Love Is Waiting escrita por Gabriela Rodrigues


Capítulo 15
Capítulo 15




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Aniversários. Sabe o que dá vontade? De abolir esta data para sempre. Jogá-la nos confins da Terra e nunca mais tirá-la de lá, principalmente se você tem um irmão caçula que se joga em cima de ti as sete da madruga para você acordar e curtir aquele dia tão especial com ele.

- Vasa daqui, moleque! – empurrei Ed para o lado.

Levantei me espreguiçando ao máximo e sem abrir os olhos. Quando resolvi espiar quase morro de susto com o nariz do meu irmão quase colado no meu de tão próximo e aquele sorriso gigante de quem só pode estar aprontando alguma.

- Não ta esquecendo nada? – ele perguntou sem desfazer aquela cara idiota.

- Saia daqui agora?

- Fala sério, Zoey, não adianta ficar aborrecida comigo. Foi a mamãe que não te deixou sair a menos que fosse pra comprar coisas pra mim!

Ele riu como aqueles vilões de filme e saiu saltitando do quarto. Quanto a mim, não tive outra escolha senão levantar, mas com um plano em mente.

- Bom dia! – disse a Jake que era o único na cozinha além de mim.

- Nossa... Bom humor... O que houve?

- Nada, só uma idéia.

- Isso envolve sair pela manhã?

- É claro que sim. – respondi alegre.

- Então... Manda.

Cochichei rapidamente com meu primo número 1 e em menos de meia hora eu convencera minha mãe (com a ajuda dele, óbvio) a me deixar sair pela manhã alegando comprar uma lembrancinha de aniversário para meu irmão.

O que ela não sabia é que a sacola com o vídeo-game comprado no dia anterior estava no carro, intocada e a nota fiscal, rasgada em mil pedaços (obra de Jake para eu não ver o preço). Zarpamos pela cara de leso furioso de Ed, demos um “tchau” apressado a Fred e chegamos ao carro antes que qualquer um nos fizesse voltar antes do meio dia (horário imposto por minha mãe para o almoço de aniversário: pizza, o que, é claro, eu não perderia por nada).

Checamos se a sacola estava mesmo lá (porque meu irmão cara de pau com certeza ia cobrar) e voamos pela pista para qualquer lugar longe daqueles gritos de “Parabéns! Olha o que eu comprei pra você!”.

Paramos num shopping que não lembro o nome e desatamos a andar. Terminamos no parquinho em um daqueles jogos de corrida. Jake me venceu em todas e estávamos prestes a ir à fila do cinema para ver se tinha algo bom passando antes do almoço quando o celular dele tocou.

- Droga! – o ouvi dizer antes de atender. E depois, com a voz mortalmente monótona: - Alô?

- Jake? Que barulheira é essa? – fosse quem fosse, gritava do outro lado para se fazer ouvir. Só o que eu sabia é que era uma mulher.

- To no mercado, por quê?

- Nada não. É que eu to no shopping e podia jurar ter visto um cara igualzinho a você, mas eu devia saber que não era. Ele ta acompanhado e... Sorria.

Gelei.

- Hum. – Jake falou com fingida indiferença, me puxando pela mão para mais perto para ouvir a conversa – E como ele ta vestido? A acompanhante é bonita? – ele perguntou como quem não quer nada além de brincar, mas a tensão era perfeitamente visível em sua voz.

- Ele ta de costas, mas com uma blusa bege, calça jeans e tênis. E... Ta no celular.

- E a garota? – Jake cortou - Ele ta acompanhado que eu me lembro. Como ela é?

- Ela tem cabelo longo, castanho, mas ta preso. – ao ouvir isso, soltei meus cabelos, que caíram até quase a cintura. – Espera, ela acabou de soltar. Estranho, é igual ao da Zoey. Por falar nela, como ela ta? Nem perguntei como estão os pontos...

Foi aí quem eu lembrei: Luiza. A prima que estava com o namorado na noite do boliche e vira a briga com Jake e Thomas. E que ao que tudo indicava estava no shopping com a gente.

- Olha, a mulher do caixa ta falando comigo aqui. Preciso desligar. – Jake disse e já ia apertar o botão vermelho quando minha prima interrompeu:

- Tudo bem, eu vou seguir os dois discretamente. Faz tempo que eu não brinco de espiã. – ela riu descarada e ouvi seu namorado rir também. – Jake não falou nada, apenas apertou o botão de desligar, mas continuou andando com o fone colado ao ouvido como se falasse com mais alguém.

