Lizzie acordou com sua mãe puxando os edredons que a cobriam.

– Lizzie, telefone para você! Acorda!

– Ai, mãe, me deixa – Lizzie resmungou com a voz arrastada e tentou se cobrir novamente com o cobertor.

– Lizzie Austen, acorda agora! Telefonema para você! Parece ser importante! – Isabela puxou de uma vez o edredom da filha e falou alto.

– Tá, mãe... – Lizzie se sentou na cama, ainda meio (lê-se muito) sonolenta.

– Agora... Vamos? – E falando isso Isabela saiu do quarto, deixando a porta aberta.

– Meu Deus, quem vai me ligar em uma hora dessas? – Lizzie olhou no relógio, 6:30 da manhã, ela normalmente só acordava às 7:00 já que em Londres as aulas só começam às 8:20. – Espero que seja importante, senão alguém vai pagar por ter me ligado praticamente de madrugada – Lizzie falava sozinha enquanto andava lentamente até a sala.

– Alô? – A garota atende o telefone, ainda com a voz meio sonolenta.

– Alô? Srta. Austen?

– Sim, sou eu – Lizzie respondeu estranhando.

– Srta Lizzie Austen, poderia nos responder qual o seu envolvimento com John Spencer e com Anabela Martins?

– Q-Quem fala? – A voz de Lizzie falhou e seu coração pulou.

– Meu nome é James Willians, sou repórter do “The Sun”

Mal o homem acabara de responder e Lizzie desligara o telefone, rapidamente. Ela levou a mão à boca, surpresa. O “The Sun” havia ligado para a casa dela... Como eles haviam conseguido o número? Porque eles estavam ligando? Lizzie sentiu seu estômago dar uma volta completa.

– Quem era, filha? – Isabela perguntou assim que chegou à sala e viu a filha perto do telefone, com uma cara nada boa.

– E-Eu... Não era ninguém, mãe...

– Certo, o ‘ninguém’ ligou para você às 6:30 da manhã, você atende o telefone e depois fica com essa cara de morta-viva-mais-morta-do-que-viva.

– Foi isso mesmo que aconteceu... – Lizzie tentou disfarçar, não queria preocupar sua mãe, apesar de ter certeza que sua mãe iria adorar saber que o “The Sun” havia ligado para ela.

– Lizzie, você não me engana... Conte-me logo, quem ligou. – Isabela falou impaciente e Richard entrou na sala.

– Filha, que cara é essa? Está pálida...

– Não é nada, pai.

– A Lizzie recebeu um telefone e agora está com essa cara, quero saber de quem foi – Isabela argumentou para o marido.

– Ok, ok... Eu conto... O “The Sun” ligou.

– O Jornal? O Jornal “The Sun”? – Richard perguntou incrédulo.

– Sim

– O que eles queriam? – Isabela perguntou interessada.

– Pelo o que eu entendi queriam saber qual era o meu ‘envolvimento com John Spencer e Anabela Martin’ - Lizzie fez aspas no ar.

– Eles perguntaram isso? E o que você fez? – Richard perguntou preocupado.

– E-Eu, bem, desliguei o telefone... Eu fiquei nervosa...

– Agora, digama-me, qual é o seu envolvimento com o John e quem é essa tal de Anabela? – Isabela perguntou com a mão na cintura e fazendo cara de zangada, mas o seu sorriso indicava que estava apenas brincando.

– Mãe, eu não tenho nenhum envolvimento com o John, ele é meu amigo. E a Anabela... Bem, ela é a ex-namorada dele...

– Espera um pouco... Foi essa menina que você mencionou que ela falou aquelas coisas de você? – Isabela perguntou, tendo um sobressalto.

– Sim... Mas, mãe... As coisas mudaram... Ai, é difícil de explicar.

– Comece pelo começo, vamos, sou sua mãe, quero saber de tudo.

Mas antes que Lizzie pudesse começar a falar, o telefone tocou novamente, todos ficaram em silêncio ouvindo ele tocar a primeira vez... A segunda vez...

– E-Eu não vou atender... – Lizzie falou com a voz falha.

– A gente vai deixar ele tocando? – Isabela perguntou, olhando para o telefone.

Richard não esperou mais nada e atendeu o telefone.

