Enquanto Lizzie e John se entendiam na biblioteca, Mike e Clara continuava a jogar boxe no Wii, após duas partidas de vitórias da Clara, Mike decide parar de jogar.

– Parar, já? Só porque está perdendo! – Clara falava na tentativa de intimar Mike.

– Você só ganhou porque eu deixei. Sabe, eu sou um cavalheiro, não bato em mulheres, nem mesmo quando estamos em uma partida no videogame. – Mike tentava se defender. O garoto se sentou no grande sofá, gesto imitado por Clara.

– Não inventa desculpas, Mike, eu sei que você estava com medinho – Clara debochava.

Enquanto os dois ‘conversavam’, uma chuva forte começou a cair, mas o casal estava entretido o suficiente para não reparar.

– Será que o John e a Lizzie estão se entendo? – Mike perguntou depois de algum tempo de silêncio.

– Eu espero que sim. O meu irmão parece realmente gostar muito dela, e finalmente ele acertou na escolha da garota.

– Você não gostava da Anabela?

– Mais ou menos... Eu peguei uma implicância com ela. A Anabela até poderia ser legal, mas não combinava com o John. O meu irmão precisa de alguém como a Lizzie.

– Eles formam um casal bonito... Mas eu acho que nós dois juntos ficaríamos melhor – Mike, para variar, comentava com certa malícia. Clara revirou os olhos.

– Você não cansa?

– De quê? – Mike perguntou sem entender.

– De encher meu saco!

– Claro que não! Essa é a minha meta na vida – Mike falou, claramente se divertindo.

– Eu te odeio – Clara falou com desprezo.

– O ódio e o amor estão muito próximos – Mike revidou levantando uma sobrancelha.

– Não nesse caso...

– É o que vamos ver – Mike sorriu maroto.

Os dois voltaram a ficar em silêncio, Clara se levantou após um tempo e foi até a porta de vidro que separava o resto da casa do Jardim Central, no qual havia o lago. Só naquele momento ela percebeu que estava chovendo. A chuva se intensificava cada vez mais, era engraçado como a chuva a acalmava. Era como se aquela água que caia do céu pudesse levar embora todos os seus problemas, não que ela estivesse com problemas, ao contrário. Sua vida agora passava por uma calmaria quase assustadora para a garota. Mas ela tinha a sensação que a tranqüilidade, na qual sua vida estava, pudesse acabar rapidamente.

Afinal, com ela era sempre assim, quando sua vida começar a ficar o que chamamos de ‘normal’, vinha algo e destruía a sua paz. Clara continuava a observar as gotas de chuva baterem contra a parede de vidro, e ela teve uma idéia, um tanto maluco, pode-se dizer. Mas, fazer o que? Não tinha como negar, ela nunca fora muito normal mesmo.

– Vamos tomar banho de chuva?

– O que? – Mike sobressaltou-se.

– Chuva – Clara apontou para fora – Vamos tomar banho, por favo?

– Você tá louca? – Mike perguntou e Clara levantou uma sobrancelha, fazendo o garoto rir. Certo, ela não estava louca, ela era doidinha assim mesmo.

– Ah, vamos Mike! – Clara pediu, mas o menino parecia achar a idéia cada vez mais estranha.

– Clara, você vai acabar ficando gripada. Hoje é um típico dia perfeito para aproveitar a calefação interna – Mike nem se mexeu do sofá.

– Pois se você não vai, eu vou sozinha! – Clara falou já abrindo a porta de vidro – Peça para Sandra me trazer uma toalha depois.

Clara mal terminou de falar, deu um sorriso maroto e foi para o Jardim Central. As gotas de chuva estavam grossas e logo a garota já estava toda molhada. Ela sorria como uma criança, pulava e corria pelo Jardim. Mike se levantou do sofá e foi até a porta de vidro, mas ainda não se atrevia a sair.

Ele via a garota parecendo um criança pequena, assim ela parecia tão frágil.

– Clara, você vai ficar gripada! – Mike a alertou novamente, dessa vez gritando para que a menina escutasse.

– E daí? Essa vai ser a melhor gripe que eu já peguei! – Clara gritou de volta. Os seus cabelos já estavam totalmente molhados e grudados em seu rosto e seu pescoço. Assim como a sua roupa, a calça comprida pesava sobre o corpo, mas ela não parecia ligar e sua blusa já estava totalmente colada, mostrando até mesmo um pouco do sutiãn que ela usava.

A chuva se intensificava, e Clara parecia se divertir ainda mais. Ela abria os braços e rodava, sentindo as gotas de água baterem sobre seu rosto e trazendo uma sensação de liberdade.

– Ela vai me deixar louco, desse jeito – Mike comentou baixinho, mas vendo a felicidade da menina, ele resolveu participar também. Respirou fundo e saiu de dentro da casa, logo sentindo a chuva o pegar.

Ele sorriu com a sensação boa que o invadia, e logo correu para onde Clara estava. A garota estava deitada na grama, perto do lago.

