Meet Me On The Equinox escrita por Tay_DS, Kyra_Spring


Capítulo 2
ATO II – Imitation Black




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ATO II – Imitation Black

Aishi aisare kurui souna hodo ni (Para amar e ser amado, a ponto de loucura)

Amaku atsui kuchizuke wa imitation (O beijo doce e ardente é uma imitação)

Mahi suru kankaku tooku naru ishiki (Sentindo o entorpecimento)

Afureru omoi to shinjitsu (As emoções transbordam e realidade)

Kuro de nuritsubushite (Preenchendo-as de negro...)

Já não sabia quanto tempo havia se passado desde que deixara Sora.
Onde diabos ele estava com a cabeça para ter feito aquilo com o garoto?
Por outro lado, sua mente estava em conflito com tudo aquilo. Aqueles sonhos... Aquele azul que tanto apreciava... Roxas. De onde ele era? E o que significava para Axel?
Sentiu que sabia o motivo, mas estava tudo tão confuso. As sensações pareciam tão novas, tão desconhecidas, e ao mesmo tempo tão dolorosas.
Por mais que fosse apenas um sonho, aquele jovem rapaz de cabelos loiros o fazia se sentir bem, de certa forma.
Involuntariamente, ele sorriu. Levou suas mãos aos lábios, e aquilo apenas o fizera ter a confirmação de que estava se travando uma guerra dentro de sua mente.

- Isso não vai me levar a lugar nenhum... - por fim, Axel sentou-se em um banco, e afundou as mãos no rosto, murmurando para si mesmo. - Eu preciso... Pensar racionalmente.
Racionalmente... A palavra parecia uma ironia muito grande para ele tolerar.
Ele resolveu voltar para casa, tentando clarear os próprios pensamentos e decidir uma forma de agir. O primeiro passo, ele pensou, seria entender o que realmente estava acontecendo. Aqueles sonhos não eramsimplesmentesonhos. Havia algo mais por trás deles.
Então... se não eram sonhos normais, o que eles podiam ser?
Enquanto pensava nisso, ele mesmo repelia essa ideia. Ele nunca acreditou em coisas sobrenaturais, vidas passadas, sonhos premonitórios.

Mas, mesmo assim...e se fosse verdade?
Eu devo estar ficando louco, ele murmurou para si mesmo, quase como uma censura. Mas, mesmo assim... ele precisava arriscar.
Então, correu para casa e ligou o computador. Ainda se censurava por fazer algo tão idiota, mas não se perdoaria se ao menos não tentasse. Abriu um site de buscas e, então, digitou.
Sonhos e vidas passadas.
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- Que cara estranho! - Sora deixou escapar aquilo em voz alta, após Axel tê-lo deixado ali na cantina.
Ainda estava em choque com o acontecimento. Nunca o vira surtar daquela maneira.
Depois que alguns poucos minutos se passaram, o moreno deixou o recinto. Caminhava em direção à sua casa no campus. Precisava esquecer aquilo.
Mas como foi que o outro lhe chamara? Roxas?!
E por alguma razão, aquele nome lhe pareceu estranhamente familiar.
Mas balançou a cabeça, e impedir o caminho que aqueles pensamentos poderiam levá-lo. Porém, não podia negar que aquilo o deixara confuso...
- Seu imbecil. Porque ainda insiste em pensar besteira? - e após uma repreensão em voz alta, ele seguiu caminhando.

Mesmo assim, o que havia acabado de acontecer ainda preenchia seus pensamentos. Axel parecia realmente acreditar no que estava dizendo. E parecia, ao mesmo tempo, se odiar por acreditar naquilo. Era realmente digno de pena.
Por um momento, porém, Sora se colocou no lugar do outro. E, de certa forma, entendeu a reação dele. Provavelmente a sua própria não seria muito diferente.
É isso, amanhã tento falar com ele. Deve ter algum motivo para isso., ele decidiu, por fim. Talvez, se pudermos conversar com mais calma, poderemos entender exatamente o que houve.
Mas, naquela noite... Ele não conseguiu dormir.
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“Sonhos recorrentes (repetitivos): São sonhos que se repetem constantemente. Muitas vezes eles nos perseguem desde a infância. É sempre o mesmo sonho. Esses sonhos repetitivos podem ser recordações de Vidas Passadas;”
- Eu não acredito que estou perdendo meu tempo com isso! - depois de algum tempo abrindo páginas e páginas, Axel já estava irritado. Aquilo era irracional demais. Vidas passadas? Sonhos repetidos? Orientações espirituais? Não, aquilo estava passando dos limites. Ele era uma pessoa de mente aberta, mas concreta. Ele acreditava no que podia ver e tocar, e não em algo tão abstrato quanto influências espirituais ou almas reencarnando.

