Muitos dias depois.

Edward Pov

- E como você vai fazer com a Spitifire? - perguntei a Bella, enquanto trancava a única janela dali e fechava a cortina.
- Alguém tem que ser maleável nessa história além de mim. Se a diretora já está dando essa colher de chá de me deixar matar aula para viajar, a Spitifire vai ter que entender que terei que faltar o treino depois para repor as aulas. - ela explicou.
- Você está levando as duas coisas bem a sério. Gosto disso. - revirou os olhos de um jeito engraçado pelo que eu disse.
- Prefiro levar o treino na brincadeira. Fica mais leve. - sussurrou.

A ajudei a se levantar do colchão, então demos uma última olhada em cada canto de seu apartamento para ver se não tinha esquecido nada.

- Vamos logo? O avião não vai me esperar.

Saímos, ela trancou bem a porta, então me entregou dois molhos de chaves.

- Para que isto? - perguntei.
- Me deram os dois quando aluguei o apartamento. Já tinha te emprestado um naquele dia que dormiu aqui. Porque a surpresa? Quero que fique com os dois e guarde a minha enquanto estou em Seatle, a outra é sua.
- Está me dando a chave do seu apartamento? - perguntei - Posso me aproveitar disso.

Já estávamos no primeiro andar e seguíamos para a rua. É claro que não estava conseguindo controlar a minha cara. Devia ser uma espécie de surpresa, ironia e felicidade. Ela me olhou com uma sobrancelha erguida, porém com as bochechas rosadas e bufou.

- Pára de me olhar desse jeito. Droga. Não tem nada demais. Vamos pegar o ônibus.
- Ônibus de novo, Bells? - estava cansado - Eu pago o táxi e me deixa carregar essa mochila pesada. Dá um tempo, vai.
- Está vendo algum táxi por aqui? - neguei - Ótimo. Eu também não vou deixar que você fique pagando as coisas assim para mim. Olha, é melhor irmos de ônibus.

Tentei tirar a mochila de suas costas umas duas vezes enquanto andávamos até o ponto, mas para variar ela negou ajuda.

- Cabeça-dura. - resmunguei.

Ouvi seu riso, apesar de não poder ver seu rosto enquanto fazia sinal. Tivemos que pegar duas conduções até chegar ao aeroporto, durante o caminho cansegui acalmá-la para a competição. Seriam quatro dias em Seatle e Andrew estava muito animado e ansioso para vê-la 'em ação' pela primeira vez. Eu também estava, mas meus pais jamais poderiam saber que eu e Bella estávamos aqui. Apesar de saber que eles desconfiavam, continuava mentindo sobre o meu paradeiro e minhas desculpas estavam começando a se esgotar.

O aeroporto estava como sempre cheio, mas não demoramos a achar o portão de embarque onde Andrew a esperava.

- Bom dia, minha garota. Preparada? - ela assentiu enquanto se cumprimentavam - Trouxe tudo?
- Claro. - o cumprimentei também e abracei Bella - Tudo que eu vou precisar está dentro da mochila. Só tenho uma dúvidazinha. Onde vou levar isso? - levantou um pouco o skate.

Ele o pegou com cuidado pela prancha e sorriu.

- Deixa comigo. Vocês vão se despedindo e todas essas coisas de namorados. Vejo você lá dentro. Tchau Edward.

Me despedi, então o assistimos passar pelo primeiro portão e entregar o skate para um rapaz que o seguia.
- Não sabia que ele ia também. Você está tendo muito cuidados. - resmunguei.
- Isso é uma pontinha de ciúmes ou é impressão minha?

Ela se esticou na ponta do pé e me deu um beijo. A abracei com força, sentiria sua falta e precisava daquele momento, mas fomos interrompidos alguns segundos depois.
- Bê. - a chamaram.

Bella se afastou assustada. Ela encarou o homem loiro perto de nós com uma sobrancelha erguida.

- James? - gaguejou.

Acho que fiquei com a mesma expressão que ela. Jamais pensei que conheceria o cara que antes Bella dizia que era tão seu amigo e agora eu sabia que era o pai de sua filha.

- Oi, Bells. - ele sorriu - Sei que disse que não viria, mas queria desejar boa sorte.

