Skater Girl escrita por sisfics


Capítulo 11
Capítulo Dez: Contrato.


Notas iniciais do capítulo

Preparem os corações. Capítulo decisivo. Surpresas à vista.



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Bella Pov

O lugar estava ainda mais pesado do que da última vez que tinha estado aqui. O apartamento de Sam ficava no lugar mais perigoso do Brooklyn. Nada do tipo hollywoodiano com marcas de corpo marcadas de giz no chão. Era um lugar pior. Policiais não iam ali e da última vez que foram - meu pai estava no meio - houve um tiroteio. Era o lugar certo para Jacob e seu bando de amigos fiéis. Incrível a cara de pau deles de ainda continuarem no apartamento de Sam mesmo depois de terem o matado. Cada um ali tinha culpa pela morte dele - até eu - e, sinceramente, não sabia onde estava com a cabeça quando aceitei vim ver Jake. Essa noite, nas poucas horas que não pensei em Edward, a idéia de fugir para a casa de minha tia Clarice com Nessie sempre vinha na minha cabeça, como fiz há cinco anos. Talvez Jacob não se lembrasse onde ela morava e assim me deixava em paz.


Mas a sensação de que isso jamais aconteceria tomou conta de mim quando parei na frente do número 218. A porta de madeira estava pichada assim como quase todo o corredor e não vinha barulho nenhum de lá de dentro. Dei algumas batidas e esperei impaciente.


O barulho de chave e trancas fez meu corpo inteiro ficar em alerta um pouco antes dele abrir a porta. Mal a claridade de dentro do apartamento invadiu o corredor, ele saiu da frente e foi para dentro, onde se sentou.


- Bem-vinda. Mí casa és su casa. - debochou.
- Está de bom-humor?
- Ver seus lindos olhos me deixa assim.
- Vamos encurtar o papo. Porque me chamou aqui, Jacob?
- Sempre tão direta, isso é tão sexy. Chamei para isso. - se levantou da poltrona - Tenho uma surpresinha para você.


Queria sair correndo. Sabia que as surpresinha dele, não eram coisa boa para mim, mas sem nem se aproximar de onde eu estava, Jacob levantou e pegou em cima da mesa de telefone uma carta.

- Os dementes dos meus irmãos não entendem que a Tia Sue está velha demais. Acha mesmo que ela se preocuparia em colocar todos os endereços que eles deram? No tempo dela eram assim mesmo. Digo, na era jurássica. - deu uma risada baixa - Só estou te fazendo o favor de repassar a correspondência, viu? - indicou com o rosto para que eu pegasse o envelope em sua mão - Parece que a Leah sente sua falta.


Meu queixo caiu literalmente. Não consegui acreditar que o motivo de toda aquela imprenssada que recebi de Jared e todo aquele suspense era por causa de uma carta vinda de Leah. Na hora, não acreditei e dei uma risada.


- Eu estou falando sério.


Jacob enrugou o cenho, mas manteve a carta pendurada no ar.


- É sério, Bê. Veja com seus próprios olhos. Minha irmãzinha parece estar morrendo de saudade de descer a rampa com a amiguinha dela do lado.


Puxei a carta de sua mão. O endereço estava escrito com uma letra desconhecida e era o da casa de Sam, mas meu nome tinha sido escrito com a letra engarranchada de Leah.


- Surpresa. - cantarolou - Era melhor do que você esperava, né não?
- Isso só pode ser armação sua. Porque você quis que eu viesse aqui?
- Armação, gata? Acha mesmo que eu ainda quero aprontar alguma coisa para cima de você? - sua mão esticou na direção do meu rosto, mas consegui fugir - Não sabe o quanto eu estou bem. Ficando melhor a cada dia. Você não devia ter saído dessa.
- Ah, tá. - debochei - Tudo bem. É melhor eu ir embora mesmo. - o mais depressa que pude, saí pela porta que ainda estava aberta.
- Tenha um bom dia, lindinha. Vai pela sombra. Não se preocupa que eu vou estar sempre de olho em você garota. - gritou, antes que eu desaparecesse pelas escadas.


Eu lembrava daquela frase.

Flash back on - três anos antes.

Queria que arrancassem minha perna tamanha era a dor.


- Mas que porra, Leah. Me ajuda aqui, merda. - gritei.


A desgraçada continuava rindo da minha cara, enquanto a perna não parava de sangrar.


- Porra, sua viada, me ajuda a levantar. - gritei mais alto.
- Assim você me faz rir mais. - desabou em gargalhadas.


Agarrei na barra de ferro do corrimão e consegui me colocar de pé. O sangue escorreu pela minha perna, sujando a calça e o tênis. Foi quando uma mão passou pela parte debaixo dos meus joelhos e a outra pelas minhas costas. Sem que eu deixasse, alguém me levantou no colo. Como uma criança.


- Me solta. - rosnei assustada.
- Hey, garota, não viu que eu estou só tentando ajudar? - seus olhos negros estavam apertados olhando na direção do sol.


Era final de tarde quando resolvi descer a escadaria em cima do skate e acabei tomando aquele tombo. Sentia o corte no meu tornozelo latejando e os arranhões na minha panturilha ardendo ainda mais. Jacob me pôs em cima do capô do carro de Sam e levantou minha calça.


- Vou te levar pra casa, que tal? É hora de você cuidar disso aí.
- Não. - gritei.


Eu tinha fugido de casa naquela manhã, deixando Nessie na pré-escola e Emmett sozinho com seus livros. Jacob fez uma careta e entendeu o recado.

- Tá de boa. Vou te levar para minha casa.
- Não precisa. - resmunguei.


Estava com um pouco de medo de ficar sozinha com Jacob de novo como da última vez que tinha ido para casa de Leah. Não que o beijo tenha sido ruim, mas ele ainda me dava arrepios depois do assalto e do tiro que levei no ombro.


- Garota, não adianta discutir. Eu vou te levar e acabou.


Ele abriu a porta do carona e me ajudou a entrar no carro onde Sam dormia no banco de trás. Leah apareceu com os dois skates - o meu e o dela - e se esgueirou até estar deitada em cima do namorado. Jake ainda dobrava minha calça quando olhei a distância do carro para o corrimão que desci. Era longe e eu nem reparei que ele tinha me carregado todo aquele pedaço no colo.


- Como me viu caindo? - perguntei sem querer.


Ele levantou seus olhos negros na minha direção e respondeu malicioso:
- Eu estou sempre de olho em você, garota.

Flash Back off

Edward Pov

Dois dias depois.

Tentei quase inutilmente ligar mais uma vez para o número do seu celular, mas Bella não atendeu de novo. Desde o dia do jantar que não nos falávamos e eu já estava começando a ficar preocupado. Não só com "nós dois", mas ela precisava vir até mim para que eu a levasse para assinar o contrato com os patrocinadores.


Esperava que ela se lembrasse disso e me procurasse logo, ou perderia a chance e eu não poderia fazer nada. Esperei que o elevador abrisse a porta totalmente para sair. Além de mim e Alice, a casa parecia vazia. O clima ainda estava pesado entre eu e ela, então resolvi me esconder no quarto como sempre. Já estava quase pegando no sono na minha cama quando o celular tocou.


- Alô?
- Er, você me ligou. - sua voz estava rouca.


Ao invés de nervosismo, como havia esperado, senti meus músculos relaxarem no colchão, só por ouvir sua voz e ver que ao menos parecia estar bem.


- Sim. Liguei ontem e hoje, mas você não atendeu e eu estava quase-
- Eu acabei de sair do banho, desculpa?


Pensei que ela pudesse estar mentindo, só para me evitar, mas em seguida ouvi o bater de gavetas e concluí que ela estava pegando alguma roupa no armário.


- Ah, sim. Er, tudo bem?


