Vejo que você é um rei que foi destronado.

Lançado fora em um mundo que você nunca conheceu.

Sente-se, coloque suas armas ao seu lado.

É a nossa guerra, no final, nós vamos certamente perder.

Mas está tudo bem...

Ino o encarou profundamente, e Gaara sentiu um calafrio em sua espinha. Sentia-se estranhamente vulnerável com aquele olhar. Como ela poderia ser assim? Tão magnificamente interessante?

Gaara mantinha-se deitado em sua cama encarando o teto, trajando apenas uma calça parecia estar morto. A pele branca contrastando com os cabelos vermelho fogo. Ino se aproximou sorrateiramente dele, abaixou-se e sussurrou em seu ouvido:

- Você está bem?

Gaara abriu os olhos rapidamente. Não a vira se aproximar tão rápido. Levantou o dorso e apoiou-se nos cotovelos encarando-a com a testa franzida. Uma ótima visão, pensou ela.

- Como você pode ser tão estúpida ao ponto de se apaixonar por mim? Justamente eu, que sempre lhe tratei mal, como se não valesse nada. Como se não merecesse um olhar meu... Como pode? Gosta de ser tratada mal, é isso?

Ino sorriu. – Eu sei que me ama, cabeça de fósforo. Pode dizer-me quantas vezes quiser que não, mas... Eu consigo ver no fundo dos seus olhos o que se passa. Amor. É isso.

Ele soltou uma risada sarcástica. – Quer convencer-me a levá-la ao País do Vento. Nem adianta tentar não voltarei com minha palavra. Não quero que por teimosia sua, cause algum mal a meu filho.

- Desde quando se importa com ele? – Ino bufou irritada. – Ele foi apenas um inconveniente para você, eu sei.

E com um salto Gaara pulou da cama, enfurecido, saltou na direção de Ino e agarrou seus pulsos com força.

- Nunca mais repita isso entendeu? Nunca mais! – ele gritou as palavras o mais lentamente possível. Os olhos verdes totalmente perdidos em fúria. Soltou-a no chão e saiu do quarto batendo a porta com força. Totalmente incontrolável...

- Gaara, o que aconteceu? – perguntou Temari preocupada assim que saiu de seu quarto. Seguiu o irmão pelos degraus da escada, e chegando na sala, puxou-lhe pelo braço. – Ei! Olhe para mim!

- Deixe-me em paz um pouco Temari. Será que você consegue? – ele bufou massageando as têmporas de olhos fechados.

- Tudo bem Gaara. – a irmã afagou-lhe os cabelos. – Eu sei o que se passa.

- Se sabe, deixe-me ir. – ele afastou-se dela caminhando em direção a porta. – Tenho que trabalhar. Ittekimasu Temari.

                    ******************

O dia no gabinete seria terrível ele sabia. Mais uma vez teria que agüentar Matsuri com suas tentativas totalmente fracassadas de tentar seduzi-lo. Idiota – ele pensava. Como ela imaginava que poderia seduzi-lo. Ela sempre usava a mesma estratégia...

- Viu como Ino ficou com Kankurou na festa? – ela murmurava enquanto deixava alguns papeis na mesa dele. A saia dela, curta demais para um ambiente de trabalho.

- Eles estavam conversando. – Disse sem paciência o homem sentado no trono. O olhar gélido dele encarando-a com raiva.

Matsuri respondeu-lhe com um sorriso cínico enquanto abaixava-se para pegar um documento que “acidentalmente” havia caído no chão. – Bom... aquilo não me pareceu apenas uma conversa.

- Matsuri você é apenas a minha secretária e como tal, deve cuidar apenas de assuntos relacionados ao trabalho. Da minha vida particular, cuido eu.

A mulher suspirou. – Mas... Eu me preocupo com você. Ino está te fazendo perder tempo. Digo... Quem é a mulher que deixa o marido sair em batalha sem acompanhá-lo. Até onde sei, ela é uma boa ninja, não é?