"Ela tinha pedido que ele fosse até lá?". Nossas mãos entrelaçadas chamaram a atenção dele que sorriu e disse:

- Você deve ser o Edward. - Bella soltou minha mão e pediu para que ele chegasse mais perto.
- Sim, esse é o Edward que já te falei. E, bem, esse é o James. - seus olhos pareciam me medir e esperar alguma reação, mas só apertei a mão dele que estava esticada na minha direção e sorri.
- Bom conhecer você, cara. - não consegui dizer o mesmo - Então, acho que cheguei bem em cima da hora, né? Pensei em passar no seu apartamento, mas pelo visto foi melhor mesmo ter vindo direto para cá.

Apesar de não ser, ele parecia bem mais velho que Bella, então fiquei me perguntando como eles tiveram qualquer coisa no passado.

- Está surpresa?
- De um jeito bom. Você nunca fez isso. - ela colocou as mãos dentro do bolso da calça enquanto me olhava de rabo-de-olho.
- Já está na hora do voô?
- Mais ou menos. O cara do patrocínio já entrou. Ele só estava esperando que eu me despedisse do meu... - apontou para mim, mas não completou a frase.
- Ah, desculpa, eu atrapalhei vocês.
- Não, tudo bem. - o silêncio em seguida era um pouco constrangedor, então segurei o braço de Bella e a apressei.
- É melhor entrar. Não deixe o Andrew pensando que você vai desistir.
- Não faria isso.

James se aproximou mais, então ele e Bella se abraçaram. Eu tinha motivos para ficar com ciúmes?

- Boa sorte, Bells. Volta logo, tudo bem? - se separaram.
- Obrigada.

Também a abracei, enterrando meu rosto em seus cachos.

- Sem ansiedade. Eu tenho certeza que você vai se dar bem.
- O que você sabe de skate, garoto? - disse rindo e apertando bem forte meu ombro.

- Sei que você é a melhor. Não se sinta pressionada pelo Andrew estar lá.
- Tudo bem. - entrelacei meus dedos em seus cabelos da nuca e a puxei num beijo. Rápido, mas como eu queria.
- Eu te amo. Volta logo. - sussurrei, quando ela nos separou.

Ajeitando a mochila nas costas, se afastou, deu um rápido aceno de novo para James e entrou pelo portão sorrindo para mim. Assim que não havia mais nem sinal de Bella, eu saí de lá.

Não fiquei justamente para não ter que falar qualquer coisa com James, mas ele me seguiu.

- Hey, er, Edwar. - continuei andando - Edward?
- Fala. - ele já estava ao meu lado.
- Queria conversar com você.
- Comigo?
- É. Eu queria te agradecer. - ele esbarrou numa senhora e teve que parar para pedir desculpas.

Tentei ser menos infantil e o esperei alguns metros na frente.

- Ah, obrigado. - disse mais perto.
- O que quer me agraceder?
- Bem, é sobre a Bella. Eu queria agradecer por tudo que você tem feito por ela. É tudo aquilo que eu queria ter feito, mas nunca pude.
- Não fiz nada. - ele ergueu uma das sobrancelhas e riu.
- Bem, ela não teria esse patrocínio se não fosse você.
- Ela fez por merecer.
- É claro que fez. Mas sem o seu empurrãozinho era meio impossível, então era só isso mesmo.
- Não há de quê. - dei de ombros.
- Você parece meio com pressa agora. Vou deixar você ir. Talvez um dia a gente possa conversar. Acho que seria bem legal.
- É, seria. - respondi antes de ir na direção da saída mais próxima.

James parecia mesmo um cara legal, mas essa não era hora de convesar. Ele também me parecia bem preocupado com o bem de Bella pelo modo como falava dela, como me agradeceu e também por tudo que ele já tinha feito por ela e que a mesma tinha me contado. Enquanto voltava para casa no táxi, parei para pensar sobre família. Quero dizer, se ele era um cara que se importava tanto com família como Bella já dissera antes, talvez tivesse vontade de "conhecer" a filha. Mas essa era uma decisão que só cabia a Bella e só a ela.