"Vá direto ao assusnto, seu imbecil!" - me chutei mentalmente. Pode ser coisa da minha cabeça, mas pensei ter ouvido uma risadinha.


- Estou bem sim. Vai perguntar também como anda a saúde do meu peixe?
- Nem sabia que você tinha peixe. - entrei na brincadeira.


Pelo menos, ela estava de bom humor. Mas não sabia por quanto tempo, afinal era um pouco bipolar.

- Não é mais fácil ir direto ao assunto?
- Talvez sim. Eu preciso te ver. - ouvi nitidamente sua respiração ficar mais pesada do outro lado da linha - Precisamos resolver logo aquela parada do contrato com o patrocinador. - ela pensou um pouco antes de responder.
- Já tinha mesmo me esquecido dessa parada do campeonato. Quando você quer que a gente resolva isso?


Meu coração acelerou de felicidade por saber que a veria.


- Hoje mesmo. Eu ligo para o cara lá e tento arrumar isso ainda hoje. Eu sei que eles me atendem se eu quiser. Tenho certeza que você vai adorar, Bella.
- Cara, calma. - disse rindo - Pode ser hoje sim. Er, que horas?


Eram quase cinco da tarde quando cheguei em casa, então ainda era cedo o suficiente para encontrá-los.


- Na Baía. Em meia hora. Você consegue?
- Claro. Só preciso terminar de me vestir.
- Então, até mais tarde.

Bella Pov

A sala era enorme, bonita, como em qualquer outro lugar de negócios. A única diferença era os capacetes e skater pendurados em uma parede. O silêncio estava incômodo. Eu não estava acostumada a ficar calada ao lado de Edward. Ele era o único que me fazia querer falar e ouvir sem parar, mas desde que me buscara na baía, ainda não tínhamos passado do "Oi".
A porta da sala se abriu e dois homens um pouquinho mais velhos do que nós entraram com alguns papéis na mão.


- Aí está a pequena notável dos olhos de Phill. - o mais loiro disse.


Um moreno alto que estava o acompanhando deu uma cotovelada nele e depois riu.


- Não se assusta, tá? Esse cara é um perfeito idiota. - ele pegou minha mão sem minha permissão e a apertou com força - Bem-vinda, novata. Vai se dar bem com a gente. - murmurou, dando uma piscadela.
- Hey, o nosso descobridor. - fez o mesmo com Edward, mas os dois pareciam ter um pouco de intimidade.
- Disse que a trazia o mais depressa possível, né? - Edward respondeu sem graça.
- Já eu achei que demorou demais. - o mais novo disse antes de pegar também na minha mão e a sacudí-la no ar - Prazer, Bê. Me chamo Andrew.


Apenas sorri envergonhada. Senti um calor repentino nas bochechas e abaixei o rosto para não corar. Edward apertou a mão do outro também e depois nos sentamos. O mais alto chamado Phill ou Phillip - eu ainda não sabia - foi para trás da mesa e se sentou numa grande cadeira. Ao contrário de Andrew que só se apoiou na lateral do tampo de madeira.


- E aí? Disposta a conversar? - Phill perguntou.


Olhei nervosa para Edward e senti meu estômago embrulhar.


- Er, não sei. - sussurrei.
- Calma, pequena. Não precisa ficar assustada. Só mordo de vez em quando. Não se preocupe com nada, a partir de hoje, se você quiser assinar esse contrato, sua vida só vai melhorar.

- Melhorar quanto? - me soltei.
- Bastante. - deu uma risadinha - É claro que isso não vai sair tudo de graça.


O friozinho no estômago voltou e acho que todos puderam perceber.


- Ela é sempre assustada assim, Edward? - Andrew perguntou.
- Para ser sincero, ela é mais de assustar. Acho que essa é a primeira vez que a vejo assim.
- Acho que vou pedir para trazerem um chá ou coisa parecida. - Phill resmungou.
- Não, estou bem. Er.. continua falando sobre o contrato.
- Tudo bem, apressadinha. Nós vamos te dar o tempo que quiser para pensar, ler e consultar quem quiser. O Eddie ali também vai ter uma cópia pra ele. - Edward fez uma cara de desconfiado para Phill - O que você esperava, cara? Você é o anjo-da-guarda dessa gata.

Um nó se formou na minha garganta. Pensar que ele era meu anjo-da-guarda me fez sentir ainda mais desconfortável ao seu lado. Sim, eu queria o evitar, mas não sabia se conseguiria.


- Continua, cara. - Edward pigarreou e me olhou de rabo-de-olho.


Agradeci por ele ter dito aquilo e me concentrei no que os dois me explicavam. Agora eu teria que treinar firme e apresentar 'resultados satisfatórios' caso quisesse continuar com patrocío.


- Então, você tem passaporte? - Andrew perguntou.
- Tenho, porque?

- Bem, é que o carinha ali... - apontou para Phill - Está praticamente cego de confiança e acha que você nasceu com muito talento e nós dois achamos que em pouco tempo pode competir com profissionais, entendeu?


Meu queixo caiu sem que eu pudesse evitar.


- Acho que a gente está assustando ela. - Phill sussurrou.
- Não é que ainda é novidade. Profissional? Tem certeza? Eu acho que ainda estou tão crua para isso, sei lá.
- Calma, gata. Não é para agora. Um futuro próximo. Não se preocupa. - relaxei um pouco mais na poltrona - Já explicamos tudo, nós vamos deixar vocês dois sozinhos para lerem o contrato. - Andrew me entregou uma papelada e outra para Edward.


Logo depois os dois saíram da sala e começamos a ler os papéis. Tudo parecia certo, um sonho que eu jamais pensei em realizar. A única cláusula que me preocupava era uma sobre a quebra de contrato, mas depois de assinar aquilo, não voltaria atrás nem que me obrigassem.


- Acha que está tudo certo?


Edward assentiu e fechou os papéis, jogando em cima da mesa.


- Quer mesmo fazer isso?
- Quero.
- Não se sinta obrigada a nada. - saiu um pouco de sua cadeira e se aproximou de mim - Só faça se achar que vale mesmo e que fará bem a você.
- Sabe desde quando ando de skate? - negou - Desde que tinha nove anos. Foi quando James começou a me ensinar... Não há nesse mundo outra coisa que eu queira mais. - confessei envergonhada.


Edward deu um sorriso enorme e depois apoiou a mão no meu braço.


- Vou chamá-los.
- Tudo bem. Você é o anjo-da-guarda aqui.

[...]


O caminho de volta foi silencioso. Apesar de querer me levar até em casa, Edward sabia até onde poderia ir comigo. Comecei a pensar que talvez aquele lugar tivesse alguma ligação com nós dois e esse pensamento me distraiu pelos longos minutos que ficamos parados dentro do carro na baía.


Ali não era nem um pouco perto da minha casa, mas era onde eu gostava sempre de ir. E parecia ser o mesmo com ele. Não que o silêncio naquele momento fosse estranho, era apenas confortável para mim, mas acho que para ele não, por isso o quebrou antes que pudesse pensar em algo para dizer.


- Você vai sair correndo do carro se eu quiser me desculpar? - sussurrou.


Neguei com a cabeça ainda olhando para frente, mas vi pela visão periférica que ele tinha dado um de seus sorrisos tortos.


- Que bom. Er, isso é um avanço.
- Não. É só porque meu skate está na mala. Não poderia sair correndo sem ele, entende? - mantive meu olhar firme.


Senti que um pequeno tremor percorreu seus braços ainda esticados e apoiados no volante.


- É brincadeira, Edward.

Ele soltou um suspiro de alívio e relaxou no banco. Seus olhos também se prendiam no pára-brisa, mas era como se ele tivesse medo de me olhar.
Naquela hora, o contrato pareceu pesar uma tonelada sobre o meu colo. "Realizado!" - eu não deixava de gritar para mim mesma. E tudo graças a ele.