- E agora? – consegui cochichar.

- Sei lá. Bora entrar em qualquer loja, pegar uma escada rolante interna e sumir daqui.

Eu fui praticamente arrastada até uma Riachuelo gigante e depois demos início à corrida. Por azar, a saída do andar de baixo estava bloqueada.

- Já sei! – meu primo viu a luz para nossos problemas. Ou era isso o que eu esperava quando ele completou: - Vem, escolhe um vestido.

- Como é?!

- Escolhe um vestido. Considere um presente de aniversário muito adiantado.

- Ta, mas... Por quê?

Jake suspirou como se fosse a coisa mais óbvia do mundo.

- Eu vou ver umas roupas pra mim também. A Luiza disse que viu a gente e descreveu nossas roupas, então vamos trocá-las!

- Sim, mas esqueceu que ela deve ta seguindo a gente?

- Ela deve ter se perdido. Anda logo antes que ela encontre a gente.

Diante disso não tive escolha. Peguei o primeiro vestido que vi e dei graças por estar usando uma bota preta, pois o vestido além de servir combinou perfeitamente. Saí do provador a tempo de ver meu primo com uma calça preta e uma camisa pólo branca, mas voltei para vestir meu bermudão.

Pagamos tudo correndo (ou melhor, Jake passou o cartão correndo) e voamos para o banheiro para nos vestir. Meu vestido era quadriculado (mais um pra coleção) e seus tons iam do branco ao preto. Era simples, com um cinto elástico na cintura e decote não muito grande. Um dos poucos vestidos que eu me sentia bem em usar, principalmente por acabar na altura do joelho.

Fiz uma trança às pressas e encontrei-me com Jake conversando com alguém na frente de uma loja. Por sorte não eram nossa prima, mas uns amigos dele que estavam espantados por vê-lo fora de casa e, quem diria, acompanhado.

- Oi. – cumprimentei sem graça.

Os dois rapazes e a única mulher do grupo me fitaram com pasmo. Jake nos apresentou:

- Zoey, esses são James, Will e Amélia.

James era alto, meio encorpado e de pele mais amorenada. Amélia estava com ele, abanando as unhas como que para secar o esmalte vermelho que usava. Já Will... Aquela cara de nerd não lhe dava um ar muito social, mas todos pareciam até bem simpáticos.

- Prazer. – eu disse num fio de voz.

Amélia me puxou para um canto e sussurrou:

- O que você fez com ele?

Ela era da minha altura, mas certamente mais velha. Tinha cara de vinte e poucos e não consegui fazer outra coisa senão perguntar confusa:

- O que eu fiz?!

Foi nessa hora que agradeci por sempre ter conseguido fingir calma muito bem, porque aquela mulher tava me assustando. Sério.

- É. Com Jake. Ele nunca sai de casa por vontade própria. Ele ta... Radiante!

- Sei lá! Hoje é aniversário do meu irmão. Viemos comprar um presente pra ele.

Amélia pareceu cair nessa de “compra um presente” e eu aproveitei para escapar justo quando Jared perguntou:

- 0nde vocês se conheceram?

- Somos primos. – Jake parecia completamente entediado. Sua expressão não denunciava nada além de uma pequena centelha de raiva e inquietação que ele lutava para reprimir.

- Primos? – Will se meteu, virando-se pra mim – Você não tem namorado?

Jake cerrou os punhos e eu me meti em sua frente respondendo com a maior aspereza que consegui:

- Tenho.

E foi aí que vi aqueles cabelos já muito familiares virando a esquina do corredor mais próximo.

- Luiza! – sussurrei para Jake. Demos uma desculpa qualquer para os três e disparamos para o estacionamento.

Aquele misto de esconde-esconde com polícia e ladrão estava hilário e preocupante ao mesmo tempo, visto que nenhum de nós conhecia aquele shopping direito (OK... Eu não conhecia NADA), mas encontramos o carro menos de dez minutos depois.

Rodamos um pouco pela cidade minúscula e enrolamos bastante para voltar para casa. Só quando o relógio do carro marcou onze horas decidimos realmente retornar. Gelei ao ver o fusca estacionado na frente da garagem. O que a Luiza estava fazendo ali?

- Cadê as compras? - ela perguntou, vindo nos receber no carro.

- Compras? – Jake perguntou com aquele tédio forçado na voz. Ele queria morrer?