Bella Pov

O hotel era grande. Não luxuoso, mas bem melhor do que qualquer outro que já tenha ficado. Andrew fez questão que eu descansasse o dia quase todo para a competição no dia seguinte. Sozinha no quarto, liguei para Edward e avisei que tinha chegado e estava bem. Era só para ele mesmo que precisava ligar, então passei o resto do tempo livre que tive deitada, pensando sobre a vida.

Pensei sobre Rennesme, a situação com James no aeroporto, o quanto fiquei constrangida por Edward saber de tudo. Pensei em Jacob, na carta que Leah me mandara e que devia ter alguma informação para dar a polícia sobre o bando deles, alguma coisa que ela confiaria a mim, algum plano de Jacob. Lembrava dele dizendo que eu o tinha entregado. Será que foi ela que fez isso mesmo que de longe? Precisava esquecer todos aqueles problemas.

No primeiro dia, apesar do nervosismo, consegui me dar bem e encontrei um cara que tinha conhecido no último campeonato em Nova Jersey que fui com Edward e Rosalie. Isso me deixou um pouco mais a vontade, consegui até fazer algumas amizades, mas o dia passou rápido demais, logo eu estava trancada de novo no hotel.

No segundo dia, acabei cometendo uma pequena falta numa manobra simples. Um 320, mas que não consegui finalizar, acabei caindo e quase torci o pulso. Andrew não falou nada, mas sabia que ele tinha ficado preocupado.

Apesar disso, os juízes gostaram de mim e no último dia eu fiquei bem. Bem até demais. Durante a competição, houve a divulgação de uma Mega Rampa em um mês no Brasil o que fez os olhinhos de Andrew brilhar. Ele levaria um outro skatista para lá e queria que eu fosse junto, mas achei melhor não. Não fiquei em uma má colocação segundo ele. Disse que fui bem até demais, mas achei de deveria ter ido melhor. O prêmio de terceiro lugar não era lá grandes coisas, mas não precisaria me preocupar com dinheiro por uns três meses.

A cidade era legal, mas o pouco que a conheci foi no quarto e último dia antes de ir para o aeroporto. Queria que Edward estivesse me esperando quando chegasse em casa. Eu estava com saudades e acho que ele ficaria feliz com o que consegui.

Andrew passou algumas horas antes de embarcarmos falando ao telefone com Phill sobre o meu desempenho e sobre alguma mudança no contrato que não entendi e também não perguntei sobre. Horas depois, chegamos em Nova Iorque com toda aquela confusão e agitação da cidade onde eu me sentia mais confortável. Depois de sair pelo portão, encontrei Edward e Rosalie que me esperavam. Nós nos beijamos e abraçamos o mais rápido possível.

- Senti sua falta. - ele murmurou.

Quando tive chance, abracei Rosalie também.

- Quanto tempo, Bê.
- Que surpresa você ter vindo.
- Eu sei. Pedi a Edward para vir e depois de insistir um pouquinho ele deixou. - antes que nos soltássemos, ele me abraçou de volta.
- Insistir não é a palavra certa, Rose. Você me encheu até que eu não aguentasse mais ouvir sua voz.
- E porque não aceitou logo de primeira? - perguntei.
- Porque eu te queria só pra mim. Mas como ela insistiu. - bufou.

Rose fez uma careta e sorriu. Andrew chegou com sua mala numa das mãos e na outra, para variar, o celular.

- Oi, pessoal. - os dois o cumprimentaram.
- Então, Bella, nós nos vemos em breve? Que tal depois de amanhã?
- Eu tenho que repor as aulas na escola. - respondi com um pouco de pesar, prefiria treinar.

- Ah é. Tinha me esquecido. É melhor mesmo, então quando suas aulas de reposição na escola acabarem, você poderia me ligar avisando que vai treinar.
- Porque?
- Eu e o Phill queríamos conversar com você. É também sobre aquela história do Brasil.
- Brasil? - Edward perguntou.
- Ele cismou que vai me levar para ver uma competição. - expliquei por cima.
- Bom, sei que meu poder de persuação não é lá grandes coisas, mas vou levar o Phill comigo e aí a gente vê como fica, tá? - riu quando eu revirei os olhos.
- Acho melhor eu ir. Tenho alguns compromissos, então nos vemos em breve. Cuida do seu pulso, hein garota? - se despediu de Edward e Rosalie e foi na direção contrária da que estávamos.
- O que houve com seu pulso? - Edward perguntou, me girando de frente para ele.
- Nada demais. Foi só um tombo que eu tomei. Mas eu já botei gelo e nem está doendo mais.
- Tem certeza?
- Tenho.
- Quer ver um médico? Eu te levo. Você pode ter machucado mesmo e não estar sentindo. Seria bom-
- Edward, chega. Eu estou bem. - Rosalie riu de nós.
- Vocês dois são engraçados juntos. Vamos?