Mesmo sem vontade de falar ou de me mexer, virei meu corpo de lado no banco do carona e voltei o olhar para baixo.


- Obrigado por isso. - sussurrei envergonhada.
- Poderíamos conversar, não acha?
- Não. Não acho. Não vão gostar nem um pouco disso.
- Quem não vai gostar?
- Todos eles.
- E desde quando você se importa com alguém, Bella?
- Me importo com você.


Ele virou o rosto na minha direção com um sorriso tímido brincando nos lábios. Respirei fundo para não levantar o rosto e sorrir também.


- Não se sinta melhor porque eu disse isso. - cortei suas idéias boas na mesma hora.
- Eu não disse nada.

- Mas pensou. - acusei, levantando o rosto.


Revirou os olhos e soltou uma risada rouca.


- Queria mesmo que soubesse o que estou pensando. Economizaria minhas palavras. Economizaria nosso tempo. Seria mais simples.


Eu não sabia o que dizer depois de ver seus olhos verdes tão grandes e sinceros me mirando com tanta força. Um nó se formou na minha garganta, impedindo que eu dissesse qualquer coisa que o afastasse, ou que o aproximasse.


- Eu senti que estava começando a destruir a barreira que você tem em volta. - recomeçou - Talvez estivesse enganado. Ela pode nunca ter existido e isso seria só mais uma coisa da minha cabeça.
- Edw-
- Deixa eu terminar. Um instantinho, por favor? - suplicou, assenti impaciente e me calei.
- Sei que é meio estranho explicar, mas desde a hora que você me deixou sozinho no corredor e entrou no elevador, bem, desde aquela hora, eu não paro de pensar no que me disse e acho que encontrei uma resposta.


O nó aumentou ainda mais, agora impossibilitando que o ar descesse pela minha garganta.


- Não sei para você, Bella, mas para mim "nós dois" significa muita coisa. - se calou um tempo, claramente pensando no que dizer - Desde o primeiro dia, você me trouxe alegria, entende? É claro, você também me trouxe algumas preocupações e maltratou, aliás, maltrata o meu ego até eu dizer chega. Mas, com você consigo ser natural. Com você não preciso me disfarçar atrás de máscaras estúpidas simplesmente para ser aceito. Posso ser eu mesmo e você vai continuar gostando de mim. Quer dizer, eu acho que você gosta de mim...


Ele voltou a olhar para fora do carro com uma expressão estranha. Eu tentei dizer alguma coisa um tempo depois, mas antes que conseguisse pensar em qualquer coisa plausível, ele retomou sua linha raciocínio como se não tivesse acontecido nenhuma pausa.

- Você não se importa se tenho dinheiro, ou com que visto, como falo, onde vivo, ou ainda o que quero ser no futuro. Quando estou do seu lado, sinto o peso das minhas costas sumir. Você é meu bem-estar. "Nós dois" é a única coisa que tenho agora. Eu quero muito, se quiser também, que continue assim. Não vou te forçar mais nada. Eu não preciso que você mostre para ninguém quem você, realmente, é. Basta que eu saiba. Você é importante demais para que te perca por besteiras como essa. Basta que te queira para que a gente fique juntos. Se você ainda quiser ficar comigo...


Edward abaixou o rosto e o escondeu entre as mãos. Precisei de vários minutos para entender tudo que tinha dito. Não que fosse difícil entender, mas também não era fácil aceitar. Quero dizer, ele estava se declarando. Se declarando? Ele já tinha dito uma vez que gostava mesmo de mim, mas assim, com aquelas palavras, daquele jeito, nunca ninguém tinha dito antes e acho que nunca mais ninguém diria. Pode ser estupidez - ele não recitou nenhum poema ou qualquer coisa parecida que seja clichê num romance - mas foram as palavras mais simples que disse que chegaram como música aos meus ouvidos.


Meu coração martelava contra o peito. Meus pensamentos se embaralhavam e se misturavam ao nome e as palavras dele. Abri e fechei os olhos algumas vezes para ver se aquilo não era um sonho ou algo do tipo, mas não era. Agradeci internamente tantas vezes por realmente não ser, que eu ainda murmurava obrigado para mim mesma, quando puxei o rosto dele para cima e acertei sua boca de leve com um beijo.


Seus lábios se moldaram aos meus e suas mãos envolveram meu rosto me puxando para mais perto. Com a sua ajuda, me sentei em seu colo, me espremendo entre o espaço de seu corpo e do volante.

Ele me abraçou forte, tentando segurar o sorriso, já que eunão parava de o beijar. Eu não queria e nem podia perdê-lo agora. Se pudesse passaria o resto da noite o beijando, mas foi preciso nos afastarmos quando o ar acabou.


- Isso foi... - tentou procurar algo para dizer mas não achou.
- Concordo. - sussurrei.


Ele esfregou a ponta de seu nariz com a minha, ainda com um sorriso de orelha a orelha.


- Na...Na... - era tão difícil dizer quanto era ouvir - Na-morados? - perguntou.


Assenti com a cabeça e fechei os olhos para não ver sua reação, mas foi a minha que me deixou mais envergonhada. Meu corpo inteiro começou a tremer de medo, como se aquilo fosse uma condenação de morte. Eu estava agindo da maneira patética que sempre disse que nunca agiria quando estivesse apaixonada.


- Porque está com tanto medo? - perguntou.
- Por nada. - sussurrei envergonhada.


Edward me aninhou em seus braços, fazendo todo o ar sair de meus pulmões.


- Posso te ajudar? - neguei com a cabeça.
- Apenas continue desse jeito, está bem? - ele assentiu e beijou o alto da minha cabeça.
- Eu te amo, Bella!

Duas semanas depois

- Bella. - meu pai chamou alto demais.


Desliguei meus pensamentos e tremi de susto.
- O que é? - ralhei.
- Eu estou falando com você. Será que não percebeu?


Nessie fez uma careta na cadeira da minha frente e eu respondi que não.


- Você anda desatenta nos últimos dias. - ele murmurou.


Revirei os olhos e dei as torradas para ela. Como se ele realmente reparasse em qualquer coisa que eu fizesse ou dissesse.


- Afinal, o que você estava dizendo?
- Perguntei se você vai trabalhar hoje. No James ou qualquer outra coisa.
- É, vou. Vou para o James depois que deixar Nessie na escola.
- Okay. Era só isso. - ele colocou a xícara dentro da pia e deu um beijo no alto da cabeça de Nessie - Se cuidem, talvez eu volte mais tarde hoje.
- Tudo bem.
- Tchau papai. - ela disse lhe dando adeus.


Em seguida, saiu pela porta da cozinha, vestindo seu grande casaco azul escuro e pegando a bolsa com o uniforme. Voltei a pensar nos problemas maiores que tinha pela frente. Não sabia como contar a ele sobre o contrato. Já fazia uma semana que eu estava treinando todos os dias com o pessoal da Spitfire e eu tinha voltado a assistir as aulas nas escola. Coisa que eu fazia muito raramente. Era o último ano e eu só tinha ido assistir as aulas umas seis vezes. A diretora queria conversar comigo, eu precisava treinar, falar com James, contar a meu pai e no meio disso tudo o que eu mais queria agora era passar um tempo com Edward.


- Que que você está pensando? - Nessie perguntou.
Encostei a cabeça na mesa de tanto sono.


- Não fale de boca cheia. - engoliu rapidamente a torrada com leite.
- Tá. Que que você tá pensando agola?
- Em nada - dei de ombros.

- Hum. - cruzou os braços e balançou as pernas, fazendo uma careta que eu conhecia bem.


Com certeza ela estava pensando alguma besteira e tentava se segurar.


