Meet Me On The Equinox escrita por Tay_DS, Kyra_Spring


Capítulo 3
ATO III – Setsugetsuka




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ATO III – Setsugetsuka

Omoitsutsu nureba ya hito no mie tsuran (Se eu cair no sono enquanto penso em você, serei capaz de te encontrar?)

(If I did not exist that fight had not happened.) (Se eu não existisse, aquela luta não teria acontecido)

yume to shiri seba samezaramashi o (Eu sei claramente que, se isso é um sonho, então eu nunca mais irei acordar)

(I should not have met you that night.) (Eu não devia ter te encontrado naquela noite)

Dias depois, eles resolveram colocar em prática aquele último plano.
O consultório do psicanalista era um lugar tranquilo e agradável, claro e bem-iluminado. Ainda assim, havia algo opressivo no ambiente. Axel e Sora estavam sentados próximos, mas evitavam se encarar. Ainda era uma situação muito estranha.
- É a vez de vocês, senhor Himura e senhor Hikari. - a secretária os chamou à sala.

Era um ambiente todo forrado por madeira escura, com divãs e móveis sóbrios. O psicanalista, porém, parecia contrastar com o ambiente: alto, forte e jovial, os cumprimentou com um sorriso e um aperto forte de mão.
- Bem, rapazes, deitem-se ali. Relaxem, não é um procedimento complicado, e pode ser muito proveitoso. O procedimento é bem simples - foi dizendo o psicanalista, enquanto eles reclinavam nos divãs - Fechem os olhos, e relaxem. Eu vou contar de dez até um. Concentrem-se apenas no som da minha voz, e sintam todos os seus músculos relaxando. Dez... Nove... Oito...

Isso parece estupidez, pensava Axel.
“Sete... Seis...”, a voz do doutor foi parecendo mais e mais distante.
Acho que isso não vai dar... Certo..., Sora sentia as pálpebras pesarem.
“Cinco... quatro... três...”
Parece... parece que... que eu..., Axel não concluiu aquele pensamento.
“Dois... um.”
Nessa hora, os dois já estavam profundamente adormecidos.

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Axel sentiu que adormecera. Quando abriu os olhos, ele não estava mais na sala. Era um local diferente de todos que já estivera, mas mesmo assim era estranhamente familiar.
E lá estava ele. Sora. Junto com seus amigos: um pato e um cachorro que conseguia andar sobre as patas traseiras, como um ser humano. Eles estavam cercados por várias daquelas criaturas brancas. Não havia saída.
E ele sabia que não podia deixá-lo assim.
- Não pare de lutar, ou a escuridão vai te consumir! - exclamou.
Com seus chakrams, Axel tentava limpar a área, e possivelmente salvar aquele garoto.
- Cai fora! - gritou mais uma vez.
- Por quê?
Que tipo de cara era aquele? O ruivo queria batê-lo só para que parasse de perguntar besteiras. Mas não tinha tempo para aquilo.
- Não pergunta. Agora cai fora! - e poderia até ter dito mais alguma coisa, mas uma daquelas coisas brancas saltara sobre ele.
A única coisa que queria era ganhar alguns segundos para que os outros fugissem. Mas Sora não o fez. Correu para ajudá-lo.Que cara burro!, foi o que Axel pensou naquele momento. Dissera algumas coisas sobre uma garota chamada Kairi e que estava com um cara chamado Saïx, mas isso não era de extrema importância para ele agora.
Queria ver o garoto fugir e bem.
As criaturas se aproximavam mais ainda, cercando-os.
Não haveria jeito. Elesprecisavamlutar se quisessem ter uma chance de sair vivos dali.

- Eu acho que eu gostava mais deles quando eles estavam domeulado - disse Axel, sarcástico, girando as armas dele.
- Sentindo-se meio...arrependido? - perguntou Sora, no mesmo tom.
Axel deu uma risadinha. Ele sabia o que tinha que fazer.
- Nah. - ele respondeu, por fim - Eu posso cuidar desses caras. Fique olhando!
Aquela sensação... Sentia algo dentro de si disparando, como o coração que jamais tivera... Era tão intensa e ao mesmo tempo tão falsa que Axel simplesmente não conseguia compreender.
Mas ele sentia. Era real.
A adrenalina. A excitação. A sensação de perigo iminente.
E a lembrança... Sora... Roxas...
Tudo aquilo não podia ser falso... podia?
Era por isso que ele estava correndo na direção dos monstros brancos. E era por isso que, naquele momento, ele não hesitava em liberar todo o poder que tinha numa carga que certamente o destruiria.
Ele não hesitava em liberar aquelas chamas. As mesmas que rasgariam seu corpo em pedaços.
Mas elas o tornariam real.
Aliás... elas não o tornariam real. Elejá erareal.
Alguém já o havia feito assim.