Edward puxou a mochila das minhas costas e o skate da minha mão, tentei protestar mas ele não deixou.

- Então, hoje é sabádo, você quer sair, ou prefere que te leve para casa para descansar?
- Bem, a Rose está aqui então vamos fazer alguma coisa.
- Não se prenda por mim. Só vim porque há muito tempo não nos víamos e eu queria saber como você foi lá.
- Ah, foi legal. Ms só consegui o terceiro lugar. - fiquei envergonhada para falar.
- Fez essa cara por causa disso? - Edward perguntou.
- Bem, eu fui melhor na última vez, né?
- Ah, Bella, deixe de besteira. Tenho certeza que você foi ótima. Se você não alcançou o resultado que queria, então é mais um motivo para continuar competindo. Eu estou orgulhoso. - acertou um beijo no alto da minha testa.
- Obrigada.
- Então, Bê, fala os nomes das manobras que você fez. Eu quero saber tudo.

Expliquei tudo que tinha feito para ela enquanto íamos para o Central Park. Edward riu várias vezes por causa da animação de Rose, e insistiu algumas vezes sobre a dor no meu pulso. Depois que a deixamos no apartamento dele junto com o carro, fomos de ônibus até o meu apartamento, apesar das reclamações.

- As chaves? - pedi, sorrindo enquanto parávamos na porta.
Ele abriu a porta, deixando que eu passasse na frente.

- Lar doce lar. - disse me jogando no colchão.

O chamei para que se deitasse comigo, abri um espaço para que viesse, então nos abraçamos.

- Senti sua falta. - sussurrou.
- Eu também senti a sua. Queria que você tivesse me visto descer a rampa, sabe?
- Foi melhor assim. Meus pais ainda estão implicando com certas coisas como as minhas sumidas repentinas e eu não estou afim de irritá-los.
- Entendi. - sussurrei.

Me deitei mais sobre seu corpo e com a ponta dos dedos desenhei seu queixo.

- Mas eu torci por você daqui, meu amor.
- Certo. O que fez essa semana além disso?
- Nada de interessante. - murmurou.

Se eu conhecia Edward, nem que fosse um pouco, sabia que ele estava mentindo.

- Nada mesmo? - ele olhou para o outro lado.
- Então, você contou no carro como foi a competição, mas eu queria saber que história é essa de Brasil?
- Porque está mentindo para mim? - me olhou com uma sobrancelha erguida.
- Porque acha isso?
- Porque sua voz sumiu, você olhou para o lado, mudou de assunto, além do mais surgiu um ruguinha de preocupação bem ali na sua testa.
- Não sabia que você ficava me medindo. - disse rindo.
- Mudando de assunto?

- Não é isso. É que... eu não fiz mesmo nada de interessante enquanto você estava fora.
- Nem pensando em alguma coisa? - insisti, mas só fiz isso por curiosidade.

Ele pareceu escolher as palavras enquanto pensava por alguns minutos.

- Quer saber sobre o que pensei essa semana? - respondi que sim - Você vai ter que prometer que não ficará brava. - enruguei o cenho - Só promete que vai me escutar.