– Você me convenceu – Mike falou em pé, ao lado dela. Clara sentou-se imediatamente ao ouvir a voz de Mike e riu. Riu como uma criança, fazendo Mike sorrir junto.

Clara se levantou em um pulo.

– Mike, você vai ficar gripado – Clara repetiu a advertência do menino, com uma voz meio enjoada.

– E daí? Vai ser a melhor gripe que eu já peguei – Mike também imitou Clara, fazendo os dois explodirem em risadas. Clara deu língua para o menino, mas ainda sorria.

– Você sabia que quem dá língua pede...? – Mike fez uma cara bem séria, abraçando Clara pela cintura. A garota se surpreendeu com o gesto, mas não fez nada para impedir, muito menos se afastou. Esse era um dos poucos momentos em que os dois não estavam discutindo.

– Ah é? Quem disse isso? – Clara levantou uma sobrancelha, sentindo sua blusa que estava quase que totalmente grudada ao seu corpo, encostar no corpo de Mike, por causa do abraço.

– Eu... Eu estou dizendo agora – Mike não se decidia em olhar para a boca ou para os olhos de Clara, a garota percebeu, mas novamente não fez nada para impedir.

Clara riu alto, jogando a cabeça meio para trás, fazendo Mike sorrir.

– Ok, desculpa aí, garanhão – Ela sorria. Mas no segundo seguinte seu sorriso desapareceu, pois Mike havia colado sua boca na boca da menina. Fazendo-a realmente se surpreender. Clara arregalou os olhos, estava tensa. Ela sentia a boca do menino sobre a sua, pedindo passagem, mas não sabia o que fazer. Mike apertou ainda mais a cintura de Clara, trazendo-a ainda mais para perto e fazendo, também, a garota relaxar mais e fechar os olhos. Assim que as línguas se tocaram, uma onde elétrica invadiu o corpo dos dois. Clara se arrepiou, mas preferiu pensar que era pelo frio e não pelo beijo. Mike sorriu entre o beijo, aprofundando-o ainda mais e puxando Clara mais para perto. A garota, por sua vez, levou a mão para a nuca de Mike e começou a puxar levemente seus cabelos. As bocas se encaixavam perfeitamente e, junto com a chuva, deixava o beijo ainda melhor. As gotas de água da chuva passaram a diminuir de intensidade, mas os dois mal reparam nisso. Clara tentou, por duas vezes, quebrar o beijo, mas Mike não permitia e sempre que ela tentava, ele a apertava mais sobre o seu corpo, fazendo-a esquecer até mesmo de respirar.

– Mike, o que.. O qu... – Clara quebrou o beijo, finalmente, assustada.

– Shh! – Ele sussurrou, voltando a beija-la.

Clara não o impediu, apenas correspondeu ao beijo. Fazendo-a novamente sentir as mesmas sensações. Mike mordeu levemente o lábio inferior de Clara, fazendo-a soltar um gemido abafado, e ele sorriu.

– O que você está fazendo? – Clara conseguiu separar as bocas, empurrando Mike de leve, dessa vez ela não o permitiria beija-la novamente. Mike respirou fundo, encostou a testa na testa da garota e depois de alguns minutos em silêncio, ele finalmente falou, com a voz rouca:

– Desculpe... Eu não deveria ter feito isso

– Não deveria mesmo – Clara se soltou rapidamente, vendo a boca de Mike vermelha e imaginando que a sua também deveria estar. “Merda, merda, o que eu acabei de fazer?!!” Clara se perguntava. – Nunca te dei tal intimidade comigo, você simplesmente não poderia ter feito isso comigo, você está abusando de mim!

– Eu?! Abusando de você??! – Mike perguntou surpreso, já aumentando a voz.

– Sim, você, abusando de mim!! Não chegue mais perto de mim, por favor – Clara falou alto, já meio irritada. “Quem ele pensa que é para me agarrar assim?”. A garota se virou e voltou rapidamente para dentro de casa, correndo pelo Jardim. Enquanto Mike ficava com cara de babaca, ainda tentando processar o que havia acontecido.

– Sandra, Sandra!! – Clara gritava pela casa, estava meio atordoada.

A empregada logo chegou, correndo, preocupado pelo tom de voz que a menina usava.

– O que aconteceu, Srta. Clara?

– Poderia me trazer duas toalhas, por favor – Clara não respondeu. – E depois poderia limpar essa água.

– Sem problemas – Sandra falou e rapidamente correu para dentro de casa, voltando alguns segundos depois com duas toalhas. Na mesma hora, Mike entrou na casa, seu olhar era rígido.

Sandra estendeu as duas toalhas para Clara, lançou um olhar de pena para Mike, segurou o riso e depois saiu rapidamente da sala.

Clara jogou a toalha para Mike, mas não falou nada.

– Obrigado – Mike falou assim que a recebeu a toalha, apesar de Clara ter jogado praticamente na cara do garoto.

Os dois não falaram nada, Clara evitava ao máximo olhar para o garoto, secava seu cabelo enquanto vários pensamentos invadiam a sua cabeça.

