Skater Girl escrita por sisfics


Capítulo 12
Capítulo Onze: Todos tem sua história triste.


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem do capítulo. Não esqueçam de deixar um review. Boa leitura.



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Dois dias depois

Entrei na oficina e vi James no escritório, fechando algumas caixas e arrumando alguns papéis. Fui até lá e me apoiei no portal.

- Precisa de ajuda? - perguntei.

Ele jogou alguns papéis para o alto com o susto e ficou ofegante.

- Obrigado, Isabella.
- Tudo bem. - dei de ombros.
- O que veio fazer aqui? - perguntou interessado.
- Me despedir de você antes que vá para a casa da sua sogra. É uma boa pista? - debochei.

Meus olhos estavam pesados assim como minha consciência. Não sei como eu tinha coragem de vir aqui pedir ajuda a James, mas precisava. Ele era o único que podia me ajudar de algum jeito, mesmo sabendo que ficar ali não era o melhor para mim.


- Ah, nossa. Desde quando você é sentimental?
- Desde que preciso do emprego de volta. Quero ser faz-tudo de novo. Será que você pode me ajudar nessa?


Ele levantou os olhos de um bolo de papéis e me encarou incrédulo.

- Vai trabalhar aqui que horas? Entre as uma e as cinco da manhã? Porque acho que esse é seu único tempo vago a partir de agora, não é? - deu uma risada.


Podia ver a felicidade transbordando de seus olhos por eu ter conseguido tudo aquilo que um dia ele sempre sonhou. Era o sonho que compartilhávamos e que só eu consegui. Senti um arrepio descendo pela minha coluna e mais uma vez me ajeitei inconformada na madeira da porta.


- O pessoal da Spitfire não vai gostar se você chegar com sono nos treinos, hein? Não quero ser o culpado por uma desclassificação ou alguns tombos. Ah, por falar nisso, acho que vou sim te ver em Seatle no início do ano. Há tanto tempo não vou numa dessas competições, sabe? Cara, nem sei mais nada sobre essas coisas. Estava pensando Bella que nós poderíamos-


- James, cale a boca. - rosnei, sem poder aguentar mais nenhuma palavra.

Ele enrugou o cenho e estranhou meu gesto.

- Caramba, Bella. Desculpa? O que aconteceu?

- Não vou mais para Seatle no início do ano.
- Porque não? A competição foi cancelada? Aconteceu alguma coisa com o patrocínio? - perguntou apreensivo.
- Nada disso. Eu só estou desistindo de tudo. - dei de ombros, fingindo não me importar.

Os olhos de James se estreitaram e pela primeira vez pareceu perceber as bolsas inchadas que eu tinha embaixo de cada olho.


- Você está de brincadeira, não está? É algum tipo de pegadinha idiota. Você vai desistir?
- Vou. Não é brincadeira, James Vou desistir. Não é o que eu quero. Não é pra mim. Chegou a hora de crescer. Isso não vai me levar a lugar nenhum mesmo.
- Você fumou alguma coisa? Não, Bella, não é você falando. É o seu pai. O que aconteceu? O que você está escondendo?
- Eu caí na real, James. Preciso de dinheiro, de futuro, não de sonhos.
- Não é possível. - ele apoiou a cabeça nas mãos - Como assim desistir de tudo Bella? - James perguntou desesperado.
- Não vim aqui pedir sua opinião, só vim avisar que quero o emprego de volta. Tem algum serviço para mim hoje?
- Não, Bella. Eu quero saber o real motivo disso tudo.
- Já que não tenho mais o que fazer aqui, então vou embora. - me endireitei e comecei a sair da oficina, mas James puxou meu braço.
- Porque você não conta? - rosnou.


Estávamos muito próximos, ele olhou nos meus olhos, depois para minha boca. Eu tinha que sair dali.

- James. - Victoria chamou de algum lugar atrás de nós.

Me virei assustada e a vi na porta dos fundos da oficina que dava dentro do escritório.

- O que está acontecendo aqui? - perguntou quase chorando.

Voltei a olhar para James e o fiz me soltar.

- Estávamos discutindo, Victoria. Mas acho que a briga já acabou por aqui. Não é o tipo de coisa que interesse a James, não é mesmo? - rosnei.
- É claro que me interessa. Você está jogando uma oportunidade fora e não quer me dizer o porquê.
- Estavam mesmo brigando? - ela perguntou ainda estranhamente fragilizada.
- Já acabou, Vicky. Já acabou. Também vim desejar feliz Natal para vocês. E dê um beijinho por mim em Joseph. - ela assentiu assustada.
- Até mais. Boa viagem para vocês dois.