– Alô? Não, ela está dormindo... Não, ela não pode falar agora, está dormindo... Hum... Certo... Certo... Tchau – Richard falava ao telefone, deixando a mulher e a filha muito curiosas.

– E então? – Isabela perguntou

– Era eles de novo... Queriam falar com a Liz, eu disse que estava dormindo, eles disseram que ligavam mais tarde.

– Ah meu Deus... Será que já ligaram para a casa do John? O pai dele vai pirar! – Lizzie falou preocupada.

– Liz, não se preocupe, se ele já soubesse,  ligaria para mim... – Richard falou, beijando a testa da filha. Isabela e Richard voltaram para o quarto, deixando Lizzie sozinha na sala. A garota se sentou no sofá por um tempo e ficou pensando no que acabará de acontecer, será que eles teriam escrito alguma coisa de novo? Porque eles havia ligado? O que eles teriam escrito? Como teriam conseguido o número dela?

Lizzie também voltou ao seu quarto e se deitou na cama, o sono parecia não vir. O telefonema a havia deixado muito desnorteada. O que eles queriam falar com ela?

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Lizzie chegou bem cedo ao colégio, ao que tudo indicava, Oliver havia pedido para Richard ir logo trabalhar, e era ele que deixava a garota no colégio. Será que ele havia descoberto alguma coisa?

Lizzie foi até a biblioteca, mas, por um incrível milagre, nenhum livro a interessou. Estava com a cabeça ocupada, preocupada. Até mesmo a bibliotecária, a Sra. MacGould, pareceu perceber a preocupação de Lizzie.

– Você está bem, minha querida? – Ela perguntou, costumava chamar Lizzie de ‘minha querida’, uma forma carinhosa.

– Hum... Alguns probleminhas, mas nada demais.

– Não concordo com você... Você nem pegou direito em um livro hoje.

– É, eu sei...

– Olha, minha querida, se estiver com algum problema e quiser me contar, estarei a sua disposição.  – Aquela velha senhora a olhou de maneira simpática, sorrindo com os olhos. Em pouco tempo, Lizzie já sentia pela Sra. McGould uma incrível admiração. E foi por esse motivo que ela contou tudo que estava acontecendo em sua vida, nos últimos meses, tudo o que sentia, o que via, o que percebia.  Não havia mais ninguém na biblioteca, naquele horário, e a velha Sra. McGould passou a escutar atenciosamente tudo o que Lizzie dizia, sem comentar nada.

– Eu conheci um garoto, aqui na escola, ele estuda na mesma sala que eu – Lizzie começou, vendo o rosto da Sra. McGould se iluminar –  No começo pensei que ele seria apenas um daqueles meninos normais, que me ignoram , que fingem que eu não existo, pensei logo que ele rapidamente se tornaria um garoto popular, ele é inteligente, bonito, simpático, rico. Mas ele me surpreendeu, me surpreendeu não só nesses aspectos, mas em vários outros. No começo, ele não foi muito agradável, e logo em seguida várias meninas passaram a dar em cima dele, e ele simplesmente parecia não ligar. E bem, a gente ficou amigos, nunca pensei que pudesse ter um amigo como ele, ele está sempre me protegendo, perguntando sobre mim, ele parece que realmente se importa pelo o que eu penso, pelo o que eu sinto... Ele é bem diferente. Pouco tempo depois conheci a irmã dele, ela é meio doidinha, mas é um doce de pessoa, sempre preocupada comigo, a gente se diverte muito... – Lizzie continuou a falar, contando tudo o que havia acontecido com ela nos últimos tempos.

Assim que Lizzie terminou de contar o que havia acontecido com ela, a Sra. McGould ficou em silêncio por um tempo e depois falou:

– Sabe o que eu acho? – Ela perguntou.

– Hum?

– Acho que você está apaixonada por esse garoto...

– E-E-Eu não sei – Lizzie gaguejou ficando vermelha.

