois de toda a verdade. E que ele não tinha ficado assustado ou magoado. Levantei meu colchão onde guardava um pouco de dinheiro e duas fotos. O tipo de lugar que eu nunca mexia e que mais ninguém sabia. Contei toda a grana e descobri que tinha como fundo de reserva quase seiscentos dólares. Era melhor do que nada. Olhei para a foto de Nessie e a da minha mãe. Eu podia fazer isso por elas e por mim.
Levantei da cama, busquei meu celular na calça jeans que larguei sobre a porta do armário e disquei o número da única pessoa que podia me ajudar nesse assunto.
O telefone chamou duas vezes antes que atendessem.
- Alô.
- James? - murmurei.
- Ah, oi Bells. Tudo bem? - ainda não parecia satisfeito comigo pela história de abandonar a Spitfire, mas tinha boas notícias.
- Tudo ótimo. Precisava te pedir um favor. A Vicky está perto? - não queria arrumar problemas para ele.
- Não, ela saiu com a mãe dela. O que aconteceu? O que você fez dessa vez? - soltei uma risada fraca, apesar das lágrimas ainda estarem molhando todo o meu rosto.
- Preciso que você me ajude a arrumar um lugar. - abaixei o tom de voz - Um lugar para morar, James.
- Lugar para morar? - se assustou.
- Isso. Não posso contar o que está acontecendo. - a palavra "ainda" veio na minha mente.
Não poderia contar jamais aquela história. Acabaria estragando a vida dele e a de Victoria que não tinha nada a ver com aquela confusão, mas se um dia contasse para Nessie que eu era a mãe dela, talvez tivesse que contar também quem era o pai. E mais um problema acabara de chegar nas minhas costas.
- Você está de brincadeira, né? - bufou - Vai pedir ajuda, mas não vai me contar nada. Bella, estou cansado de ser feito de idiota.
- Um dia te conto, James. Não é nada de importante agora. - menti.
- Sei. Então, o que você pensa que está fazendo tentando arrumar um lugar para morar?
- Só vou sair de casa.
- Fugir? - quase gritou.
- Não, seu idiota. Sou maior de idade, faço o que quiser da minha vida e preciso sair de casa antes que meu pai acabe com as minhas chances.
- Você quer o dizer o patrocínio?
- Sobre o que acha que estou falando?
- Vai voltar atrás, Bella? - parecia feliz - Não acredito.
- Não era o que você queria? - debochei.
- No fundo, você também. - resmungou.
Segurei o sorriso e diminuí ainda mais a minha voz para que Emmett não ouvisse. Se tinha me delatado por causa do contrato, imagine o que faria se soubesse antes que ia sair de casa.
- Me ajuda a arrumar um lugar?
- Acha que vai ter dinheiro para pagar?
- Tenho o suficiente par o primeiro mês. O resto eu me viro.
- Claro. Você sempre se vira. Er, chego em Nova Iorque em dois dias. Assim que desligar, ligo para um a pessoa e começo a ver isso para você. Tenho umas idéias, tudo bem?
- Nada muito caro. - lembrei - Sem luxos. Até um 'três cômodos' da vida serve para mim.
- Sei. - sabia que naquele exato momento, James devia estar com um sorriso que ia de orelha-a-orelha.
- Obrigada por me ajudar. - agradeci sem-graça.
- Você sabe que faria muito mais. - ouvi barulhos no corredor.
- Preciso desligar. Tchau. - fechei o parelho em seguida, antes que Nessie entrasse com seu sorriso lindo, me trazendo mais fé.
Uma semana depois.
Nessie cantarolava algumas coisas enquanto brincava com suas bonecas e eu tentava me manter concentrada na matéria de história que estava apoiada no meu colo.
Algumas pessoas da minha sala de aula me emprestaram os cadernos para que eu tirasse xerox de tudo antes do recesso para final de ano e agora era minha função estudar tudo para as provas que eu teria que fazer como recuperação assim que as aulas começassem.
Apesar de estar difícil me concentrar com tantos problemas, o principal deles não estava nas minhas costas que era arranjar o mais depressa possível um lugar para morar.
James já tinha voltado da casa da sogra e estava vendo isso para mim com um amigo que fazia aluguel de alguns apartamentos aqui pelo Brooklyn mesmo. Edward me apoiou demais e ficou super feliz quando contei a ele da minha decisão, mas eu percebia sua preocupação comigo ao me afastar de minha filha.
Voltei a atenção para as folhas e voltei a ler sobre a segunda revolução industrial, quando meu pai entrou no quarto sem fazer barulho e chamou minha atenção com sua voz.
- Bella. - dei um pulo na cama e abaixei as pernas para vê-lo.
- O que foi?
- O que está fazendo? - levantei o caderno e apontei para as letras.
- Não é meio óbvio? - debochei.
Ele cruzou os braços e acenou com a cabeça para que eu saísse do quarto. Levantei de má vontade e fui até o corredor o esperando fechar a porta.
- O que quer, pai? - cochichei.
- Acha que eu esqueci, garota. - rosnou, apesar de não passar de um murmúrio.
- Do que?
- Você quer mesmo que eu vá fazer isso para você, não é? Vai ser pior, Bella. Bem pior.
- Porque você não para de me ameaçar alguns minutos e presta atenção no que eu digo? Quando falo que posso ter futuro nisso, não estou querendo te enganar. É verdade, pai. Eles dizem que eu sou boa, você nunca me viu fazendo para dizer o contrário.
- Cala a boca. - rosnou mais alto.
Cruzei os braços e respirei fundo. Eu só estava tentando resgatar um pouco da lucidez dele e mostrar que não era nenhum monstro de sete cabeças. Queria mesmo era ficar aqui com ele e toda nossa família apesar de sempre estar isolada nessa casa, mas meu pai não daria mais chances.
- Não quero mais saber dessa conversinha de última chance. Quero que você vá amanhã mesmo depois do seu primeiro dia de aula cancelar esse maldito contrato que você fez com essa empresa.