- Primeiramente trate-a como Senhora Sabaku. Em segundo Ino é sim, a melhor ninja de Konoha, mais eu, não quero que ela vá. Ela está grávida. Grávida do meu herdeiro.

Como um choque a boca da mulher se abriu e os olhos castanhos se arregalaram. Gaara sempre contava tudo para ela. Ela sempre fora sua aprendiz. Sua confidente.

- Ga...ara. Porque não me contou?

Ele não respondeu, apenas desviou o olhar do dela, e continuou assinando alguns tratados de Suna. Ela estava agindo como uma dissimulada.

- Obrigado Matsuri... pode se retirar. – ele murmurou baixo sem olhá-la. De canto de olho ele ainda pode ver a expressão totalmente incrédula dela, enquanto caminhava lentamente em direção a saída.

******************

O sol começava a se por. O tom alaranjado começando a tomar conta do céu. Suna aos poucos começava a perder a movimentação, e os comércios ficavam mais vazios, enquanto, os chefes de família começavam a regressar aos seus lares para o tão tradicional jantar em família.

A leve brisa do fim de tarde balançava suavemente os fios vermelho-fogo, enquanto os orgulhosos orbes esverdeados olhavam em volta, dando um momentâneo adeus a aldeia natal.

Com lentos passos passou pelo portão com o imponente símbolo da ampulheta gravado em dourado no topo do arco e saiu de Suna. A figura imponente trajando com elegância a vestimenta de ninja que já não usava a algum tempo. A cabaça presa em suas costas, firme.

- Boa viagem, senhor. – Um dos membros do parlamento postado em um dos lados do arco disse com uma reverência. Ele apenas meneou de leve a cabeça enquanto caminhava. Entrou na floresta, afastando alguns galhos que atrapalhavam sua visão do caminho. Flexionou os joelhos e saltou até o galho mais alto da árvore. Equilibrou-se ali por um segundo para logo saltar novamente para o galho mais próximo fazendo o mesmo movimento repetidas vezes seguindo seu caminho até a aldeia do vento. Olhou para o chão e viu folhas secas de outono forrando a grama selvagem. A dor dourada das folhas davam-lhe uma boa sensação de tranqüilidade. A mesma tranqüilidade que sentia com Ino. Kami-Sama! Porque todos seus pensamentos acabavam nela? Ele não fazia de propósito, mais Ino sempre mexia com seus sentimentos nas horas menos propícias. Deveria saber que deixá-la não seria nada fácil, mas, ficar com ela também não era. Ela tinha um gênio forte, e era o que mais lhe encantava nela, de fato. O jeito como ela tentava influenciá-lo, era realmente algo estranho... e interessante.

                    ******************

Ino sentia-se infeliz. Cada vez que pensava em Gaara tinha mais vontade de chorar. Não poderia chamá-lo se algo acontecesse, não teria ninguém para abraçar nem ninguém para discutir. Isso a deixava completamente desolada. Era algo estranho se sentir assim, afinal, a casa não estava vazia. Temari estava lá, mas não era a mesma coisa sem Gaara. Seus olhos ardiam a medida que algumas corajosas lágrimas escorriam molhando a bela face alva. Não havia dormido nada na noite anterior.

Ino suspirou e passou a mão no ventre ainda pouco dilatado. Não estava sozinha, ela sabia, tinha ele. O pequeno Gaara crescendo dentro de si. Fechou os olhos e ficou acariciando o bebê por cima de sua própria pele. E quando estava praticamente dormindo... Sentiu. Abriu os olhos como se tivesse levado um choque e sem tirar as mãos da barriga levantou-se. Seu pequeno bebê havia se mexido. Ela sabia que sim, ela sentiu a pequena mãozinha tocando a sua. Não pode segurar, as lágrimas começaram a correr livremente em sua face. Seu coração estava acelerado de felicidade. Saiu correndo do quarto, e andou pela casa procurando por alguém. Lembrou-se então de que, quem ela queria não estava ali.

