Love Is Waiting escrita por Gabriela Rodrigues


Capítulo 27
Capítulo 27


Notas iniciais do capítulo

Sei que demorei demais, mas sinto o muito... é trabalho demais pra fazer.. na semana santa vou me dedicar somente à LIW... espero dar uma adiantada até lá para acabar logo.. não falta tanto assim... sei que o cap está pequeno, mas acho que não está tão ruim.. bom.. à história!



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Calor. Em pleno mês de julho eu acordei suando, esmagada entre um peso morto que percebi ser Jake ressonando de leve e o sofá duro. Não havia barulho, sinal de que todos ainda dormiam. Menos mal. O que eles pensariam se me pegassem dormindo com Jake no sofá em cima de mim? Boa coisa não seria.

Tentei sair de baixo dele, mas acabamos caindo os dois juntos. Ele por reflexo colocando seu corpo por baixo do meu para amortecer minha queda. Será que até dormindo ele era superprotetor?

- Tudo bem? – perguntei. – Porque eu caí no macio.

- Tranqüilo. – Jake se levantou e foi tomar um banho.

Estava preparando o café quando uma buzina soou do lado de fora e me espantei ao ver um ônibus daqueles que se aluga para fazer viagens parado em frente à casa com quase metade da família nele.

- O resto ou foi de carro ou foi no outro ônibus. Todos prontos? – tio Elliot foi o primeiro a descer com Chris logo atrás. Recuei um passo assim que o vi. Seria possível que ele tivesse crescido mais em duas semanas? Eu ainda não esquecera o que ele fizera a Ed.

- Jake foi tomar banho. Acordamos agora. Não esperava que fossemos tão cedo. Não sei nem se o resto já acordou. – tentei me explicar.

- Não tem problema. A gente espera. – ele me tranqüilizou. – Vem, galera, vamos esperar os dorminhocos! – a multidão começou a descer do ônibus.             Onde eu ia enfiar tanta gente?

Abri a porta da frente sem me preocupar em ser silenciosa, pois seria inútil; os tagarelas atrás de mim falavam uns com os outros a plenos pulmões. Tia Marge acabara de sair do quarto e teve que se controlar para não gritar ao ver o mutirão que a encarava só de pijama.

Assim que se recuperou, voltou para o quarto sem dizer coisa alguma e eu fui falar com os recém-chegados. Vi Ashley de mãos dadas com um rapaz cheio de piercing na cara que, se não fosse a cor meio amorenada eu podia suspeitar ser Luke (o que seria bastante estranho: dois irmãos namorando duas primas... Já pensou?). Menininha rápida...

 Meia hora depois estávamos tomando café enquanto o resto esperava na sala. Perto das nove entramos no ônibus. De forma geral ficou assim: atrás sentaram as gêmeas, Melaine, Ashley e seus namorados. Na fila frente, Marília e a mãe de um lado e do outro Marina e Mariana, a louca com uma tatuagem recente em forma de borboleta na nuca (coberta pela gola alta da blusa que vestia, porque ninguém além de mim e de suas irmãs sabia da tal tatoo).

Na próxima fila, Jake e eu de um lado, Ed e Fred do outro. E assim ia. Os adultos e Chris na parte mais da frente e o resto atrás. A maioria, conversando ou namorando. No caso de Jake e eu, trocávamos torpedos.

“Espero que você tenha paciência” – ele me enviou.

“Por que?”.

“Ultimamente a memória dela reduziu de cinco minutos para um” – prendi o riso.

“Mas tem a dona Teresa” – mandei.

“Que só lava, cozinha e dá banho na outra. Se você acha que ela vai ter tempo de conversar, está enganada” – droga.

“Mas tem você” – percebi a ameaça de um sorriso em sua boca.

“Se a Duda te liberar, será um prazer ocupar seu tempo”.

Estranhei o comentário, mas não perguntei nada. Trocamos mais algumas mensagens durante a ida à Campinas até que finalmente reconheci o portão de ferro com uma rampa que subia para a garagem logo ao lado da escada que dava para a porta da frente.

Entramos na casa de tia Duda (que tinha espaço suficiente para toda a família) e fui procurar a mulher para cumprimentá-la. Lógico que eu esperava encontrar a dona da casa acordada, não uma senhora idosa dormindo no braço do sofá. Na verdade, a mulher mais parecia contemporânea de Adão e Eva.