- O que foi? - perguntei.
- É que antes de ontem eu ouvi você no telefone com o Edward e vocês estão namolando?
- Namorando. - consertei.
- Então é verdade. - explodiu de alegria, quase caindo da cadeira.
- Garota, sossega. Eu não disse nada disso. Preciso procurar um fonaudiólogo para você.
- "Fono" o que?
- Você disse namolando, o certo é namorando. Você está ficando com lingua presa.
- Ah, tá. Isso é doença?
- Nessie, vai buscar seu casaco e sua mochila ou vamos nos atrasar, tudo bem?


Fez uma careta e se levantou correndo. Qualquer caminho que eu fizesse com ela era mais engraçado, porque sua risada me contagiava. Depois de voltar do centro, fui direto para a oficina de James, mesmo sabendo que chegaria atrasada na escola. Ele estava no pequeno escritório nos fundos quando cheguei e fui logo me sentando em cima do capô de um carro que sempre via por lá.


- Você não é mais o mesmo de antes. - resmunguei quando apareceu - Esse aqui vive voltando. - bati duas vezes no capô.
- O problema está entre o banco e o volante. Esse não consigo consertar. - parou na minha frente com um sorriso - O que faz aqui?
- Vim te ver. - dei de ombros.
- Pensei que já tivesse esquecido de mim. Não trabalha mais. Vive para seu skate e o namoradinho arrogante do Central Park.
- Hey. - estiquei a perna para bater em seu braço - Cala a boca, seu idiota. Ele não é arrogante.
- Então porque nunca o vi aqui?


"Por causa de Jacob." - pensei, mas James não sabia muito dessa história, era melhor continuar assim.


- Porque eu não quero.
- Na hora que você me contou, pensei que você ia dizer algo do tipo "você sabe que eu sempre gostei de skate" ou "continuo trabalhando só que dessa vez com o que eu gosto", mas você reparou que só falou nele?
- E será que você já reparou que está com ciúmes?

- Sei. Olha, tenho muita coisa para fazer hoje, então pelo que saiba, você tem escola.
- Não acredito que você está me expulsando.
- Sem dramas, Isabella.
- Não me chama pelo nome. - rosnei.


Ele deu uma risadinha baixa, mas depois a engoliu.


- Diz logo o que veio fazer aqui.
- EsTOU treinando agora sério. O que esperava que eu viesse falar com você? Vim te convidar para me ver descer em Seatle.
- Seatle? - abriu um pequeno sorriso - Quando vai ser?
- Na segunda quinzena de janeiro. Terá tempo de voltar da casa da sua sogrinha, tudo bem? Você e Vicky vão poder passar o Natal com a família dela como todo ano.
- Vai debochando mesmo. Quero ver quando você se casar com esse mauricinho engomadinho que você arrumou.


Arregalei os olhos, tirando uma gargalhada alta de James, afinal a palavra casamento sempre me deu arrepios.
- Cala a boca, garoto.
- Vou mudar de assunto. É só isso mesmo que você veio falar?
- Não. Na verdade, tenho um pedido para te fazer. - cocei a cabeça por saber que não era uma coisa muito fácil para ele fazer.


James era um pouco honesto demais, eu tinha medo de que ele não fosse mentir por mim.


- Pede. - deu de ombros.
- Que coincidência. - de repente a voz de Victoria apareceu tão alta que quase caí do capô com o susto.


Ela veio do escritório, andando até nós com Joseph no colo. O bebê dormia tranquilamente, como se o grito que ela tivesse dado não fosse alto o suficiente para atrapalhar seus sonhos.


- Venho até aqui para falar com James e te encontro Bells. Eu precisava mesmo falar com você.
- Comigo? - ela assentiu.


Sorri sem dar muita importância para a cara péssima que meu amigo fazia. Talvez eles estivessem mesmo mal no casamento, porque nem a minha presença impedia os olhares intimidadores.

Desci do carro e me aproximei dela, passando a mão na testa do nenêm. Ele era lindo, os olhos, a boca, o nariz e as mãos parecidas com as de James. Quis pegá-lo no colo, mas Victoria se esquivou com a desculpa de se sentar numa cadeira encostada na parede ali perto.


- Já andei muito hoje, entende? - abriu um sorriso forçado.
- Er, eu também. Já fui levar Nessie na escola e agora vou para minha.
- Voltou a estudar?
- Nunca abandonei.
- Mas parecia. - respondeu com um sorriso cínico.


Pude ver pela visão periférica que James cruzara os braços bem incomodado.


- Então, o que você queria falar comigo? - perguntei me controlando.


Eu gostava de Vicky apesar do que tinha acontecido no passado. Eu não guardava rancor dela, afinal não tinha culpa de nada. Merda! Tenho que parar de ficar pensando sempre nesse assunto.


- Na verdade, Bê, eu estou muito chateada com toda essa situação. Você não sabe o quanto me sinto magoada e culpada por ter que te dar essa notícia e te fazer esse pedido. - não acreditei muito no que ela disse, mas continuei ouvindo - Minha irmã descobriu há umas duas semanas que está grávida.
- Parabéns. - desejei sem vontade.
- Ah, sim, claro. Obrigada, mas a questão é que minha mãe me fez um pedido que não pude recusar e espero que isso não te deixe infeliz com a gente.
- Fala logo, Vicky. Não estou entendendo muito bem.
- É melhor mesmo eu parar de enrolar. - embalou um pouco Joseph e levantou o rosto com um sorriso triste bem falso - Minha mãe quer que eu seja a madrinha do meu sobrinho e que minha irmã seja a madrinha do meu. Uma besteira de família ou coisa parecida, afinal ela fez a mesma coisa com a irmã dela. O pior é que ela ainda não sabia que eu e meu James já tínhamos te escolhido para ser madrinha, então...
- Quer saber, eu já entendi. - a cortei - Você quer que sua irmã seja madrinha do baixinho.
- Do meu filho. - consertou.

- Tudo bem. - menti - É claro que eu adoraria ser madrinha dele, mas se foi mesmo um pedido da sua mãe, é melhor não contrariar. Ela já implica com ele sem isso, imagina se eu quero atrapalhar a vida do meu amigo. - brinquei com James que deu um sorriso e uma piscadela para mim.
- Er, não sabe o peso que tira das minhas costas. - se levantou com uma cara muito melhor do que estava quando chegou e subiu, ainda se despedindo, para o apartamento dos dois que ficava em cima da oficina.


O silêncio foi um pouco incômodo em seguida, principalmente pela cara de desconforto dele. Alguma coisa naquela história toda não me cheirava bem. No fundo eu sabia que era mentira, mas talvez fosse melhor assim.


- Você também vai ser o padrinho do sobrinho dela? - perguntei.


Ele negou com a cabeça, depois olhou para cima como se estivesse mesmo verificando que a esposa tinha subido e então me puxou para um abraço.


- Desculpa por isso, tá Bê?


Dei dois tapinhas nas suas costas e depois me soltei.


- Que isso, cara. Er... esquece. Acho melhor eu ir, ou não vou chegar a tempo do segundo tempo.


Peguei o meu skate que estava encostado no carro onde eu tinha me sentado e o pus no chão.


- Espera. O que você queria mesmo pedir para mim?
- Pedir para não contar ao meu pai que parei de trabalhar com você. E pedir também para você mentir caso ele pergunte.
- Você não contou sobre o patrocínio, não é? - perguntou de cabeça baixa.
- Não.
- Tudo bem, acho que por um motivo como esse eu posso mentir.
- Que ótimo! Pensei que você me traria problemas.
- Na nossa relação, trazer problemas é o seu papel. Esqueceu?
- Engraçadinho. - resmunguei, subindo no skate e saindo o mais depressa dali.


Fui embora chateada, com receio de James não conseguir mentir para Charlie e com uma dúvida. Porque Vicky estava daquele jeito comigo? Tinha medo de descobrir.

Edward Pov

- Paris. - Alice gritou de novo.