Ouviu a sua chaleira apitar da cozinha, o que significava que a água já estava quente o bastante para o chá.
Depois de algum tempo com aquilo, ele tinha que beber qualquer coisa para distrair a sua mente. Caminhou até a cozinha para preparar a sua bebida, até que bateram na porta.
- Quem seria a essa hora?
Atreveu-se a olhar para o relógio de parede do cômodo, antes de se dirigir a sala, e já era quase meia-noite. Com tanta pesquisa na internet, nem notara que já estava tão tarde. Sem falar que precisaria dormir para encarar mais uma jornada de trabalho na biblioteca do campus.
Sem muita pressa, ele abriu a porta sem fazer caso, e se assustara com o seu visitante.
- S-sora?! - só isso que o ruivo conseguira dizer, devido ao choque do mais novo estar ali à frente da porta de sua residência.

- Erm... Olá, Axel - ele parecia envergonhado. Sora tinha que admitir: não acreditava que estava ali, naquela hora - Acho que... Acho que precisamos conversar sobre o que aconteceu mais cedo.
- É... É sim - Axel também engoliu em seco, pensando que a situação não tinha como ficar mais estranha do que aquilo - Entre, por favor. Estou fazendo chá, você quer?
- Ah, sim, obrigado.
Axel voltou para a cozinha (antes passando em frente ao computador e discretamente puxando rapidamente a tomada dele para que o outro não visse as páginas abertas) e, então, de lá, foi para a sala, com duas canecas fumegantes.
- Espero que não se importe por só ter chá em saquinhos - ele deu um sorrisinho sem-graça - Eu quero pedir desculpas pelo que aconteceu hoje mais cedo. Juro, eu não sei o que deu em mim.
- Ah, está tudo bem - o outro respondeu, no mesmo tom - Na verdade, era sobre isso que eu queria perguntar.
Outro momento de silêncio constrangedor. Um silêncio quebrado por Sora, que perguntou:
- Quem... Quem exatamente é Roxas? Ou melhor, quem você acha que Roxas é?

Roxas.
Axel nunca havia parado para pensar no questionamento do outro.
Não sabia o que dizer ou o que pensar sobre o garoto que aparecia em seus sonhos, que era tão parecido com Sora. Respirou fundo e bebericou o seu chá, numa tentativa de ganhar tempo para pensar, ao até mesmo fazer com que o outro esquecesse essa pergunta.
Mas não conseguiria. Não poderia desviar daquilo por tanto tempo.
- Eu realmente não faço ideia. Apenas sei que ele vem aparecendo bastante nos meus sonhos... - e escondeu a sua face com uma das mãos. - Sim, isso pode ser loucura, porém, vocês se parecem bastante. - e se atreveu a encarar o mais novo, que tinha aquele azul tão profundo sobre si. - Sem falar no olhar...
Aproximou-se um pouco de Sora, e colocou a sua mão sobre os cabelos revoltos do outro, que o olhou confuso.
Os orbes esmeraldinos de Axel encontraram aquela cor que era tão profundo, como o oceano, e poderia se perder, se deixar levado por aquele mar.

Era como se aquela troca de olhares tivesse disparado uma corrente elétrica. E os dois a sentiram.
Sora engoliu em seco, sem se decidir se desejava mais continuar olhando ou desviar os olhos. E, principalmente, sem querer admitir que algo muito forte lhe dizia que o ruivo estava coberto de razão.
- Você... Você tem pelo menos... Alguma teoria? - ele gaguejou. - Qualquer coisa?
- Bem... - Axel deu uma risadinha amarga e baixa. - Estou entre vidas passadas, premonições e a necessidade de consultar um psiquiatra o mais rápido possível. Alguma delas te atrai?
O outro não respondeu, apenas riu também. Era um momento extremamente sufocante, como se a tensão quisesse esmagá-los. Era tão absurdo, tão absurdo...
Mas... Mesmo assim...
Por que parecia que eles se compreendiam?
Por que Sora não parecia achá-lo um lunático completo?
E porque Axel fazia com que elequisesseacreditar? Ou pelo menosaceitasseque aquilo podia ser de alguma forma verdade?
O chá esfriava nas mãos deles. Mais um momento de silêncio. Mais uma troca de olhares que mais parecia uma descarga elétrica.

