Diários da Noite escrita por MsWritter


Capítulo 4
Adolescência-vida adulta


Notas iniciais do capítulo

Não gosto do rumo que esta história tomou...
Escolhi um tipo de linguagem que acabou me limitando. Sinto muito por ter desperdiçado uma boa ideia e o seu tempo com isso.

De qualquer forma, esta fic já está acabando.
Ah sim, tem um determinado ponto que tem (...) escrito na história. Isso quer dizer que Integra não completou a frase.

Agradeço a todos pela atenção.



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“O clamor e os gritos de dor não bastam para nos salvar” (Agasha).

Quanto mais leio, mais percebo o quanto a vida de Vlad justificava a personalidade de Alucard. Algumas coisas que o vampiro me disse fazem sentido agora.

Quando atingiu os quinze anos, Vlad escrevia quase que diariamente, como que para não se esquecer da vida que levava, ao passo em que questionava sobre ciências e filosofia e registrava seus medos sobre a guerra. Quase posso senti-lo ao meu lado enquanto leio.

Falava sobre seus dias nos pomares, sobre seus feitos. Sobre uma carruagem que esculpiu em madeira, sobre como a testou e ela andou bem, até que o cavalo se assustou com uma serpente e derrubou Vlad, carruagem e a si mesmo morro abaixo, e Vlad teve que entrar pela janela do castelo e se trancar por duas semanas em seu quarto para esconder o olho roxo de sua mãe.

Contava sobre seus estudos e sobre como as flores nos jardins estavam, relatava as belezas da primavera romena e que havia identificado alguns pássaros que nunca havia visto nos arredores do castelo.   E de uma hora para outra, um Vlad de dezesseis anos fez uma única e singela nota “estou indo para a guerra. Sinceramente, tenho medo do que posso encontrar, mas se Deus deseja que derrotemos seus inimigos assim o faremos.

Após essa nota, não há mais registros de seus pensamentos, feitos ou suposições, apenas uma série de números, nomes e lugares que identifiquei como uma lista de baixas. Ele estava marcando onde seus soldados haviam sido enterrados e, às vezes, como reconhecer a cova.

Aquilo me cortou o coração. Uma vez entendido, passei a lista sem interesse, até que novamente uma única frase foi escrita e aquilo me chamou a atenção. Vlad devia ter já seus 19 anos. De acordo com o que me disse estava há um ano a frente do comando dos exércitos. Dizia “minha batalha acabou em uma vitória que nos custou muito. Estamos voltando para Valáquia.”

E novamente uma lista de números e lugares, que eram marcados quase que diariamente ao longo de meses. E desta vez, diferentemente dos últimos anos em que havia lido, as frases foram ficando maiores, aos poucos formando textos. Descreviam como eram vazios os cumprimentos que recebera pela vitória e principalmente como aquilo lhe oprimia o peito.

Descrevia o desespero nos olhos das viúvas e dos órfãos que ele via recolhendo os elmos, espadas e escudos, tudo o que foram capazes de trazer consigo e, mesmo que não lhe dissessem, seus olhos o chamavam de assassino. Ele aceitava o julgamento.

Dias depois algumas viúvas se jogavam aos seus pés, implorando perdão pelo olhar que lhe dirigiram. Ele se perguntava o porquê daquela atitude. Ele simplesmente virava o rosto e seguia andando, incapaz de responder o que quer que fosse. Suspeitava que todas fossem condenadas ao enforcamento. Ele não sabia quem havia dado a ordem.

E então ele amaldiçoava sua própria existência, descrevia como era irritante a primavera e seus pássaros e como estava grato pela chagada do outono, onde tudo ficava finalmente em paz e a morte, que conhecia tão bem, rodeava seus jardins.

E então, uma última frase e depois silêncio por mais vários meses. A frase dizia: “conheci uma jovem hoje que realmente me deixou impressionado. Sua pele lembra a neve do inverno, seus cabelos o sol do verão, seu sorriso a vida da primavera e seus olhos o límpido céu do outono. Creio que se alguma coisa seja capaz de refletir a magnitude e a perfeição que é a criação de Deus, seja essa jovem.”

Não foi difícil perceber que era de Doamnei que ele falava. E mesmo contra minha vontade, é fato de que essa jovem representou uma mudança absurda na vida de Vlad. Depois dessa frase, ele não anotava mais as baixas e as mortes, não anotou mais nada na verdade. A próxima anotação foi sobre a morte de seu pai, que ele se recusou a explicar ou detalhar. Procurei o original, e encontrei a folha suja de sangue. Vlad tinha vinte anos na época. Ficou mais de um ano sem escrever desde que conheceu Doamnei, portanto.

As anotações seguintes eram vagas, contando sobre vitórias. Ter pedido Doamnei em casamento. Sobre seu relacionamento estranho com Radu. Sobre a loucura de sua mãe. Sobre partir e voltar. Nenhum dia do diário passou de dez palavras. E então a nota mais triste, simples e sofrida, que era também a última: “Hoje era o nosso casamento. Os dedos frios da morte a levaram antes”.

O próximo diário datava de 1610. E o que quer que Alucard tenha achado importante registrar, não me interessava no momento.  

Eu sabia que a vida de Vlad não havia sido fácil, mas também não esperava que ler seus registros fosse tão difícil. Esperava que ele descrevesse os horrores da guerra, esperava que ele descrevesse suas angustias e seus sonhos, como fazia até partir para as cruzadas. Mas não. Vlad veementemente se recusou a expressar seus sentimentos durante as campanhas, e depois da morte de Doamnei nem diário havia. Só pude deduzir, então, que ele encarou esses sentimentos todos completamente sozinho, escondendo-os em algum canto obscuro de seu coração.

E então o arrependimento tocou fundo em minha alma. O que foi que eu fiz? Quanto eu o machuquei? Quanto fui egoísta?

Eu o ataquei e feri mais do que fisicamente ao longo de nossos dias juntos, e é claro que (...)

Vlad foi o homem mais forte que conheci. Reconheço isso agora. Sempre me escondi atrás de minha máscara de força e atitudes justificadas pela traição de meu tio e por cuidar da organização... mas nunca estive só. Até o último dia aquele mordomo cuidou de mim, e o vampiro sempre esteve por perto, irritando-me, entretendo-me e me dando motivos para viver. Vlad nunca teve nada disso, apenas as atividades que impunha a si mesmo para não enlouquecer. Para parecer normal. Até que seu nascimento o obrigou a presenciar o inferno na Terra, em nome de Deus.

Lembro-me do primeiro vampiro que matei. Eu sabia que era um monstro, sabia que não era humano, sabia que era o certo a fazer, e ainda sim tive pesadelos por mais de uma semana. Tinha quatorze anos.

Vlad tinha dezesseis quando foi para a guerra. Dois anos mais velho do que eu. Matava e via morrer diariamente dezenas de homens que ele não considerava realmente demônios. Ainda hoje meus dedos tremem e sou obrigada a fechar os olhos quando preciso sacrificar um de meus homens que estão começando a virar ghouls. Céus, Vlad... Perdoe-me. Onde quer que você esteja agora, perdoe-me. Eu sinto muito.

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A página jaz maculada por várias marcas de lágrimas não contidas.


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Notas finais do capítulo

Ah sim, a cena de quando Vlad conheceu Doamnei está escrita no capítulo 4 de "Nenhum de Nós". Estou pensando em lançar mais uma short contanto esses fatos que o Vlad não escreveu, mas gostaria de saber a opinião de vocês antes... já estão cansados do Vlad ou gostariam de ver?



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