Meet Me On The Equinox escrita por Tay_DS, Kyra_Spring


Capítulo 1
ATO I – Fate: Rebirth




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ATO I – Fate: Rebirth

Douka watashi mo achira e (Por favor, me leve)

Tsurete itte kudasai (Para o outro lado)

Nani mo hoka ni aranai kara (Eu não preciso de mais nada)

Kono mama aoi jiyou kudasai (Então, por favor, me dê a liberdade azul)

Ele não sabia por que, mas sabia que precisava continuar correndo. Estava escuro, ele não via nada. E, a cada passo que dava, sentia que se perdia mais e mais. Era um labirinto, um labirinto escuro e gelado pelo qual corria, tropeçava, caía, se levantava. Fugia - masdo quê?Havia manchas vermelhas por todos os lados. Sangue? Ele também não sabia. Tudo o que sabia era que precisava alcançar alguém,aquelealguém, e que precisava correr, antes que fosse tarde demais... E, então, encontrou algo. Uma luz azul, muito tênue, entre todo o vermelho e o negro que o cercava.

Apressou-se em alcançar a coloração recém-adicionada à sua visão. Parecia ficar mais distante, porém, ele não pararia. Correria até com a última força de sua essência, até cair morto pelo cansaço em suas pernas. Seus devaneios foram espantados para longe, quando finalmente alcançou aquilo que tanto almejava. E como numa pintura, o cenário vermelho e negro mudou ao entrar em contato com aquele azul que entrava em contraste anteriormente. Tudo parecia tão diferente. O local mudara suas cores para uns tons de laranja e vermelho, enquanto no horizonte, uma enorme luz branca, quase cegante, se punha. Protegeu seus olhos com as mãos. Quando conseguiu se acostumar um pouco com a claridade, ele olhou em volta. Encontrava-se no alto de uma torre, onde um relógio funcionava atrás de si. À sua frente, abaixo, podia ver uma cidade pequena, de aspecto bastante pacato. Porém, não fora isso que chamara a sua atenção.

Mesmo entre todas aquelas novas cores, aquele brilho tênue e azul ainda o atraía, o puxava. E ele o buscava, tentando dividi-lo entre as cores e formas daquele lugar desconhecido. Desconhecido? Nem tanto. De alguma forma, aquilo era tão familiar... Seus pés se moviam como se tivessem sido pré-programados para andar por ali, como se soubesse onde procurar desde sempre... E então, ele encontrou o azul. Ou melhor, o azul o encontrou. Dois olhos pálidos e expressivos, que brilhavam em sua direção. Havia algo familiar naqueles olhos. Ele queria ver o rosto, mas não conseguia... Era como um borrão indefinido. Apenas os olhos eram nítidos. Era um olhar intenso, penetrante... Levemente melancólico... Ele estendeu a mão, tentando alcançá-lo. Mas era como se ele não estivesse ali... Como se fosse apenas uma ilusão... E, quando deu por si, a escuridão negra e vermelha voltou a engoli-lo. E, depois disso, só restou silêncio.

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Acordou assustado, e completamente suado. Sua respiração estava acelerada, e suas pupilas dilatadas devido ao susto... Sustode quê? Procurou normalizar a sua respiração, e suas pálpebras pesaram novamente. Levou uma de suas mãos para o seu rosto, cobrindo-o. Tentou pensar claramente no que havia acontecido. E seus olhos voltaram a se abrir ao perceber que sua mente estava vazia. Não havia uma lembrança sequer para recordar. Aquilo o fez entrar em pânico, Talvez tivesse sido um efeito pós-pesadelo... Contudo, aquilo era tão real. Como um clarão, aqueles olhos azuis intensos e penetrante veio a sua mente. Não sabia o motivo, porém, ele sabia que aquilo lhe era extremamente familiar.De onde? Antes de seu pesadelo terminar, lembrou-se de ter ouvido algo: Roxas. Nunca o ouvira na vida, mas sentia que o conhecia. E aquilo o deixou assustado, um pouco.

Depois de algum tempo tentando se forçar a dormir outra vez, decidiu levantar e caminhar até a janela. A noite estava nublada e um pouco fria, o vento úmido de chuva contrastava com o calor que sentia. O movimento da cidade, dez andares abaixo de si, era mais intenso do que o normal.  Noites de fim de ano, ele pensou. Todos aproveitavam para sair, e chegavam mais tarde... Pensamentos triviais. Essa era a chave. Essa era a forma de fugir daquela sensação estranha e sufocante que aquele pesadelo havia despertado. Era complicado ficar sem dormir naquela noite. No dia seguinte, começaria a trabalhar, e precisava estar bem disposto.