- Tudo bem. Eu prometo se é sério assim.
- Não é que seja tão sério, mas ficou na minha cabeça desde a hora que saí do aeroporto. Fiquei pensando sobre você e sobre a Nessie. - parecia estar confessando um crime.
- Como assim? - fiquei curiosa.
- Coisas que queria conversar com você. Mas, esquece, é coisa para se discutir depois.
- Não estou cansada. - depositei um beijo em seu peito - Vim dormindo no avião, estou bem disposta, acho que temos o dia inteiro hoje para ficar juntos, né?
- Claro.
- Então pode falar. - encostei minha cabeça em seu ombro - O que pensou de mim e minha filha? É sério?
- É sim. Mas é melhor deixar para depois.
- Conta, Edward. Diz sobre o que você pensou. Está começando a me deixar nervosa.
- É que... - procurou por vários minutos as palavras certas, até que se apoiou sobre um cotovelo no colchão e fez com que eu saísse dos seus braços, sua expressão estava séria e preocupada - Depois de terça-feira quando conheci James, comecei a pensar que talvez você devesse contar a ele sobre a paternidade da Nessie.

Não tive resposta. Fiquei em silêncio, até um pouco brava por achar que ele não tinha que se meter naquele assunto, mas agora era tarde demais, ele sabia de tudo então era inevitável. Edward me avaliou também em silêncio e bufou.

- Não estou dizendo isso para te chatear. Mas eu acho que esse seria o melhor para você e para ele. Não acha que James merece saber a verdade, Bella?
- Não. - rosnei.

Antes que dissesse mais alguma coisa, me levantei e fui para a cozinha.

- Eu tinha que fazer compras. Não tem nada na geladeira.
- É você que está fugindo do assunto agora. - falou da porta.
- Não tem assunto nenhum, Edward. Você acaba de dizer uma besteira, eu simplesmente ignorei.
- Porque besteira? - não acreditei que estava mesmo dizendo aquilo - Pensei que ele fosse um cara legal.

Parecia ter um pouco de ciúmes no seu tom de voz, mas estava irritada demais para implicar. Quero dizer, jamais poderia estragar a vida de James por causa de uma coisa como essa e Edward sabia disso, só parecia ter esquecido.

- Olha, tenho tanta coisa na cabeça, será que você não pode me deixar em paz um minuto. Vamos voltar para o agora, tá? Isso já faz tanto tempo.
- Eu me lembro de você ter dito quando contou tudo para mim sobre estragar a vida de James, mas não acha que ele talvez queira saber?
- Chega. - gritei, batendo as mãos no balcão - Não quero mais ouvir nada disso. Poxa, acabei de chegar, não pode me deixar em paz um pouco?

Ele se apoiou na porta com a cabeça baixa, então sussurrou:
- Eu não queria falar disso e sabia que você também não. Era melhor mesmo ter esquecido o assunto. - me acalmei um pouco e vi que ele não tinha culpa nenhuma - Se quiser vou embora.
- Deixe de idiotice. - sussurrei.

Ele ergueu os olhos com um sorriso tímido tentando brotar.

- Então tudo bem. Prometo que vou esquecer. - caminhou até mim e me abraçou.

Sabia que a promessa era verdadeira e ele esqueceria qualquer coisa que ainda estivesse pensando sobre aquele assunto, mas o problema agora era me fazer esquecer.

Alguns dias depois.

Inclinei meu corpo para frente, soltei o peso e senti o vento bater no meu rosto. Ouvi um grito ou coisa parecida vindo de longe, mas não dei atenção até estar do outro lado da rampa. Eu estava cansada da escola, mas o skate me fazia relaxar.

Assim que parei do outro lado, inclinei o skate para fora da beirada e pulei dele. Ainda rolou até bater sem forças na grade de segurança, mas parou, então me sentei sobre ele e ajeitei o cadaço do tênis dentro da meia para que não saísse enquanto andava.

Ouvi mais um grito, dessa vez o meu nome, olhei para trás e vi Phill, Andrew e Edward lá embaixo. Abri um sorriso, me levantei com o skate e desci de novo pela rampa, dessa vez passando a mão no chão e deixando o corpo mais inclinado para frear.

Parei no meio e fui ao encontro deles. Primeiro cumprimentei Phill e Andrew, depois abracei Edward que me esperava.

- Oi, Bells. - sussurrou.
- Não sabia que iam me ver hoje.
- Garota, você é louca? - Andrew perguntou - Está sem capacete porquê?

Dei de ombros, dando um sorriso sem graça como desculpa. Ele só bufou e preferiu esquecer. Phill continuava olhando para mim com um sorriso estranho no rosto.