Meu cérebro já tinha processado a informação, ela precisava ficar gritando e gritando a mesma coisa o tempo todo? Minha mãe deu um sorriso de orelha a orelha.


- Sim, querida. Paris.
- Eu sempre quis voltar para aquela casa no Sul da França. O Natal e o reveillón em Paris. Mãe, eu mal posso esperar. Da última vez que fomos lá eu era tão pequena.
- Pequena o suficiente para não conseguir carregar as sacolas de compra, agora que consegue, estamos ferrados. - Rose sussurrou para mim.


Tentei segurar o riso, mas não consegui. Alice e mamãe nos fuzilaram com os olhos, então ficamos quietos.

- Seu pai disse que ainda não sabe se consiguirá a mesma casa que ficamos naquelas férias, mas juro que vou tentar por você.
- Own, mãezinha, você é perfeita. - ela se jogou sobre a mesa para poder abraçá-la - E onde está o papai que não veio nos contar essa notícia?
- Seu pai saiu mais cedo para o hospital. - explicou.

Talvez porque estivesse até evitando me olhar e dessa vez não era coisa da minha cabeça.

- Vou contar para todos hoje na escola. Mal posso acreditar. Que pena que hoje é o último dia de aula, ou poderia fazer os outros sentirem inveja de mim por mais tempo.
- Alice. - mamãe tentou chamar sua atenção, mas ela já recomeçara a falar e falar sobre compras e passeios.


Eu ainda não estava acreditando que ficaria longe de casa nas festas de final de ano. Não que costumasse comemorar com meus amigos antes, aliás nem tinha mais amigos, ainda assim sentiria falta de casa. E seria impossível me encontrar com Bella por pelo menos um mês.


Essas duas semanas tinham sido perfeitas, e logo agora no início eu teria que me afastar. Como eu comemoraria nosso primeiro mês de namoro?
Como se ela quisesse comemorar estando eu em Nova Iorque ou não. Ela ainda nem tinha dito um eu te amo ou coisa parecida. Mas sabia que aos poucos eu conseguiria ouvir isso dela.

Rose tinha ficado muito feliz ao saber de nós dois e aquele olhar que ela me mandava do outro lado da mesa refletia o que eu estava pensando. Ela me chutou, me forçando a levantar o rosto e pediu com os olhos para que eu sorrisse. Fiz o que ela pedia e terminei o café.


- Saímos daqui seis dias antes do Natal para termos tempo suficiente de arrumar a casa e nossas coisas.

Lice bateu palmas e pulou, excitada demais para ficar sentada.

- Sei que estão animados, mas é melhor se levantarem e irem logo para escola ou vão se atrasar.

Fui o primeiro a levantar, mas antes de sair da sala, minha mãe me puxou pelo pulso e esperou que ficassemos sozinhos para falar.

- Com essa cara de enterro, uma viagem para França está mais parecendo uma ferroada de abelha.
- Me desculpa mãe?
- Tudo bem, querido. Posso te pedir uma coisa?
- Claro.
- Não vou trabalhar hoje, então quando chegar em casa, vá direto me procurar. Quero conversar algo sério com você, tudo bem? - assenti já imaginando qual seria o assunto.
- Obrigada, querido. Sabe que eu te amo, não é? - precisou ficar na ponta dos pés para me dar um beijo na bochecha e depois ir embora.

[...]

Cheguei da escola com Alice e subi para o meu quarto antes de ir falar com minha mãe. Larguei a mochila em cima da cama e troquei de roupa.
Precisei de um tempo para pensar antes de ir atrás dela no seu quarto. Talvez ela tenha confundido isso com esquecimento e apareceu no meu quase dez minutos depois que cheguei.

- Posso entrar? - perguntou da porta que ainda estava aberta.

Eu assenti e ela entrou a fechando.

- Eu ia lá agora...
- É, eu sei. Mas o que tenho para falar com você é muito importante, então vim logo para tirar esse peso de mim. - se sentou na cama ao meu lado.
- Imagino o que tenha para falar.
- Será mesmo? - murmurou sorrindo.
- Posso tentar adivinhar?
- Você nunca foi muito bom nisso, querido. - deu uma risada.
- É sobre o papai. Não é? - ponderou a idéia.
- É mais sobre você e eu do que sobre seu pai. - enruguei o cenho sem entender nenhuma palavra - Quero dizer que apesar de seu pai se parecer um tanto quanto inflexível e rabugento quanto a esse namoro que você jogou no nosso colo...
- Não joguei no colo de vocês dois. Eu disse que tinha uma namorada, mas se pedisse permissão para trazê-la aqui, vocês jamais deixariam.
- Não me interrompa de novo, por favor? - pediu mais séria.
- Desculpa?
- Tudo bem, querido. Entendo que você esteja apressado para explicar as coisas, mas me ouça, okay? - assenti mudo - Edward, não vou mentir que, tendo uma conversa particular com seu pai, pude ver o tamanho do descontentamento dele. Não por ela ser quem é, se é o que está pensando. - disse mais que depressa - Mas sim por você ter escondido de nós e ter nos afrontado.
- Vocês nunca me ouvem. - expliquei.
- Isso não é verdade.
- É verdade sim, mãe. Papai nunca quer me ouvir, vocês dois nunca tem tempo. Tenho certeza que se eu pedir para conversar com você, me escutará, mas com meu pai nem mesmo dessa maneira. - tentei me manter calmo.

Ela abaixou os olhos. Não queria admitir mas no fundo sabia que era a mais pura verdade.

- Seu pai só quer o seu bem.

- É a melhor desculpa que você pode dar?
- Sei que é difícil entender quando se tem a sua idade, mas não vim aqui falar sobre isso, eu quero te pedir um favor.
- Favor? - me pegou de surpresa.
- Sim, primeiro quero que saiba que da minha parte você tem apoio.
- Apoio? - não pude evitar o sorriso - Como assim apoio?
- Sabe o que quero dizer, Edward. Não me faça repetir. Apoio, ora, apoio é apoio. Eu gostei daquela menina. Foi educada, apesar do pequeno probleminha que tivemos com sua irmã e, principalmente, percebi que você fica muito mais... feliz quando está perto dela.


Meu coração acelerou do nada e acho que meu sorriso também aumentou assustadoramente.

- Mas o favor que te peço... - um calafrio desceu pela minha espinha - É que tente o máximo que puder conversar com seu pai sem que haja mortos e feridos durante essa viagem. Não gosto de ver os dois nesse silêncio.
- Tudo bem, mãe.
- Me promete que vai contar tudo que está acontecendo para o seu pai com calma durante nossa viagem?
- Prometo.
- Ótimo. Vou prepará-lo emocionalmente. Não queremos mais nenhum infartado depois do seu avô, não é mesmo?

Eu estava me segurando um pouco para perguntar. Não era importante, mas eu queria saber dela.

- Mãe.
- Hum.
- O que achou de Bella? - ela enrugou o cenho e pensou algum tempo no que dizer.
- É um tanto quanto.. diferente. As roupas largas e o jeito. Bem...
- Pode ser sincera, mãe.
- Estou sendo. Deixe-me terminar. Hum... É muito bonita, apesar de estar escondida atrás de uma certa hostilidade. E tem o olhar triste, duro, parece que já sofreu muito.


O olhar duro eu já tinha mesmo visto, mas essa parte da tristeza era algo que Bella conseguia esconder de mim.

- Como viu tudo isso? - perguntei.
- Sou mãe. Sou paga para isso, entendeu? - dei uma risada involuntária - Presumi que fosse por causa da mãe dela. Sabe como morreu?
- Pra falar a verdade, ela só disse que morreu no parto da irmã mais nova, como repetiu no jantar. Bom, não quero falar sobre isso.
- Claro. - se levantou - Vou arrumar alguma coisa para fazer, está bem? Até o jantar.