Caminhou, em seguida, para o banheiro de seu quarto não muito mobiliado. Abriu a torneira e encarou a água corrente, antes de enterrar as suas mãos para sentir a gélida sensação do líquido molhar os membros, enquanto a sua coluna inclinava um pouco e sua cabeça abaixava. Com a mão em formato de concha, ele pegou um pouco de água e tratou de molhar o seu rosto, e repetiu esse processo mais duas vezes, até que decidiu fechar a torneira. Levantou a cabeça para olhar o espelho que havia à frente. Rosto pálido, orbes verdes como esmeraldas quase opacas, duas tatoos em formato de lágrimas abaixo dos olhos, e seu cabelo peculiar, de um vermelho fogo, espetado para todas as direções, estava um pouco bagunçado. Permitiu-se sorrir enviesado para o próprio reflexo de maneira sarcástica. - É Axel, você está envelhecendo mais rápido do que queria. - falou o rapaz consigo mesmo, num tom irônico e despreocupado. Mas não podia negar que estava preocupado. Sonhos daquele gênero o abatiam há poucos dias, sem razão alguma aparente. E aquilo o consumia por dentro. Parecia deixá-lo mais...vazio.

"Tá, chega de pensar nisso. Amanhã o dia será longo.", ele disse a si mesmo, sacudindo a cabeça com força como se, com isso, pudesse afastar aqueles pensamentos.

Ele resolveu tentar dormir outra vez. E, depois de algum tempo, mergulhou num sono sem sonhos, até a manhã seguinte. x-------------------------x------------------------x - Se o senhor tiver alguma outra dúvida, basta me procurar na minha sala - a secretária que o conduziu pelo campus era simpática e atenciosa. Mas, céus, como ela conseguia andar tanto sem se cansar, e com saltos daquele tamanho? Ele mal suportava o próprio peso sobre as pernas... - Muito obrigado, Sra. Hirata - ele cumprimentou-a, tentando não ofegar tanto. O trabalho de Axel seria simples. Ele trabalharia durante parte do dia na biblioteca, e estudaria à noite. Era uma forma de se manter na nova cidade, e uma forma de se manter tão ocupado quanto possível.

Ficou acertado com a Sra. Hirata de que Axel pegaria o primeiro expediente de seis horas, que começaria das oito e seguiria até às três da tarde, e já que suas aulas começavam apenas às seis da noite, ele ainda teria um tempo de descansar, colocar a matéria em dia e um tempo para descansar. Seu primeiro trabalho do dia na biblioteca do campus era organizar os livros que haviam sido devolvidos no dia anterior em suas respectivas prateleiras, respeitando a ordem alfabética dos sobrenomes dos autores, temas e matérias. Pelo fato da universidade abranger diversos cursos das mais distintas áreas, a biblioteca tinha que ter em tamanho de estrutura física a proporção para acomodar tantas prateleiras e diversas mesas para que os alunos pudessem estudar e fazer consultas. Aquele processo de guardar os livros, subir e descer a escadinha para colocá-los nas estantes mais altas que o seu tamanho de 1,80m não conseguia alcançar durou uma boa parte do dia. Quando chegou próximo à área de estudo, Axel percebeu que ainda havia livros por ali, fechados, que não foram colocados em seus respectivos lugares após o uso.

Caminho arrastadamente até lá e encarou a pequena pilha que havia ali formada. Já estava para recolher tudo e guardá-los, mas percebeu que alguém estava ali, debruçado sobre um livro aberto.

A pessoa não parecia estar estudando. Na verdade, ele reconhecia bem aquela posição. Provavelmente, ele havia caído no sono em cima do livro. O cabelo espesso, castanho e muito espetado impedia-o de ver o rosto. Por um momento, ele pensou em deixá-lo dormindo ali. Afinal de contas, ele sabia o poder sonífero que estudar para algumas provas exercia. Porém, ele olhou para o relógio. Seu turno estava quase acabando, e ele não sabia se a pessoa que iria substituí-lo aceitaria aquilo. Então, decidiu chamar o rapaz, dizendo: - Ei... Acorde. Você vai acabar tendo um torcicolo assim. - Ahn? - o rapaz resmungou, e levantou-se sobressaltado. A expressão dele era levemente desorientada. Axel teve que se conter para não rir. - Sério, não dá certo dormir assim. Além do mais, logo o outro bibliotecário vai chegar e... Mas ele não terminou a frase. Algo o atingiu, quando o outro o encarou. Aquele olhar. Aquela luz... Uma luz azul...