- Acho que vou ter que pagar uma multa. - rosnei.
- Não me importa de onde você vai tirar dinheiro para cumprir o que está escrito naquele papel. Pensasse nisso antes de fazer as coisas escondida de mim. Aliás, você sempre fez. - ironizou.
- Olha aqui.
- 'Olha aqui' o caramba. Sou seu pai e você me deve respeito então não aumente o tom de voz para mim. Não enquanto morar sobre o meu teto. - apontou o dedo no meu rosto várias vezes.
O pensamento de que em poucas horas estaria livre dele foi praticamente a única coisa que me segurou para que não gritasse ali mesmo para que ele deixasse de ser tão mesquinho e idiota. Mas faltava pouco, eu só não podia chamar muita atenção de Emmett.
- Sim, senhor. Era só isso? - respirou fundo e pareceu pensar em algo a dizer, mas desistiu.
- Sim, volte para seu quarto.
- Com o maior prazer.
Passei por ele e voltei para dentro. Assim que fechei a porta, vi que Nessie falava no meu celular com alguém. Pensei que talvez fosse Edward, mas logo ela apontou o aparelho para mim dizendo que era James.
Puxei o celular de sua mão com força e atendi esbaforida.
- James?
- Oi, Bê. Tudo bem?
- Me diz que conseguiu.
- Me diz que vai me contar a verdade. - murmurou.
- Depois James. Fala logo.
- Meu amigo conseguiu sim um apartamento para você, mas é horrível, Bella. Ele não tem muita coisa agora e esse foi o lugar menos perigoso das redondezas que consegui para você, mas em compensação o apartamento é um ovo.
- Não me importo.
- Só tem o quarto que é junto com a cozinha e o banheiro. Você merece mais conforto que isso, né?
- Não, James. É o que cabe no meu orçamento.
- Sim. Deve caber. Aluguel de duzentos e cinquenta dólares por mês. Uma barganha.
- É meu. - falei logo - Pede para o seu amigo pegar a chave para mim e amanhã mesmo eu busco aí na oficina.
- Não quer visitar o apartamento primeiro, apressada?
- Não. Preciso dele o mais rápido possível. É temporário.
- Sei. Então você passa amanhã aqui bem cedo, tudo bem?
- Prefiro depois da escola. É meu primeiro dia de aula e eu não posso mais faltar.
- Sei. E o seu pai, hein Bella? - procurei por alguns segundos uma resposta para dar.
Meu pai não tinha nada a ver com minha vida. Eu já tinha dezenove anos e poderia muito bem sair daqui até porque não sentiriam minha falta.
- Podem arrumar outra empregada. - respondi.
Ele não disse mais nada e só me esperou desligar o telefone.
Nessie ainda brincava de dar comidinha na boca da boneca quando levantou o rosto e perguntou:
- Não vai me buscar amanhã na escola?
- Sabia que é muito feio escutar a conversa dos outros?
- Você estava aqui, ué? - deu de ombros.
- Então da próxima não preste atenção.
- Onde vai?
- Na oficina do James, mas volto em seguida, meu amor. O Emmett pode te buscar.
- Gosto mais quando você vai. Minhas amiguinhas acham legal o seu skate. - meu coração apertou quando deu seu mais lindo sorriso.
- Não diga uma coisa dessas, Nessie. - pedi.
Ela não entendeu nada e voltou sua atenção para o vestido de verão amarrotado de outra boneca.
- Nessie, vem aqui. Por favor? - apontei para o meu lado esquerdo.
Ela se levantou e sentou onde eu tinha pedido.
- Que foi, Bells?
- Se eu te pedir uma coisa, você me promete que vai fazer? - assentiu - Então, me promete que vai confiar em mim aconteça o que acontecer?
- Como? - perguntou, pondo os cachos atrás da orelha.
- Isso mesmo, espertinha. Me promete que vai confiar sempre na sua irmã. Não importa o que os outros digam, me promete que vai lembrar sempre que eu te amo mais que tudo. - ela parecia confusa, mas assentiu - Um dia você vai entender, meu amor. - apertei sua bochecha de leve e a fiz sorrir.
Em seguida a abracei e beijei seus cachos.
- Agora, volte a brincar.
[...]
- Sabe chegar aí? - Will perguntou, me fazendo levantar a cabeça do papel.
- É um pouco longe para ir a pé, mas tenho o skate. Estou acostumada. Não tem problema.
- Bem, então eu vou indo. Se você gostar do apartamento, fechamos o contrato amanhã à noite. Eu venho aqui na oficina e ligo para você antes.
Assenti sorrindo para o amigo de James que sorriu também até que seus olhos sumissem por causa das bochechas.
- Obrigada, Will. - James deu um tapinha nas costas dele que pegou sua bolsa e saiu da oficina que estava apenas com meia porta aberta.
- E então? - perguntou, chegando perto de mim.
- O que?
- Satisfeita?
- Você nem imagina o quanto. Vou para lá agora mesmo.
- Não vai mesmo me contar porque isso, Bella?
- Você não ia querer saber.
Ele não ia mesmo querer que eu estragasse sua vida com sua esposa e seu filho.
- Bem, tudo ótimo então. Acho que estou liberado do meu cargo de intermediador.
- Obrigada, James. - ele sorriu e caminhou até o escritório.
- Quer café?
- Não, obrigada. Preciso ir para casa e arrumar as malas.
- Acha que seu pai vai fazer algum escândalo?
- Não mesmo. - rosnei.
- E Nessie? - respirei fundo antes de responder - Todos ficamos sozinhos um dia na vida. - se encostou no portal com os braços cruzados e uma cara de não satisfeito - Será temporário. É claro que não consigo ficar longe da minha boneca.
- É claro. - debochou.
- Vou indo. Mande um beijo para Vicky e outro para Joseph.
- Nos vemos amanhã?
- Sim, te conto depois como foi.