Cutuquei a coitada toda torta no sofá com medo de que de repente ela se desfizesse em pó nas minhas mãos.

- Tia Duda? – chamei – Por favor, diga que está viva.

- Zoey! – minha mãe me repreendeu – Ela é velha, mas... – ela não conseguiu terminar, pois a mulher abriu os olhos do nada e nos encarou como se quisesse nos matar.

- Quem você está chamando de velha, Rosalina? – a doida só faltou pular no pescoço da minha mãe (se, é claro, conseguisse ao menos ficar de pé sozinha) – Quem é essa garota, Rosa? – ela apontou o dedo ossudo para mim.

- Minha filha. Zoey.

- O que você está esperando, Carolina? Venha dar um beijo na sua tia-avó.

Olhei para os lados procurando na sala a tal Carolina inexistente até que me toquei: era eu.

- Meu nome é Zoey, tia.

- Não ouse me corrigir, Carolina! – a voz rouca era de dar medo – Venha logo dar um beijo na sua tia-avó!

Como não ia dar em nada, aproximei-me com receio até de respirar, pois a qualquer momento aquela pele ressecada poderia se desfazer em pedaços. Parecia que eu estava beijando uma múmia. Mal me afastei, ela cumprimentou meus tios e do nada se virou para mim:

- Quem é você? – ela apontou o dedo ossudo.

- Zoey.

- Não conheço nenhuma Zoey. – eu mereço – Saia já da minha casa! – qual é?

- Tia, - minha mãe se meteu – essa é a minha filha.

- A Carolina? – a velha me olhou com interesse.

- O nome dela é Zoey, tia.

- Zoey Carolina? Combinação estranha...

- Não, tia. Só Zoey.

- Venha dar um beijo na sua tia-avó, moleca. – eita raiva da velha!

Beijei a mulher com mais nojo que da primeira vez agora que já sabia qual a textura da pele enrugada e seca. Não tive tempo de me afastar. A biruta tornou a apontar na minha direção:

- Tem uma intrusa na minha casa!

- Sim. E já estou de saída. – falei antes que minha mãe tentasse me ajudar outra vez e corri para o jardim na primeira oportunidade. Ela ia esquecer que me viu, mesmo.

Ainda ouvia os risos do resto da família com a raiva borbulhando em mim. Onde estava o Ed, afinal? Aposto que tia Duda não se importaria de conhecê-lo mil vezes no mesmo dia. Sentei na grama úmida e encostei-me no muro. Jake apareceu uns quinze minutos depois.

- Acho que a memória dela reduziu um pouco mais.

- Percebi. – falei azeda – Por que demorou?

- Ela não me reconheceu. O mesmo de sempre. Ela só lembra dos primos mais velhos e dos próprios sobrinhos. Mas ela não foi tão educada comigo.

Rimos da situação, porém quando a graça acabou ficamos sem saber sobre o que conversar. Geralmente era a mesma coisa de sempre: o que faríamos quando o final do mês chegasse e que deveríamos aproveitar ao máximo esses últimos dias. Já era praticamente um discurso decorado, então fiquei surpresa quando ele perguntou;

- Como é Belém?

- Você já foi lá. Uma vez.

- Há quase 14 anos. Deve ter mudado.

- Continua quente.

- Como é a tua escola?

- Gosto de lá. É rígida, mas tenho vários amigos. Não quero que chegue o final do ano. – fitei o nada.

- Por que?

- Vestibular.

Ele se calou por um tempo.

- Não vejo o pessoal do colégio há um tempo. Só que ao contrário do que parece não é ruim. Eu não acho. Me livrei dos chatos.

- Mas os legais foram embora também.

- Nem tudo é um mar de rosas.

O silêncio preencheu o quintal outra vez exceto talvez pelos murmúrios que ouvíamos de dentro da casa.

- Pensa em prestar vestibular pra que?

- Engenharia da computação. É cálculo puro.

Jake fingiu espanto.

- CDF.

- E tu? Futuro advogado, não? E a louca sou eu.

- Cada doido com sua mania.

Não lembro quanto tempo se passou. Ele refez as perguntas sobre meus amigos, agora com mais detalhes. Quis saber como era Sidney, Juliet e Cassie, as três garotas com quem eu mais falava, pedindo para ver fotos delas e dos garotos também.

