Love Is Waiting escrita por Gabriela Rodrigues


Capítulo 5
Capítulo 5




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A noite passou voando. Parecia que eu nem conseguira dormir direito e o dia já havia clareado. Levantei-me e vi as horas: dez da manhã. Eu dormira demais. Quais seriam os planos para o dia?

Saí da cama, relutante, pois o quarto estava frio graças à brisa suave que entrava pela janela aberta junto com poucos raios de sol que sequer atingiam meu colchão.

Fui ao banheiro, tomei um banho, livrei-me do pijama de flanela horroroso que eu usava (era a primeira noite que eu vestia aquela roupa), escovei os dentes e arrumei o bolo de nós que era meu cabelo em um conveniente rabo-de-cavalo.

Ajeitei a cama, dobrei os lençóis e como de costume, vi se tinha recebido alguma mensagem de texto durante a noite. Para minha surpresa, lá estava não uma simples mensagem de um de meus amigos dizendo algo do tipo “Oi, como vai?”, mas em vez disso li: “Viajei hoje cedo. Volto amanhã ou depois... Até lá! Já estou com saudades”. Não precisei nem ver o número para saber que Jake, com quem eu esperava passar o resto do dia, era o autor daquela mensagem.

Fui à cozinha, sem saber o que seria do resto do dia. Comi o de sempre: um copo de café com leite e um pão com margarina. Minha mãe anunciou que precisava ir ao mercado, então como não havia sentido ficar em casa, acompanhei-a.

- Vá pegar meio quilo de queijo e me encontre na fila da padaria. – ela disse quando chegamos ao Makro, o hipermercado de Americana. A loja era imensa e tinha de tudo. Era uma coletânea de lojas – como num shopping – condensadas em uma.

Dirigi-me à fila de frios e esperei minha vez: eu era a terceira, enquanto minha mãe aguardava na outra fila, com umas onze pessoas na sua frente, esperando pela próxima fornada de “pão francês” – lá eles não chamam de “careca” como em Belém. Fui atendida e depois a avisei de que ia esperá-la na sessão de esmaltes. Mal me virei, ela grita:

- Filha! Calma! O careca saiu!

Só faltei me enterrar de vergonha. Na frente de minha mãe, a última pessoa a ser atendida antes dela era um homem calvo (quase sem nem um fio de cabelo na careca brilhante de tão lisa) que estava impaciente com a demora e, por azar, inventou de sair da fila bem na hora que a fornada de pão ficou pronta.

Perdi a conta de quantos pares de olhos curiosos nos fitavam, procurando a origem de tamanha indiscrição. Minha mãe (quando finalmente percebeu o que acontecera) ria tanto que chorava e o homem, constrangido, já devia estar tão longe quanto eu, que por minha vez, fui esperar no carro.

Ficamos em casa o resto do dia inteiro. Joguei pingue-pongue com Ed e Fred (que se estressou comigo, pois eu não o deixava ganhar) e passei o resto da tarde lendo um dos livros que Jake deixava na sua parte do armário: “A Droga da Obediência”, de Paulo Bandeira.

O li até a metade, na parte que o mais jovem dos Karas finalmente descobre quem está por trás dos desaparecimentos de alunos, quando minha mãe meteu a cabeça para dentro da salinha de estudos e me mandou ir tomar banho: nós visitaríamos minha outra tia, Lisa (Elisabeth, na verdade, mas se você gosta de ter sua cabeça presa ao pescoço é bom chamá-la pelo apelido).

Tia Lisa era a irmã mais velha de minha mãe e uma cozinheira de mão cheia. Adorava fazer, doces, bolos, todo e qualquer tipo de torta, mas tinha um pequeno probleminha: ela estava quase trinta quilos acima do peso e sofria de pressão alta.

Chegamos lá às seis da tarde. Tia Lisa tinha preparado um bolo de chocolate com morango e torta de morango. Comemos e conversamos uns instantes, mas fiquei isolada quase o tempo todo.

- Querida, se você quiser, o computador do meu quarto está ligado... Você pode acessar seu MSN ou o que for...

- Obrigada. – eu disse e disparei para o quarto.

Acessei meu MSN e esperei enquanto o lerdo do computador carregava. Marília, uma de minhas melhores amigas estava online.

“Oi! Tudo bem?” escrevi.

“Que tempão! Tudo. E com você?”

“Bem também. Quais as novas?”

“Nenhuma. E você? O que conta de novo?”

“Nada. tudo velho.”

Uma nova janela de conversação se abriu.

“Oi, Juliet!! Como vai?”

“Ótima! E tu?”

“Bem, obrigada.”

Conversamos sobre o pessoal de Belém. A maioria das pessoas da nossa sala havia viajado exceto Sidney, Cassie e Juliet, que só iam para o interior nos finais de semana e voltavam às segundas-feiras.

Oito horas. Estava ficando sem assunto quando mais uma pessoa veio falar comigo. Prestes a bloquear o indivíduo (meu professor de matemática do 1º colegial) outra janela se abriu. Jake se conectara, estivesse onde fosse.

“Estou com saudades. O que fizeram hoje?” Jake digitou.

“Eu também... Onde você está? Fui ao mercado com minha mãe e paguei o maior mico da minha vida.”

“Na capital. Tenho uma casa aqui. Ela ta em reforma. Vim ver como estão indo as obras e preciso checar umas coisas da USP.”

“Tem uma casa? Caramba! Mas por que não avisou antes que ia viajar?”

“É, tenho. Esqueci de contar. Desculpe. Mas diga-me... o que sua mãe fez?”

Escrevi em poucas palavras o que aconteceu no mercado e ele enviou umas risadinhas virtuais.

“Só podia ser...” ele digitou depois de algum tempo “Mas também... Onde já se viu chamar pão de ‘careca’?”

“Já acabou de debochar? Tem mais gente querendo falar comigo.”

“Sinto muito. Mas foi engraçado.”

“Eu sei... Ah, quase ia esquecendo: peguei um livro da tua estante. ‘A droga da obediência’, sabe? Espero que não se importe.”

“Por mim, sem problema.”

Eram onze da noite e eu ainda estava conversando com Jake no computador de tia Lisa.

- Filha! Vamos? Ta tarde! – minha mãe chamou, da sala.

- To indo. Só vou me desconectar do MSN.

“Estamos de saída.”

“Poxa... A gente se fala depois, então.”

“Você só vai voltar depois de amanhã, mesmo?”

“É... Vou tentar voltar amanhã cedo, mas não prometo.”

- Zoey! – minha mãe chamou de novo, impaciente.

“Tenho que ir... Tchau!”

“Tchau.”

Desliguei tudo correndo, me lembrando mentalmente de pedir desculpas à Juliet e à Sidney por nem sequer me despedir antes de sair do MSN. Falei com tia Lisa e ela nos chamou para uma festa que teria no sábado, na chácara de minha falecida avó: a Chácara da Vó Nice.

Chegamos à casa da tia Marge menos de quinze minutos depois e disparei para o quarto. O dia havia sido entediante e eu queria acabar logo com ele. Empanzinada de doce e torta salgada, escovei os dentes, tomei um banho morno e relaxante, vesti o pijama e li o livro de Jake até pegar no sono.


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