Então, para sua surpresa, Sora disse:
- Não vamos a lugar algum sem tentar entender isso. Eu vou tentar pesquisar, conversar com algumas pessoas. Faça o mesmo, ok?
- Eu farei. - o ruivo assentiu com a cabeça.
- Desculpe, agora preciso ir - então, o moreno se levantou. - Obrigado por me receber... E... - ele hesitou por um instante, sem saber ao certo o que dizer, até que completou com. - Até mais... Até amanhã...
- Até mais - o outro o conduziu à porta. Quando Sora se afastava, porém, ele acrescentou, num tom baixo. - E... Muito obrigado por me ouvir.
Eles se encararam por um instante, antes de se despedirem definitivamente com um aceno de cabeça. Quando fechou a porta, Axel sentiu-se mais leve, como se um grande peso tivesse sido tirado do seu peito.
Agora, pelo menos, não estava sozinho. Sora também queria a verdade. Eletambémsentia que havia algo mais.
Mas, então, um medo tomou conta dele.
Ele podia não gostar do que iriam descobrir.

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Já estava quase no fim de seu expediente na biblioteca. Ficou acertado que ele e Sora se encontrariam na praça do campus.
O moreno já havia passado ali mais cedo para buscar alguns livros, da qual não se notou muito do assunto a qual se tratava. Eles debateriam sobre pesquisas que o mais novo havia feito sobre vidas passadas e sonhos recorrentes.
Não queria admitir, mas estava nervoso sobre onde poderiam terminar com aquilo. E se fosse tudo fruto da imaginação do ruivo?

Ah, de novo não. - e não resistira a tentação de bater com um dos livros em mãos na cabeça.
Só faltava guardar aqueles para deixar a biblioteca e correr para o ponto de encontro.
O último livro ficaria na sessão de psicologia da mente. Aquela sessão ficava no primeiro andar, o que o fez bufar ao pensar nas escadas que teria que subir. Mesmo assim o fizera.
Finalmente encontrara o corredor em que aquele livro pertencia. Guardou-o e já estava para se virar e deixar aquele lugar, até que um dos exemplares chamara a sua atenção.
A psicologia das vidas.
Tirou-o de lá e deu uma folheada. Um capítulo o alarmou. Falava sobre as consequências futuras após a morte. Talvez fosse aquilo o que procurava e que desistira de tentar achar na internet, inutilmente?
Sem colocá-lo no lugar, ele desceu até o andar de baixo, para o balcão. Faltava menos de cinco minutos para o término do expediente.
Jogou as suas coisas na mochila, e registrou o aluguel do livro recém-pego no andar de cima, antes de colocá-lo com os seus pertences.

Enquanto isso, Sora passou boa parte da aula completamente desatento, rabiscando em seu caderno sem realmente ver o que estava fazendo. Agora, aquela história realmente estava deixando-o intrigado. E ele queria entendê-la de uma vez.
Depois que foi para casa, ele tentou pesquisar um pouco na internet também, e não avançou muito. 90% das páginas eram baboseiras esotéricas, e os 10% restantes eram obscuros tratados de psicologia que o confundiam mais do que o ajudavam.
Por fim, desistiu. Não conseguiria nada ali.
Naquela noite, ele pensou ter visto em seus sonhos uma cidade banhada pela luz alaranjada de um pôr-do-sol num dia de verão. Mas não tinha certeza. Talvez não tivesse visto nada, talvez estivesse apenas sendo influenciado pelo que o outro dissera, por isso decidiu não dar atenção.
O dia seguinte se arrastou até que chegou a hora em que ele tinha marcado de se encontrar com Axel na praça central. Quando ele chegou, o outro o esperava, embora estivesse ofegante e com a expressão de quem havia corrido um bocado para chegar até ali no horário certo.
- Tudo bem? - ele perguntou.

- Ah, sim, sim - o outro respondeu, respirando fundo. No segundo seguinte, jogou o livro na direção dele e disse - Foi o melhor que eu consegui.

- E o que traz ai?
- Bem, eu vi um capítulo sobre as consequências que isso pode trazer após a morte. - Axel comentou, enquanto tomava o livro das mãos do outro.
Folheou o exemplar um pouco, e leu em voz alta:
- “Nossa alma, quando o corpo perece, vai a busca encontrar outro hospedeiro, para que se dê mais uma vez início ao ciclo da vida. Porém, é claro, o tempo entre os seres humanos e as almas costuma passar de maneira diferente, sendo o do segundo mais rápido que o primeiro. Quando ocorre o fenômeno descrito chamado reencarnação, a alma costuma isolar todas as memórias de sua vida passada, criando uma nova sem interferências com a anterior, apesar de traços como personalidade e aparência costumam aflorar no novo receptáculo.” - leu o ruivo, que depois continuou com mais algumas linhas, antes de parar para suspirar e encarar o moreno. - Conseguiu entender algo?