Peguei o skate num canto da oficina e voltei para casa correndo. Assim que cheguei lá, encontrei meu irmão lanchando na sala com Nessie. Não pareceram perceber muito a minha presença. Fui até meu quarto, abri sobre a cama uma mala de mão antiga e poída que tinha e joguei ali dentro quase todas as minhas peças de roupa que não eram realmente muitas.
Fui para a cozinha e fiz o jantar mais rápido que já consegui. Deixei tudo pronto já dentro do forno e escrevi um bilhete dizendo onde estavam as coisas na cozinha, afinal nenhum dos dois sabiam onde estava nada nessa casa e pelo menos assim de fome não morreriam. voltei para o quarto e terminei de encher a minha mochila também com as roupas que faltavam e outros objetos pessoais.
Edward me ligou duas vezes, mas estava nervosa demais para atender. Eu não conseguiria até que meu pai chegasse em casa. Estava quase tudo pronto quando a porta da sala fez barulho e as vozes aumentaram os tons. Não demoraria muito para ele vir até aqui dentro e perguntar se tinha cancelado o contrato.
Mas teria uma surpresinha dessa vez. Esperei dez minutos no escuro silêncio até que ele entrou.
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- O que é isso? - perguntou, olhando para as malas.
- Minha passagem só de ida, pai. - sussurrei, ele fechou a porta e cruzou os braços.
- Do que está falando? - perguntou com um sorriso debochado.
Pelo menos, estava de bom humor.
- Estou falando de sair. Tentar viver. Coisas que não faço quando estou com você.
- Como? - levantei o rosto e só então me dei conta de que estava chorando e muito.
- Aprenda umas coisas, Charlie: essa é minha mala; aquele vai continuar sendo o meu contrato; e talvez eu não seja mais sua filha a partir de hoje. - deu uma risada amarga.
- Está pensando em sair de casa por causa dessa babaquice toda de skate? Você só pode estar brincando com a minha cara, não é?
- Ao contrário, do que você está pensando, não vou sair dessa casa só por causa do meu sonho, mas porque também não aguento mais viver como um fantasma. É melhor ficar sozinha do que com vocês dois.
I was left to cry there
Eu fui deixada para chorar lá
Waiting outside there
Esperando lá fora
Grinnig with a lost stare
Sorrindo com um olhar perdido
That's when I decided
Foi quando eu decidi
Why should I care?
Por que eu deveria me importar?
Cause you weren't there
Porque você não estava lá
When I was scared
quando eu estava assustada,
I was so alone
eu estava tão sozinha...
You, you need to listen
Você, você precisa ouvir,
I'm starting to trip
Eu estou começando a viajar
I'm losing my grip
Eu estou perdendo o meu controle
And I'm in this thing alone
e eu estou nisso sozinha
- Você não vai sair dessa casa. Não pode, se esqueceu?
- Quem disse? - me levantei e parei na sua frente - Quem vai me impedir? Não adianta mentir dizendo que me quer aqui. Tudo que você faz diz o contrário.
- Não tem lugar onde ficar. Ah, vamos parar com isso. É pura falta do que fazer. - tentou sair do quarto, mas segurei seu braço.
- Um dia você vai entender. No dia que não tiver mais nada a perder, vai entender porque vou fazer isso.
Puxei a mochila para minhas costas e pus a alça da mala no ombro. Simplesmente, sairia dali sem mais nada, pelo menos era o que eu pensava até ele gritar meu nome antes que eu terminasse de atravessar o corredor.
- Volte aqui. - disse também.
Continuei caminhando e encontrei Nessie e Emmett na sala com feições assustadas.
- O que foi? - ela perguntou.
Girei a chave na porta, mas Charlie me impediu.
- Bella, não vou dizer mais uma vez. Volte agora para o seu quarto e deixe todas essas roupas em cima da sua cama. Você não vai sair desse apartamento ou eu vou...
- Vai o que? - gritei alto demais - Não foi isso que ameaçou fazer caso eu não cancelasse a Spitfire. Sonho por sonho, pai, eu prefiro o meu.
- Você não sabe fazer nada, garota. Mal sabe viver lá fora sozinha. - gritou também.
- Muito pelo contrário. Todas as vezes que virou a cara para mim só me ajudou a aprender mais rápido como vai ser lá fora. - puxei a maçaneta, mas ele a fechou.
- Só vou falar mais um vez, garota. Você. Não. Vai. Sair. Dessa. Casa.
- Como se você se importasse.
Quando virei o rosto para olhar uma última vez para Nessie, vi que ela e Emmett já estavam bem próximos de mim. Os dois pareciam muito assustados.
- Não precisa fazer essa cara, Emmett. Sei que você está pulando por dentro. - ele enrugou o cenho.
Me abaixei e dei um último beijo no alto da testa de Nessie.
- Não se esqueça do que me prometeu.
Charlie não segurava mais a maçaneta e foi fácil demais passar. Antes que eu descesse a escada ele ainda gritou:
- Você nunca mais vai voltar nessa casa ou vai ver qualquer um de nós, ouviu? Nunca mais, Bella.
Why Should I care?
Por que eu deveria me importar?
Cause you weren't there
Porque você não estava lá
When I was scared
quando eu estava assustada,
I was so alone.
eu estava tão sozinha...
Why should I care?
Por que eu deveria me importar?
If you don't care
Se você não se importa
then I don't care
então, eu não me importo
We are not going anywhere
Não estamos indo a lugar nenhum
Fim do trecho com música.
Edward Pov
Não conseguia ficar quieto. Andava de um lado para o outro, deitava na cama, mexia no celular. Bella ainda não tinha respondido nenhuma das minhas ligações. Eu sabia que essa hora seu pai já devia estar em casa e ela fora de lá. Também sabia que aquilo era a melhor decisão a ser tomada agora na vida dela, mas ainda temia. Bella sempre pareceu mais frágil do que realmente é e isso ainda me deixava preocupado com todos seus passos.
Resolvi tomar um banho antes de dormir. Demorei pouco tempo embaixo do chuveiro, me arrumei e fui me deitar. Quando já estava quase pegando no sono, meu celular vibrou no armário de cabeceira e eu sabia quem era.