Bella Pov

- E ela disse que você não pode mais faltar? - perguntou assustada.
- É. - continuei caminhando pelo Centro com Nessie.


Ela estava toda agasalhada por causa do frio do inverno e parecia uma bolinha de casacos, enquanto andava.

- Mas e se você ficar doente, Bells?
- Perco o ano. - dei de ombros.

Tinha contado a ela as novidades sobre a escola, já que tinha passado a tarde inteira na sala da diretora.

- Você vai ter tempo de estudar e fazer esse trabalhos... trabalhos o que mesmo?
- Interdisciplinares.
- É. Vai ter tempo de fazer tudo isso e treinar com o skate, Bells? Que horas você vai dormir? - perguntou assustada.
- Se esqueceu que sou a super mulher? - ela deu uma risada, cobrindo a boca com mão, perfeitamente inocente.


Ela tinha razão. Eu estava ferrada quanto a escola. Como conseguiria fazer os trabalhos interdisciplinares extras que tinha acabado de ganhar para "recuperar as faltas", ainda estudar, frequentar a escola, cuidar de Nessie, da casa, treinar e bem... ficar com Edward?


Agora eu tinha que ter um espaço da minha agenda para ele. Nossa, jamais me imaginei dizendo algo como isso.


- Ali, Bella. Ali. - Nessie apontou para a Starbucks.
- O que você vai querer?
- Bolinho. - pulou animada.
- Só porque você entrou em recesso hoje e a professora disse que você tem ido bem, ouviu?


Entramos e apesar dela estar insistindo, não permiti que tirasse o casaco. Estava realmente frio até aqui dentro. Com o indicador, ela tentava mostrar discretamente qual queria e fomos para fila do caixa.

- Cupcakes? Você anda muito gulosa. - apertei sua bochecha fofa, até que ela ficasse vermelha de vergonha.
- Aiin, Bells, você me faz pagar mico, sabia? - fugiu de mim com delicadeza.


Soltei uma gargalhada inevitável, foi quando ouvi uma voz impossível de não reconhecer de tão irritante.

- Pensei que esse lugar fosse melhor frequentado. - Tanya disse atrás de mim.

Me virei devagar e a encontrei com os braços cruzados e um sorriso falso estampado na cara.

- Quanto tempo. - sussurrou.
- Não senti sua falta.
- Eu muito menos a sua.
- Olha, sei que você me odeia e acredite quando digo que o sentimento é recíproco, mas acho melhor ir embora, porque eu não estou afim de briga.
- Próximo? - o caixa chamou.


Tanya ergueu o dedo para ele para que esperasse mais um pouco com tamanha autoridade que se passava por uma rainha. Rainha da arrogância, só se for.

- E você acha que eu quero brigar com você? - deu uma pequena gargalhada enquanto sacudia os cabelos loiros avermelhados presos num alto rabo-de-cavalo, olhou para baixo e viu Nessie.
- O que temos aqui?

Se agachou um pouco e passou o dedo no queixo dela.

- Oi, criança. Tudo bem?

Nessie assentiu e depois se escondeu atrás de mim.

- Quem é, Bells? - perguntou, puxando a barra no meu enorme casaco quadriculado.
- Ninguém de importante, querida.
- Sua irmã não gosta muito de mim, entendo. - disse baixinho, piscando os longos cílios como se tivesse algo de bom dentro de seus olhos e dentro de si.

- Me faria o favor de sair de perto dela? - rosnei, se levantou de novo e me encarou.
- Senhoritas, por favor, a fila está aumentando. O pró-
- Cale a boca. - Tanya quase gritou.
- E é isso o espelho da educação das melhores escolas do país. - murmurei.


Ela balançou a cabeça em negação e saiu da fila.

- É melhor eu ir embora, perdi a fome.
- Que bom. Assim você preserva sua anorexia. - ri sem humor.
- Tchauzinho, Bella. Manda um beijinho para o Edward, tá? Se ele ainda não tiver se cansado de você, é claro. - respirei fundo para não dar um tapa na fuça daquela vadia - Tchauzinho, criança. Foi bom te conhecer, você é linda. Pena que tem que conviver com esse tipo de gente. - olhou para mim de cima a baixo antes de sair.


Nessie lhe mandou uma careta e algumas caras estranhas.
Comprei logo seus cupcakes e saí dali o mais depressa possível. Infelizmente, não pude responder a altura e não queria dar mal exemplo comportamental para Nessie. Mas o que ela disse me deu um aperto no peito.

"Se ele ainda não tiver cansado de você, é claro!" - era melhor eu esquecer aquela vadia.

Uma semana depois.

O silêncio estava tão, tão, tão confortável que não pude resistir a deitar na cama, me cobrir com o edredom e cochilar. Não estava só cansada pela semana extremamente exaustiva que tive. Treinos todos os dias, porque nem nas vésperas do Natal o pessoal da Spitfire me deixava em paz e me queriam cada vez mais preparada para entrar no circuito que teria em Seatle no inicio do ano que vem e depois em Los Angeles de novo. Além disso ainda tive que ir todos os dias para escola, mesmo fechada para o recesso de final de ano, porque sempre ia entregar os malditos trabalhos que a diretora passava.

As compras de Natal também ocupavam meu tempo e eu não conseguia parar de pensar numa forma de arranjar mais dinheiro para nossa casa já que eu ainda não tinha participado de nada com o skate até agora e o patrocínio que ainda estava no início era focado única e exclusivamente para o equipamento, pelo menos por enquanto. Mal tive tempo para conversar com Edward e quando nos falamos foi por telefone. Ele dissera que tinha algo de importante para me contar, mas não quis falar pelo telefone, só que não retornei suas ligações.

Estava cada vez mais me envolvendo em toda essa história e pensando nele dessa maneira eu só conseguia alguns belos tombos na pista. Meu corpo inteiro estava dolorido quando me deitei. Era um milagre estar sozinha, então precisava aproveitar, mas pelo visto, aquela não era uma tarde boa para isso.


Meu celular tocou insistentemente uma vez, mas não atendi. Na segunda vez, me convenci de que podia ser algo importante e peguei o celular na cabeceira.

- Alô? - resmunguei.
- Te acordei? - reconheci a voz de imediato.

- Infelizmente. - cobri a cabeça com o edredom de novo.
- Espero que esteja vestida descentemente ou não vou suportar. - sussurrou.
- Como assim? - aquela eu não tinha entendido.
- Você está sozinha em casa, não está? - não parecia uma pergunta, e sim uma afirmação.
- Como sabe disso, Edward?
- Vamos dizer que tem mais ou menos umas meia hora que vi seu irmão e sua irmã saindo para passearem e sei que seu pai trabalha o dia todo, então pensei que...
- Perai, você viu? - me sentei na cama assustada.
- Você pode abrir a porta pra mim ou vai me deixar esperando ainda mais? - perguntou como se estivesse ofendido.


Desligou o telefone, mas não consegui me mover nem um pouquinho. Fiquei olhando para o celular na minha mão como se tivesse acabado de receber uma descarga elétrica altíssima.

- Não acredito que ele está aqui. - rosnei.

Me levantei da cama, dando passos firmes até a porta da sala e a abri sem nem olhar antes. Ele estava encostado na parede no corredor com a cara mais tranquila do mundo.

- O que você...
- Você disse que estaria vestida descentemente, Isabella. - murmurou, olhando para meu short de dormir que era bem curto.
- Entra. - rosnei alto demais.


Entrou de cabeça baixa, mas com um sorriso vencedor estampado que se não estivesse com tanto ódio, acharia a coisa mais linda do mundo.


- O que faz aqui?
- Eu precisava conversar.
- Já te disse que não gosto que venha até minha casa. Porque insiste nisso?
- Não tenho medo desse seu ex-namorado maluco. Esse cara sumiu, Bella. Esquece. - mal sabia ele da história da carta da Leah.