Hora do almoço. A cada poucos minutos eu farejava o ar em busca de um indício do cheiro da comida que dona Teresa preparava. Depois da gororoba da dia anterior era bom que eu me preparasse, mas não senti cheiro algum. Será que ela lembrava que tinha visitas? Com a casa cuspindo gente do jeito que estava, era difícil esquecer, mas nunca se sabe.

Resolvi entrar e perguntar a que horas a comida ficaria pronta, mas não havia ninguém na cozinha. Alias, não havia ninguém na casa anormalmente quieta. Voltei ao quintal onde Jake ficara me esperando.

- Então? A que horas sai o rango?

- Acho que já saiu. Não só o rango, mas todo mundo. Não tem ninguém lá dentro.

- Como é?! – ele quase deu um pulo.

- Não tem ninguém em casa. Acho que todo mundo saiu pra almoçar. Nem tia Duda ta lá. Nos esqueceram.

- Tem certeza? – coitado.

- Acho que eu saberia se eles estivessem na sala ainda.

Ele esticou a mão.

- Me ajuda a levantar.

Fiz o que ele pediu e Jake saiu mancando sem a muleta (moleque teimoso) até a cozinha. Cheguei logo depois e o vi remexendo nas gavetas.

- O que...?

- Tem que ter alguma coisa comestível aqui. – ele pôs a mesa para dois e abriu um armário. Vazio. Outra porta. Nada. – O que a biruta come? Vento? – meu primo começou a soltar o dicionário de palavrões que conhecia enquanto caçava comida pela dispensa.

- Jake... – tentei desiludi-lo.

- Na sala tem uma lista telefônica.

Entendi o recado e abri na parte de restaurantes que faziam entrega a domicílio. Com o estômago nas costas, peguei o celular de Jake e digitei o número da primeira pizzaria que encontrei.

- Pizza Clube. – a mulher atendeu – Em que posso ajudar?

- Mandando uma pizza extra grande de queijo o mais rápido possível. – Jake entoou monótono pelo viva-voz.

- Número do telefone, por favor? – a atendente perguntou claramente fazendo um enorme esforço para prender o riso.

- Qual o número dessa casa? – ele sussurrou impaciente.

- Eu que sei? – respondi irritada e igualmente baixo – A velha não lembra de mim e eu tenho que saber o telefone dela?

- Não temos telefone fixo.

- Podem dar o celular, então, mas precisamos fazer o cadastro.

Bufamos, mas Jake deu o número do celular e outros dados que julguei desnecessários. Pra que o entregador de pizzas vai precisar do CPF de alguém?

- Bem, - a mulher falou depois do que pareceu uma vida – só preciso agora do endereço e você pode fazer o pedido.

- Só um minuto. – ele falou para o telefone – Zoey, corre! Vai lá fora olha o nome da rua e o número da casa.

Olhei-o estupefata.

- Como é?!

- Anda logo! – ele sibilou.

Quem me viu correndo até a esquina mais próxima e voltando deve ter me achado, no mínimo, estranha. Voltei ofegante. Ditei as informações e quando pensei que tinha acabado o interrogatório, a mulher pergunta o CEP e o bairro. Merda. Cinco minutos depois eu estava de volta, após correr pela casa procurando uma folha de papel e uma caneta e voltar à esquina atraindo mais olhares divertidos com o que faltava. Por fim pedimos a comida.

- Em uma hora no máximo estará chegando. – ela disse simpática.

- Contanto que não passe disso... – Jake resmungou e desligou na cara da mulher.

- Quanto deu?

- O que? – ele parecia confuso.

- A pizza! Quanto vai custar a pizza?

- Droga! – ele pegou o celular e tornou a discar. – Desliguei antes da mulher dizer o valor.

- Pois não? – a voz soou através do viva-voz como se ela já estivesse esperando a ligação.

- Oi, eu acabei de fazer um pedido, mas esqueci de perguntar o valor. – meu primo se explicou.

- Eu sei. Ia ligar quando o telefone tocou. Reconheci o número.

- Como reconheceu o número? Se sabia o telefone, por que nos fez perder tempo?

- Gostei da sua voz. – o modo prático como ela falou... Podia até imaginar uma garota da minha idade do outro lado da linha dando de ombros – E agora sei que você é só um mês e meio mais velho que eu.


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