- Alô?
- Oi. - sussurrou.
- Oi. Er... estava preocupado.
- Percebi. Eu vi suas ligações. - suspirou alto e não disse mais nada.
Esperei que começasse a me contar como tinha sido e se tinha conseguido, mas não abriu a boca.
- Bells?
- O que foi?
- Onde está? - me sentei na cama.
- Estou no apartamento. O que eu consegui arranjar. - sua voz mostrava o quanto estava magoada.
- Quer conversar sobre o que aconteceu? - esperei alguns segundos até ouvir a resposta.
- Ele não quis que eu fosse. Disse que era pra eu ficar. - bufou - Droga, eu sei que ele não se importa de verdade. Só queria que eu continuasse lá para me manter presa, como se pudesse mandar em mim.
- Você fez o certo, Bella.
Ela ficou alguns minutos em silêncio e percebi que estava evitando falar porque a voz me mostraria que estava chorando. Mas sua respiração alterada já tinha feito isso.
- Quer que eu vá te ver? Saio agora daqui. Chego rápido se você me explicar como.
- Não, Edward. Claro que não.
- Não tem problema. Eu... eu posso te ajudar. - suspirou alto de novo.
- Não precisa. Eu só quero ficar um pouco sozinha. Tenho aula amanhã, treino, e preciso tentar ir ver a Nessie.
- Se você está dizendo.
- Ele disse que eu nunca mais a veria. Estou com medo disso. - sua voz estava trêmula antes que começasse a soluçar.
- Meu amor, por favor, se acalme. Sabe que não é verdade. Essa história vai acabar um dia, Bella. Ele disse isso da boca para fora.
- Não sei se vou conseguir tê-la comigo outra vez.
- É claro que vai. É sua filha e eu tenho certeza que Nessie nunca vai se afastar de você. Ela te ama demais e não vai esquecer isso. Puxou a mãe.
Bella riu bem devagar e pareceu se acalmar.
- Jura que vai tirar essas idéias da sua cabeça?
- Posso tentar.
- Vai melhorar. Confia em mim, tudo bem?
- Sim. Eu, er, eu preciso desligar. Tenho que dormir e você sabe.
- Sei. Podemos nos ver amanhã? Talvez eu possa te buscar no treino. - estava esperando que dissesse um não na minha cara.
- Eu termino às seis. Alguém na sua casa vai implicar se você se atrasar para o jantar?
- Eu aviso que tenho compromissos mais importantes. - brinquei.
Seu sorriso encheu meu ouvidos, me acalmando.
- Então nos vemos amanhã. Boa noite.
- Boa noite, Bells.
Bella Pov
Entrei na oficina e fui até o escritório. James estava sentado na cadeira com o rosto apoiado em seu braço na mesa. Estava dormindo feito um bebê.
Joguei minha mochila da escola ao seu lado o que o fez dar um pulo e levantar assustado.
- Porra, Bella, tá louca? - perguntou sonolento.
- Quer ser assaltado? A porta de ferro está aberta, as chaves dos carros logo ali no quadro e você aqui dentro dormindo. Acho que você está louco.
- Eu só caí no sono. - balbuciou.
- Acha que não percebi, né? Fala sério, James, se está tão cansado porque abriu hoje?
- Porque preciso trabalhar.
- É você vai ter trabalho em secar essa mesa babada. - brinquei.
Ele fez uma careta e se levantou.
- O que está fazendo aqui?
- Nada. - dei de ombros.
- Meu Deus, tinha me esquecido. Como foi ontem? - perguntou vindo para perto de mim.
- Er, como esperei que fosse.
- O que seu pai disse quando te viu com as malas?
- Mala. Era só uma. - corrigi.
Ele cruzou os braços impaciente e ergueu uma sobrancelha.
- Estou falando sério. O que ele disse?
- Disse que eu não veria mais ninguém daquela casa. - dei um sorriso, tentando melhorar tudo, mas meu coração ainda doía demais.
Ele abaixou o rosto e sussurrou:
- Charlie não pode fazer isso.
- Liguei agora para a escola de Nessie e perguntei se ela estava lá, mas parece que não foi para escola hoje ou ele pediu que a diretora dissesse isso. - dei de ombros - Não tenho certeza, não é?
- Quer que eu veja para você? Posso visitá-la. Estou mesmo com saudades. Há muito tempo que não vejo a pequena e já deve estar enorme.
- Você não pode. - disse mais que depressa.
Meu pai o mataria se o visse perto de Nessie. Ele também poderia dizer a James que era o pai dela, só para me provocar, ou fazer qualquer outra coisa. Não tinha certeza se era mesmo capaz disso, mas não confiava mais nele.
- Será só uma visita.
- Ele vai saber que você está fazendo isso por mim. Não vai te deixar chegar perto. Olha, esquece essa história, tá? - peguei minha mochila em cima da mesa - Isso é preocupação minha e você não precisa esquentar sua cabeça com essas besteiras. Eu dou um jeito, mas agora preciso ir direto para o treino. O cara da Spitfire quer me ver hoje lá, talvez tenha novidades sobre a disputa feminina de Los Angeles e ele me quer por lá. - sorri sem alegria e dei um passo na direção da porta, mas James segurou meu braço.
- Tem certeza mesmo? Sabe que eu faria isso por você.
- Não precisa, James. Eu tenho certeza. Absoluta. - me soltou.
- Los Angeles? Legal. - sussurrou em seguida.
- É, então eu preciso mesmo ir para não fazer feio.
- Tudo bem. O Will vai passar aqui mais tarde e eu pego o contrato para você. Vai mesmo ficar com o apartamento?
- Sim. Só preciso de um colchão. Essa noite dormi em cima da minha mala.
- Você precisa de uma cama.
- Não tenho dinheiro para isso. Um colchão já está ótimo. Já vai ser bom demais para um começo.
- Okay então. Não vou discutir. Se precisar de ajuda com qualquer coisa sabe quem procurar, certo?