Saí, fechando meu casaco até em cima e pegando meu skate que tinha largado na porta da oficina. Tive vontade de chorar de novo. Agora além de desistir do meu sonho, ainda arranjei um problema com James. Sabia que ele não me deixaria em paz como essa história, mas o importante agora não era isso.


O importante era me recuperar da leve sensação de ainda ter o cheiro dele em mim. Edward, aquele perfeito idiota. Precisava deixar de pensar nele e me concentrar em Nessie.

Edward Pov

Tomei mais dois comprimidos calmantes. Já era a segunda vez que fazia o mesmo gesto, mas nada estava funcionando.


- O senhor precisa de mais alguma coisa? - a aeromoça perguntou.
- Não, obrigado.

Ela voltou pelo corredor escuro da primeira classe que tinha saído, então apaguei a luz que ficava acima da minha cabeça. Não se via nada além do mar negro do oceano que passava embaixo de nós. Recostei minha cabeça na poltrona e imaginei onde ela estaria agora. Talvez em casa com a filha. O ódio voltou a crescer dentro de mim. Ódio de mim mesmo por não conseguir colocar na minha cabeça o que estava acontecendo. As informações estavam desconexas e ficava cada vez mais confuso toda vez que eu tentava entender.

Se Nessie tinha cinco anos, então Bella teria catorze quando deu a luz.

- Merda. - massageei as têmporas com força, tentando relaxar, mas era impossível.

Eu estava a dois dias nessa agonia e pela primeira vez desde que a conheci desejei ser como Bella. Não se aprisionar demais em nada, nunca se aproximar demais de ninguém, para não sofrer quando ela fosse embora. Essa a forma de vida que eu invejava nela. Ela tinha me mandado embora e jamais falaria comigo de novo.


Nem sei se teria coragem de encará-la depois da forma como agi. Como se fosse uma criança. Eu parecia ser mais novo até do que a propria Nessie quando gritei e disse aquelas coisas.

Agora estava explicada a semelhança e a preocupação excessiva de Bella com a garota. E se ela fosse filha de Jacob? Quero dizer, e daí se ela fosse? Porque diabos fui dizer aquilo? Senti meus olhos encherem de água, então os fechei.


A dor de cabeça começou a amenizar conforme o remédio ia fazendo efeito e eu rezava para chegar o mais depressa possível na França. Aquela sensação de perda era a pior que eu já tinha sentido na minha vida. Nunca perdi nada que tivesse real importância para mim, afinal nunca nada tinha sido tão importante para mim.

Fechei os olhos e lembrei da forma como ela me empurrou para fora, do jeito que estava acuada e magoada num canto da sala quando só o que fiz foi gritar ainda mais. Abri os olhos e verifiquei no computador de bordo quantas horas faltavam para o avião chegar no aeroporto e descobri que ainda seriam muitas dentro daquele cubículo. Trancado somente com meus malditos pensamentos.

[...]

Carlisle, Esme e Alice continuavam andando e conversando sobre a viagem que ainda terminaríamos até o Sul da França. Meu pai tinha mesmo conseguido a casa que ficamos da primeira vez que estivemos aqui com a insistência estúpida de Alice, mas ainda passaríamos um dia em Paris. Resolveram então vir para Torre Eiffel, mas eu não estava com clima para passeio.


- Se aproximem mais. - minha mãe pediu lá da frente.

Olhei para o lado e vi Rosalie me acompanhando silenciosamente.

- Estão chamando. - apontei.

Ela assentiu e deu mais alguns passos para frente até estar mais perto deles. Me mantive no meu ritmo de caminhada, enquanto dávamos a volta da Torre. Demoramos quase uma hora para subir já que Alice queria tirar fotos a cada dois segundos.

O Champ de Mars estava coberto de neve e o frio era de cortar.Tentei ignorar os barulhos a minha volta e todos os meus arrependimentos.
Seriam três semanas me martirizando dessa forma? Eu precisava voltar para Bella e pedir desculpas, mas ainda assim não conseguia imaginar isso acontecendo sem que ela me explicasse toda aquela história de Nessie. Cocei os olhos, ainda com sono por não ter descansado nem um pouco no avião.

- Não te vejo sorrir desde que chegamos. O que está acontecendo? - Rose perguntou.

Me apoiei no ferro, olhando todo aquele campo e aquela cidade linda.

- É com a Bella? - ela já sabia a resposta - Vocês brigaram antes de virmos para cá? - não respondi.

Rose sabia que eu precisava ficar sozinho, então começou a sair de fininho.