– Eu vou me trocar no quarto, quando o John chegar peça para ele uma roupa emprestada – Clara falou com a voz falha e ainda sem olhar para Mike saiu da sala, subindo as escadas correndo e indo em direção ao seu quarto.

Clara entrou rapidamente em seu quarto, foi até o guarda roupa e separou uma calça Jeans e uma blusa branca básica. Alguns pensamentos invadiam a sua mente, e ela tentava a todo custo tirar a imagem do beijo de sua cabeça. “Clara, o que está acontecendo com você? Foi só um beijo, um beijo! Você já beijou milhões de outros garotos, e daí?”.

Clara se vestiu rapidamente, terminando de se enxugar, e logo voltou para a sala. Mike ainda se encontrava lá, logicamente. Sandra oferecia para o menino uma xícara de chocolate quente, que ele recebia sorrindo agradecido, por estar muito frio.

– Quer, Clara? – Mike perguntou, ainda sem tirar aquele sorriso malicioso do rosto, o que fez Clara querer dar um murro ali mesmo no menino... Ou talvez não.

– Sim, por favor – Ela tentou sorrir, mas não deu muito certo, pegou uma xícara e os dois se sentaram no sofá. Clara ligou a televisão, mas não prestava atenção.

– Meu beijo te deixou tão atordoada assim? – Mike perguntou depois de um tempo, sorrindo.

– C-Claro que não! Porque?– Clara perguntou sem entender.

– Por que eu nunca imaginaria ver Clara Spencer assistindo um documentário da Animal Planet sobre a vida dos rinocerontes – Mike comentou rindo alto e apontando para a televisão. E o pior, ele estava certo! Mike se surpreendeu quando Clara corou, ela legal ver que pelo menos ele tinha algum efeito sobre ela.

– E-E-Eu gosto de rinocerontes, ok? – Clara tentou parecer firme, mas sua voz falhou.

– Certo, Clara – Mike confirmou sarcástico, mas sorrindo.

Alguns minutos depois, que mais pareciam horas para Clara, John e Lizzie finalmente voltaram para a sala, sorrindo e de mãos dadas.

– John, pelo menos disfarça esse sorriso tarado! – Mike comentou brincando, e os quatro riram.

– Não precisa contar nada, pelo tamanho do sorriso de vocês eu já entendi tudo – Clara também comentou, deixando Lizzie extremamente vermelha.

– E vocês? Porque você está molhado, Mike? – John perguntou com a mão na cintura da Lizzie.

– Er... Ia te pedir uma roupa emprestada agora – Mike coçou a cabeça e riu maroto.

– Mas o que aconteceu? – John perguntou novamente. Mike olhou para Clara e deu um sorriso.

– Longa história... Depois te conto – Mike se levantou do sofá e os dois seguiram para o quarto de John para pegar uma roupa emprestada.

– E ai? – Clara perguntou, puxando Lizzie para se sentar junto com ela no sofá.

Lizzie contou tudo para Clara, não conseguindo disfarçar o sorriso.

– Ai, que fofo!! E vocês estão namorando? – Clara perguntou adorando saber das novidades.

– Hum... Ele ainda não pediu, vamos ver, não é?

– É claro que ele vai pedir! Acho que ele só não teve a oportunidade, ainda. – Clara comentou sorrindo.

As duas garotas continuaram conversando, animadas. E depois de algum tempo os meninos desceram, Mike com as roupas de John.

– Essa sua calça é muito gay! – Mike comentou rindo.

– Tá reclamando, é? Então tira!

– Ai, John, agora não, só a noite tá? – Mike fingiu uma voz gay.

– Sai daqui Mike, eu sou só da Liz – John correu para onde Lizzie estava, fazendo todos rirem.

Os quatro voltaram a conversar animadamente, até que o telefone tocou e Sandra atendeu.

– Srta. Clara? – Sandra a chamou.

– Oi? – Clara se levantou.

– Telefone para a Srta. – Sandra passou o telefone para a garota, que se distanciou um passo do grupo e atendeu.

John e Lizzie voltaram a conversar, mas Mike olhava para Clara, prestando atenção em cada ação dela. A garota falando ao telefone ficou pálida de repente, e logo começou a gaguejar coisas incompreensíveis, todos ficaram preocupados. Mike pensou por um momento que Clara fosse até mesmo desmaiar. Ela caminhava nervosa pela sala, ainda falando ao telefone e concordava com tudo.

– E-Eu vou estar ai daqui a pouco. Ok. Certo. Muito obrigada. – Clara desligou o telefone e voltou-se para o grupo, ela estava quase chorando, e seu rosto continuava muito branco.

– Quem era Clara? – Mike perguntou, preocupado.

– Era do Hospital. – Ela falou, sentando-se e apoiando a cabeça sobre a mão.

– O que aconteceu? – Dessa vez quem perguntou foi John.

– M-Minha mãe... Está em coma alcoólico, com possível trauma craniano – Clara levantou a cabeça, quase chorando.