Assenti e caminhei até a porta da oficina.
- Pode deixar, James. Eu conheço o telefone do 911. - ele riu e voltou para a mesa.
Edward Pov
Dois dias depois.
- Não se assuste, por favor? - pediu com a mão parada na maçaneta.
- Bella, abre logo essa maldita porta. Estou congelando aqui fora.
- Não vai ser muito diferente lá dentro. Acho que o aquecedor está com problema e vou dar uma olhada amanhã.
- Isabella, abre logo. - rosnei.
Ela fez uma careta e abriu a porta de seu apartamento. Depois de entrarmos, acendeu a luz da sala e me mostrou envergonhada as depências.
- É aqui. - deu de ombros.
Coloquei os sacos de compras no chão e olhei em volta. O lugar era mesmo pequeno. O cômodo onde estávamos tinha apenas uma janela, com o velho aquecedor embaixo, um colchão no chão e as duas bolsas que ela levara para lá. A bancada que separava aquele cômodo da cozinha era alta o suficiente para esconder a pia e o fogão embutido.
- Funciona se é o que está pensando. - ela murmurou.
- O que disse?
- Você estava olhando para o fogão e só quero informar que ele funciona. Mesmo não parecendo. - soltei uma risada.
- Deixe de idiotice, garota.
- Sei o que você está pensando. Que isso aqui é pequeno demais e que mais parece um antro ou coisa parecida, mas o contrato é só de três meses, então se ganhar mais naquele campeonato de Los Angeles, eu posso sair daqui em pouco tempo e... - as desculpas estavam me dando nos nervos, então puxei seu braço e colei nossos lábios.
Ela relaxou e aceitou o beijo com calma. Quando tive a certeza de que não falaria logo em seguida por estar sem ar, pude soltá-la.
- Bem melhor agora. - resmunguei.
Busquei as duas sacolas de papel com comida no chão e fui para a cozinha. Deixei as bolsas em cima da bancada para guardar tudo mais tarde. Quando voltei, Bella estava sentada com as pernas cruzadas no colchão. Tirei o sapato perto da porta e me sentei ao seu lado para tentar me aquecer. A cada segundo que passava eu constatava que era verdade o que ela tinha dito sobre o aquecedor.
- Então, como está se sentindo agora? - perguntei.
Queria que ela dissesse se seus medos sobre a filha estavam mais leves já que se passara três dias desde a mudança. Há dois dias não nos víamos, talvez agora estivesse mudando de idéia ou qualquer coisa do tipo. Mas ela me surpreendeu ao responder:
- Ódio por você achar que me beijando vai fazer com que eu cale a boca.
- Deu certo, pelo menos temporariamente. - dei de ombros.
Ela deu um soco no meu braço e riu.
- Estava só explicando as coisas.
- Não, você estava falando desse lugar como se estivesse pedindo desculpas por ele existir. - ela riu.
- Deve ser isso mesmo.
- O único problema que vi até agora foi o seu pensamento estúpido de achar que eu não ia nem querer entrar aqui. Você veio enumerando os problemas da vizinhança desde o mercado. Até parece que você não me conhece, Bells. Acha mesmo que eu ligo?
Ela apoiou o corpo na parede atrás de nós e suspirou alto.
- Tenho certeza que você está ligando para o frio. - soltei uma risada com sua insistência.
- Nada que você não possa consertar bem rapidinho. - a abracei e roubei um beijo, ouvindo sua risada baixa.
- Suas idéias para esquentar são boas, mas acho que quero comer alguma coisa antes. - me interrompeu dizendo isso.
Fiz uma careta, levantei com ela e caminhei até a cozinha.
- Acho que um sanduíche. - deu de ombros.
- Está frio. Eu comprei chocolate, porque não faz um fondue. Você pegou algumas frutas, certo? - ela assentiu - Então, vai ser perfeito.
- Como eu vou fazer isso aqui, Edward?
- Duas panelas. Uma com água quente, na outra quebra o chocolate. A gente põe a que está com o chocolate dentro da outra e espera derreter. Acho que assim dá certo, talvez demore um pouco, mas funciona.
Sinceramente, eu não estava me importando nem um pouco se ia demorar ou não.
- Tudo bem, er, me ajuda? - pediu, coçando a cabeça.
A ajudei com tudo, enquanto conversávamos sobre coisas diferentes daquelas mudanças. Eu já tinha percebido que ela preferia esquecer. Falamos sobre o campeonato de Los Angeles e sobre a forma que eu tinha achado de "passar a perna" no meu pai.
- Acha que ele não vai querer olhar esses formulários de faculdade antes de você enviar? - ela resmungou enquanto picava as frutas.
- Se não arriscar, nunca vou ficar sabendo a resposta. - ela concordou.
- Certo. Engenharia Química. Tem certeza. É isso que você quer? Assim, já pensou que talvez você esteja fazendo isso só para contrariar seu pai. Tipo, é uma coisa meio rápida demais.
- Já penso nisso faz bastante tempo. É mesmo o que eu quero.
- Tá, se você diz. - deu de ombros - Boa sorte. Pelo pouquinho que eu conheço do seu pai sei que ele vai virar bicho quando descobrir.
- Se descobrir. - lembrei.
Ela sorriu e colocou as frutas dentro de um pote de plástico que orgulhosamente exibia, afinal ali tudo era dela mesmo.
- Como sabia como fazer isso? - perguntou, apontando para o chocolate.
- Uma vez tive que fazer. Eu e Rosalie fizemos uma viagem ao Canadá e a vi fazendo isso na casa que ficamos.
Quando olhei de novo para Bella, a encontrei com uma sobrancelha erguida e um sorriso idiota.
- O que houve?
- Quantas vezes já saiu do país, garoto?
- Algumas. - dei de ombros.
Ela cerrou os olhos e bufou.
- Não fale como se não fosse nada de importante, tá? - se encostou na pia e cruzou os braços - Queria ter sua sorte de conhecer vários lugares pelo mundo e sei lá coisas diferentes. - suspirou, enquanto olhava para o teto.
