Um alarme ecoou pelo resinto, avisando que o cronômetro do microondas havia zerado. Calmamente Osmirna dirigiu-se a ele e retirou um recipiente que continha macarrão instantâneo. Fungando, ainda acrescentou um pouco de feijão ao alimento tão nutritivo e voltou para sala, onde certo loiro ainda a observava com certa curiosidade e descrença.

–Ok, vamos ver se eu entendi. - Osmirna fez uma pequena pausa para comer uma colher de sua gororoba -Eu e você fazemos parte de uma estória, certo?

–Isso mesmo.

–Existe uma autora que comanda todas as nossas ações, inclusive o que esta acontecendo agora.

–Correto.

–Eu, supostamente, sou a protagonista disso e você é o meu par romântico.

–Sim, o acaso fez nossos caminhos se cruzarem e mais para frente vamos nos apaixonar um pelo outro. Se bem que algumas autoras gostam muito de usar aquele negócio de amor a primeira vista ou então predestinação. Eu, particularmente, acho que amor a primeira vista muito coerente aqui, afinal, que personagem não se apaixonaria por um cara bonito, jovem e gostoso como... - e ele continou com seu monólogo, sendo que Osmirna não havia prestado atenção em quase nada que ele havia dito, ocupando-se em terminar de lamber o resto do molho no fundo da tigela.

–Tá, tá... Concluindo então... - o cortou, arrotando e tossindo antes de concluir - Fazemos parte de um universo fictício, criado da mente de uma pessoa.

–Basicamente, sim.

–Muito bem... - largando a tigela em qualquer lugar do chão, Osmirna voltou a se largar em seu sofá - Dormir com fome faz a gente sonhar com essas besteiras. Espero que tenha algo bom na geladeira quando eu acordar, to com preguiça de ir no mercado.

–Mirna, você ainda não acredita em mim? - cabisbaixo, ele suspirou cansado.

–Mesmo se isso for verdade, eu realmente não ligo. A não ser que essa tal autora for me fazer ficar rica ou algo assim, ai a conversa muda.

A autora poderia fazer Osmirna virar uma garota rica, bela e elegante em menos de dois parágrafos. Entretanto este não é o intuito desta estória. Além de existir Anne, a personagem de outra história que é rica. Não vou me repetir.

–Aí, nada de vantagem pra mim. Então tanto faz. - Osmirna se ajeitou, coçou a bunda e encarou o rapaz entediada.

–Se isso tudo não é verdade, como você sabe do parágrafo antes da sua fala?

–Sei lá, tem sonho de quando tu percebe, acaba entrando na onda da maluquice.

–Você realmente é a pior. O que eu fiz pra essa autora pra ela me colocar interagindo com alguém como você, Mirna?

–Falando nisso, se a "autora" controla tudo aqui, por quê diabos você não acerta a merda do meu nome, moleque?

–Eu sei o seu nome, mas ele não é bom. É claro que existem muitos nomes bizarros por ai, como renesmee, mas o seu...

–Você cria muito drama por nada. - concluiu enquanto cutucava o nariz.

Antes que o rapaz loiro pudesse dizer algo, o gato de Osmirna deu as caras. Se espreguiçando, a rechonchuda bolas de pelos que era Mr. Miteus caminhou até ele.

–Pelo menos alguma coisa que faz sentido aqui. O animal fofinho do enredo. - sorrindo, estendeu a mão até o animal, o qual se aproximou mansamente - Ele até ronrona pra mim...

–Se eu fosse você, não confiaria tanto assim nele. - adivertiu.

–O que quer dizer?

Mr. Miteus realmente estava fazendo um barulho enquanto se enroscava nas pernas do rapaz. O problema é que ao invés de ser um ronronar, como o loiro imaginou que fosse, tratava-se do estômago do gato se contorcendo. Em poucos instantes, uma bolas de pelos fora espelida justamente encima dos sapatos da vítima inocente. Enojado, ele se afastou sacudindo os pés.

–Que bicho nojento!

–Não ponha a culpa no Miteus, afinal, ele sabe que eu não gosto quando ele suja o tapete. - comentou indiferente, alisando o gato que havia acabado de se aproximar.

–Inacreditável... - lamentou o infortunado entregador, largando-se no chão.