O mesmo azul intenso e penetrante que vira em seu sonho na última noite. Roxas. Esse nome reverberou em sua mente. Uma dor agonizante abateu em sua cabeça, o que o fez gemer baixinho. Os livros que estava segurando caíram no chão, e levou suas mãos para massagear as têmporas, mas não parecia aliviar nem um pouco. Imagens confusas e desconexas vinham em sua mente, e seus joelhos fraquejaram. Parecia não perceber, mas havia começado a gritar e suar. Uma voz, familiar e distante, soou em algum lugar ali perto. Tentou se concentrar, e apenas percebeu uma frase, que se dirigiria ao ruivo. - Ei cara, você está bem? O olhar verde de Axel se virou para cima, mas a dor cegava inclusive a sua visão.

Ele precisava dizer alguma coisa.Qualquercoisa. Mas era como se a dor o impedisse de articular as palavras. Em vez disso, ele apenas resmungava, sem conseguir palavras coerentes. Ele ouviu, como se fosse de muito longe, passos apressados se afastando. A dor ia ficando mais e mais intensa, até que ouviu mais passos, dessa vez se aproximando dele. E alguém colocando a mão em seu ombro, dizendo: - Você está bem? Venha, eu vou te levar para a enfermaria. E, então, tudo escureceu.

x-------------------------x------------------------x O primeiro sentido que percebeu foi o olfato. O cheiro de antisséptico invadiu as suas narinas em cheio. Era um cheiro enjoativo, e percebeu que um som indistinto saiu de sua boca, que estava seca. Um silêncio incomum estava presente, o que fez o rapaz ter um pouco de medo. Onde estou? Após uns segundos, ele tentou abrir os olhos vagarosamente e borrões embaçados invadiram a sua visão no primeiro momento. Sons quebraram a calmaria do local, e um borrão mais escuro apareceu em sua frente. Não conseguiu ouvir nada, mas se limitou a menear a cabeça. Quando a visão finalmente entrou em foco, e se acostumou com a luminosidade, ele percebeu que alguém o encarava. Tentou se sentar, mas duas mãos pousaram sobre os seus ombros, e o obrigou a continuar deitado.

- Mas o que... - a voz dele saiu áspera e estranha. Percebeu que quem o segurava era o mesmo garoto de cabelo castanho que havia sido responsável por ele estar daquele jeito - Quem é você? - Meu nome é Sora - ele respondeu. Por um momento, Axel agradeceu o fato de não conseguir olhar nos olhos dele. - Você surtou de uma hora para outra e eu te trouxe para cá... O que aconteceu? - Não sei - é claro que ele não ia contar o que realmente havia acontecido. - Minha pressão deve ter baixado, aqui é realmente quente demais. Desculpe pelo incômodo. - Você é o cara da biblioteca, não é? - ele perguntou. - Esse tipo de coisa acontece com frequência? - Não... - o outro respondeu. - Enfim... Meu nome é Axel. Obrigado de novo.

O moreno olhou com uma careta pensativa. Talvez estivesse processando as informações. O ruivo bufou baixinho, enquanto seu olhar corria pelo local. Odiava hospitais, mesmo que aquilo se tratasse da enfermaria do campus. Passaram-se mais alguns minutos em silêncio, antes que a enfermeira entrasse. Ela era uma senhora, no início de seus quarenta anos. Era mais baixa que o ruivo, e seus cabelos eram de um castanho escuro, preso num coque. Seu rosto sério fitava o prontuário do mais velho. Virou-se, em seguido, para encarar Axel, com seus orbes do mesmo tom que o cabelo, ofuscado por um óculos em sua cara. - Bem senhor Himura, você ficará em observação esta noite. Amanhã poderá ter alta, caso não apareça mais complicações. O ruivo gemeu. Perdeu o final do expediente de trabalho, além das aulas. Aquilo era péssimo, e odiava perder a matéria. A enfermeira deixou a dupla sozinha mais uma vez. - Odeio isso. - resmungou. - O que? Hospitais? - Sora questionou, e viu o outro assentir. - Sem falar nas aulas, que será difícil repor depois. - Você cursa o que aqui? – perguntou.