- Rose. - se aproximou de novo - Você acredita que possa existir confiança depois que somos magoados?

Ela abriu a boca para dizer algumas coisa, mas a fechou, desistindo do que pensava. Então se aproximou mais de mim e se recostou no meu ombro.

- Confiança é algo muito discutível, meu irmão. Podemos conhecer uma pessoa desde que nascemos e ainda assim não confiarmos nela. Outras vezes basta um gesto que pode durar apenas um segundo para que ela se construa na nossa cabeça.
- Sei disso.
- As vezes, a nossa confiança pode ser abalada por algum gesto ou palavra.
Ou descoberta. - pensei.
- Mas o que devemos pensar é se valia a pena antes? - a olhei pela primeira vez e seus olhos pareciam o mais sinceros que podiam ser - Pare para pensar um pouco.
- É o que eu mais faço.
- Alguns sentimentos só existem se houver confiança. Outros podem reconstruí-la. Há um coisa chamada perdão, já ouviu falar?


Se afastou de mim e foi na direção que o resto da família ia, mas as palavras dela não me deixaram. Continuaram martelando na minha cabeça. Eu sabia que tinha razão. Só precisava agora tomar minha decisão.

Bella Pov

20 dias depois.

O barulho do celular vibrando em cima da armário de cabeceira me fez acordar. Nessie dormia toda enrolada no edredom ao meu lado e tive que me desdobrar para não acordá-la. Já eram oito e meia, mas o sono ainda me fez fechar os olhos e abrir várias vezes antes de ver o que estava escrito no aparelho. Por um segundo pensei estar vendo coisas e imaginando aquilo, mas apertei o botão de visualização da mensagem e pude ler.

"Voltei e preciso muito te encontrar.

Quero conversar, Bella. Me liga, por favor?"

Li a mesma mensagem umas três vezes até entender que era ele mesmo. Mas não queria conversar, já estava sendo difícil o suficiente sem ele e sabia que a sua presença só pioraria minha vida. Joguei o celular de volta na cabeceira e abracei Nessie para tentar dormir de novo, mas é claro que depois de uma dessa não conseguiria. Levatei ainda cambaleando e fui tomar banho. Era a pessoa mais idiota do mundo. Minha vida se tornou um inferno desde que nos conhecemos, ainda assim quando me lembrava dele tinha a leve sensação de ser observada por seus olhos, de sentir seus dedos se entrelaçando aos meus e ouvir sua voz no pé-do-ouvido. Queria me enlouquecer. Eu agora pensava em algum jeito de quebrar aquele contrato, continuar com minha filha e ele vinha me encher perguntando sobre explicações?


Porque queria saber quem era o pai de Nessie? Até eu queria esquecer quem era. Dei um murro na parede no box o que me fez gritar de dor. Poderia ter quebrado a mão tamanha a força que usei.

- Merda. - gemi de novo.

Então, alguém bateu na porta do banheiro.

- Bella é você? - Emmett perguntou.

Fechei o chuveiro, me enrolei na toalha e fui até a pia. O corte começava a sangrar.

- O que você quer? - gritei.
- Dá para sair logo daí de dentro?
- Um segundo, Emmett.

Peguei embaixo da pia uma caixa de primeiros socorros, a vasculhei até achar um pacote de gase fechada e tentei enrolar minha mão nele, mas eu quase não conseguia mover os dedos.

- Morreu aí dentro? - rosnou.
- É o que você mais quer, não é? - gritei - Que eu morra. Será que já não basta ter me denunciado ainda vai ficar me atormentando aqui?


Ele deu um soco na porta do banheiro e um tempo depois ouvi a de seu quarto se fechar com um estrondo. Com calma agora pude colocar um remédio na ferida, enrolar a gase e me vestir. Talvez essa mania de socar as coisas fosse de família. Voltei para o quarto e Nessie ainda dormia como se nada tivesse acontecido. Meu celular piscava insistentemente onde tinha o deixado. Podia ser ele de novo, ou não, então olhei.

"Por favor, Bella. Eu quero muito te encontrar.

Naquele telhado que você me levou para ver o sol nascer no centro. Amanhã.  Às cinco. Não me deixe esperando."

- Bells?! - Nessie chamou, guardei o aparelho no bolso da calça e me sentei ao seu lado na cama.
- Bom dia, pequena.
- Já é hora de acordar? - perguntou, fazendo bico.
- Sim, meu amorzinho. É melhor você levantar. - se espreguiçou com um sorriso.
- O que vai fazer hoje, Bella?
- Ficar em casa. - dei de ombros.
- Isso é bom.

- Então, levanta e vamos para a cozinha. - a peguei no colo, ainda com dor na mão e a levei para tomar café.