- Olha, Bella, vim te ver bem rapidinho antes que minha mãe chegue em casa e acabei encontrando eles. Acho que precisamos conversar.
- Conversar? - me assustei. Acho que agora entendia o sorriso de Phill.
- Quanta desconfiança, garota. Já botei você em alguma roubada? - Andrew perguntou.

- Te conheço não faz tanto tempo. - ele riu segurando a barriga e nos chamou para sentar.

Os três ficaram na arquibancada da quadra, enquanto eu subi no skate e parei sobre as rodinhas na frente deles.

- Acho que podem mandar a bomba. - resmunguei.

- É exatamente por isso que tive que vir hoje. - Phill falou pela primeira vez - Ah, vamos, Bê. Sabe que eu e meu amigo aqui só fazemos a parte do marketing da empresa. Não somos manda-chuvas, os chefões, muito menos visamos o lucro assim como eles. É claro que sem dinheiro ninguém vive, muito menos eu, mas não aceitei ver aquele vídeo com a sua descida só por causa do chato do seu namorado que me encheu o dia todo. - Edward coçou a cabeça com um sorriso tímido - Sei que você não confia no seu próprio potencial, mas estou muito afim de te pôr lá em cima, até porque daqui uns anos, você já vai estar 'velha demais' para isso. Você vê que eu não sou o tipo de cara que veste o terno mais caro da loja.
- Você tem terno? - Andrew entrou em um devaneio.
- Muito menos o cara que assina os papéis no escritório, mas tenho a chance de te pôr no lugar certo, na hora certa e, principalmente, na frente das pessoas certas. Se você deixar é claro.
- E onde você quer chegar com toda essa baboseira?
- No seu passaporte. Anda, Bê. Que história é essa de recusar uma viagem ao Brasil. É só uma viagem, ninguém vai tirar pedaço de você. - suspirei vencida.

- Não é que eu não queira, mas só me sinto ainda meio crua para isso. Acho que vocês estão sonhando demais. - Edward apoiou sua mão na minha cintura.
- Você não entende, Bella? - perguntou ainda um pouco corado - Não é nada sério. Você não vai competir. É só uma boa oportunidade que você pode ter sem se preocupar com ganhar ou perder.
- Tem gente que daria a vida por ela. Conhecer os caras bons. Visitar outro país. Ver de perto a melhor competição de todas. Você vai perder essa? - Phill cruzou os braços, enquanto vestia um sorriso torto.

Parei para pensar alguns minutos. O principal motivo de não querer sair do país era Nessie.

Eu não tinha mesmo mais notícias dela graças ao meu pai que tinha conseguido me isolar completamente da vida da minha própria filha, mas mesmo assim a idéia de ir para longe demais me deixava um pouco nervosa.

Ir para Seatle era uma coisa, para o Brasil era outra completamente diferente. Eu tinha medo de não estar por perto, principalmente, por não saber onde Jacob estava agora. Por outro lado, eles tinham razão. Eu estava tendo tudo de bandeja, coisas que muitos outros não chegavam perto nem em sonho. No fundo sabia que era egoísmo meu aceitar ir, mas prometi a mim mesma que recompensaria Nessie de todas as formas possíveis num futuro que esperava ser próximo.

- E se eu aceitar? O que vocês vão fazer?
- Vamos investir mais e mais. Você merece. - ele se animou.

Edward também tinha o mesmo estado de espírito ao meu lado.

- Gente, será que vocês não podiam dar um pouquinho mais de tempo para eu melhorar mais e tudo mais?
- Não. - os três disseram num coro.
- Tem que ser agora. Você não é só boa, garota. Mas vai abrir todas as portas pra meninas como você. É por isso que a gente te quer no Brasil e não vamos aceitar um não como resposta. - Phill disse.

Minhas pernas tremiam tanto que as rodinhas do skate até escaparam do meu pé. Eles, definitivamente, estavam enchendo demais a minha bola. Mas estava gostando.

- Então eu não tenho escapatória. - dei de ombros.
- Finalmente. - Andrew explodiu com um enorme sorriso.

Ele ficou em pé na arquibancada e apertou a mão de Phill com força.

- Isso aí, garoto. Eu sabia que você convencia ela.

Ao mesmo tempo, Edward me puxou por onde ainda me segurava e fez com que eu caísse um pouco sobre seu colo. Ele deu um beijo na minha bochecha e soriru.