- Eu faço relações internacionais. - ele respondeu. - E, droga, acabei de me transferir... - É só um dia - disse o outro, gentil. - Você recupera depois. - E você, o que faz? - perguntou Axel. Por alguma razão, ele queria saber mais sobre aquele rapaz.

- Ah, eu faço jornalismo. - o moreno disse sem jeito. - Eu estava estudando teoria da comunicação quando eu caí num sono. - e riu tentando descontrair o ambiente. O silêncio voltou a predominar mais uma vez. E aquilo incomodava a Axel profundamente. Tentou se levantar, mas o outro o impediu de novo, obrigando-o a afundar nos lençóis brancos da enfermaria. - O que diabos pensa que está fazendo? Você pode acabar se matando! - Sora o repreendeu, e olhava seriamente nos olhos verdes do ruivo, enquanto suas mãos ainda estavam pausadas em seus ombros.

- É, masalguma coisaprovocou esse desmaio! - retrucou Sora. - Então não abuse. - Não fale como se me conhecesse! - naquele momento, Axel perdeu a paciência. - Cuide da sua vida, ok? Sora estreitou os olhos na direção dele, mas não disse nada. Em vez disso, apenas se levantou e começou a caminhar na direção da porta. Naquela hora, porém, Axel caiu em si. Ele não tinha o direito de descontar sua raiva no outro, ainda mais porque ele havia ajudando-o...

Droga, parabéns, imbecil... Você estragou tudo de novo!, ele pensou. - Ei... Sora? - ele chamou, tímido - Desculpe. Não foi minha intenção... Sora hesitou por um instante, antes de se virar na direção dele e voltar a se sentar. Antes que Axel pudesse dizer qualquer coisa, porém, ele disse: - Eu só vou ficar aqui pra me garantir que você não vai surtar outra vez, e a culpa ser minha.

O mais velho riu fracamente com o que o moreno dissera, atraindo a risada do mesmo. Levou um tempo para que Sora pudesse convencer de que só passaria uma noite em observação. Passaram horas (ou pelo menos parecera que foram) conversando animadamente sobre os estudos, o campus e o que gostavam de fazer quando não estavam quase se matando por causa das provas. - Guarde o que eu digo cara: quanto mais estuda, mais você se ferra nas provas. - Sora comentou desgostoso, ao se lembrar de alguma cadeira em que não se saiu bem, mesmo estudando muito. - Então relaxe, oras. Mas sempre achei que seu curso fosse fácil. - Tente ler quarenta livros para uma única prova em um mês. Você vai engolir essas palavras. E os dois riram novamente. Teriam continuado o papo, quando a enfermeira surgiu na porta para anunciar que já estava tarde e o mais novo precisava ir para que o outro pudesse descansar. Despediram-se rapidamente, e Sora caminhou para a passagem, pedindo perdão para a mulher por causa da hora. E, segundos depois, Axel havia ficado sozinho naquele quarto branco que tanto lhe desagradava. Só restou se acomodar na cama e tentar, ao menos, descansar.

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Aos poucos, ele ia se habituando à rotina da biblioteca e das aulas. Já conhecia vários alunos que apareciam por ali regularmente para estudar ou, o que era mais frequente, para aproveitar as cadeiras confortáveis para dormir. Ele se esforçava para ser sempre solícito e bem-humorado, e gostava do seu trabalho. Sora aparecia por lá com certa frequência, e os dois sempre conversavam amigavelmente. Mas, mesmo assim, Axel evitava cuidadosamente os olhos dele. Ele ainda não havia entendido bem o que havia acontecido, mas desviar o olhar havia se tornado automático. Ele só esperava que o outro não o considerasse uma espécie de desequilibrado mental por causa disso. Algumas das matérias dele eram bem puxadas. Uma delas incluía testes semanais, e ele passava boa parte de seu expediente tentando estudar. A professora era uma mulher desagradável e ríspida, e seu maior medo era atrair as iras dela para si.

Naquela mesma semana, ele havia decidido ficar na biblioteca depois das aulas, para terminar de revisar. O sono e o cansaço, porém, o estavam vencendo. Sem que percebesse, suas pálpebras foram pesando, e baixando, até que... Até que... x-------------------------x------------------------x Naquele momento, ele encarava aqueles olhos azuis outra vez.