- Deixe-me eu ver se eu entendi... - Sora fechou os olhos, como se estivesse tentando se concentrar. - Quando alguém morre, a alma parte, e teoricamente não poderia haver memórias da vida anterior. Tá, isso eu entendi. Mas... O que explica esses sonhos?
Por um momento, ele teve a tentação de dizer sobre o próprio sonho, mas se conteve.
- “Existem exceções, no que tange a sentimentos muito fortes” - Axel continuou lendo. – “Emoções fortes ou acontecimentos muito marcantes são mais difíceis de isolar ou apagar, e deixam marcas, ou 'cicatrizes', nos seus novos receptores. Traumas, sentimentos de ódio ou medo, amor, amizade, laços familiares, entre outros, costumam não ser completamente apagados e deixar nuances em maior ou menor escala”.

- Então... Se houvesse um laço, ou um acontecimento muito forte no passado, em relação a nós dois, isso ficaria marcado... Como traços de lápis numa folha recém-apagada, algo assim? - Sora continuava com a mesma expressão. - Argh, isso não faz sentido nenhum!
- Estou chegando à conclusão de que a última coisa que vamos encontrar aqui é sentido - murmurou Axel, mais como um desabafo para si mesmo - Enfim... Não acho que isso vá levar a gente a algum lugar. E eu estou com fome. O que acha de a gente achar um lugar pra comer e continuar vendo isso depois?
- Por mim está ótimo - então, Sora sorriu - Também estou com fome.
Axel se flagrou pensando que aquele sorriso era de certa forma animador. Era como se, mesmo que tudo aquilo estivesse virando a vida deles do avesso, ele ainda era compreensivo.

Aquele sorriso, unido com aquele olhar, trazia uma sensação boa. Não sabia explicar, mas aquilo o reconfortava.
Lembrou-se da noite passada, em que o moreno fora visitá-lo. Seus cabelos revoltosos que eram bastante naturais. O azul daqueles olhos profundos. Sua pele branca e macia, que lhe dava um ar de fragilidade.
- Axel? - o mais novo o chamou, tirando-o do transe.
- Oi? O que foi?
- Vamos comer ou prefere ficar ai parado?
- Sim... Vamos.
Em silêncio, eles caminharam para uma lanchonete próxima.
Sora não pôde deixar de pensar no olhar que o outro lhe lançara. Mesmo sem  palavras, ele podia ver bem o que se passava naqueles olhos esmeraldinos do mais velho.

Sentia-se estranho em sua presença. Não sabia dizer o que era, mas aquilo parecia tão bom e errado ao mesmo tempo.

No percurso, eles começaram a conversar amenidades.
A conversa entre eles se desenrolava de maneira que pudesse parecer o mais normal possível, apesar de todo o clima pesado e estranho. Eles começaram a falar sobre aspectos da sua vida, lugares que tinham visitado, coisas de que gostavam. Aos poucos, a atmosfera entre eles foi se tornando mais leve.
A conversa continuou enquanto eles comiam. Parecia um tratado mútuo de não tocar naquele assunto até que terminassem. Aos poucos, eles percebiam coisas em comum entre eles. Isso fazia com que Axel pensasse muito...
... Se eles tivessem se conhecido em circunstâncias diferentes, o que teria acontecido?
- Sora, você é religioso? - ele perguntou, de repente, enquanto brincava com o canudo.
- Não exatamente. - ele respondeu. - Meus pais são, frequentam templos, participam de festivais... Mas eu não. Acredito que haja coisas além da nossa compreensão, mas não fico pensando em formas de explicar ou nada disso.

- Mas você está pensando numa forma de explicar tudoisso. - o ruivo rebateu numa risada debochada.
- É diferente!
- Não, não é. Isso pode estar além da nossa compreensão, mas buscamos algo que possa nos ajudar a entender toda essa loucura.
Sora não falou mais. Aquela discussão não teria fim, e ele sabia disso.
Continuou em silêncio. Ficou olhando para a sua bebida, enquanto pensava sobre assuntos alheios. Por um momento, contar o sonho que tivera passou pela sua cabeça.
Abriu e fechou a boca várias vezes, como se quisesse falar, mas nada saía.
Por fim, foi Axel quem acabou por quebrar aquele silêncio.