Carta essa que eu ainda não tinha tido coragem de abrir e ler. Acho que pelo rancor de não ter sido avisada quando ela simplesmente resolveu partir com Seth sem dar explicação alguma.


- Ah, sei.
- Além do mais, querida. - me chamou com deboche - Vim com esse casaco aqui. Apontou para o enorme casaco preto que vestia.
- O tipo de roupa que eu usaria. - resmunguei.

- Sim, me inspirei em você nessa. Acha mesmo que alguém me viu ou reparou em mim com um casaco desse tamanho?


Abriu os braços como se pedisse um abraço e me mostrou o tamanho da manga que praticamente o transformava num morcego.

- Cabe três de mim aqui dentro.
- Não exagera, seu idiota.

Ele me olhou de um jeito diferente e percebi que agora aqueles braços levantados eram o pedido que não neguei. Me aproximei e passei meu braços ao redor de sua cintura, o sentindo me abraçar também.


- Senti sua falta. - confessou, encostando a testa na minha.
- Acho que eu também. - balançou a cabeça negativamente e revirou os olhos.
- Não sabe o quanto você me anima com uma recepção e uma frase dessas.
- Será que assim melhora?

Fiquei na ponta do pé e capturei seus lábios. Só daquele jeito é que eu pude ver o quanto sentia falta dele mesmo. Suas mãos me seguraram com força e me tiraram do chão para que eu não me cansasse. Já estava ficando sem fôlego quando nos separei.

- Er... acho que melhora sim. Pelo menos por enquanto.
- Terá um pouco mais quando for mais tarde, combinado?
- Valeu.

Dei uma risada baixa e segurei seu rosto com minhas mãos. A barba estava mal-feita e o deixava com aparência de mais velho. Também notei algumas olheiras.

- Você parece preocupado. - observei.
- É sobre o que vim conversar com você.
- Deixou de dormir por causa disso? - passei a mão logo embaixo dos seus olhos.


Tentei esconder a minha preocupação pelo assunto parecer tão sério, mas não fui muito bem sucedida.

- As olheiras não são só por causa disso... também foi uma semana muito cansativa para mim.
- Para nós. - completei.

A minha tinha sido um verdadeiro inferno.

- Estava mesmo dormindo antes que eu chegasse?
- Tentando dormir, você quer dizer. Vamos para o meu quarto? - vi segundas intenções claras passando em seus olhos - Você está muito safado para o meu gosto, sabia? - gargalhou, me erguendo no colo.
- Até parece que você também não pensou uma besteirinha.


Tudo bem. Eu tinha mesmo pensado, mas nada antes dele me contar o que queria.

- Idiota. - foi a resposta perfeita.


Ele me levou em seu colo até o meu quarto e me pôs na minha cama sentada. Depois olhou em volta, vendo cada detalhe do quarto.

- Então aqui é seu recanto.
- Meu e de Nessie. - apontei a outra cama.

Ele tirou o casaco ainda olhando o quarto, o que me permitiu dar um boa olhada nele, enquanto estava distraído. Embaixo do casaco, ele me vem com uma camisa de manga cumprida branca que o deixava ainda mais lindo.

- Posso deitar com você? - perguntou, jogando o casaco em cima da cama de Nessie.

Cheguei para o lado, abrindo espaço e me aninhei em seus braços.

- Vai me contar o que tem para contar ou vai ficar me enrolando para me deixar ainda mais nervosa?

Me puxou para baixo para que ficássemos deitados.

- Não é nada que você vá relamente se importar, sabe? - deu de ombros.

Apoiei meu rosto em seu peito, passando minha mão por dentro de sua camisa.

- Então diz logo.
- É só um aviso que eu queria te dar. Er, meus pais estavam planejando viajar nesse final de ano. Costumávamos fazer muito isso quando Alice era menor, mas faz uns quatro anos que paramos, então mamãe e papai, acho que numa tentativa de unir mais a família, resolveram que vamos viajar nesse recesso de final de ano. Só vamos voltar no ano que vem. O que acha?


Senti uma pontadinha no peito que reconheci como decepção. Mas porque eu estava me sentindo decepcionada? Era um pouco mas de uma quinzena. Que loucura. Eu precisava me controlar quanto ao que estava sentindo. Não que fosse ruim, mas não queria me tornar vulnerável para ele, quando se fosse. Sabia que no final todo mundo ia embora, sempre iam, mas Edward ainda parecia viver sem saber disso.


- Hein, Bella? O que acha? - perguntou de novo.
- Não acho nada. - dei de ombros, me afastando um pouco.

Ele enrugou o cenho, mas não disse nada.

- Para onde você vai? - perguntei cruzando os braços.
- França. - sussurrou.


Olhei para cima assustada e sem saber se tinha ouvido certo.

- Mas-
- Eu sei, é longe.
- França, mas isso é... é- ele fez uma careta - Isso é legal. - menti - Quero dizer, legal você vai para França. - tentei fingir animação, mas não fui muito bem sucedida.


Mal pude acreditar que era eu mesma que estava lamentando ficar longe dele. Eu gostava tanto assim daquele cara? Quanta estupidez.


- Eu não acho tão legal assim. - sussurrou.
- Porque não?
- Acho que é meio óbvio, não é, Bella? Não quero viajar com eles porque não quero ficar longe de você. - apoiou a cabeça no meu travesseiro e bufou.

Droga, também não queria ficar longe dele.

- Er - pus a mão na boca por não saber o que dizer.


Ele também não sabia, então ficamos em silêncio por longos minutos. Chegava a ser incômodo não ter o que responder.

- Bella. - não passava de um sussurro.
- Hum.
- Não precisa ficar nesse silêncio mortal toda vez que eu disser que gosto de você. Já me declarei outras vezes, esqueceu? - meu corpo gelou ainda mais - Não estou te pedindo para dizer nada agora, Bells. Vamos mudar de assunto?
- Não quero mudar de assunto. - rosnei.
- Não parece.
- Esquece o que eu disse. Ou melhor, o que eu não disse. - me sentei na cama.


Uma mania incrível de não conseguir parar de mexer quando estava nervosa.

- Eu só fiquei meio assustada. - murmurei de costas para ele.


Senti as mãos de Edward entranharem nos meus cachos, me fazendo cafuné. Achei melhor dizer o que eu estava pensando. Acabaria abaixando a guarda mas seria a última vez, jurei para mim mesma.


- Não é que não queira dizer que gosto de você. Se eu não gostasse nem estaria contigo, mas é que não gosto de-
- De se aproximar das pessoas? - perguntou.


Senti que ele se sentou também e então seus braços passaram ao meu redor.

- Principalmente, de você.
- É impressão minha ou você está baixando a guarda?
- É impressão minha ou você tá adorando isso? - rosnei.


Ele deu uma risada baixa e estalou um beijo no meu pescoço.

- Agora está disposta a mudar de assunto?
- Mais o que tem para dizer? - bufei.
- Talvez que eu estou louco para te beijar.

Me joguei em seus braços e deixei que me beijasse. Era proibido, aquele amor, mas que se dane. Edward nos deitou, ficando por cima, enquanto seu beijo me levava as alturas. Seu desejo pedia pela minha boca cada vez mais a cada segundo que passava. Seu beijo era perfeito. Ele repousou uma de suas mãos nos meus cachos e nos desconectou.


- Quando você vai viajar? - perguntei por perguntar, é claro.

Mas não convenci muito ele e respondeu mesmo assim:

- Daqui a dois dias.
- Mas já?
- Estou há uma semana querendo falar com você, esqueceu?
- Ah, é. - me chutei mentalmente.
- Essa é nossa despedida. Sabe o que você poderia fazer por mim? - deu um sorriso torto.
- O que?


Selou nossos lábios e nos aproximou ainda mais. Só que nosso beijo foi interrompido com o estrondo que ouvi vindo da sala.