- Simplesmente incrível, Roxas! - Axel falou sem fazer caso. Andava olhando o outro de soslaio. - Axel. - o rapaz loiro, com aqueles malditos olhos azuis, o encarava. O ruivo teve que segurar um riso de deboche com Roxas pronunciando o seu nomedaquelamaneira. Ele já ouvira antes. Antes daquela maldita amnésia que abatera sobre o outro de repente. Descruzou os braços, e se virou para encará-lo. - Você se lembra de mim agora? - e seu tom de voz mudou para irritação. - Eu estou tão lisonjeado! Mesmo que se sentisse vazio, uma raiva incontrolável começou dominá-lo. Parecia que aquela sensação era respondida pelo fogo que surgira ao redor, cercando os dois ali dentro. - Pena que foi tarde demais! Continuou encarando aquele maldito azul que tanto se assemelhava a um céu limpo e puro, digno de admiração, ao contrário dele, que possuía orbes verdes esmeraldinas, com chamas incendiando-o naquele momento. Não daria trégua. Não depois de tudo o que aquelegarotoimbecil havia feito. Roxas, o outro, pareceu invocar algo que se assemelhava a duas espadas. Uma negra e uma branca. Uma para cada mão. O ruivo não deixou de ficar surpreso, mas não abalaria. A raiva parecia lhe subir a cabeça mais ainda, e como uma invocação, chamas circulavam as suas mãos, de onde surgiram duas chakrams. Não deixaria tudo o que o loiro o fez assim tão barato, sem mais nem menos.

Ele começou a atacá-lo, sem piedade, mas o garoto era forte e ágil o bastante para bloqueá-lo. A frustração e a raiva guiavam os movimentos de Axel. Depois de tudo – de tudo- ele não tinha o direito de agir assim, de nem se lembrar. O fato de ele simplesmente ignorar tudo o que havia acontecido era o que alimentava seu ódio. Mas - e essa era a pior parte - algo em si não achava que aquilo estava certo. Havia... Havia algo que não se encaixava. Ele deveriamesmoatacá-lo? Roxasestavamesmo errado, em querer deixar tudo aquilo para trás? Será que parte do ódio de Axel era justamente pelo fato de que ele mesmo jamais teria a coragem ou a capacidade de fazer o mesmo?

Quanto mais pensava nisso, mais ferozes eram seus ataques. Era como se ele quisesse abafar aquilo em sua mente, como vozes irritantes que alguém tenta sobrepor com música alta. Roxas, porém, não facilitava também. Ele também lutava, cada vez mais ferozmente. Então, foi como se tudo virasse do avesso. Contra quem ele estava lutando? Por que, de repente, aqueles olhos azuis passaram a tomar outra forma, em outro rosto...? Outra forma... Outro rosto... Outro mundo... Outra vida.

E foi atirando uma de suas armas contra ele em que Axel percebera que aquela batalha estava perdida. Ele havia perdido. Ofegava com frequência, tentando repor o ar que lhe faltava. Seu olhar caiu sobre os orbes azuis do outro. Sentiu-se perder naquele mar tão pequeno e profundo ao mesmo tempo. Aquela realidade se distorceu, e tudo parecia cair em uma negritude densa. Tentou gritar, tentou se mexer. Fazer algo que chamasse a atenção do loiro. Mas continuou a cair. Caiu... Até tudo escurecer de repente...

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Naquele momento, Axel acordou como se seu coração fosse sair pela boca. Levou certo tempo até ele perceber que estava de volta em sua cama, suado, trêmulo e com a sensação pavorosa de ter estado à beira da morte segundos atrás. Aquele sonho havia sido muito mais real que o anterior... Muito mais vívido... Agora ele pôde ver claramente as feições do rapaz louro. Traços delicados, pele ligeiramente pálida, uma expressão que misturava um pouco de tristeza e confusão... Mas, ainda assim, era expressivo demais. E o olhar era penetrante como uma flecha azul extremamente afiada. Sora não se parecia em nada com o rapaz do seu sonho. Roxas... Esse era o nome dele...Roxas... Mas, mesmo assim, a semelhança nos olhos deles era inconfundível. Não era como se fossem apenas parecidos - era como se pertencessemà mesma pessoa. Axel se forçou a levantar e a caminhar até a janela, para tentar espairecer um pouco, e tentar afastar aquele sonho da sua mente. Era difícil, porém. Era tão... Real... Tão vívido e assustador... Seria aquilo apenas fruto da sua mente? Apenas... Loucura?