– Mas você tem medo de admitir, tem medo de sofrer e de fazer os outros sofrerem também. Minha querida, vou te dar apenas um conselho, viva a vida. Esqueça o que os outros pensam sobre você, a vida é muito curta e logo ela passa, não perca nenhuma oportunidade, principalmente se souber que mais tarde irá perguntar para si mesma: “O que aconteceria se eu tivesse feito isso?” Eu sei que as vezes é difícil de arriscar, mas pela nossa felicidade, vale a pena. Então, pense bem, porque dificilmente você vai encontrar um garoto como esse menino, e ele está te fazendo bem, muito bem. Até mesmo o brilho dos seus olhos é perceptível, você não é mais aquela garota fechada, que passava horas e mais horas nessa biblioteca, por entre livros... Agora você tem amigos, que pelo o que eu percebi, são verdadeiros e se preocupam com você.

– Obrigada, Sra. McGould – Lizzie falou depois de um tempo em silêncio e sorriu sincera.

– Agora vai lá aproveitar seus amigos – A velha senhora sorriu. Lizzie devolveu o sorriso e saiu da biblioteca pensativa. Será que ela deveria mesmo seguir o conselho da Sra. McGould.

Lizzie caminhava lentamente pelo colégio, pensando em tudo que estava acontecendo, quando viu o carro de John e Clara estacionar e os dois saírem de dentro.

– Oi gente – Lizzie os cumprimentou sorrindo fraco.

– Você leu o jornal? – John perguntou sério.

– Não, mas o “The Sun” ligou para a minha casa – Lizzie respondeu estranhando a pergunta.

– É melhor você ler – John falou tirando o jornal de sua mochila.

Mas uma vez, Lizzie e John estava na capa do jornal de fofocas. Tinha uma foto de Clara, Mike, John e Lizzie conversando animadamente no canto, uma foto de Lizzie bem grande abraçando Anabela e outra de John e Anabela conversando, bem ao lado da outra foto. E embaixo uma legenda em letras grandes: “Anabela Martin conversa com atual namorada de John Spencer”.

– Será que ninguém acredita quando eu falo que eu não sou namorada do John? – Lizzie perguntou chocada enquanto lia a legenda, abriu rapidamente o jornal e começou a ler:

“A atriz mundialmente famosa, Anabela Martín, foi vista conversando com Lizzie Austen, que aparentemente é a nova namorada de John Spencer, filho do milionário Oliver Spencer. Segundo uma amiga do casal, Blair Mackenzie, Anabela foi tirar conversar com Lizzie sobre o novo namoro dela com John. Ciúmes? Quem sabe! Minutos depois da conversa, Lizzie e Anabela se abraçaram, demonstrando que não havia mágoa entre as duas. Anabela ainda conversou com o ex-namorado, John Spencer. Ao que tudo indica, Anabela voltará para Nova York, onde estava filmando um filme e que deixou para ir ao aniversário do ex-namorado. Esse fato provocou ciúmes em Lizzie, que pareceu não gostar de ver a ex do seu namorado na festa de aniversário do mesmo, e as duas brigaram. O mais novo casal, Lizzie e John, já ficaram famosos entre os adolescentes e viraram o casal preferido dos mais jovens...” – Lizzie lia em voz alta. O resto da reportagem falava sobre os filmes de Anabela, o poder do pai do John e um pouco sobre o namoro da ‘atriz mundialmente famosa’ com o ‘filho do empresário Oliver Spencer’.

– Uma amiga do casa, Blair Mackenzie? – Lizzie repetiu quase gritando. – Amiga??!

– Parece que a Blair viu você e a Anabela conversando... – Clara comentou.

– Isso é um absurdo o que eles dizem aqui – Lizzie não podia acreditar, porque a mídia sempre distorcia tanto os fatos?

– Olha pelo lado positivo, Liz, vocês são o casal preferido entre os adolescentes – Clara comentou sorrindo e apontando para John e Lizzie.

– Clara, nós não somos nem um casal, para começo de história – Lizzie comentou erguendo uma sobrancelha divertida.

– Isso porque você não quer, eu já falei – John comentou sorrindo.

– John, não complica ainda mais essa situação, ok? – Lizzie perguntou dando um soco fraco no ombro do garoto.  – E agora, o que vamos fazer?

– Simples, a gente não vai fazer nada... – John comentou começando a andar, sendo seguido por Clara e Lizzie.

– Como assim? – Lizzie perguntou surpresa

– Simples... Eles vão esquecer logo, a Anabela vai voltar para Nova York, a gente provavelmente não vai mais aparecer no jornal, eles logo pararão de escrever... É questão de tempo – John comentou sorrindo.