Não conseguia parar de pensar sobre o que ele teria para me dizer. Não estava disposta a perdoá-lo pelo escândalo que fez, além do mais, tinha sido tão egoísta, individualista, nem quis saber o que eu estava sentindo e pensando naquela hora. Só ficou gritando e me olhando daquela forma como se eu fosse a pior pessoa do mundo. Qual era o meu crime então?

- Posso comer mais cereais? - ela perguntou, assenti, ainda abraçando as pernas.


Ao mesmo tempo, queria tanto vê-lo uma última vez. Tentei me convencer que era só para dizer tudo aquilo que pensava na cara dele, mas no fundo não era. Acho que passei quase o dia todo pensando naquele assunto, se iria ou não encontrá-lo. De alguma forma, apesar de todo o ódio que estava sentindo agora dele, não conseguia formar mais de uma justificativa para não vê-lo. Cheguei num impasse.

[...]

Subi as escadas, tomando cuidado para não ser vista. Parei alguns minutos em frente a porta do terraço e esperei criar coragem. A porta estava aberta como sempre e fez barulho ao fechar. O vi sentado numa daquela antigas chaminés da calha, então se virou e me encarou surpreso. Levantou com receio e andou até mim.


- Pensei que não viria mais.
- Não tinha mesmo vontade de vir. O que você ainda quer comigo?
- Bella, eu quero conversar sobre o que aconteceu naquele dia.
- Jamais imaginei. - debochei.


Ele abaixou o rosto e esfregou as mãos umas nas outras. O vento ali em cima era muito forte e ainda havia neve acumulada por todo o lado.

- Não parei de pensar no que você me disse enquanto estava fora.
- Eu deveria me sentir comovida com isso? - dei de ombros.
- Facilita um pouco as coisas para mim, Bella.
- E você facilitou para mim, Edward?

Não tive resposta, ele apenas cruzou os braços sem saber o que dizer.


- Pergunte logo o que tem para perguntar. Não estou muito satisfeita de ter vindo aqui, então acaba logo com isso. Quanto mais rápido melhor.
- Se veio, é porque no fundo queria me encontrar.
- É porque no fundo, um dia, pensei que você fosse diferente. Mas não passa de um mauricinho como qualquer outro. Você só se importa com você, Edward.
- Não. Eu vim aqui justamente para te pedir perdão. Eu não devia ter gritado ou dito tudo aquilo. - uma lágrima escapou de mim sem que notasse conscientemente.
- Sei.
- É verdade. Quero me desculpar por ter dito aquelas coisas sobre sua vida. Eu não tinha o direito de ter te tratado daquele jeito, mas é que foi um susto muito forte para mim, não sabia como reagir, acabei estragando tudo. Me desculpa?


Ele esperou que eu dissesse alguma coisa, mas continuei em silêncio. Edward pareceu perceber minha desistência e me deu as costas, indo se sentar onde estava antes.


- Não vai me perdoar, não é?
- Não. - rosnei ainda parada no meu lugar.

Edward apoiou sua mão na neve sem se importar se o queimaria.

- Não me surpreendo com isso.
- Então, porque me chamou aqui?

Fui até ele e parei ao seu lado ainda segurando as lágrimas que queriam transbordar dos meus olhos.

- Porque quero te entender, queria saber melhor porque é assim. - abaixou o rosto e terminou a frase com uma voz muito fraca - Agora entendo porque é do jeito que é, Bella. Queria saber mais de você, te ajudar, porque eu te amo.
Meu coração apertou ainda mais ao ouvir aquilo.

- Já ouvi tantas vezes "eu te amo", Edward. Me diz porque o seu é diferente? Você quer ouvir minha história triste, não é? Quer que eu comece pelo dia que descobri que estava grávida ou ainda está muito interessado em saber quem é o pai da Nessie?
- Bella.
- Eu não preciso da sua ajuda. Eu fiquei muito bem esses últimos cinco anos aguentando sozinha a criação da minha filha, a culpa da morte da minha mãe, uma casa inteira nas minhas costas além das chantagens do Jacob. Acha que é chegando agora com um sorriso torto e sua auto-confiança estúpida que vai dar solução para todos os meus problemas? Você nem sabe o que são problemas de verdade.
- Não é assim.
- Ah, não, claro que não. Você está mesmo cheio de problemas. 'Onde vou gastar meu dinheiro?' , 'Será que Havard me aceitará? Ah, não, o cartão do meu pai resolve isso.' Não preciso e nem quero a sua piedade.
- Nem eu quero isso. - rosnou.
- Então porque continua me atormentando? - parei para respirar um segundo - Até pensei que poderia sentir alguma coisa por você, mas nossos mundos são diferentes demais.
- É o que você acha, não é? - levantou o rosto e pude ver que havia uma lágrima seca na sua bochecha - Você pode até dizer que somos diferentes, que somos incompatíveis e impossíveis um com o outro, mas eu sou teimoso, Bella. Não deveria pedir para ver o quanto. Tenho muitas dúvidas desde que te conheci mais a minha única certeza é de que agora eu pertenço a você e não há mais nada nesse mundo que não queira mais do que ouvir você dizer o mesmo.