- Axel, você está delirando! - falou consigo, enquanto ria sarcasticamente. Queria se convencer disso o tempo todo. Mas sempre um vazio o assolava. Não sabia explicar, porém, o ruivo sentia falta de algo. Caminhou até a cozinha de seu apartamento, onde tomou um copo de água e tentou colocar sua cabeça em ordem. Inesperadamente, ele sentiu lágrimas brotarem de seus orbes esmeraldinos, o que fez ele estranhar completamente aquela situação. O que estava acontecendo, de fato? Porque ele sentia que aquilo só acontecia justamente com ele? Apostava que Sora estava bem, dormindo despreocupadamente em algum lugar do campus. - Já chega! - precisou repreender a si mesmo pelo rumo em que aquilo o estava levando. Deixou o copo sobre a pia e caminhou até o seu quarto, onde tentaria descansar para enfrentar a sua rotineira jornada de trabalho mais estudos.

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O dia seguinte foi longo e cansativo. E a falta de sono só tornou tudo pior. Ele não conseguia se concentrar direito nas suas tarefas, e de tempos em tempos começava a cochilar sobre os livros que supostamente deveria catalogar. Isso o irritava profundamente. Mas que droga, é só um pesadelo!, ele pensava, sentindo-se estúpido por estar daquela forma. Mas, mesmo assim... ele não conseguia parar de pensar no sonho da noite anterior. Para tornar tudo pior, Sora apareceu também. Ele não se preocupou em esconder a sua irritação, mas ao mesmo tempo pensava que aquilo era, no mínimo, irracional e injusto. - Erm, pode me dizer onde fica esse livro, por favor? - disse Sora, tímido, estendendo um papel com um código anotado. Axel olhou para ele de relance: estava pálido, e com olheiras. Semana de provas, possivelmente. Sem encará-lo diretamente, pegou o papel, digitou o código no seu computador e disse secamente: - Quarta prateleira, corredor perto da parede dos fundos. - Está tudo bem? - o outro perguntou, numa voz baixa e tímida. Axel apenas estreitou os olhos na direção dele.

- É claro que está tudo bem, oras! Porque diabos não estaria? - Axel perguntou rispidamente, espantando o outro. Sora engoliu em seco e pegou o papel que havia dado ao ruivo para consulta. O moreno deu as costas e seguiu andando apressadamente. Quando se deu conta do que fizera, Axel queria simplesmente bater a sua cabeça na estante de livros mais próxima. O mais novo não tinha culpa, e mesmo assim sofrera a irritação do outro. Deixou o balcão da biblioteca, e andou apressadamente por entre as estantes até os fundos, para onde havia despachado Sora. Finalmente o encontrou, e ele parecia fitar uma estante mais alta na prateleira que o mais velho havia indicado minutos atrás. O outro não a alcançava, mas não parecia disposto a pedir ajuda. Aproximou-se cautelosamente e pegou o livro indicado, entregando para o moreno. Confuso, ele olhou para Axel, enquanto pegava, receoso, o exemplar que queria. Acenou com a cabeça e se virou para deixar o corredor. - Sora... - o mais alto falou, enquanto segurava o menor pelo braço, impedindo-o de sair dali.

- Eu pisei na bola. Me desculpe. Tive uma noite difícil e acabei descontando em você - ele não sabia onde colocar a cara - Não me leve a mal.. - Está tudo bem... - Sora ainda o encarava, preocupado, como se esperasse por um segundo surto - Sua cara está horrível, tente descansar um pouco. Axel apenas acenou com a cabeça. Droga, elesabiadisso! Sora, então, se despediu, e deixou-o sozinho. Ao longo daquele dia, Axel continuou pensando naquele sonho. Nas sensações que teve. No sonho, ele parecia ser amigo de Roxas, mas ter tido o coração partido pelo outro. Uma traição, talvez? Quem podia dizer? E por que ele não se lembraria, também? Aliás, a sensação naquele sonho era estranha. Sentir e, ao mesmo tempo,não sentir. Era algo que era difícil de entender, e mais difícil ainda de explicar. E a parte de si que sentia parecia ter um elo tão forte com o outro que chegava a ser destrutivo. Era como se aquele sentimento estivesse fora da programação dele. Uma falha. E que deveria ser punida. Mas... Qual era o sentido daquilo?