- Tem umas coisas que você tem mais sorte do que eu.
- Sério? - se espantou.
- Eu queria morar sozinho como você está fazendo agora. - a encorajei mais um pouco e ela bufou.
- Sei, com uma casa daquele tamanho? Só pode estar louco.
- Bella, até um estado inteiro parece pequeno quando se está com Alice. - segurou uma risada, mas não conseguiu.
Em seguida, veio até mim e abaixou o fogo devagar até estar no mínimo.
- O que vai fazer? - perguntei.
- Nada. Só estou com saudade. - me abraçou e beijou meu queixo.
- Também estava. Acho que o chocolate ainda vai demorar um pouco para derreter até o final, que tal no...
Não terminei de falar, pois em seguida Bella estava me beijando e me levando para a sala/quarto. Nos jogamos no colchão desajeitamente, o que a fez ri, e começamos a nos despir. Finalmente o frio passou enquanto eu a amava. Era inexplicável toda a vontade que sentia de Bella, de estar com ela, beijar sua boca, ouvir sua voz ligeiramente rouca no meu ouvido. Nos amamos tempo suficiente para deixar o chocolate quase queimar, depois de comermos, voltamos para o colchão e achamos nos braços um dos outro a melhor forma de se aquecer. Eu teria aula no outro dia, mas Bella me convenceu de que estava tarde demais para andar sozinho pelas redondezas, então adormeci com ela. Teria que sair bem cedo pela manhã para dar tempo de ir para escola e sinceramente não me importei com o que meu pais estariam pensando.
Ela dormiu antes de mim, se aninhando no meu peito e depois de uns minutos adormeci também. Foi como se tivesse apenas piscado o olho, acordei com um sussurrar nervoso ao meu lado. Quando abri os olhos, Bella estava sentada, falando ao telefone e tremendo.
- O que aconteceu? - perguntei depressa.
Mas não rápido o suficiente para ver com quem ela falava, antes que o aparelho caísse de suas mãos.
Bella Pov
Abri os olhos, esprei alguns segundos, só então percebi que não estava sonhando. O barulho vinha mesmo do meu celular. Girei no colchão bem devagar para não acordar Edward. Ele se moveu comigo ainda dormindo me deixando passar seu braço que estava em volta de mim para o outro lado. Sabia que era tarde o suficiente para estranhar qualquer ligação, mas estava tão sonolenta que não olhei antes o identificador.
- Alô. - atendi ainda de olhos fechados.
Um estrondo alto aconteceu do outro lado da linha, como se algo tivesse explodido ou simplesmente caído de uma grande altura.
- Onde você está cachorra? - ele rosnou.
Meu corpo congelou, um batimento falhou e o ar escapou dos pulmões num jato.
- Cadê você, Bê? - Jacob gritou do outro lado.
- O-o que você quer de mim, desgraçado? - minha voz não passava de um sussurro.
Minhas mãos estavam tremendo de antecipação. Medo pelo motivo que ele estava me ligando. Os barulhos atrás também não eram bom sinal.
- Adivinha, sua piranha. Eu quero saber onde você está. Cadê aquela carta, Bella? - gritou ainda mais alto.
- Ca-carta?
- Ou você fala onde está a carta que a Leah mandou para você, ou acho que vou ter que fazer mais uma visitinha para a sua irmãzinha. Será que aquela peste sabe onde você guarda sua correspondência, minha linda?
- Jacob, não, a Nessie não. Você disse que ia ficar longe da Nessie. O que você quer de mim?
- Eu já disse. Eu quero a carta que a Leah te mandou. A carta, Bê. Não se faça de idiota. Você leu e sabe muito bem o que estava escrito lá. Não quero ter que revirar seu apartamento de novo, entendido? Diz logo, porra.
Então ele esteve no meu antigo apartamento? Ele sabia que eu não morava mais lá? Ele tinha feito alguma coisa com a Nessie? Com meu pai e Emmett?
- Jake, eu não sei onde está essa carta. - menti - Por favor, não machuca a Nessie, não machuca meu pai e meu irmão. Olha, eu não sei de carta nenhuma.
- Bella, não me faz perder o caralho da paciência. Você sabe sim. Onde está a porra da carta?
- Eu não sei. Eu joguei fora. Não li a carta porque estava com raiva da Leah por ter ido embora sem falar comigo. Por favor, Jacob, não faz nada com a minha filha.
Ouvi um estampido que parecia um tiro, mas era ainda mais seco. Depois um barulho como o de um armário sendo derrubado.
- Bê, você acha mesmo que eu vou cair nessa? Ou conta, ou eu mato aquela garota.
- Não. Por favor, não. Jake, me escuta. Você esteve na minha casa, não esteve? Eu tinha deixado a carta na cômoda da cabeceira. Se não está lá é porque eu joguei fora. Por favor, Jake não machuca minha irmã.
Ele pensou por alguns segundos, enquanto outros barulhos aconteciam. Agora eu consegui identificar uma mulher gritando pelo nome dele e o som de coisas sendo jogadas sobre uma mesa.
- É melhor você não estar mentindo. Sabe que se descobrir que você me denunciou.
- É verdade. - falei chorando - É tudo verdade. Se você esteve lá e olhou tudo, viu que não tem carta nenhuma. Jake, eu joguei fora. Não li nada. Só por favor não toca na minha irmã.
- Tá bom, porra. Você já disse isso. Agora, cala a merda da boca. - gritou.
- Jake? - a mulher chamou de novo atrás dele - Não vai dar tempo. Deixa essa desgraçada pra lá. Vamos logo.
- Cala a boca. - gritou - Não precisa se preocupar, tá Bêzinha? Não tinha ninguém em casa quando estive lá. Não queria confusão, mas até que seria engraçado encontrar aquele idiota do seu irmão ou o seu papai. - ouvi o estalo de uma automática que ele carregava.
- Jake, a polícia. - a mulher gritou de novo.
