Gaara se arrastava pelos corredores da mansão. Mentir não era certo, e omitir era uma forma de mentir, não era? Pois bem, de nada adiantava, olhar para o rosto de Ino imaginando que ela podia viver muito mais do que uma simples ilusão era aterrorizante. Oh sim! Porque tudo não podia ser normal? Simples. Fácil? Ele sabia que ela havia dado aquilo que ele mais queria e então, qual era o problema afinal? Não era para eles poderem finalmente viver como uma família feliz? Claro que era. Ela prometeu que seria assim. Ino, não voltaria com sua promessa voltaria? "Eu te amo, e sempre te amarei não importa o que aconteça." Sim, essas foram as palavras dela. Havia verdade nelas. Gaara sabia que mesmo depois dela saber a verdade nada mudaria. Não podia mudar. Ele não permitiria que mudasse.

- Gaara! - Como um balde de realidade a voz embargada de Ino chamou adentrando no escritório e fechando a porta assim que seu corpo esguio pode ser visto pelo ruivo. Ele suspirou saindo de seus desvaneios como se já imaginasse as palavras que sairiam dos lábios rosados.

- Diga. O que quer aqui? - A voz cortante foi usada. Gaara tinha que estar preparado para qualquer coisa que ela dissese. Ele não tinha certeza se ela diria que queria um cãozinho ou se a verdade realmente fosse o motivo daquela visita.

- Gaara, hoje Sasori veio me dizer uma coisa... - Ino soluçou baixo enquanto olhava seus pés que impacientemente tamborilavam o salto alto no asoalho de madeira. - Er... era alg-o sobre o no-osso casamento. - Admitiu e pela primeira vez fitou os orbes verde-água de Gaara que como sempre não demostravam nenhum sentimento.

- Disse bem. NOSSO casamento. Sasori não tem nada a ver com isso. - A frieza cortante de Gaara fez Ino suspirar temerosa. Ele desencostou da cadeira e se inclinou apoiando os cotovelos na mesa de mogno ansioso para a explicação que viria a seguir.

- Gaara... - Chamou com a voz quase inaudível, como um apelo, ou uma súplica. E pensando bem, de alguma forma, realmente era. - Você foi obrigado à se casar comigo? F-oi só pra você virar Kazekage?

Gaara cerrou os olhos e respirou fundo enchendo seus pulmões com a brisa gelada que entrava pela janela aberta. Tentou parecer o mais calmo possível, porém, sua real vontade era de matar Sasori. Claro, qual o problema dele? O que ele tinha na cabeça para se intrometer onde nunca e jamais será chamado? O fato estava claro como água. Ele queria Ino. Sasori queria tomá-la. Mais isso nunca iria acontecer. Não importava o que ele dissese Ino era responsável o bastante para saber que ele não prestava.

- Nunca fui obrigado à casar com você. - Deu ênfase na palavra "Você" afinal, o conselho de ansiãos de Suna não exigiram que Ino fosse sua esposa, eles exigiram que houvesse um casamento. Apenas isso.

- Então o que Sasori disse era mentira? - A esperança na voz de Ino se sobressaltou. Ela esperava uma resposta 'sim' mais todas as coisas provavam o contrário. Principalmente a expressão vazia de Gaara ao responder após um breve silêncio:

- Não exatamente. - Reclinou as costas na cadeira vendo Ino desviar o olhar para não encará-lo. - Eu tinha que me casar em uma semana...mas, podia escolher qualquer uma. Qualquer garota de Suna. Mais, eu escolhi você. Casar com você foi uma escolha minha. Satisfeita?

Ino arfou. Pelo menos ele havia lhe dado uma justificativa. Se era verdadeira ela não sabia dizer, mais que era o que ela queria ouvir isso com certeza era. Mais então porque ele não lhe contou? Porque todo esse drama por um assunto tão banal que poderia ser simplesmente resolvido com simples conversa? Ok, eram dúvidas questionáveis, mas uma em especial, não saía de sua mente.

- Em partes. - Admitiu se ajeitando na poltrona de couro preta e continuou com um certo pesar na voz - Talvez se casou comigo simplesmente pelo fato de que não havia outras opções. Elas não aguentariam o seu gênio impulsivo por muito tempo, e a menos que se casassem de boa vontade você também não podia obrigá-las à se casar com você.

- Tem certeza que não, Yamanaka? - O ruivo franziu o cenho estreitando o olhar em uma pose desafiadora. Ino engoliu em seco quando ele gargalhou rouco ironizando o que ela acabara de falar. - Você sabe, eu sou o Kazekage, não há algo em que eu não possa mandar. - O tom de voz inundado de superioridade e poder fez Ino bufar irritada.