Estava sozinho agora, e achou que seria perfeito assim.
Teria se entregado ao momento, se não fossem por aqueles passos apressados vindo em sua direção.
Eraele. Estúpido. Imbecil. Idiota. Queria dizer tudo isso a ele, mas não poderia, pois também se sentia agradecido por ele estar ali.
- Você... Está desaparecendo. - ele disse preocupado.
- Bem, isso é o que dá quando você coloca toda a sua essência num único ataque. Você sabe o que isso significa? - e Axel se permitiu soltar um sorriso debochado num momento tão crítico. - Não que nobodies realmente tenham essência, certo?
Deixou sua cabeça cair para o lado e encarou Sora. Falou mais algumas coisas sobre a garota Kairi, e ainda pediu para que ele dissesse que o ruivo sentia muito pelo que fez com ela.
- Quando a encontrarmos, você mesmo dirá para ela. - o moreno disse.
Não queria acreditar que o nobody estava sumindo, bem na sua frente. Não poderia perdê-lo. Alguém dentro de si parecia gritar para que o salvasse.
- Acho que eu passo. - e o mais velho desviou o olhar. - Meu coração não estaria aqui, entende? Nem tenho um. – e se permitiu rir fracamente. Até mesmo naquela hora, ele poderia ter um senso de humor inexplicável.
- Axel, o que você está tentando fazer? - o garoto se atreveu a perguntar.
- Eu queria ver o Roxas. - ele disse, ignorando o que o outro havia perguntado. - Ele... Foi o único de quem eu gostei... Ele me fez sentir... Como se eu tivesse um coração. É até engraçado. - e voltou a olhar os orbes azuis de Sora, tão iguais aosdele. - Você me faz sentir o mesmo.
Teria continuado a encarar aquela cor por mais tempo, mas não havia tempo. Não mais, por mais que clamasse por alguns segundos.
Levantou o seu braço, abrindo um portal. Deu mais informações sobre o paradeiro da garota Kairi. Era a última coisa que faria com o que suas forças ainda permitiam.
- Axel...
Por um breve momento, o ruivo pareceu sorrir, e virou-se para encarar aquele azul. Aquela cor que tanto aprendera a amar.
Foi a última coisa que viu.

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Então, Axel despertou do transe com um solavanco. Levou algum tempo até que ele percebesse que estava de volta ao consultório. Sora ainda dormia. Ele olhava em volta, à beira do pânico, sentindo o coração mais disparado do que nunca.
- Calma, calma. - o doutor falava. - Está tudo bem. Você está seguro, agora.
- E... E ele? - Axel estava ofegante demais. - O que... Aconteceu?
- Você revisitou parte do seu passado - ele respondeu. - Não posso prometer que foi a mesma parte que o seu amigo visitou, se vocês têm um “passado” em comum. Quer que eu o desperte?
- Por favor, acorde-o - ele pediu. O doutor, então, começou a seguir o procedimento, e lentamente Sora foi voltando à realidade. Ele não parecia tão chocado quanto Axel, apenas imensamente triste.
Os dois foram embora sem trocar uma única palavra. Axel ainda sentia a mesma sensação de morte iminente do seu sonho. A diferença é que,no sonho, ele aceitava aquilo com resignação. E agora, aquilo simplesmente o apavorava. Não havia meios de eles serem a mesma pessoa. Ele era covarde demais para ir àquele extremo.
Sora, por sua vez, mantinha-se olhando para o chão. Quais seriam as lembranças dele?
Eles continuaram caminhando até uma ponte. E, então, pararam. O rio sob a ponte brilhava com o sol intermitentemente coberto por nuvens.
Ainda sem se encarar, Sora foi o primeiro a dizer:
- O que eu devo pensar que foi isso?
- Honestamente? Não faço ideia - respondeu Axel, os olhos fixos no rio.