Se levantou e me abraçou, me impedindo de dizer qualquer coisa quando uniu seus lábios aos meus.

No início lutei para que ele se afastasse, mas Edward ainda era mais forte do que eu. Não só em força física, mas eu diria em controle, porque menos de um minuto depois, eu já tinha me derretido em seus braços e o beijava com tanta vontade ou mais do que ele fazia. Me separei dele, precisando de ar, e então encontrei seus olhos culpados me fitando.

- Me desculpa, Bella. Não devia ter feito isso. Não quero que pense que só estou com você porque a desejo, mas o que sinto é maior que isso de uma forma que não posso explicar. - me soltou, quase me deixando cair - Não devia ter avançado desse jeito, merda. - resmungou para si mesmo.
- Eu-eu. - não consegui completar a frase.

Ainda estava confusa demais para sentir qualquer coisa depois daquilo.
Mas que diabos, eu também o amava, a quem queria esconder? Me senti fraca demais, então cambaleei alguns passos para frente até onde ele estava sentado antes e joguei um pouco da dura neve para os lados antes de sentar na calha.


- Você está bem? - ele perguntou.
- Não. - consegui sussurrar um tempo depois.

Edward voltou a se sentar, dessa vez ao meu lado e pôs as mãos dentro do casaco. Apoiei a cabeça nas mãos, tentando compreender as últimas palavras, mas ainda era difícil.

- Edward. - não passava de um fio de voz.

Ele olhou para mim com medo.

- Acho que ... eu ... - as palavras travaram na minha garganta como se fossem me cortar - Não sei explicar, mas... - o desconforto só aumentou ainda mais - Sei que você está certo, mas não quero admitir. - confessei de uma vez, deixando as lágrimas derramarem.

Edward sorriu parecendo tão confuso quanto eu e então me abraçou. Deixei que fizesse como alguns segundos atrás quando me beijou.

- Merda, eu devia ter te falado. - sussurrei.
- Claro que não devia, Bella. Esse era um segredo seu. Uma coisa sua. Não precisava botá-lo em risco por causa de uma idiotice minha. - olhei em seus olhos envergonhados e reparei até nas suas olheiras.
- Essa situação toda está me deixando uma pilha. Eu não estou aguentando mais. - seu dedo escorregou pela minha bochecha, secando uma lágrima.
- Me perdoa pelo show que fiz? Eu devia estar do seu lado te ajudando e não te criticando.
- Você foi humano. Eu faria a mesma coisa. Só que, sinceramente, tive muita vontade de te matar naquela hora. - ele sorriu.
- Prometo, Bella, que nunca mais vou dizer nada do tipo para você. Eu percebi o que devia ter feito naquela hora. Devia ter te ajudado, sentado do seu lado, você tem razão: sou um idiota.
- Isso mesmo. - sussurrei.


Edward me abraçou de novo e me deitei em seu peito, tentando não chorar mais, e vendo o quanto não conseguia mais me afastar dele. Estava viciada, o pior vício que já pensei que pudesse existir. Seus braços me apertavam com força e eu sabia que era o abraço que tinha que ter recebido na hora dos gritos de meu pai, na hora da ameaça, da descoberta.


Jamais pensei que precisaria tanto de um abraço para me sentir confortada. Pela primeira vez percebi que eu não podia mais ficar sozinha desse jeito.

- Edward? - murmurei em sua pele.
- Diz.
- James. - soltei um soluço.
- O qu-
- James é o pai da Nessie. O meu amigo James da oficina que te falei.


Ele ficou tenso de repente e puxou meu rosto para o alto. Seus olhos estavam assustados como se não estivesse entendendo o que eu falava.

- Como assim?

- Ele é o pai da Nessie. - tentei respirar fundo - E não sabe.
- Mas, Bella-
- Eu precisava te contar se quero pedir sua ajuda.
- A-juda?
- Sim, preciso desistir da Spitfire para ficar com minha filha e preciso que você me ajude.
- Meu Deus, jamais imaginei-
- Que fosse ele. - o cortei - Você pensava que era o Jacob. Não te culpo por isso. - rosnei.
- Não estou entendendo.