- Escolha certa, Bells. Escolha certa.

Edward Pov

Entramos com a minha chave em seu apartamento e enquanto trancava a porta ela logo se jogou em seu colchão no chão.

- Finalmente, em casa. - murmurou.
- E em pouco tempo você estará fora dela. - completei.

Ela se apoiou no cotovelo, indicou com a cabeça para que me sentasse e então começou:

- Você não reclamava antes daqui. Agora já estou começando até a me acostumar.
- Não acostumamos com coisas ruins, Bella. A gente nunca acostuma.
- Ah, você entende que esse era o único jeito. - sussurrou, enquanto passava a ponta dos dedos nas costas da minha camisa.
- Eu sei, mas acho que já está tempo demais mofando aqui dentro. Já pode ter coisa melhor.
- Mais dois meses. - deu de ombros - Talvez só mais isso, okay? - assenti, enquanto ela já mudava de assunto.
- Vai ficar comigo aqui hoje? - perguntou com um bico.
- Acho melhor não. Minha irmã já teve que me encobrir na última vez que dormi aqui. Não quero tirar a paciência de Rose comigo. Ela é meu anjo-da-guarda, mas também merece descanso.
- Claro. - deu um sorriso de meio de boca.

Bella pareceu concentrada demais em algum pensamento sério, enquanto  acariciava seu braço. Seus olhos estavam perdidos, sua mente também parecia um pouco confusa, talvez fosse a novidade sobre a viagem.

- No que está pensando? - perguntei.

Ela levantou seus olhos um pouco tristes e perguntou:

- Acha que estou sendo egoísta demais com Nessie?

- Não. - respondi firme - Acho que está sendo egoísta demais consigo mesma quando pensa esse tipo de coisa. Já falei para não se martirizar. - segurei seu queixo entre meus dedos para que levantasse mais o rosto para mim - Esquece isso, Bells.
- Acho que não consigo. - suspirou alto, enquanto se sentava para ficar bem de frente para mim.

Ela apoiou suas mãos no meu colo, inclinando o corpo na minha direção.

- Acho que não é nem pelo fato de não tê-la mais comigo, mas sim por tudo que veio de volta para minha cabeça nas duas últimas semanas.

Eu tinha uma leve consciência sobre o assunto, mas preferi ouvir dela para não tirar conclusões preciptadas.

- Duas semanas? - assentiu - Desde que voltou de Seatle, certo? Mas o que pode estar na sua cabeça assim por tanto tempo? - a mesma coisa que também estava na minha.
- Você não se lembra, Edward? - fiquei em silêncio alguns minutos, avaliando sua calma.
- Acho que sim. É sobre aquilo que quis conversar com você assim que voltou?
- Sobre isso mesmo.
- Sabe, Bells, me desculpe se te importunei. Não queria trazer mais um problema para sua cabeça. Sei que já tem a escola, a Spitfire, a casa sozinha, a preocupação com Nessie. Eu não deveria ter tocado nesse maldito assunto. Nem sei direito se queria mesmo ter falado sobre aquilo. É uma decisão só sua.
- Eu sei. Não peça desculpas, você não fez por mal. Mas não é isso que está me incomodando, sabe? Não é essa história que voltou de novo para me atrapalhar, mas é a dúvida que surgiu dentro de mim. Sempre tive certeza absoluta de que jamais ia querer contar para James da verdade, muito menos para Nessie, mas hoje eu já vejo essa história completamente diferente.

- Você amadureceu. - concluí.
- Mas do que o esperado. - fez uma pausa longa, enquanto se afastava um pouco - Fiquei com essa pergunta todos esses dias na minha cabeça da hora que acordo até a hora que vou dormir. Não sei se consigo chegar numa conclusão.

- Você deve fazer o que é melhor para você.
- Sei, mas e se não for mesmo o melhor para mim, para todos nós.
- Bella você decide o que você quiser. - respondi num jato - Mas ao invés de pensar no agora, é melhor que pense no futuro. O próximo e o mais distante.

Se afastou de vez, enquanto cruzava as penas e se sentava sobre elas. Bella abaixou o rosto, ainda pensativa e eu não sabia direito se estava tomando aquela decisão naquele momento ou se estava pensando em como dizer para mim o que já tinha planejado antes.