E nada falaram depois disso. Tudo parecia tão estranho e confuso. Não só para Axel, mas para Sora também.
O que o moreno vira parecia tão real... Tão vivo. Sentia que realmente havia presenciado aquilo.
A pior parte foi a morte dele. Porque teria feito tal coisa? Por causa do Roxas? Mesmo que ele demonstrasse algo por aquele estranho que jamais conhecera, o moreno sentia que tudo aquilo foi por causadele. Queria proteger, mesmo tendo feito da maneira errada.
Podia ter perdido Axel da primeira vez, mas não deixaria que ele escapasse. Não dessa vez. Tentaria fazer tudo valer a pena. Pelo menos naquela vida.
E foi com esse pensamento que o moreno olhou para o mais velho. Puxou o queixo dele, para que este também o encarasse confuso.
Aproximou-se e pressionou seus lábios contra os dele. Mesmo surpreso, o ruivo retribuiu com fervor. Quando o fôlego lhes faltava, eles se afastaram.
- O que exatamente foi isso? - Axel perguntou com uma risada, enquanto encarava o outro.

- Eu não sei. - e Sora riu também, um riso aliviado e livre. - Só achei que era o que você precisava agora para voltar para a realidade!
Os dois continuaram caminhando pela ponte, bem mais despreocupados. E foram até o dormitório de Sora. Axel ficou surpreso ao notar que era bem mais organizado que o seu.
- Da última vez você ofereceu o chá, agora é minha vez. - ele disse, sumindo em direção à minúscula cozinha. - Pena que eu acho que só tenho água, um refrigerante meio sem gás e suco de pacote pra te servir... Quer alguma coisa?
- Água já está bom, obrigada - Axel riu outra vez.
Ele deu uma olhada no dormitório do outro. Era organizado e acolhedor. E havia muitas fotos de família e amigos espalhadas por lá.

O ruivo se pegou sorrindo ao ver as fotografias do moreno quando era mais novo. Ele e seus pais na praia, os amigos na escola. Depois encontrou algumas fotos mais recentes, e entre elas, o mais novo usava uma beca. Provavelmente no dia de sua formatura do colegial. Estava com outro amigo, mais alto, com olhos esverdeados e cabelos prateados. Ambos sorriam felizes para a câmera.
- Aqui está o seu copo d'água. - Sora avisou, chamando a atenção do outro. - Esse é Riku. Meu melhor amigo desde criança. Ele foi fazer engenharia em outra universidade, enquanto eu vim para cá fazer jornalismo.
- Seu amigo?
- Ah, qual é? Vai ter crise de ciúmes agora Axel? - ele riu debochado para o ruivo, que bufou. - Não o vejo há meses. Nem tenho notícias dele.
Axel não respondeu. Pegou o seu copo e bebericou a água, enquanto analisava uma pilha organizada de papéis, com certeza artigos e alguns relatórios.
O silêncio predominou em seguida. Não sabia o que dizer ou fazer. Sentou-se na beirada da cama, enquanto encarava tudo ao redor. Parecia procurar algo, mesmo sem saber o que era. Talvez fosse apenas distração. Aliviar o momento de tensão naquele dia mais cedo.

E eles começaram a conversar. Histórias de infância. Sonhos para o futuro. Planos. Erros. Como se quisessem compartilhar cada detalhe da nova vida que tinham. Afinal de contas, tinham uma vida passada toda juntos.

E agora... Era difícil ver um futuro em que eles não estivessem lado a lado.

Sem que percebessem, o tempo passou. E foi passando, até que anoiteceu. Era uma bela noite, uma noite de lua cheia, sem nuvens. Axel se aproximou da janela. A luz da lua sobre as flores das árvores do pátio era belíssima.
- Eu fico muito tempo olhando por aqui, sabe? - Sora se aproximou - Isso me dá paz...