- Bella. - meu pai gritou muito alto.


Há muito tempo não o ouvia gritando irritado daquela maneira. Edward gelou nos meus braços e em menos de um segundo estava em pé ao lado da cama.

- Seu irmão? - sussurrou.
- Pior, meu pai.
- Merda. - ele levou uma das mãos até a cabeça.
- Bella, vem aqui agora. - gritou ainda mais alto.


Ele olhou para mim assustado.

- Faz o seguinte: fica aqui dentro, bem quietinho, quando eu sair do quarto você tranca a porta. Se ele está me chamando na sala, não vai vir aqui dentro, além do mais ele deve ir embora logo por causa do trabalho.


Edward assentiu nervoso e se a situação não fosse tão desesperadora e estranha, eu até acharia suas feições engraçadas. Dei um estalinho em seus lábios e saí do quarto, caminhando pelo corredor bem devagar. Quando cheguei na sala, Charlie estava sentado no sofá, transformado de raiva e segurando uns papéis na mão.


- Pai. O que aconteceu? - ele levantou o rosto e estava todo vermelho.
- Espero que você possa me explicar. O que está acontecendo aqui, Bella?

Se levantou e veio caminhando na minha direção. Dei dois passos para trás em reflexo, mas ele foi mais rápido e me puxou pelo braço, o apertando com uma força desnecessária.


- Me explica o que é isso, Bella. Você tem cinco minutos para dizer que isso é uma mentira, ou eu acabo com a tua raça. - jogou o bolo de papéis no meu rosto, me forçando a segurá-los.

Reconheci assim que li as primeiras palavras. Era o contrato com a Spitfire.

- Onde você pegou isso? - perguntei assustada.
- Ah, é. Só mesmo eu tendo que revirar suas coisas para ficar por dentro da vida da minha própria filha, não é? - me jogou contra a parede.
- Você revirou minhas coisas?
- Não, mas vou começar a fazer isso, porque senão daqui a pouco você está traficando dentro da minha casa. Tenho que agradecer ao seu irmão por ter pego isso pra mim. - mataria Emmett na primeira oportunidade.
- Pai, eu-
- Você o que? - gritou antes que eu pudesse pensar em algo para dizer.
- Bella o que você pensa da vida, hein? Você é louca? Por um instante eu pensei que agora você tivesse alguma coisa nessa sua cabeça, depois de ter aprontado tantas, mas acabo de descobrir que não. Eu só vou dizer uma vez, Bella. Você vai cancelar esse contrato ou eu mesmo vou fazer e acredite que dessa forma será bem pior.


- Mas, pai, isso é o que quero fazer. É o que eu sei fazer. Você não pode fazer isso comigo.
- Não me importa se é o que você gosta, garota. Não vê que você não tem futuro nisso? - gritou ainda mais.


Daquele jeito Edward ouviria tudo do quarto.

- Tenho sim, pai. Se você me deixar mostrar que-
- Eu devia ter te proibido de subir nisso da primeira vez que apareceu com essas idéias malucas. Acabou, Bella. Minha paciência com você acabou.

- Será que você ainda não percebeu que eu já sou grandinha o suficiente para decidir o que quero para minha vida? - gritei.
- Não. Você não é, Isabella. Você não é responsável, nunca foi e eu estou cansado de ter que aturar as besteiras que você faz.
- Me diz nos últimos cinco anos alguma coisa que eu tenha feito para você achar isso, pai. - aumentei ainda mais o tom de voz.


Dessa vez não me preocupei se Edward ainda estaria no quarto para ouvir tudo.

- Talvez não devesse perguntar para mim. Que tal para a sua mãe, Bella? Ela pode responder melhor. - as lágrimas vieram sem que eu as pudesse impedir - Você não pode, não é Bella? Não pode falar com ela, porque ela não esteve aqui esse tempo para te ver de perto, ver a neta dela de perto. Ela sacrificou a vida para que você continuasse criando a sua filha. Você vai estragar isso logo agora? Você é muito ingrata mesmo, eu não te reconheço mais.


Minhas pernas não me sustentaram e eu escorreguei pela parade, enquanto as lágrimas viravam rios.

- Ou você acaba com esse contrato e resolve ir atrás de uma vida de verdade, ou eu te ponho daqui para fora e você nunca mais vai ver a Nessie. Nunca mais vai ver sua filha, entendeu?


Aquelas palavras entraram em mim como facadas. Antes de sair de casa, ele ainda pegou o contrato no chão e jogou na minha cara de novo, então partiu, batendo a porta, fazendo as paredes tremerem. Me deixou acabada ali no chão e o pior de tudo era que nem me mexer conseguia. Ele tinha tocado no meu único ponto fraco. Minha garotinha. As lágrimas agora embaçavam minha vista.


- Bella? - a voz de Edward me fez tremer.

A expressão de raiva, confusão e surpresa que estava estampada no rosto dele só fez com que minhas lágrimas caíssem ainda mais depressa. Ele me olhou com algo desconhecido no rosto.

- Você ouviu? - foi a única coisa que consegui balbuciar.
- Acho que eu entendi errado. Não, não pode ser verdade, quero dizer, é impossível. Não é? - algo nos meus olhos o calou. Não era impossível. Era verdade - Você só pode estar de brincadeira com a minha cara. - gritou alto demais.


Pus a cabeça entre os joelhos e tentei controlar meu soluço.

- Acho que não está. - rosnou.

Levantei os olhos, tentando não encará-lo.

- Eu não te contei antes porque-
- Porque você é uma... - se segurou ao dizer - Quer saber? Tchau Bella.


Se virou na direção da porta, mas levantei depressa e o alcancei.

- Espera, Edward. Porque isso? - perguntei assustada. 

O que eu sentia já me tornara frágil e desprotegida o suficiente para que seu gesto de ir embora fosse pior que qualquer facada, mas não queria que fosse agora, não por esse motivo, não dessa forma.


- Bella, você tem uma filha e não me conta. O que estava pensando? Porque você mentiu desse jeito?
- Porque. Porque eu nunca contei isso para ninguém. Ninguém sabe disso, Edward. Principalmente, a Nessie. Por favor, o que você queria que eu fizesse? - gritei.
- Que você fosse sincera comigo por um instante, talvez. - respondeu alterado.
- Eu não podia, Edward. Não posso colocar esse segredo em risco por sua causa.
- Não, Bella. Eu jamais contaria isso para ninguém. Eu só-só estou me sentindo idiota demais para acreditar em qualquer coisa que saia da sua boca agora. - pôs a mão sobre a maçaneta, mas o impedi mais uma vez.
- Calma, Edward.
- Porque calma? Acabei de descobrir que você tem uma filha. Uma filha, Bella. Meu Deus, isso é... estranho. Eu me sinto.- foi então que se calou e pareceu pensar em algo por vários minutos.


Eu já estava ficando com medo do que ele poderia dizer.

- A Nessie. Ela... - seu rosto se transformou em raiva - É filha daquele seu namoradinho de merda, não é? - tentei abrir a boca para dizer alguma coisa, mas não tinha o que dizer nessa hora - Ela é filha daquele marginalzinho que você namorava Bella? Por um acaso é por isso que você nunca gostou que eu viesse aqui? Talvez pudesse encontrá-lo vindo visitar a filha? - perguntou com deboche.


O ódio subiu pelo meu peito e depositei dois socos fortes o suficiente para deixar marca no peitoral de Edward.

- Será que você não pensa em outra pessoa que não seja você? - gritei - Não vê como eu estou? Você é um perfeito idiota mesmo.

Dessa vez fui em quem abriu a porta.

- Sai da minha casa agora. Sai da minha casa, Edward. Sai daqui. Sai da minha vida. Nunca mais aparece. Vai.

Ele me olhou com rancor, então saiu pela porta da frente, me deixando sozinha com minha mágoa.


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