Fechei os olhos para não derramar mais nenhuma lágrima e lembrei de cada detalhe daquela época. Tudo que senti e experimentei, sabia que agora precisava falar tudo que estava preso na minha garganta ou acabaria explodindo.

- Posso te contar? - perguntei ainda de olhos fechados, mas ele não respondeu - Ele era melhor amigo do meu irmão e o conheci porque o vi andando de skate. Ele se propôs a me ensinar e depois de muito tempo nós começamos a namorar.

Me lembrei de uma noite em que nós dois brigávamos atrás da rampa, quando me roubou um beijo. Era o tipo de coisa que prefiria esquecer para não guardar mágoa dele, nem de tudo o que me fez, mas agora era inevitável não lembrar.

- Eu tinha quatorze anos e bastou uma única vez para que eu tivesse a Nessie. - abri os olhos para tentar avaliar seu humor, mas Edward ainda parecia chocado demais para dizer qualquer coisa.

Era só o começo da história.

- Diz alguma coisa. - minha voz estava sumindo.

Ele balançou um pouco a cabeça e olhou para baixo.

- Quatorze anos? - assenti de modo que ele pudesse ver pela visão periférica - É meio estranho. Me desculpa, não esperava que você fosse me contar.

Dei de ombros, tentando não demonstrar medo.

- Eu sei. E não pensava que iria te contar. - voltei a ficar em silêncio e não mais o encarei.

Ele esperou que eu continuasse, mas vendo que estava quase desistindo, chamou minha atenção.

- Quer continuar? - assenti e respirei fundo.
- Quando descobri que estava grávida, não quis contar para ninguém. Só queria solucionar aquele problema o quanto antes se é que pode me entender. - assentiu amedrontado.

Até eu tinha medo de mim mesma naquela época.

- Mas minha mãe fugiu comigo, para que ninguém soubesse que eu estava grávida e disse que voltaríamos para Nova Iorque em um ano. Era tempo suficiente para ter o bebê e me recuperar. Quando voltássemos, ela seria mãe dele. Mas foi quando o acidente aconteceu.


Edward se endireitou ainda não acreditando em nada.

- Acidente?
- Sim, meu pai quis me matar quando soube da gravidez, mas minha mãe entrou na frente e disse que tomaria conta de tudo. Ela sabia que uma criança não podia tomar conta de outra e disse que assumiria meu filho, mas não deu tempo. Não contei para ninguém, nem a James.

- Ele não tem nem idéia de que Nessie seja filha dele?
- Não, nem idéia. Fui para São Francisco morar com a tia da minha mãe e não foi um momento muito bom. - tentei engolir o choro, mas era difícil - Nessie já estava com duas semanas de vida quando minha mãe saiu para ir no supermercado, uma coisa normal. - virei o rosto para o lado para que ele não visse as lágrimas, mas minha voz me denunciava - O carro da Tia Clarice não era tão bom assim. Eu queria ter morrido no lugar dela.


Me calei por não conseguir mais dizer nenhuma palavra. Não conseguia mais reviver aquilo. Edward pôs a mão no meu ombro e me chamou.

- Bells, não diga uma coisa dessa.
- Eu devia ter morrido. Seria bem melhor. Nessie teria com quem ficar e eu não teria estragado a vida do meu irmão, nem do meu pai.
- É por isso que seu irmão não...
- Não me olha, não fala comigo, fingi que não existo. Ele está mais do que certo. Eu acabei com a nossa vida.
- Não, Bella, você não acabou com a vida de ninguém. Você disse que foi um acidente.
- Mas, se ela não estivesse em São Francisco, isso jamais teria acontecido. Ela morreu por estar me dando uma escolha de vida.

Edward se calou por não ter mais o que dizer, então continuei sem olhar na sua direção.

- Meu pai olhou pela primeira vez para Nessie quando ela já tinha um ano. Meu irmão nunca mais falou comigo, nem sei o que aconteceu na vida dele nos últimos cinco anos. E depois de ter sumido quase um ano por causa da gravidez e dos primeiros meses de vida de Nessie, James me esqueceu e quando voltei ele já estava namorando com uma garota que hoje é a esposa dele.


- Não pensou em contar a ele?
- Estava feliz demais com ela, me esqueceu rápido demais, seria um crime se eu estragasse tudo contando. Viramos amigos. Também não tinha direito de estragar a felicidade de Victoria.
- Mas e você? E como fica?
- Eu sou a peça menos importante nessa história. - me abracei com frio.
- Não é verdade. Como você aguentou guardar tudo e suportar tantas coisas por tanto tempo? - suspirei e abaixei a cabeça.
- Tive uma válvula de escape com Jacob. - ele enrugou o cenho.
- Foi assim que se meteu com ele?