- À noite eu estou em aula, então nem tenho tempo para isso. - o ruivo comentou pensativo, mas deu de ombros em seguida.
- É verdade... Mas essa de estudar de noite e trabalhar de manhã não cansa?
- Não muito. Eu já até me acostumei com a coisa toda.
Silêncio mais uma vez. O clima parecia tão leve naquela noite estrelada. Axel sentiu certa nostalgia lhe abater. Não sabia um motivo ao certo, mas nem ligou para aquilo.
- Sora?! - e o outro respondeu com um “hum”. - Você se considera feliz?
O mais novo o olhou com a sobrancelha arqueada. Não havia motivos para aquela pergunta, havia? Porém, nunca o fizera pensar naquilo.
Nunca foi de ter muito luxo, mas se sentia satisfeito com a vida que seus pais haviam lhe proporcionado. Mas pensar naquilo lhe trouxe certovazio. Era feliz sim, e isso não podia negar, mas não era completo. Algo parecia lhe fazer falta. Se perguntasse aquilo no mês passado, ele diria “sim” com toda a convicção. Mas agora, depois de Axel, tudo parecia tão incerto.

Virou-se para encarar o ruivo, que parecia esperar uma resposta, mesmo sem pressioná-lo. Axel sorriu para ele sem graça, e balançou a cabeça negativamente, sinalizando que não precisaria responder aquilo se não quisesse.
E num impulso rápido, Sora avançou sobre o mais velho e o beijou carinhosamente, derrubando-o em sua cama um pouco desarrumada. O ruivo levara uma de suas mãos para a cintura dele, enquanto a outra ia para os seus cabelos rebeldes.
- Eu não me considero, eu sou feliz! - o moreno disse sorrindo alegremente para ele quando se afastou para encarar os orbes esmeraldinos.
O que tivesse para dizer depois não foi mais colocado em palavras, pois Axel o puxara para junto de si. Aquele momento era tão estranho e diferente para ambos. Mas não importava. Queria gravá-lo para a eternidade. Queria que fosse único.
E naquela noite, apenas uma certeza eles tinham em mente: um pertencia ao outro.

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E, sem que vissem, três meses haviam se passado.
O tempo parecia fluir como um riacho tranquilo. Eles estavam juntos, e ninguém parecia censurá-los tanto quanto pensavam que iria acontecer. E tudo corria tão bem que parecia até um sonho. Os sonhos de verdade, aqueles do seu passado, voltavam de vez em quando, pequenos traços de histórias há muito perdidas.
Tão perfeito... Tão perfeito que eles tinham até medo que tudo se quebrasse como vidro.
Às vezes, Axel compartilhava suas preocupações com Sora. Algo acontecera a eles no passado, e ele tinha medo que isso se repetisse. Mas Sora apenas ria e dizia que estava tudo bem. Apesar de tudo, ele e Roxasaindaeram pessoas diferentes.
Mas... Tanto assim?
Chovia naquela noite, chovia muito. E os dois voltavam juntos para os dormitórios. Naquela noite, Sora havia ficado até mais tarde na faculdade para estudar, e Axel resolveu escoltá-lo até o seu dormitório, quando sua aula terminou.
Nenhum dos dois viu o carro. Estava escuro demais, a chuva tornava as luzes difusas.
E o motorista do carro também não os viu. Ele apenas... Acelerou.

Quando Axel se deu conta, já era tarde demais. E Sora nem sequer percebeu quando aquele carro em alta velocidade os atingiu. O ruivo foi jogado longe, batendo na lateral do carro, mas Sora foi atingido em cheio. O primeiro bateu a cabeça no meio-fio e desmaiou com o impacto.
Só acordou depois, com a cabeça rodando, uma dor lancinante no braço, e uma movimentação estranha ao seu redor. Havia uma ambulância, e paramédicos e policiais por todos os lados. Ele tentou se levantar, mas a enfermeira o segurou.
Aquele pressentimento... ele não sabia explicar. Mas era forte. E doloroso.
E ele o colocou em palavras.
- O que aconteceu com Sora?

A enfermeira não respondeu. Olhou para os lados, apreensiva.
A cabeça do ruivo pendeu para um dos lados, e entre as pernas de paramédicos, ele pôde ver a silhueta de alguém, com o corpo coberto até o tronco. Cabelos espetados. Castanhos.
Sora.
Não podia acreditar no que estava vendo. Talvez fosse efeito da batida. Talvez fosse um sonho. Uma ilusão.
- Senhor, por favor, poderia me dizer quantos dedos você vê aqui? - e a mulher perguntou.
Mas Axel parecia não ouvir.
Empurrou as mãos da enfermeira e se levantou. Os protestos dela não chegavam a ele. Sua cabeça estava apenas em um lugar. Em uma pessoa.
Mesmo cambaleante, ele andou e abriu caminho por entre as pessoas aglomeradas. Aproximou-se da faixa de isolamento da polícia. Não importava se queria que ele se afastasse, ou as pessoas empurrando para tentarem ver melhor.
- Não... - foi o único som que saiu de sua boca ao ver melhor a cena.
Os olhos azuis abertos e opacos, inexpressivos, fitando o céu. O filete de sangue saindo de sua boca, e outro deixando algum lugar de seus cabelos. A poça de sangue ao redor.

