Capítulo 2

Lizzie nunca fora muito boa em atividades de grupo, nunca conseguia fazer sequer que sua opinião fosse escutada. Porém, o seu grupo na aula de matemática podia ser um dos mais desejados por todos da sala, mas Lizzie sabia que, para ela, ia ser um sufoco.

Afinal, não era fácil para uma garota praticamente anti-social e com uma reputação de nerd na escola, ficar no mesmo grupo que sua ex-melhor amiga, a menina mais popular do colégio e o aluno-novo-ladrão-de-cadeiras. “Lizzie, agüente essa aula, a próxima será de literatura” Lizzie tentava se conformar. O professor havia pedido para que todos ajeitassem suas cadeiras para pudessem discutir melhor com o grupo. Após escutarem as instruções do professor, eles se reuniram.

– Não é uma atividade difícil, afinal é só escolher um assunto que você gostou mais no ano passado e elaborar dez questões, em seguida passar para o seu vizinho resolver. - Lizzie falou não se sentindo muito à vontade.

Nem Catherine nem a outra garota prestaram atenção no que Lizzie falou e, se prestaram, não quiseram demonstrar. O novo aluno, John, percebeu e começou a falar, quase que imediatamente as duas garotas prestaram atenção nele. E Lizzie suspirou decepcionada.

– Bem, não sei quanto a vocês, mas eu realmente gosto de matemática, então, vamos começar?

– Eu também adoro matemática. Que pena que é só para resolver dez questões – Blair, a  garota popular falou.

Lizzie não conseguia acreditar no que estava vendo,ou melhor, ouvindo, já que já havia começado a elaborar suas questões. Blair sempre ficava de recuperação em matemática desde que ela entrou naquele colégio. Aliás, não só em matemática, como em quase todas as outras matérias também.  Lizzie não conseguiu conter o riso, o novato havia chamado muita atenção.

– Então vamos fazer logo – John falou pegando seu caderno e começando a escrever.

– Como sua letra é bonita! – Blair comentou, praticamente em cima do garoto.

– Obrigado – ele corou levemente, continuando a escrever.

– Você alguma vez fez caligrafia? – Blair continuou impedindo-o de fazer a tarefa. Lizzie não conseguia não prestar atenção naquela conversa que chegava a ser ridícula, em sua opinião.

– Não. – Visivelmente dava para perceber que John queria fazer a tarefa, mas ele foi paciente e respondeu educadamente, mesmo querendo conter o riso.

– Nunca vi um menino com uma letra mais bonita que a sua, sério, a maioria dos garotos faz um garrancho qualquer, além do mais, o caderno deles é sempre desorganizado e...  – Blair continuava sem perceber que John estava sendo incomoda.

– Obrigado – John repetiu, já nem sabendo mais sobre o que a garota estava falando.

Enquanto Blair ficava elogiando a letra de John, Catherine estava mandando mensagens pelo celular. O professor reparou e gritou de sua cadeira:

– Srta. Jones, desligue o celular imediatamente, senão você não o verá até o próximo mês.

Catherine fez uma careta e desligou o celular. Pegou seu caderno e perguntou:

– O que é mesmo para fazer??

Lizzie não agüentou aquilo, ficou calada esperando que alguém respondesse, mas ninguém falou nada. Catherine então repetiu a pergunta. Lizzie olhou para ela e perguntou, sem a mínima paciência:

– Tem certeza que você não sabe??

Catherine não podia acreditar em tanta arrogância.

– Se eu soubesse eu não estaria perguntando – resolveu responder com igual ignorância.

– Pois usa seu cérebro para outra coisa que não seja pensar em futilidades – Lizzie se levantou da mesa imediatamente.

– Ei, ei... Para onde você pensa que vai? – John ergueu a cabeça.

– Eu acabei! Enquanto você namorava e a Catherine mandava mensagens.

O garoto não conseguia acreditar, ela havia acabado muito rápido a atividade.

 – Quando um de vocês acabarem, por favor me avisem.

Lizzie foi até a mesa do professor e pediu autorização para sair da sala e poucos minutos depois retornou com um livro na mão. Voltou a sentar-se em seu grupo e começou a lê-lo. John levantou o rosto de seu caderno e olhou para a capa do livro e falou baixinho:

– “O Funil de Couro”

– Hãn? – Lizzie baixou a cabeça do livro.

– Arthur Conan Doyle, bom autor – John falou com muita calma.

– Você já o leu?

– Lógico, ele escreve perfeitamente.

Lizzie apenas sorriu.

– Quem foi esse? – Blair se intrometeu na conversa.

– Um escritor. – Lizzie falou, não podia acreditar que ela não o conhecia.

– E o que ele escreveu? – Blair continuou, tentando se meter na conversa. ‘Livros’, Lizzie queria responder, mas se conteve.

– Ele foi o criador do Sherlock Holmes – John falou.

– Ahh – Blair agora entendeu.

– Já leu “Um Estudo em Vermelho”? – John perguntou para Lizzie.

– Li faz muito tempo, li todos do Sherlock Holmes.  – Lizzie não conseguia acreditar, alguém se interessava em livros, como ela.

– Você pode me ajudar John? – Blair pediu ajuda a John, que apenas ficou olhando para ela.

“Como alguém pode pedir ajuda em uma coisa tão fácil?” Lizzie pensava.

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Logo chegou a segunda aula, literatura, Lizzie simplesmente amava. A professora era a mesma do ano passado, então Lizzie gostou ainda mais. A professora, como todos os outros, fez uma pequena e rápida apresentação de todos, e logo perguntou para toda a sala:

“– Quantos livros vocês lerem nessas férias?”

– Eu li quatro, professora – diz Blair orgulhosa.

– Blair, querida, revistas não contam – a professora falou e toda a sala riu. – Lizzie, minha aluna exemplar, quantos livros você leu nas férias?

Lizzie contou rapidamente a quantidade de livros que havia lido e timidamente falou:

– Acho que li 16, Professora.

Com essa resposta até mesmo a professora se assustou, ela conhecia Lizzie e sabia que Lizzie gostava de ler, mas dessa vez Lizzie exagerou, seriam dois livros por semana. A professora resolveu ficar calada, Lizzie percebeu o silêncio da professora e abaixou a cabeça timidamente.

– E você, John, não é?? Quantos livros leu?

– Mais ou menos uns 10.

Imediatamente Lizzie levantou a cabeça e olhou para o garoto. Tudo bem que eram dois meses de férias, mas nenhuma pessoa naquela sala, tirando ela mesma, conseguia ler mais que quatro livros nas férias.

– Nossa, muito bem. Qual o seu gênero preferido? – A professora perguntou curiosa.

– Policial, suspense, romances, leio de tudo.

– Então você vai gostar da biblioteca da escola, a Lizzie poderia mostrá-la, se vocês aceitassem. Tirando a bibliotecária, só a Lizzie conhece melhor a biblioteca.

Johnn apenas sorriu.

Como só era uma aula de Literatura, está passou bem rápido.

Na hora da saída, Lizzie ia saindo da escola, para começar a caminhada rumo a sua casa, quando é parada por John.

– Vou cobrar o Tour pela biblioteca.

– Pode cobrar! – Lizzie sorriu e continuou andando, deixando John e a escola para trás.