- Me desculpe, eu acho que estou te pressionando mais do que deveria - ele disse, passando a mão nos cabelos nervosamente - Não vou mais falar disso.
Mais silêncio. E todo o clima amistoso que os dois haviam conseguido construir naqueles últimos minutos acabava de ruir.
- Não é que... Eu nãoqueiraexplicações - então, para a surpresa de Axel, Sora começou a murmurar, os olhos fixos numa mancha da mesa. - Na verdade... Eu tenho medo delas.
- Medo? Da verdade? - Axel ergueu uma sobrancelha - Por quê?
- Não sei explicar - ele continuou, no mesmo tom - É só que... Parece que isso não devia estar acontecendo, sabe? E se tudo isso for verdade, por que eu estou aqui, e não o Roxas? Por que você é o único que o vê através de mim? E... Você disse que vocês dois lutaram, nos seus sonhos. Por quê?
Axel não soube o que responder. Eletambémse perguntava as mesmas coisas.
- De certa forma... É como se eu me lembrasse. - Sora parecia não se dar mais conta da presença dele ali. - E... É como se eu soubesse que Roxas sentia algo muito forte por você. Como se... Como se você fosse importante demais para ele.
Eu...importante?!, Axel pensou, mas conseguiu se conter para não dizer em voz alta. Então era isso... elesabia. eleaceitava. Havia algo ali.
E... isso explicava aquele sentimento...

- Importante demais... Para mim... - o moreno deixou escapar, sua voz saindo num sussurro como um desabafo.
De repente, Sora pareceu se dar conta do que estava dizendo. Levantou-se num salto, e por um momento, parecia ofegante. O ar lhe faltava.
- Eu... Eu tenho que ir! - disse rapidamente, enquanto deixava Axel para trás.
- Ei, espera!
O ruivo se levantou também. Tirou um apunhado de dinheiro dos bolsos e colocou sobre a mesa. Logo em seguida, ele saiu do estabelecimento e esticou o pescoço, na tentativa de localizar o mais novo.
Estava quase anoitecendo, e seria um pouco complicado procurá-lo se escurecesse. Mesmo assim não ligou.
Correu por uma parte do campus, antes que chegasse a uma parte da praça que não era tão movimentada. Sora parecia vagar pensativo por ali, pois nem notara a aproximação do ruivo.
- Sora! - e quando o outro se virou, Axel parou e se apoiou nos joelhos para recuperar o fôlego. - Porque diabos saiu tão apressado? O que está acontecendo com você?
Percebeu que o moreno estava nervoso, e olhava constantemente para os lados, como se procurasse uma maneira de evitar olhá-lo diretamente.

- Vai me explicar o que aconteceu? - o tom de Axel, apesar de incisivo, era compreensivo. - A gente tem que parar com isso, né? De sair correndo assim sem mais nem menos.
Sora deu uma risadinha nervosa. Aquilo parecia ser bem típico do ruivo, tentar quebrar a tensão com alguma piadinha idiota.
- Me desculpe... - ele murmurou. - É só que... Eu estou assustado. Só isso...

- E você acha que eu não estou? - Axel sentou-se ao lado dele, dizendo num tom compreensivo. - Essa situação é absurda de todas as formas possíveis, eu sei disso... Mas... Por que você tem medo? Tem medo da verdade, ou algo assim?
- Não sei explicar - a voz do outro baixou ainda mais. - É como se... Sei lá, algo aconteceu no passado dos nossos “Eu”. Algo triste. E se... E se acontecesse de novo, sabe?
- Você acredita em destino, Sora?
- Não sei mais em que acredito. - o outro abriu um sorriso amargo.
Silêncio outra vez. Mas, dessa vez, não um silêncio tenso. Era mais como um silêncio de compreensão, em que palavras não precisavam ser ditas para que um entendesse o outro.
- Axel... Você acredita em destino? - então, Sora perguntou de repente.
- Nah, não exatamente - respondeu o outro. - De certa forma, não. Nós escolhemos nosso caminho. Mas o mundo gira independente da nossa vontade, então tem coisas que não podemos controlar e que são impostas a nós. Mas por que a pergunta?