Sem pensar, ele ultrapassou a faixa, e se ajoelhou ao lado do corpo de Sora.
- Senhor, por favor, se afaste... - um policial tentou intervir, mas o outro o empurrara.
- Não! Não, isso não pode ter acontecido... Não agora... Não com você. - Axel dizia entre as lágrimas que começavam a brotar. Virou-se para um paramédico, que havia se ajoelhado ao lado dele. - Por favor, me diz que ele vai ficar bem...
- Mantenha a calma, senhor. Eu sinto muito, mas não há nada que possamos fazer pelo seu amigo.
Não. Aquilo não podia estar acontecendo. Não depois de tudo o que os dois haviam passado.
Levantou-se para encarar as pessoas. Em sua face, ele clamava por ajuda, por qualquer coisa que pudesse mudar aquilo.
E foi quando ele viu próximo a uma viatura, um homem, com seus quarentas anos em média, chorando e espantado. O ruivo se aproximou, e percebeu que aquele era o motorista do carro. O carro que havia tirado o Sora dele.
- Você... - Axel conseguiu dizer, chamando a atenção do outro, que o olhara espantado. - Você o matou! Você o tirou de mim...

Teria avançado contra ele, mas dois policiais o seguraram, para que este não cometesse alguma loucura.
Um paramédico veio a socorro e tentou levar o ruivo para a ambulância, para que recebesse atendimento médico, e posteriormente prestasse depoimento sobre o ocorrido.
Enquanto o afastavam dali, Axel pareceu entrar em pane, alheio a tudo e todos ao seu redor. Não sabia o que fazer, ou o que pensar. Fechou os olhos com força, e rezava para que acordasse a qualquer momento no apartamento do moreno ou no dele próprio e verificasse que tudo não passava de um enorme pesadelo.
Sentiu que foi sentado na ambulância, enquanto a enfermeira fora analisá-lo, mas ele nem parecia dar atenção.
- Seu nome, senhor? - ela perguntou, enquanto preenchia uma ficha.
- Axel... Axel Himura...
- Sabe me informar o nome do seu amigo?
Amigo. Ele e Sora eram mais que amigos. Pensou em todos os momentos juntos. Já até chegou a cogitar em casamento quando terminassem a faculdade. Viveriam felizes. Teriam o tão sonhado descanso após as turbulências de suas vidas passadas.
Mas nada daquilo era possível. Não mais.

- Sora... Hikari... - foi o que respondeu depois de um tempo, com o seu olhar ainda no garoto morto.

Depois daquilo, as horas e os dias passaram vazias por ele.
Ele passou alguns dias no hospital. Sua família chegou a ir visitá-lo, mas só encontraram um rapaz apático e silencioso, que mantinha o tempo todo os olhos fixos no teto do quarto branco da enfermaria, sem realmente enxergá-lo.
Ninguém entenderia, não é? Ninguém entenderia.

Ele percebeu vagamente alguém dizendo que o enterro do outro seria no dia seguinte à sua alta. Que se danasse. Ele não iria. Não poderia ir. A simples ideia de ver aquele que amava - aquele a quem amavaduplamente - sumindo na terra era algo que não podia suportar. Sentia-se vazio e despedaçado por dentro. Era como se seus pedaços só esperassem por um sopro para desmoronarem por completo.
E nem sequer conseguia chorar. Na verdade, mal conseguia pensar claramente.
Mas, mesmo contra a sua vontade, algo o empurrou na direção do cemitério, naquela manhã fria e enevoada. Não chovia, como costumava ser o clichê, mas a névoa já era melancólica o bastante por si só.
A família de Sora estava lá. A mãe, o pai... Amigos de infância... Os mesmos rostos que vira nas fotos da escrivaninha dele.
Ele tinha que dizer algo, não tinha? Era obrigação dele. Afinal de contas... Afinal de contas...
Ele se aproximou, os pés se arrastando. A mãe dele era bonita, apesar da dor estampada em cada traço no rosto. Ele abriu a boca para dizer algo. Não conseguiu. Era como se o próprio ar lhe faltasse. Tentou de novo. Não conseguiu outra vez. E, por fim, a única coisa que conseguiu dizer, antes de sair correndo pelos túmulos, foi numa voz rascante e baixa:
- Sinto... Sinto muito...

