Love Is Waiting escrita por Gabriela Rodrigues


Capítulo 29
Capítulo 29


Notas iniciais do capítulo

bem... esse é o penúltimo capítulo.. espero que gostem.. comentem ao final =)



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Era uma sensação estranha. Eu não me lembrava de ter voltado. Meu quarto estava do jeito que eu o deixara: bagunçado, com alguns livros sobre a cama e o resto nas prateleiras lotadas. Meus quebra-cabeças de mil peças montado pela metade continuava jogado bem no meio do quarto e o teclado que eu adorava tocar estava sobre uma prateleira ao lado do aparelho de som e do ventilador.

Era minha casa, mas ao mesmo tempo não era. Estava silenciosa demais. Percebi então que estava só. Não havia sinal de Ed nem de minha mãe onde quer que eu olhasse. “Devem ter saído enquanto eu dormia”, pensei. Então vi o bilhete. Pregado na porta que só então eu notara estar fechada o pedaço de papel riscado às pressas dizia apenas: “Viajamos para São Paulo. Voltamos ao final do mês.”

Acordei assustada tentando reconhecer a suíte. Minha mãe empilhava roupas e mais roupas sobre a cama de casal tentando arrumá-las nas seis malas disponíveis. Ainda atordoada com o sonho real demais, mal percebi que ela falava comigo.

- Vá tomar um banho. Esqueceu que precisamos comprar mais uma mala?

- Não. – mentira.

- Querida, precisamos conversar.

Da última vez que ela me disse isso as notícias estavam longe de serem boas.

- O que houve? – perguntei sentando-me novamente.

- Lembra que Jake disse que Margareth e eu fomos redefinir o dia da volta? Por causa da mudança no seu calendário escolar?

- Sim. – eu fiquei tão histérica que gritara com Sidney – Mãe, fala logo!

- Filha, aconteceu alguma coisa e o sistema leu errado. Ao invés de agendarem para o dia 30, nós vamos voltar amanhã.

- Amanhã?! Mas não dá! – eu só tinha um dia? Ou melhor, menos de um dia? E Jake? Eu não tivera tempo o suficiente com ele. Esperava poder conversar melhor com meu primo e me despedir da maneira correta. Como eu faria tudo isso em poucas horas?

Minha mãe me olhava preocupada.

- Há quanto tempo a senhora sabe?

- Uma semana. Avisei a Jake. Ainda não falei com seu irmão.

- Por que toda vez que acontece alguma coisa eu sou uma das últimas a saber? – gritei. Não era minha intenção, mas minha mãe nunca escondia as coisas de mim. Geralmente eu era a primeira pessoa a quem ela confidenciava o que quer que fosse.

- Porque eu sabia qual seria sua reação. – ela sussurrou. – Agora, por favor, vá tomar um banho, tome seu café e se arrume. Vou precisar de ajuda no comércio hoje. Você com certeza vai querer comprar alguma

- Uma lembrancinha pras suas amigas. E pare de drama, Zoey. Não é a última vez que você vai ver seus primos.

Resolvi deixar isso momentaneamente de lado. Quanto mais tempo eu demorasse exigindo uma boa explicação, mais tempo demoraríamos a sair e mais tempo demoraríamos a voltar. E tempo era uma coisa que eu não podia perder.

Não lembro a roupa que vesti. A única coisa que sei é que engoli o café às pressas e me arrumei bem mais rápido que de costume. Minha mãe tivera o bom-senso de deixar a bagunça por arrumar sobre a cama (mais da metade do trouxemos estava fora das malas) e se vestido rápido. Dez minutos depois estávamos no carro alugado rumo ao comércio.

Fiquei calada no banco do carona, apenas ouvindo o ressonar suave do motor e a música desconhecida que tocava na rádio. De repente a canção se calou e minha mãe começou a falar:

- Faz um tempo que a gente não conversa.

Continuei calada.

- Você e Jake passaram bastante tempo juntos.

Isso estava ficando pior.

- Vai ficar calada até que horas? – ela estava se irritando.

- Não quero conversar.

- Por que?

- Não tenho assunto. E quero pensar.