- Já te contei a primeira vez que o vi. Depois disso descobri que ele era irmão de uma amiga que tinha feito na rampa e Jacob me pressionou dizendo que não podia contar para o pai dele que o tinha visto fazendo aquilo, mas Leah já sabia e já namorava o cara que fazia essas coisas com o irmão dela. No início era legal. Eu era a mãe, filha, irmã, empregada durante o dia e de noite só queria fugir de tudo que me sufocava. Queria arrancar aquela mordaça. Cheguei a pensar que era amor, mas o que sentia por ele era medo, nojo e ao mesmo tempo era a minha forma de fugir de tudo.
- E... você fazia algumas coisas com ele também, certo? - assenti.
- Cheguei ao ponto de não saber mais quem eu era. Não era a mãe da minha própria filha, não era filha do meu pai, nem era a mesma com o único amigo que um já tive de verdade, eu me entreguei para Jacob e deixei que ele fizesse qualquer coisa comigo. Como se ser manipulada era o que eu mais queria. - levantei o rosto pela primeira vez depois de algum tempo e desejei realmente que Edward atendesse meu pedido - Eu vou te contar uma coisa, que nunca contei para ninguém, nem Leah sabe e foi isso que me fez voltar a ser quem eu era antes, depois de quase dois anos na mão de Jacob.
- Você está me assustando.
- Eu preciso que você não tenha medo de mim.
- Pode dizer. - respirei fundo.
- A gente estava indo longe demais. Jacob fez uma dívida com drogas, tentou pagar com um carro, mas os caras com quem ele se metia queriam mais, queriam infernizar a vida dele. Ele teve ajuda do Sam que era o cara que namorava a irmã dele e precisava de mais uma pessoa, mas ele não confiava em ninguém, então me chantagiou.
- Chantagiou?

- Também não sei como, porque nem a Leah sabe dessa história, mas ele descobriu que a Nessie era minha filha e me ameaçou com isso. Então, só uma tive uma escolha e o ajudei. Não sabia o que estava acontecendo. Fiquei dentro do carro, mas foi o dia que percebi que precisava me afastar daquele mundo. Eu o vi acabando com a vida de três caras. Eles dois, na verdade. No fundo sabia o que eles iriam fazer e fiquei quieta. Deixei que fizessem. Não sou a pessoa que você pensa que eu sou. Naquele dia eu percebi que tinha que cair fora e consegui largar tudo aquilo mesmo ficando ainda uns seis meses com Jake depois daquilo... até que te conheci. Eu não sou tudo aquilo que você acha que sou e esse é um dos motivos por também ter lutado tanto para te afastar de mim. Sou tão culpada quanto eles e não queria que você tivesse que ficar com alguém assim, Edward. A minha história não é como você imaginava e muito menos sou a mocinha. Não é só do Jacob que sempre quis te proteger, mas de mim mesma também.

Edward Pov

A noite já tinha chegado. Tudo estava escuro e eu só conseguia enxergar por causa das luzes que chegavam até nós dois dos outros prédios na parte dos fundos do telhado. Alguns flocos de gelo salpicavam seus cachos soltos pelo ombro e eriçavam a lã de seu gorro azul marinho. Bella ainda não tinha levantado o rosto, mas as lágrimas já haviam cessado. Mantive meus braços ao seu redor durante todo aquele tempo e minhas mãos começavam a doer de tanto frio.


Senti seu rosto se movimentando e por um segundo pensei que ela diria alguma coisa, mas só se aconchegou mais em mim. Agora que sabia tudo que já tinha acontecido na vida dela, era mais fácil entender suas ações, seus medos, sua personalidade. Só ainda não entendia como conseguiu ficar tanto tempo suportando tudo aquilo sozinha e calada. Talvez agora ela estivesse imaginando que eu estava com medo dela ou que poderia estar chocado demais para ouvir qualquer outra coisa, mas não, só queria ajudá-la o mais rápido possível e o silêncio me angustiava. Estava em dúvida em deixá-la dar o primeiro passo ou fazê-lo eu mesmo, mas como sempre Bella me surpreendeu quando sussurrou quase inaudível:

- Que horas são?

Me perguntei se estava mesmo a ouvindo falar, então aproveitando para mover os dedos, olhei no meu relógio de pulso que já eram quase oito da noite.

- Ainda é cedo. - respondi.