Não conseguiu se mover quando viu Sora partir para o sepultamento. Tudo parecia tão difícil naquele momento. Não tinha coragem de seguir adiante.
Mesmo assim, ele continuou. Porele.
No túmulo destinado ao moreno havia uma lápide de mármore simples, com alguns dizeres de familiares e amigos.
Antes que ele pudesse sumir sob a terra, Axel jogou uma flor. Uma rosa vermelha, como o mais velho dizia que combinava com ele.
Em seguida, manteve-se afastado enquanto olhava o ocorrido. Não conseguia encarar ninguém ali... Não sem buscar traços de Sora nos rostos de cada um.
Quando os amigos e parentes de dispersaram, o ruivo se atreveu a aproximar do túmulo. Deixou-se desabar sobre os joelhos, enquanto as lágrimas voltavam aos olhos.
Sentia que deveria falar algo, mas o que? Nada vinha a sua mente. As palavras fugiam de sua boca.
- Mesmo que você não fosseele, eu sempre o amei... Sora. - foram as palavras que conseguiu reunir para dizer.

Ele não soube ao certo quanto tempo ficou ali. E nem soube ao certo como voltou para casa.
Naquela noite, ele não foi trabalhar. Em vez disso, pela primeira vez em muito tempo, voltou o seu olhar para a janela. A névoa permanecia, mas era possível ver a lua através dela. Não havia flores naquela época do ano.
Haveria flores, ainda?
Sentiu os olhos ficarem úmidos, e não tentou conter as lágrimas. E elas começaram a correr, livres e silenciosas pelo seu rosto. Era como se mil ganchos estivessem repuxando seu coração para todos os lados, tentando rasgá-lo em pedaços. E ele queria que eles conseguissem. Queria que aquela dor parasse de uma vez.
Mas elanuncapararia.

Ele se lembrou das conversas com Sora. De quando contava dos seus temores, e o outro apenas ria e dizia que estava tudo bem. Mas, no fim, tudo terminou da mesma forma. Ele o perdeu de novo. DE NOVO! Como ele pôde permitir que aquilo acontecesse? Como?Como?
E foi entre lágrimas e pensamentos desesperados e lembranças que ele caiu no sono, sobre o tapete sob a janela.

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Era tarde. Banhado por crepúsculo eterno.

A mesma coisa desde que Axel o trouxera pela primeira vez ali. E lá estava ele, no mesmo lugar de sempre, apenas vislumbrando o crepúsculo, e o esperando.

O ruivo não pôde deixar de sorrir com aquela cena. Após contemplá-la mais um pouco, ele respirou fundo.

- Você chegou cedo. - disse, enquanto chamava a atenção do mais novo.

- Não, você está atrasado.

Não rebateu. Apenas caminhou até a beirada, para se sentar ao lado do outro. Entregou o Sea Salt Ice Cream dele e começou a saborear o seu.

Aquele momento parecia sagrado. Imaculado. Silencioso. Nada para atrapalhá-los dali. Ali em cima, não havia Organization XIII, não havia Xemnas, não havia missões, não havia simplesmente nada.

Apenas Axel e Roxas.

- Hoje faz 255 dias... – o loiro comentou pensativo, olhando para o pôr do sol.

- E o que tem?

- Faz tanto tempo desde que eu me juntei a Organization... – ele disse com uma certa nostalgia. – Cara, o tempo voa.

- Então você se lembra dos dias?

- É. Tenho que me agarrar a algo, certo? Não é como se eu tivesse memórias de antes. Não se lembra? Eu parecia um zumbi.

E sentiu a mão do maior em seu ombro. Roxas apenas se virou para fita-lo, enquanto o outro ainda olhava para baixo.