- Nos outros anos a gente ficava por aqui menos tempo e você não fazia birra pra volta. O que aconteceu? Cresceu e ficou mimada? Te dei liberdade pra sair quando você quisesse sem ter hora pra voltar e você acha que pode me tratar como quiser?

- Não tem nada a ver, mãe.

- Então o que? Sei que é só uma fase. Ou melhor: espero que seja só uma fase, mas não to agüentando mais. Você tem ficado igualzinha ao seu primo. Acho que pegou um pouco de cada um, mas principalmente o de Jake. Eu to preocupada, querida.

- Não precisa. Ele nem sai de casa. Eu to aqui, não to?

Mentira deslavada essa de “ele nem sai de casa”, mas eu precisava acalmá-la de alguma forma.

- Bem, chegamos.

O aglomerado de lojas era maior do que eu me lembrava. Chegava a ser intimidador olhar aquele mar de gente se batendo pra entrar em uma loja. Minha mãe foi procurar um daqueles controladores da zona azul enquanto eu respirava fundo tentando criar coragem para entrar no meio da multidão. Nunca gostei de lugares lotados.

Minha mãe voltou menos de dois minutos depois com um papelzinho que me mandou guardar com cuidado e me arrastou para o meio da muvuca. Passamos por uma loja que reconheci como sendo minha preferida alguns anos antes. Era uma boutique de bijuterias e esmaltes dos mais diversos tipos. Talvez se eu entrasse ali, fizesse a festa, mas a prioridade hoje era outra.

 Entramos em uma loja de malas e bolsas. Uma mais cara que a outra, malas de todos os tipos, cores e tamanhos estavam expostas em filas pelo chão. Nas prateleiras, inúmeras bolsas dos mais variados modelos chamavam a atenção das clientes que, quando entramos, nos olharam de cima a baixo.

- Posso ajudar? – o atendente com sotaque carregado da capital veio falar conosco.

- Eu preciso de uma mala. Não precisa ser bonita, basta ser grande e barata. O mais barato possível.

A gargalhada que o cara soltou me fez encolher. Ele virou para outra atendente e falou a plenos pulmões ainda rindo:

- Elas querem uma mala barata. – o boiola (só podia ser) se dobrou apertando a barriga – Assim vocês me matam. Se não querem gastar, não comprem, oras!

Minha mãe ficou indignada. Eu já ia sair de fininho quando ela gritou:

- Eu exijo falar com o gerente! Eu venho nessa espelunca e vocês se acham no direito de debochar da minha cara? Se eu comprar alguma coisa daqui vai ser só depois desse infeliz – ela apontou o atendente agora pálido – ser demitido!

- Minha senhora, por favor, não faça isso. – o cara agora sussurrava, quase de joelhos.

- Quem é o gerente? – minha mãe perguntou a outra funcionária?

- A senhora quer que eu chame? – a mulher nos olhou confusa.

- Não, ela não quer. – o homem quase chorava.

- Eu quero sim. – minha mãe sabia armar um barraco.

Em cinco minutos o gerente chegou, todo de terno e gravata. Uma rodinha se formava para ver o estardalhaço.

- Algum problema, minha senhora? Posso oferecer um café ou uma água?

- Não, obrigada. O que eu quero é tirar satisfação com esse sujeito que me destratou a plenos pulmões aqui na loja. Zombando só porque eu pedi a mala grande mais barata.

Ela explicou tudo, omitindo, é claro alguns detalhes ao nosso favor. O boiola não ousou abrir a boca, afinal, o cliente sempre está certo. O resultado do escândalo foi nós sairmos de lá com duas malas pelo preço de uma e um pedido de desculpas formal do gerente que nos garantiu se acertar com o funcionário que já estava praticamente dando adeus ao emprego.

Com as malas, entramos na Biju Box, uma loja, como o nome já sugere, de bijuterias e esmaltes. Fiz a festa comprando vários brincos que depois decidiria se seriam destinados à minha coleção ou dados de presente à Juliet, Sidney ou Cassie. Aumentei também meu estoque de esmaltes, comprando um frasco preto, um branco e outro verde limão fosforescente.