– E o papai? – Dessa vez quem perguntou foi Clara.

– O papai vai ficar com raiva, como sempre, e depois vai tentar processar o jornal... Como se a gente já não estivesse acostumada com isso.

John, Lizzie e Clara caminhavam pelo colégio, até que ouviram alguém chamar o nome deles, se viraram e viram um Mike feliz andando até eles.

– Oi ‘Casal preferido dos adolescentes’ – Mike cumprimentou John e Lizzie sorrindo.

– Você já leu... – John comentou meio decepcionado.

– Clarinha, se você quiser a gente também pode formam um outro ‘Casal preferido dos adolescentes’ – Mike comentou com um sorriso meio malicioso, Clara apenas sorriu e fez cara de zombação. – Que milagre, a Clara não me bateu hoje! – Mike levou as mãos ao céu.

– Não comemore, Mike, ainda está muito cedo... Ainda temos o dia todo.

– Ui, amiga, não fala assim que eu gamo – Mike falou com uma voz gay.

– Mike, você é gay! – Clara comentou rindo alto.

– Quer que eu te prove que eu não sou gay? – Mike mudou rapidamente de voz.

– Sobramos... É melhor a gente ir andando, vamos deixar o casal sozinho – John comentou sorrindo recebendo um risinho sarcástico da irmã.

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Depois da aula, Clara, John, Lizzie e Mike se encontram na saída, como sempre faziam.

– Que tal nessa sexta-feira, você irem lá para casa? – Clara convidou de repente – Papai vai estar viajando, mesmo, então...  O que acham?

– Hum... Pode ser – Lizzie concordou.

– Eba! Festa na casa da Clara!! – Mike falou alto, animado como sempre, Clara não o repreendeu, apenas riu.

– Combinado, então, depois da aula a gente vai para minha casa, ok? – Clara falou animada, enquanto todos andavam em direção à saída, porém, mal eles chegaram a porta principal e alguns repórteres os cercaram.

– Lizzie, Lizzie, como vai o seu namoro com o John? – Um repórter perguntou, praticamente pulando em cima de Lizzie.

– Er... Olha... Eu... E-Eu e o John não som... – Lizzie não pode terminar de falar, pois sentiu ser puxada pelo braço, só mais tarde percebeu que quem estava a puxando era John.

John puxava Lizzie pelo pulso, tentando chegar o mais rápido possível ao carro do garoto, que estava estacionado há alguns metros. Clara e Mike passavam rindo pelos repórteres, e algumas vezes os dois até brincavam.  Porém, uma pergunta deixou os dois envergonhados:

– Vocês dois também estão namorando? – Uma mulher perguntou, esperando a resposta com um gravador na mão.

– N-Não...Não mesmo! – Clara respondeu rapidamente.

– Isso porque ela não quer – Mike justificou, sorrindo maroto.

– Cala a boca, Mike – Clara deu um leve soco no braço do menino.

Os dois, depois da pergunta da repórter, acharam melhor seguir diretamente para o carro, deixando as brincadeirinhas de lado.

Lizzie e John ainda tentavam seguir para o carro, mas eram constantemente impedidos por alguns repórteres curiosos. Havia, ao todo, sete repórteres, cada um com perguntas mais constrangedoras que as outras.

– John, o que você acha sobre a crise financeira que as empresas do seu pai estão passando? – Essa pergunta vinda de um repórter um pouco mais experiente que os outros, fez John para subitamente.

– Que crise? As empresas do meu pai? – John perguntou para o repórter

– A crise que as empresas do seu pai estão sofrendo, as ações despencaram 15% nesses últimos dois meses – O repórter continuou.

– Não estou sabendo de nada disso – John respondeu rápido e voltar a puxar Lizzie pelo pulso, finalmente chegando ao carro e entrando, seguidos, segundos depois, por Mike e Clara, que entraram sorrindo.

– Então, gostou da sua primeira experiência como celebridade, Liz? – Clara perguntou sorrindo.

– Sinceramente, não! – Lizzie respondeu, rindo também e, virando para John, completou – E você nem ao menos deixou eu negar o nosso namoro, não é, John Spencer?

– Er... Sabe como é, tinham muitos repórteres – John sorriu maroto, recebendo um leve murro no braço, vindo de Lizzie.

– Idiota!