Por um segundo, parei de pensar nela e comecei a pensar um pouco em mim. Será que me alteraria com essa situação? Eu vi o jeito como James a olhou e abraçou no aeroporto e claramente ali pude ver que ele ainda gostava muito dela, mas de uma forma que não consegui identificar. Não sabia se a admirava como uma irmã, ou como outra coisa qualquer.

Mas também não podia ser egoísta e impedi-la de fazer o que quisesse. Ela se moveu um pouco para frente, pendendo a cabeça de um lado para o outro.

- Se decidiu? - perguntei.

Não sabia se ficaria feliz com a resposta que receberia. Se dissesse que sim, talvez fosse a mesma coisa que jogá-la nos braços dele de novo, mas eu teria que admitir que aquele era o certo a se fazer. Se ela dissesse não, apesar de me sentir mais seguro quanto aos sentimentos dela, não conseguiria mais tirar aquilo da cabeça.

- Então, Bella? - insisti.
- Sim, Edward. Minha resposta é sim.

Prendi a respiração. Ela queria contar para ele.

- No futuro quero que minha filha saiba que sou a mãe dela. Ela vai perguntar quem é o pai um dia. Acho também que ele tem todo o direito de saber que tem uma filha. Ainda quero pensar mais sobre isso, mas já me decidi. É melhor fazer isso antes que o tempo passe demais, como se já não tivesse passado o suficiente. Mas prometo para mim mesma que não quero estragar a vida dele. Não depois de todas as vezes que me ajudou. - suspirou agora um pouco mais aliviada - Acho que é só isso.

Bella Pov

Um tempo depois

Estava do outro lado da calçada, só esperando algum sinal de vida dentro do prédio para ir até lá. A porta de metal estava abaixada, mas a luz do lado de fora da porta de serviço se acendeu. Vicky apareceu rápido só para trancar a porta, mas logo entrou de novo. Talvez com ela lá não fosse boa idéia ter esse tipo de conversa com James. Contar a ela era uma decisão que só cabia a ele, não queria, muito menos imaginava, estar numa mesma sala com Victoria falando sobre aquele assunto.

Por muito menos, um motivo que nem sabia, ela vinha me tratando completamente diferente desde que Joseph nasceu, não queria brigas agora com tantos problemas batendo na minha porta. Cruzei os dedos involuntariamente dentro do bolso da calça. Tinha que dar certo. Esperei o momento certo para contar: dois dias antes de ir para o Brasil e com Edward concentrado demais na semana de provas na escola para querer desperdiçar nosso tempo cada vez mais curto perguntando sobre isso.
Respirei fundo, tomando coragem e repassei mais uma vez as palavras principais na minha cabeça. Me desencostei da parede, atravessei a rua e bati na porta de serviço algumas vezes antes que ela aparecesse de novo.

Dei um aceno tímido com a mão, ela tentou dar um sorriso, mas preferiu abrir logo. Voltou a trancar a entrada depois que passei e foi direto para o escritório nos fundos da oficina. A segui mais devagar e parei no portal.

- Tudo bem, Bê? - perguntou se sentando.
- Mais ou menos. Cansada só. - dei de ombros.

Ela sorriu e fez o mesmo.

- Você não parece tão animada assim quanto imaginei com essa história de patrocínio.
- É que tudo tem seu preço se é que você me entende.
- E o seu está sendo caro demais? - cruzou os braços e os apoiou na mesa.

Não gostava da forma que tratava aquele assunto. O deboche estava me dando náuseas. Se fosse em outra situação, não a deixaria falar assim da saudade que sentia de Nessie, mas tentei ser educada e ignorei.

- Posso falar com o James? - perguntei.

Vicky me olhou com uma sobrancelha erguida e uma certa hostilidade.

- Está ocupado.
- É importante. - insisti.
- Bella. - James apareceu no alto da escada com um enorme sorriso.

Meu coração acelerou, meu sangue correu rápido e um nó se formou na minha garganta. Agora todas as palavras que tinha ensaiado estavam se misturando na minha cabeça e não estava mais tão firme de que conseguiria contar. Era o esperado.