Não passava das onze quando estacionamos carregadas de sacolas na frente da casa de tia Marge. Descarregamos tudo e fui ajudar minha mãe com as malas. Era um dobra-dobra de roupas sem fim. não lembrava de ter tantas blusas nem tantas calçam, quem dirá tantos vestidos.

Lembrei-me sem querer de meu quarto secreto na casa de Jake em São Paulo. Minha metade do closet carregada de roupas e mudei de idéia. De repente, parecia que naquelas malas eu trouxera pouquíssima roupa.

- Não lembrava desse vestido. – minha mãe ergueu o vestido de gala vermelho que eu usara na festa da chácara. Por um segundo a saudade me abateu, mas desfiz o semblante nostálgico. Não queria um sermão.

- April me deu.

Minha mãe dobrou a peça e colocou-a com cuidado na mala.

- E esse?

Era o vestido quadriculado que Jake comprara pra mim no aniversário de Ed quando estávamos fugindo de Luiza e seu namorado, pois segundo nossa mentirinha, estávamos no mercado.

- Deve ser uma das roupas que April me deu. – menti pensando rápido – Ela disse que separou umas roupas que não queria mais e que eu podia ficar com as que eu quisesse.

- Você já agradeceu?

- Lógico, mãe. Não o Ed.

Depois dessa “doação” das roupas diferentes, não precisei enrolar muito pelo quarto. Deixei minha mãe sozinha por um tempo e fui à salinha de estudos onde encontrei Jake debruçado sobre o violão. Ele começou a tocar a marcha fúnebre assim que passei pela porta.

- Saíram hoje de manhã? – ele perguntou quando sentei.

- Minha mãe precisava ir ao comércio.

- Então ela te contou.

- Sim.

- Não está com raiva?

- Prefiro não deixar que isso estrague as poucas horas que nos restam.

Ele sorriu.

- O que quer fazer? - Meu primo largou o violão e pegou meu pulso direito, de onde pendiam todas as pulseiras, inclusive a que ele me dera.

- Conversar.

- Sobre?

- Ainda não sei. Talvez sobre quando você vai resolver fazer uma visita.

- Não quero ir pro mato. Não levo jeito pra acampar.

- Eu discordo. – falei lembrando minha primeira visita à sua casa na capital.

- São raros os momentos de inspiração.

Suspirei.

- Talvez eu faça uma surpresa qualquer ano. – ele sorriu malicioso – Ia adorar ver tua cara se eu aparecesse de surpresa na tua casa. Ainda é o mesmo apartamento?

- Eu me mudei. – ri ao imaginar meu primo batendo na porta do prédio errado – mas é lá perto.

- Lembra quando minha mãe insistiu em ir sozinha à feira e, quando voltou, errou o apartamento e uma pessoa que ninguém conhecia abriu a porta e ela não notou e foi invadindo a casa da coitada?

- Lembro. – foi impossível eu conter o riso. A cara de choque de tia Marge ao nos ver do outro lado do corredor era impagável. E ela pedindo desculpas à mulher cuja casa ela invadiu e deixou sacolas espalhadas pelo chão? Hilário. Pior foi tentar nos convencer de que ela ainda que tinha achado alguma coisa estranha, como por exemplo entrar pelo lado errado. Eu só tinha três ano, mas certas coisas são tão marcantes que é quase impossível esquecer.

Conversamos até a hora do almoço. Depois comemos em silêncio e voltamos à salinha de estudos para assistir a um filme qualquer que estivesse passando. Esse foi o programa do resto da tarde. Apenas aproveitar meu primo e o tempo que me restava. A noite chegou rápido. Minha mãe anunciara que as malas estavam prontas, mas isso não abalou meu sossego. Eu estava onde queria: nos braços de Jake na salinha de estudos escura, iluminada apenas pela TV ligada.

Foram todos dormir, exceto nós dois. Fizemos bom uso do silêncio. Trancados na saleta como se estivéssemos numa sala de cinema, trocamos um último beijo, mais longo, ardente e sofrido que qualquer outro e, ao final, quase de madrugada, contrariando todas as expectativas, dormi.


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Notas finais do capítulo

bemm... comentários, por favor!!!



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