Será que aquilo, talvez, pudesse fazer parte de uma vida passada? Não sabia responder. Aquilo o martirizava. Precisava tirar aquilo a limpo. Mas comquem? Ninguém tinha nada a ver com toda a paranoia que parecia cercá-lo. Ninguém mesmo? Sentia que Sora, por mais que não houvesse muita semelhança com Roxas (além daqueles olhos azuis tão intensos), parecia ter alguma ligação. Será que ele poderia ajudar? Só havia um único jeito de saber. Esperou o final de seu expediente, até que outro aluno tomasse o seu lugar para o turno da noite. Axel se despediu e saiu correndo em disparada pelo corredor, à procura de algo, mesmo sem ter muitas informações sobre aquele garoto. Apenas sabia que precisava achá-lo, que ele obtinha todas as respostas para as perguntas que assolavam a sua mente.

Então, ele o encontrou. Naquela hora, Sora estava trancando seus livros no armário. - Axel...? - assim que ele viu o outro daquele jeito, ficou assustado. Axel sabia que estava soando levemente maníaco, mas precisava falar com ele. - Você pode vir comigo a um lugar, para conversarmos em particular? - Erm... Posso, mas... O que houve? - Não dá pra explicar agora. Apenas... Venha. Axel praticamente o arrastou até uma cantina que ficava em frente à faculdade. Por um tempo, os dois ficaram se encarando, num clima estranho e constrangedor. O sol se punha naquela hora. E, por alguma razão, aquele momento parecia ainda mais propício para aquela conversa. Por fim, Sora perdeu a paciência e perguntou: - Quer me explicar o que diabos está havendo?

- Quem é você? - perguntou o ruivo, tentando manter a calma, mas estava difícil. O moreno estava confuso. Pensou que o outro possivelmente enlouquecera. - Cara, você está bem mesmo? - perguntou preocupado, mesmo que Axel estivesse o assustando. - Não quer ir à enfermaria? - Quer calar essa boca? - o mais velho se exaltou, enquanto chacoalhava o menor pelos ombros. - Porque me persegue? Porque você tem esse maldito olhar? Não vê o que está fazendo? - Axel... O ruivo o cortara daquela vez. Não ligava se alguém ouviria, ou se pensaria que ele enlouquecera de vez. - Tão ingrato... É isso o que você é! Sora ficava nitidamente assustado com as palavras do outro, sem entender o que se passava na cabeça dele. Axel ficou em silêncio, encarando-o furiosamente. Não sabia o motivo, mas aquilo parecia simplesmente consumi-lo de maneira irracional. Balançou o outro com força mais uma vez, esperando a resposta dele. - Tão ingrato Roxas, tão ingrato! - ele disse incrédulo. - Acha que pode me deixar assim e que tudo ficará bem? Seu egoísta, que me faz ir atrás de você o tempo todo para ajudá-lo. Mas para quê? Vamos! Me responda, seu egoísta mal agradecido!

- Você me chamoudo quê?- então, Sora reagiu, entre o choque e a irritação - Que parte do "meu nome é Sora" você não entendeu, hein? E, afinal de contas, o que é isso tudo? Se você está surtando, problema seu, a culpa não é minha! - Não é sua culpa?Não é sua culpa?- ele começou a gritar outra vez, quando... O que diabos eu estou fazendo? - Eu... Eu... - de repente, ele começou a gaguejar, sentindo toda a sua ira se desvanecer - Eu... Me desculpe... Sora não disse nada, apenas o encarou. Axel sabia que estava parecendo um louco completo, agora. Mas não podia deixar de perceber. Os olhos... Eleseramiguais. Aquilo não era ilusão. Mas, se aquilo não era ilusão... o que era todo o resto? - Eu não vou mais te incomodar - ele murmurou, e se levantou, saindo e deixando Sora para trás, pasmo. E saiu, andando pela rua, sem saber ao certo o que procurar. Havia algo real ali. Ele sabia disso. Ele sentia isso. Mas o que era real? E - esse pensamento era estranho - e se seus sonhos e a realidade estivessem se fundindo, de uma forma inexplicável? Talvez fosse isso. Talvez aquela vida não fosse real. Talvez... Fosse apenas uma imitação.


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