- Correto. Naquela primeira semana, você mal podia formar uma frase. – e parecendo quebrar aquele clima monótono, o ruivo deu umas palmadas amigáveis, meio que entre uma risada. - Mas qual é?! Você ainda parece um zumbi.

- Ah, valeu. – o mais novo disse irônico.

E caíam na risada, que não durou muito.

Axel olhou para a paisagem, que parecia uma pintura. E veio-lhe a cabeça algo que uma vez foi perguntado pelo mais novo, mas não respondera na época. Não lembrava ao certo o motivo, mas porque omitir naquele momento?

- Ei Roxas. Você ainda não sabe por que o sol se põe vermelho... – ele começou, enquanto fitava o cenário, e sentiu que o outro fez o mesmo. – A luz é feita de várias cores. E de todas elas, o vermelho é quem viaja mais rápido.

- Como eu tinha dito, sabe-tudo! – o jovem loiro o acotovelou em seguida.

E as palavras deram lugar a risadas em meio ao crepúsculo.

Mesmo que fosse pedir demais, Axel queria que o tempo parasse. Tudo fosse imutável. Ficar ali com Roxas, sem pensar em Kingdom Hearts ou os corações que eles nunca tiveram. Ou, até mesmo, na vida que eles levavam antes de tudo aquilo.

Mas sabia, lá no fundo, que era impossível. Nada dura para sempre.

Porém, ele não estragaria aquele momento de paz. Um dos poucos que tivera desde o primeiro dia o ruivo ali.

Permaneceriam ali, no silêncio, naquela tarde eterna. Apenas desfrutando... Apenas guardando eternamente aquela lembrança em suas memórias.

Quem sabe eles não tivessem uma próxima vida? Com um coração para desfrutar um do outro sem problemas... Sem a vida de nobody...

Quem sabe...

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Já era final do seu expediente.

Não sabia quantos dias havia se passado desde aquele dia. Também não se importava. Nada mais era como antes. Tudo parecia perder cor e brilho. Nem os estudos lhe agradavam mais.

Fez o check-in de um livro relacionado à comunicação para um aluno, e se lembrou dele. Olhou para cima e encarou o estudante. Ele não era tão alto. Cabelos negros e revoltosos. Sua face até lhe pareceu um pouco familiar, mas...

Não!

Aquilo tudo o levava a loucura. Às vezes queria fugir de tudo, e sua mente acabava por pregar essas brincadeiras.

Ele balançou a cabeça e entregou o exemplar para o rapaz a frente, que jogou na bolsa e se afastou do balcão, em direção à saída da biblioteca.

Olhou para o relógio. Seu tempo ali havia acabado. Jogou suas coisas de qualquer jeito na mochila e a colocou nas costas.

Sem rumo, ele caminhou pelo campus, na tentativa de clarear a sua mente.

Suas pernas acabaram por leva-lo à ponte. Aquela em que várias vezes ele conversava e desabafava com o mais novo.

Já não sabia mais o que fazer, o que pensar, o que sentir... Ainda se perguntava do que valia estar ali. Talvez o moreno o recriminasse por esses pensamentos.

E riu por aquilo. Podia até imaginar o que outro diria.

Mas... Talvez houvesse uma saída. Deixou-se levar por aquela ponta de esperança no meio de tanta dor e loucura que o consumia a cada dia.

- Nos vemos na próxima vida...

Depois disso, tudo escureceu.


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Notas finais do capítulo

E aqui chega ao fim de nossa primeira fic em conjunto feita para a tia (gostosa) Petit Ange.
Não só ela, mas espero que todos que tenham lido goste >
Que a Pet seja muito feliz, tenha muitos anos de vida para escrever muitos yaois de nos fazer chorar -q *vide a Gris e Houseki, que recomendamos do fundo de nossa alma*
Ah, e o fato dessa fic ser do jeito que é, bem, culpem a Pet por nos influenciar, nos ludibriar, tornar duas crianças inocentes em viciadas por yaois tristes -q Mas não! Não atirem pedras nela o
Pet, que você tenha gostado dessa fic >< E que esteja viva também pra ser a madrinha do meu casamento com a Drih -q
Bem, esperamos muitos coments =) Mas será que mereçemos? xDD
Comentem and be happy =DD
Bye Bye Beautiful!