- Ótimo. E o que você faria se eu fosse embora? - Provocou elevando a voz que mesmo alta continuava acetinada como um canto de pássaros.

- Você não iria. - Gaara respondeu confiante enquanto olhava para os documentos em sua mesa desconfiando da ação. - Não pode ir. Eu não deixaria você ir embora de qualquer modo...

- Então é isso? Sou sua prisioneira agora? Vai me manter trancada! Oh, que absurdo. Gaara, você não sabe o que está fazendo! - A loira levantou-se da cadeira nervosa cuspindo as palavras com truculência.

- Não faça drama Ino! Os fins justificam os meios... - Gaara permaneceu inexpressivo, não demostrou nenhuma reação apenas continuou examinhando os papeis sem nem ao menos perceber que Ino estava de pé lhe lançando um olhar mortal. - Eu sei exatamente o que estou fazendo. Você me pertence. E afinal de contas, não quero que meu filho nasça sem um pai por perto...

Foi aí que a boca de Ino escancarou-se e seus orbes azuis se arregalaram em surpresa. Suas pernas ficaram fracas e ela agradeceu mentalmente que a cadeira estava alí para aparar sua queda eminente. Por um momento Gaara levantou os olhos do papel que lia, observando a reação surpresa de sua esposa. Ela estava estática. Impressionada demais para falar então apenas se interrogou mentalmente. Como ele sabia afinal? Ela ainda não tinha certeza. Faziam apenas três meses.

- Oh Ino. Seria difícil para mim não ter descoberto que está grávida. - Gargalhou divertido e os músculos de Ino endureceram como se fossem pedras de mármore. Nenhum deles parecia querer obedecê-la. - Temari me contou dos enjôos, dos desmaios. Ela realmente ficou preocupada... Além disso, minha areia insistia em ficar perto de você...não haveria outro motivo fora o fato de carregar um pedaço de mim em você.

- Mas, vo-cê... - Ino nem sabia o que dizer. Ensaiava o dia que contaria a ele, mais nunca pensou que ele por si só descobriria. O medo da resposta que tinha em sua mente a fazia tremer. Os pêlos do braço eriçando-se.

Gaara se levantou de sua cadeira e caminhou elegantemente se postando atrás de Ino que permanecia imóvel com a respiração forçada. - Se essa for sua dúvida não prescisa ficar assim... Foi a melhor notícia que eu recebi em toda minha vida. - Susurrou no ouvido da loira que respirou fundo aliviada, trazendo a vida para dentro de si. Oh sim, ela continuava irritada mais pelo menos tinha um motivo para sorrir.

A areia agritava-se em volta dos três, movendo como se estivesse viva. Da esquerda pra direita. De cima para baixo. A dança sincronizada parecia não ter fim. Ino não tinha como viver sem Gaara, e tinha certeza que o filho deles também não. Ela podia facilmente ficar alí de boa vontade mais se ele queria tudo do modo mais difícil que assim seja.

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O vento soprava forte batendo na janela do quarto de Ino e fazendo barulhos estranhos. O farfalhar das folhas era aterrorizante e causava arrepios em Ino que mesmo debaixo de várias camadas de cobertores quentinhos sentia frio em seu corpo todo. A insônia também não ajudava nem um pouco, afinal, ficar olhando para aquela enorme cama de casal em que só ela permanecia sozinha, não era agradável. Passou a mão no cabelo e no rosto tentando tirar a areia que grudava em sua pele, sabia que por nove meses seria assim, por isso tinha que se acostumar.

Em um mínimo de barulho ouviu a porta se abrir devagar, fechou os olhos rapidamente fingindo estar dormindo até que sentiu alguém sentar ao seu lado na cama e passar as mãos em seus longos cabelos loiros. Tentou não se mecher mais sua curiosidade era grande.

- Ino? - A voz de Shikamaru ecoou em seus ouvidos e ela levantou em um pulo, dando um largo sorriso para o moreno de rabo-de-cavalo que afastava uma mecha de cabelo que tampava seu rosto. - Você está bem?

- Acho que sim. - Suspirou pesadamente voltando a se deitar. - Só estou cansada... cansada de estar aqui. Sozinha. - Olhou para a janela, e viu a lua cheia pela fresta que a cortina branca de cetim não cobria. - Shika, você acha que Sasori está certo?

- Eu sinceramente não posso te responder Ino... - Sorriu e beijou a testa da garota. - Para você o que é certo? O que realmente vem a ser um erro? Tudo depende de você... porque talvez o erro não seja tão ruim assim dependendo do ponto de vista.

- Eu não sei se consigo ter outros pontos de vista fora esse que tenho agora.