Muito Bem Acompanhada escrita por MsWritter


Capítulo 14
Mais forte que as batidas de um coração, o vibrar de um reator




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"No tempo em que passei na Califórnia, eu dormia com Sebastian quase todas as noites". Quem diria que seria com uma frase como essas que o mundo de Pepper iria ruir? Depois de tanto tempo, tantos anos e tantas traições?

Quando Sebastian começou a faculdade e se mudou, Pepper foi junto com ele. Durante o dia ela trabalhava em uma cafeteria para conseguir complementar a mensalidade do curso do noivo e pagar o aluguel, durante a noite ela fazia o curso dela. Durante a madrugada ela tentava correr atrás de seus trabalhos e dos de Sebastian. Às vezes ela conseguia dormir. Mas tudo bem. O curso de seu noivo era difícil e no final valeria tudo a pena. Sebastian tinha muito o que fazer, uma carreira para construir. Ao final do trabalho, Pepper sempre voltava para casa para deixar algo pronto para que ele pudesse comer, antes dela ir para a faculdade comunitária. E se quando ela voltasse ainda tivesse alguma coisa ela comia. Se Sebastian já estivesse dormindo ela tentava fazer silêncio.

Quando Lisa terminou a escola e resolveu tirar um ano livre, parecia uma boa ideia começar pela cidade onde eles estavam: lá ela poderia ajudar com os serviços da casa e não precisaria começar sua jornada sozinha. Como ela estava lá para ajeitar o jantar, Pepper não mais se preocupava em voltar para casa no final do expediente. E se quando chegava de noite não havia comida na geladeira ou sobre o fogão e ambos já estavam dormindo, Pepper ficava feliz por não ter uma cozinha para arrumar. Pepper sempre foi uma idiota.

Lisa chorou, tentou se esconder, mas no final a culpa a consumiu. E entre soluços ela disse que não mais podia continuar com aquilo. Que esse segredo a estava sufocando. Que agora que Ginny estava finalmente feliz com um outro alguém, que ela sentia que podia finalmente contar, para começar sua nova vida no dia seguinte como alguém purificado, alguém mais leve. E então ela lhe contou sobre a traição. Sobre como ela era ingênua e se deixou levar. Sobre como Sebastian alegava que tinha também necessidades que Ginny não estava atendendo. Que se não fosse com alguém que eles pudessem confiar, que o relacionamento dele com Ginny estaria condenado ao fim, já que ele teria de procurar em outro lugar.

Pepper não conseguiu segurar a ânsia. E se vomitou nos sapatos de sua irmã, alguém a culparia? Naquele momento tinha nojo de sua irmã. Tinha nojo de Sebastian. Tinha nojo de si mesmo por ter se deixado, um dia, tocar por ele. Tinha nojo de si mesmo por sentir nojo. Ela contou isso para a irmã, que suplicou por perdão.

Então Pepper, ainda limpando a boca, lhe perguntou se Adrian sabia quem ela realmente era. Com o que se casaria no dia seguinte. E Lisa implorou para que ela nada dissesse para seu noivo. Ela tinha uma chance de ser feliz. Pepper estragaria isso?

Naquele momento, se ela tivesse forças, se ela tivesse coragem, ela estragaria sim. Mas naquele momento, toda sua vontade, tudo se esvaiu. Pepper se sentou ali no chão, ao lado do próprio vômito e não percebeu que sua irmã fugiu da cena, em desespero. Procurar consolo nos braços de um Adrian que não entendia nada do que estava acontecendo. Pepper não percebeu a comoção de todos no piquenique, a ver uma Lisa que chorava como uma evidente vítima, apesar de nem sequer imaginarem o que aconteceu. Pepper não percebeu o olhar de dúvida que John direcionou para Tony. Tudo o que Pepper sentiu foi, alguns segundos depois, o calor que emanava de um outro corpo junto ao seu. E mais forte que as batidas de um coração, o vibrar de um reator. Segura junto àquele peito, naqueles braços, que eram ao mesmo tempo tão familiares e tão novos, ela se deixou ser confortada. Deixou-se ser levada. Foi depositada no banco de passageiro de um carro. Levada de volta ao hotel. Sentada em sua cama e envolta em um cobertor. Então, só então, ouviu a voz de seu salvador:

– Por favor... Por favor! Me diz o que eu posso fazer? Só... Eu preciso saber o que fazer...

Pepper finalmente olhou para os olhos castanhos de Tony, percebendo-os avermelhados. Ele tinha o ar de quem já estava tentando falar com ela há algum tempo. Ele não sabia que já tinha feito tudo? Que ele tinha acabado de resgatá-la do pior momento de sua vida? Que ele havia a livrado de ter que encarar todos os seus familiares e amigos, nem que fosse por aquele dia?

– Tony... O que você disse... É verdade?

Antes de ouvir a voz dela, Tony estava tendo um ataque de pânico silencioso, quase que introspectivo. Agora que Pepper finalmente esboçou algum tipo de reação, o pânico tinha finalmente sido projetado para fora. Tony estava claramente atônito, sem saber o que dizer. Foi ele quem causou aquilo? O que ele deveria dizer?

– Tony, eu preciso saber. É verdade?

Mas Tony já contou tantas mentiras na vida... E ele sabe a diferença ente uma verdade e uma mentira? Ele deve ter dito isso em voz alta, porque Pepper continuou, com a voz trêmula e grossas lágrimas caindo de seus olhos, mas calmamente:

– Eu contei uma mentira uma vez. Eu disse que valeria a pena no final. Mas não houve final. Não pra mim. E apesar de tudo o que aconteceu, apesar de eu saber o quanto aquela mentira era só isso mesmo, hoje eu percebi que só eu acreditava nela. Eu já tinha percebido que nunca houve amor, que nunca houve respeito. Mas... Eu nunca imaginei que seria tão solitário quando...

Pepper não conseguiu terminar a frase e Tony não queria saber como ela terminava. Ele simplesmente a abraçou por alguns minutos. Porque ele sabia o que era estar sozinho. O que era passar um Natal sem pais ou paz. A dor de descobrir que seu sócio, seu padrinho, tinha encomendado a sua morte. Se ver sozinho no Afeganistão, um objeto. Tudo o que ele tinha era Pepper. E pelo visto ela não sabia que tinha a ele. Ele precisava remediar isso:

– Pepper... Você não está sozinha. Eu... Se me disser como eu faço para estar ao seu lado...

– Tony... Você é o meu único amigo. Eu não posso perder... Por favor, eu preciso saber. Todos os flertes.. toda essa situação... O que você quer? - Pepper perguntou, com o nariz enfiado entre as clavículas de seu chefe, seu amigo.

Mais alguns minutos se passaram. No final, Tony respondeu:

– Eu quero você ao meu lado. Mas eu preciso da sua felicidade. Você é o meu reator Ark.

Para Pepper aquelas palavras soaram mais fortes que um "eu te amo". E se lágrimas e saliva de ambos se misturaram durante o beijo que se seguiu, tudo bem. Naquele momento eles precisavam se completar. Eles precisavam voltar a ser um.


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