- É que... - Sora pareceu encolher. - Acha que, se não tivéssemos visto, ou descoberto tudo isso... Poderíamos ser amigos? Poderíamos... Sei lá, continuar sendo quem éramos antes? - e então, com a voz reduzida a um sussurro. - Você ainda gostaria do Roxas, se ele realmente fosse eu?
Axel teve que parar e pensar para responder. E, então, a resposta na qual pensou o fez dar uma risada de alívio.
- Se eugostaria? Por que está falando no passado? - Sora arregalou os olhos. - Eu não vou pensar no que poderia ter acontecido. Só quero entender isso porque está afetando minha vida agora, mas, cara... Évocêque está na minha frente. É oagoraque nós temos. Ficar pensando num passado, ou em sei lá o quê, só nos fará perder tempo.Got it memorized?
E então, eles se encararam. O verde dos olhos de um e o azul dos olhos do outro se chocando.
Mas não como uma corrente elétrica. E sim como uma onda magnética.
Uma onda que atraía um na direção do outro.

Sora conseguiu abrir um sorriso. Ele não podia negar que antes sentia algo estranho. Um tipo devazio, talvez causado pela falta de seus antigos amigos e de seus pais. Mas o tempo passara e não havia sido isso. Porém, aquele dia na biblioteca, em que eles se encontraram, ao se conhecerem, fizera com que algo fosse preenchido. Não sabia explicar exatamente o porquê. Só...sabia.
Instintivamente, o moreno encostou sua cabeça no ombro de Axel.
O ruivo não deixou de ficar surpreso, mas mesmo assim ele respondeu, e passou o seu braço pelo ombro dele, trazendo-o mais para junto de si. Abraçou-o, mesmo sem jeito.
O mais novo sentiu que aquilo era acolhedor. Era familiar. Era bom.
- Não se preocupa, ok? Você não está sozinho nessa. - o outro disse sorrindo, enquanto olhava para os orbes azuis de Sora.

E, de repente, passado e presente deixaram de importar.
O que importava era que eles estavam ali. Naquele momento. Naquele lugar. Um ponto microscópico sobre um enorme universo em que tempo e espaço se entrecortavam e se fundiam. Entre tantos pontos, os destinos deles se cruzavam ali. Mais uma vez.
Mais uma vez...?
Parecia errado. E, ao mesmo tempo, parecia ser exatamente a coisa certa a se fazer.
Axel se aproximou do rosto de Sora. Olhos fechados. Ele não queria pensar. Ele só queria...
Sentir.
E Sora também não parecia querer pensar em mais nada.

Sua consciência parecia deixá-lo, deixando-o apenas com suas emoções. Fechou os olhos e aproximou-se de Axel.
Naquele momento, para o ruivo, não parecia existir Roxas. Ou talvez existisse, mas estava dentro daquele garoto à sua frente. Isso não importava. Nada daquelas teorias importavam. Apenasele importava.
Levou uma de suas mãos ao rosto do menor. Aproximou-se mais, até que podia sentir sua respiração acelerada, assim como a dele. Sentiu que os corações de ambos batiam na mesma frequência.
Os lábios de Sora, tão quentes e macios, tocaram os de Axel, de maneira calma e sutil. Um turbilhão de sentimentos explodiu na cabeça dos dois naquele momento. Nada precisava ser dito em palavras. Apenas se deixaram levar pelo momento, tão único e tão real, diferente de toda aquela imitação que o ruivo chamava de vida.

Quanto tempo passou?
Aliás... Será que, àquela altura, não podiam já desconsiderar o conceito detempo?
Ele só sabia que, de uma hora para outra, eles passaram a ser parte um do outro. Ou, talvez, elessempretenham sido, e só puderam se lembrar disso naquele momento.
Mas, então, eles se separaram. E, mais uma vez, os olhos deles se encontraram.
Verde e azul. Cores bonitas. Elas combinavam entre si.
E, então, como uma pintura, um cenário foi se desenrolando na mente de Axel. Uma cidade calma. Uma torre. Um sino. A luz do pôr-do-sol.
E um sorriso. Um sorriso mais luminoso que o brilho azul.
Era mais uma coisa que os dois tinham em comum.
A lua brilhava, naquele momento. E, sob a luz dela, ele tomou uma decisão:
- Sei de uma coisa que pode nos ajudar. Hipnose, talvez. O que acha?
- Tem certeza disso? - murmurou Sora. - Acha mesmo necessário?
- Não quero ter medo da verdade - respondeu ele. - E não quero mais que o passado interfira.
Os dois se encararam, em silêncio. E, sem dizer nada, assentiram.
E, sob a luz daquela lua, decidiram que chegariam até o fim.

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