- Eu estou indo embora, meu amorzinho. Mas é só porque sei que eles estão na minha cola. Mas me espera, Bêzinha, seu Jake vai voltar. É só deixar a poeira abaixar e não vou ser tão bomzinho quanto fui até agora.
Houve outro estrondo e então a ligação caiu. Agora sim eu não parava mais de tremer.
O celular caiu da minha mão no mesmo instante que Edward meu segurou pelos ombros. Quando suas mãos me tocaram, não parecia real. Era como se o choque do mundo real me impedisse de acreditar que ele estava ali. Então, eu estava sozinha para sentir medo e chorar.
Abracei as pernas, ainda enrolada no cobertor, e deixei que a água rolasse pelos meus olhos.
- Bella? - ele sussurrou - Bella, pelo amor de Deus, o que aconteceu?
Não dei nenhuma resposta. Ele teve que esperar por longos minutos até que eu estivesse mais consciente de que o estava desesperando com toda aquela cena. Quando levantei o rosto, meus olhos estavam embaçados e inchados. Ele secou algumas lágrimas e me abraçou.
- Eu estou aqui, Bells. Pode dizer, aconteceu alguma coisa? Quem era no telefone?
- Estou com medo. - foi a única coisa que consegui falar.
Ele me abraçou ainda mais forte, dando vários beijos no meu rosto.
- Já disse que estou aqui. Não tem com o que temer. Estamos bem. O que aconteceu para você ficar assim? Quem era?
Levantei o rosto, tentando responder com o olhar. Ele demorou alguns segundos, mas se lembrou do nome da única pessoa que me faria ficar assim.
- Era ele? - perguntou um tempo depois.
Eu assenti, passei meus braços ao redor do seu pescoço e voltei a chorar.
- Acalme-se, Bella. Nós estamos bem. Ele não pode fazer nada com você aqui.
- Mas ele pode fazer com a Nessie. - balbuciei uns minutos depois.
Ele puxou meu rosto com as duas mãos e estreitou os olhos.
- Esse desgraçado ameaçou sua filha? O que ele quer dessa vez?
- Ele me ligou perguntando de uma carta que a irmã dele... escreveu para mim um tempo-po atrás. Ai, Edward, ele esteve na minha casa. Ele esteve próximo da-da Nessie e eu aqui sem me dar conta disso. Eu não devia ter saído de casa. Agora eu estaria com ela. A protegendo. Como eu posso ser tão burra?
- Ele fez alguma coisa com ela? Seu pai não fez nada?
- Não. Ele foi lá quando a casa estava vazia. - o rosto dele se amenizou - Ainda assim, esteve perto. Você não entende. - puxei meu rosto de suas mãos.
Só de saber que houve a menor possibilidade deles se encontrarem, era o suficiente para me desestabilizar.
- Calma, Bella. Esse desespero não adianta agora.
Me levantei, sem dar ouvidos ao que dizia, para me vestir. Edward me observou atentamente e perguntou:
- Onde vai?
- Vou para a casa do meu pai.
- Mas Bella, está tarde. - se levantou, enrolando o cobertor na cintura - Preste atenção no que eu estou dizendo. - segurou meu pulso para que eu não me mexesse.
- Você está bem aqui. Está segura. Jacob não tem idéia de onde você está e sua filha também está segura. Charlie não vai sair do lado dela, jamais sairía. Além do mais, esse maníaco não é louco suficiente de chegar perto dela com um policial na mesma casa. Não fica assim. Se você sair daqui agora, pode acontecer alguma coisa com você e será viagem perdida. Seu pai não vai te deixar entrar em casa de qualquer maneira.
As idéias foram difíceis de assimilar, mas consegui entender a lógica e a razão de todas elas.
- Você está certo. Eu acho. - murmurei.
Ele passou a mão no meu rosto, secando ainda mais as lágrimas, então me abraçou.
- Não fica assim, por favor. Eu sei que essa história vai acabar. Só não se consuma dessa jeito.
- É impossível, Edward. - ganhei um beijo na testa antes que me puxasse para sentar de novo no colchão - Sei que é. - me deitei no seu peito, tentando normalizar minha respiração - Você confia em mim, Bella? - assenti com a cabeça - Então, acredite quando eu digo que vou dar um jeito. Vou te ajudar, meu amor.
Apertei meus braços ao redor de sua cintura e esperei que estivesse certo. Eu só queria me livrar de Jacob, não importava de que jeito. Nem que eu precisasse matá-lo.
Edward Pov
- Você é boa nisso, Rosalie. - ela bufou e desligou o celular.
Desliguei o meu também e o joguei sobre o colchão. Terminei de vestir minhas roupas, tomei café e saí do apartamento de Bella. Ela tinha me dado uma das cópias das chaves antes de sair para escola.
Acabei me atrasando para a minha e desisti de ir, então liguei para minha irmã para que me ajudasse com nossos pais. Antes mesmo que eu ligasse, ela já tinha inventado uma história de que eu tinha ido mais cedo para o colégio, logo foi bem fácil só manter a mentira.
Pedi que Bella não fosse estudar, mas ela jurou que estava mais calma e bem para passar o dia inteiro longe de mim. Ainda estava com medo, eu conseguia ver em seus olhos, mas depois de tantas horas tentando convencê-la, eu consegui tirar algumas idéias de sua cabeça.
Algumas delas, nem eu mesmo tinha certeza se seriam verdades, mas disse para deixá-la menos tensa. Já tinha um plano que se montava passo-a-passo na minha cabeça, enquanto eu caminhava para o meu destino. Depois de parar de chorar, Bells me contou cada detalhe da conversa, então eu teria que verificar com meus próprios olhos toda aquela história de Jacob ter ido ao antigo apartamento dela.
Quando toquei a campainha, a movimentação do outro lado da porta me preparou para o que talvez viesse. O homem com bigode abriu a porta, me olhou de cima a baixo, cruzou os braços e fez um sinal com a cabeça.
- Pois não?
- Charlie? - perguntei inseguro.