                    ******************

Gaara de repente parou seu caminho, abaixando-se e apoiando-se com a mão em um dos galhos da árvore. Apurou sua audição sem se mexer. Era impressão sua ou ouvira um estranho barulho vindo das árvores? Estreitou os olhos para aqueles galhos que balançaram atrás de si. Olhou apressado em volta, segurando ao máximo a própria respiração que podia facilmente denunciá-lo. O vento podia ser o responsável pelo barulho, mas... E aquele estranho cheiro de rosas? Ficou parado, os olhos intensamente focados em um dos arbustos. Sua areia começava a agitar-se, e quando estava preparado para atacar o invasor com um Sabaku Kyuu, viu uma brilhante cabeleira dourada que se misturava com a luz do sol. Ino. Tombou a cabeça para trás, baixando a guarda, e exalou um longo suspiro. Pulou e aterrissou no solo bem na frente dela que tinha um enorme sorriso no rosto.

- Ino, o que faz aqui? – indagou calmo vendo o sorriso dela aumentar cada vez mais. Ele queria sorrir também, sem saber o motivo, mas, conteve-se. Iria parecer um baka.

- Gaara... – ela sussurrou eufórica. Ficou em silêncio por alguns momentos e depois em um impulso pulou no colo dele agarrando-o em um abraço apertado. Ela não conseguia conter-se. – Eu... eu... senti. Mesmo. Ele está aqui. Um pedaço de você está comigo.

- Um pedaço de mim? – ele murmurou quando ela afastou-se dele.

- Nosso filho Gaara. Nosso pequeno musuko. Eu o senti. – Ino murmurou com as lágrimas brotando de seus olhos novamente. Gaara a encarou intrigado, e ela pegou delicadamente a mão dele e depositou-a junto ao seu ventre.

Gaara ficou apenas parado, sem esboçar reação alguma até que... Seu rosto iluminou-se, e sua boca se abriu em completo espanto. Ele também havia sentido. Ele havia sentido. O poderoso kazekage que não podia sentir, desta vez havia conseguido. Como uma visão nostálgica, ele lembrou-se “Obrigado Ino, por me mostrar que tenho um coração” Sim, ela havia conseguido de novo. Sua magia que o fazia sentir-se vivo. Renovado. Que o fazia sentir. Ele sabia que ali crescia seu filho. Seu herdeiro.

- Ele se mexeu, Ino. – ele sussurrou baixo, como uma criança que descobre algo novo. Os olhos brilhando tanto quanto ou até mais que os de Ino. – Ele sabe que eu estou aqui. Ele sente que eu sou o pai dele, não é?

- Claro que sim, Gaara. – Respondeu a Yamanaka emocionada e chorosa. – Ele já o ama tanto quanto eu.

- Quanto isso é? – Gaara encarou profundamente os olhos marejados de Ino.

Ela aproximou-se dele segurando delicadamente sua mão. – Acredite, é mais do que você imagina. Mais do que o amor de qualquer outra pessoa. Você é tudo pra mim, Gaara.

E então Gaara aproximou-se dela, passou os braços em sua cintura e a puxou-a para si. Colando seus gélidos lábios aos dela. Uma explosão de felicidade os atingiu. Ambos em um segundo esqueceram todas as discussões, e todos os momentos ruins. Tudo em volta estava completamente calmo, o pequeno lago próximo fluía devagar como se também quisesse apreciar a rara cena. Era algo inacreditável para Ino sentir novamente o calor de Gaara junto de si. Sentia tanta saudade dele.

- Gaara-kun, eu sinto muito por ter vindo atrás de você, mas é que... – Ino começou a dizer ao se afastar dele, mas, não terminou a frase pois sentiu os lábios de Gaara sobre os seus novamente.

- Não se preocupe Ino. Foi a melhor coisa que você podia ter feito.