Ela puxou meu braço para baixo e olhou a hora.

- Preciso ir. - a afastei um pouco e olhei em seus olhos.
- Mas porque?
- Meu pai trabalha hoje à noite. Preciso estar em casa para cuidar de Nessie.
- Mas, eu pensei que... - procurei com dificuldade as palavras.
- Que?
- Que você quisesse conversar mais. Pensei que você quisesse minha ajuda. - Bella se afastou e se abraçou, fechando os olhos para pensar no assunto.
- Acho que preciso mesmo ir.
- Acho que não quer ouvir o que tenho a dizer. - ela abriu os olhos, mas abaixou a cabeça.
- Já estou cansada de falar.

- Só me ouve então. - dei de ombros - Quero saber porque você tem que desistir da Spitfire?


Levantou o rosto como se eu tivesse dito a maior idiotice do mundo.

- Não vai me enganar dizendo que não ouviu minha conversa com meu pai naquele dia.
- Acha mesmo que seu pai seria capaz de tirar sua filha por causa disso?
- Ele faria por muito menos. - sussurrou, se encostando de novo em mim.
- Não pode deixar ele tirar isso de você também. Não agora que você conseguiu. - eu já tinha uma idéia na cabeça.
- Ou é a minha filha ou é o meu sonho. Não há escolha, Edward. Sempre vai ser ela em qualquer coisa que eu tiver que escolher na minha vida.
- Não precisa ser assim.
- Como não precisa?
- Você já é responsável por você, Bella. Pode muito bem cuidar de si e da sua filha.
- O que está dizendo?
- Que eu te ajudaria se quisesse fugir com Nessie.


Ela apoiou sua mão em meu peito e levantou o rosto assustada.

- Que idiotice é essa?

Seus olhos me repreenderam, mas eu confiava mesmo que aquela não era uma má idéia.

- Quantos anos você tem? - perguntei como se não soubesse.
- Dezenove. - respondeu bufando.
- Já é maior de idade. Cuida da sua filha desde muito antes disso além de ter a responsabilidade daquela casa toda em suas costas. Se morasse sozinha com Nessie não seria tão diferente. Talvez até mais leve porque não vai ter seu pai e seu irmão também.

Ela riu sem humor.

- Então eu fujo com Nessie e quem paga as minhas contas?
- A Spitfire. - disse como se fosse óbvio - Os prêmios dos campeonatos, o dinheiro do patrocínio, é o suficiente para vocês duas.


Bella se levantou, cruzou os braços e olhou para frente com impaciência.

- Em que mundo você vive, Edward? Já pagou alguma conta na sua vida?
- Não pode ter tantos gastos assim morando sozinha com ela.
- Eu ainda não ganho dinheiro com essa história de skate. E nem sei se vou ganhar.
- Mas você faz isso por prazer, não faz? Pare de falar como seu pai.
- Ele deve ter razão. Em alguma coisa, ele deve ter razão. Eu só preciso cancelar esse contrato.
- Você sabe que se houver quebra de contrato, vai acabar pagando uma multa por isso. Não acha que seu pai vai reclamar também? Seu futuro, Bells.
- Eu não posso. - sua voz falhou - Se for embora com Nessie, meu pai vai atrás da gente para buscar ela. Eu posso até ser presa, Edward. Sequestro ou qualquer coisa parecida. Para todos os efeitos, a mãe dela já morreu.

Ela tinha razão. Apoiei a cabeça nas mãos e respirei fundo.

- O jeito é você sair daquela casa sozinha então. - não parecia tão impossível assim.
- Eu não sei. - ela sussurrou um tempo depois.

Me levantei e passei meus braços ao seu redor para que soubesse que eu estava ali. Bella me abraçou de volta e encostou a cabeça no meu peito.

- Hora de ir pra casa. - sussurrou.
- Tem medo de deixá-la sozinha, não é?

Ela tremeu e assentiu.

- Eles vão cuidar dela, Bella. Pense que você não está desistindo da sua filha, mas só escolhendo o melhor para vocês duas.
- E como deixá-la sozinha pode ser o melhor para ela? - puxei seu rosto para o alto para que me encarasse.
- Vai ser por pouco tempo. Um dia você pega ela para você. Afinal, um dia você vai ter que contar para Nessie que ela é sua filha, não vai? - o medo brilhou em seus olhos. - Bella, eu não posso te ver desistindo assim. Você sabe que tem uma saída. Me promete que vai pensar? - encostei meu queixo na sua testa.


Ela demorou alguns minutos, mas assentiu ainda tremendo e sussurrou:

- Tchau Edward.


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