- Sim. - rosnou - Quem é você?
A menina com o uniforme azul marinho da escola de freiras apareceu atrás dele com um enorme sorriso.
- Edward. - ele a encarou por alguns segundos, depois a mim.
- Pelo visto, só é estranho para mim.
- Me desculpe chegar assim na sua casa, mas é que preciso ter uma conversa urgente com o senhor. Eu sou amigo da Bella e... - seus olhos castanhos como os de Bella se estreitaram.
- Se é esse o assunto, acho que você já pode ir embora. Dá licença. - antes que fechasse a porta, pus meu pé na frente.
Charlie me olhou completamente irritado e antes que pudesse dizer qualquer coisa o filho mais velho dele entrou na sala com um sanduíche na boca e carregando vários livros.
- Vamos para escola, pestinha. - Emmett disse de boca cheia.
Ainda sorrindo para mim, Nessie passou a mochila da escola para as costas e veio para o corredor com o irmão.
- Estava com saudade. - sussurrou ao meu lado.
Seus olhos brilhavam. Me agachei no chão e a abracei.
- Também senti sua falta.
- Quero ir tomar sorvete de novo com você e a Bella. - Charlie cruzou os braços e bufou, mas não ousou interromper a fala da neta.
- Hora de ir, baixinha. - Emmett a pegou pela mão.
Ele me cumprimentou com um aceno rápido e depois a puxou para a escada do prédio.
- Tchau, Edward. Diz para a Bella que eu estou com saudade, tá? - ela gritou antes de sumir.
Agora eu estava sozinho com Charlie. Era a oportunidade perfeita, mas não sabia se seria fácil entrar no apartamento para conversarmos melhor.
- Er, será que eu posso entrar? - perguntei sem-graça.
- Não. - rosnou - O que você veio fazer aqui, rapaz? - me olhou de cima a baixo - Não parece o tipo de pessoa que minha fi... quero dizer, que a Isabella teria amizade.
- Bem, Charlie, se você me deixasse entrar talvez eu pudesse explicar tudo. A sua filha está precisando de uma pequena ajuda.
- Pensasse então antes de sair de casa. - tentou fechar a porta mais uma vez, mas então me atrevi a entrar, mesmo tendo que empurrá-lo um pouco para que saísse da frente.
- Garoto, é melhor sair da minha casa. Eu posso te prender por causa disso.
- Eu sei. - resmunguei, fechando a porta.
Ele estreitou os olhos e rosnou:
- Saia agora daqui.
- Não até que o senhor me ouça. Se vim aqui é porque realmente sua filha está precisando de ajuda. E não adianta dizer para que ela pensasse nisso antes de sair de casa, porque o senhor não deu outra escolha para ela. - não sei de onde tirei tanta coragem.
Charlie apontou o dedo na minha direção, mas o interrompi antes mesmo que dissesse qualquer outra coisa.
- E para sua informação, eu e sua filha somos mais do que amigos. Nós somos namorados. Então, se o senhor quer responsabilizar alguém pela história do contrato com o patrocínio do skate, deve culpar a mim, porque fui eu quem arranjou tudo para Bella.
- Namorados? - ele rosnou mais uma vez - Então, foi você que encheu a cabeça dela com essa história de skate. Sabe mesmo o que está fazendo com a vida dela e dessa família quando a incentivou a seguir nessa besteira toda?
- Não é besteira. Não para Bella.
- Você é só uma criança. Ainda não sabe de nada da vida. Muito menos da vida dela. - disse essa última parte com deboche.
Ele abriu a porta para que eu saísse, mas lutei contra sua vontade quando a empurrei para que fechasse.
- Sei mais sobre sua filha do que você. Até porque pelo que eu sei, Bella nunca teve um pai de verdade que a entendesse.
- Você não sabe quem eu sou.
- Mas sei tudo o que Bella passou nos últimos anos. - ele abaixou a cabeça e cobriu os olhos com as mãos - Não tenho nada com sua vida, Charlie, mas só vim aqui para ajudar Bella. Não estou julgando a sua decisão, mas coloque a mão na consciência por alguns instante e vai perceber que afastar mãe e filha não é uma boa idéia.
Ele levantou o rosto com os olhos arregalados me fitando com surpresa. Talvez Charlie não imaginasse que soubesse da história inteira mesmo eu tendo dito antes que a conhecia bem mesmo.
- Não precisa dizer nada, Charlie. Eu só vim aqui hoje para dizer isso e para buscar umas coisas para ela.
Bella tinha me dito do tamanho interesse daquele marginal na carta que a irmã dele tinha escrito e enviado para ela, mas ela não tinha certeza se ainda estava com ela. Eu estava ali para procurar, não para discutir com ele, mas sabendo o modo como ela sofria por estar fora daquela casa, então não me segurei e disse tudo que pensava.
- Eu agradeceria se você me deixasse ir no quarto da Bella agora procurar uma coisa.
- Você vai é sair da minha casa agora, muleque abusado. - ele gritou.
Apoei uma das minhas mãos no seu ombro.
- Por favor, Charlie, eu preciso mesmo procurar uma coisa para Bella. É importante demais. - ele empurrou minha mão.
- Estou pouco me lixando se é importante ou não para ela. Nenhum de vocês dois vai pisar novamente na minha casa.
Quando ele se distraiu para abrir a porta e me expulsar, eu corri na direção do corredor até estar na frente do quarto delas. Antes que conseguisse me alcançar, abri a gaveta do armário de cabeceira, mas nada achei.
- Passou dos limites. - rosnou quando entrou no quarto.
- Onde estão as coisas dela? - perguntei enquanto Charlie me pegava pelo braço e me arrastava com força até a sala de novo.
- No lixo.
- Você jogou as coisas dela fora? - ele me pôs para fora do apartamento.
- Sim. Assim como também estou fazendo com você, agora nunca mais volte aqui ou te darei voz de prisão, ouviu bem?
Que ótimo! Agora nunca saberemos o que tinha na carta.
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