- O cartão deu problema. – intervim antes que meu primo estragasse tudo.

- Cadê meu presente? – meu irmão apareceu berrando de dentro de casa. Eu não disse que ele ia cobrar?

Tive vontade de dizer que o presente era um chiclete mascado ou a conta das roupas que Jake e eu compramos, mas é óbvio que meu primo estragou a diversão.

- No porta-malas. – ele disse sem pegar a sacola e entrando na casa. Eu o segui enquanto Ed choramingava atrás de nós querendo ver o que receberia.

- Só mais tarde – falei já perdendo a paciência e o implicante começou a dar pití.

Era meio dia e meu irmão ainda não tinha calado a boca desde que eu dissera que ele não receberia o presente pela manhã.

- Ótimo! – ele se deu por vencido?! Vai chover canivete – Mas você ta desconvidada pra festa de hoje – ri involuntariamente – E o almoço não vai mais ser pizza.

- Como não vai ser pizza, meu filho? – minha mãe se meteu. Já era hora, né?

- É, eu mudei de idéia. A Zoey ta muito chata. – ele me mostrou a língua – Então vou querer comer crepe.

Tudo bem. Se eu tinha uma segunda comida preferida era crepe. Que venham os crepes!

- Tudo bem. – minha sogra... Droga! Minha tia anunciou. – Conheço o lugar perfeito. A comida é uma delícia e não é tão longe assim.

Fizemos a divisão de sempre dos carros apenas com uma mudança: Luiza e o namorado não queriam ir de fusca e pegaram carona no carro que eu usaria com Jake, que por sua vez ficou em silêncio o trajeto inteiro como se estivesse de luto.

Juro que minhas pernas ficaram bambas quando meu primo estacionou já tenso na frente do restaurante onde jantamos no dia em que começamos. O restaurante de Tom.

- Fica aqui! – ele mandou, sinalizando para mim como se eu fosse um cachorro e saiu.

Se a pronúncia mental do nome de alguém tem algum poder eu não sei, mas aquilo já era irritante demais. Ele sabia que eu estava aqui? Eu não sei, mas foi Jake descer (logo depois de Luiza e o namorado terem saído) que Tom surgiu ao lado da janela aberta do carro onde eu deveria esperar.

Por sorte (ou azar) ele não conseguiu dizer muito mais que meu nome, pois Jake surgiu por trás e quase jogou o infeliz no meio da rua.

Desci do carro às pressas indo para junto de minha mãe enquanto berrava junto com minha tia para que meu primo parasse com a confusão. Meu irmão chorava de medo seguido por Fred (cavardes) e Jake sangrava por causa de um soco dado por Tom em seu nariz.

Corri até lá com o vestido (inconveniente) esvoaçando, mas pouco me importando se apanharia ou pagaria mico. Segurei um dos braços de Tom e o torci num ângulo doloroso dando a Jake um tempo para respirar. Logo ele recuperou o fôlego e partiu com tudo pra cima de meu refém que caiu sem ar.

No meio da confusão uma multidão se formou em torno de nós enquanto Luiza e o namorado tentavam me ajudar a apartar a briga. O resultado foi um Ed choroso duas mães furiosas, um namorado arrebentado e um sujeito quase inconsciente nos braços de outros dois primos de olhos arregalados.

Agora a pergunta que não queria calar era: onde estava Fred?

- Fred! – chamei meu primo pela terceira vez enquanto contornava aquela quadra acompanhada por um Jake furioso. Nossas mães ficaram para ver se o achavam no restaurante enquanto Luke e meu irmão vasculhavam a redondeza com o carro e Luiza e o namorado esperavam na frente do restaurante na esperança de que meu primo aparecesse.

Nota mental: lembrar o nome do namorado da Luiza. Até lá... Vou chamá-lo de “namorado”. Ruim? Azar de quem lê. Brincadeira. Mas sim...

Continuei andando sem dar muita importância à rural velha que estacionou na frente de uma das casas quando o vidro do passageiro baixou lentamente expondo um banco rasgado com um encosto carcomido e um motorista... Não era um motorista qualquer.

- Tio?! – eu gritei ao mesmo tempo em que Jake berrava: - Fred! Você ta morto, moleque!

Meu outro primo apenas ria da fúria do irmão acompanhado pelo meu muitas vezes inconveniente tio Jared. Tentei me controlar.

- Que horas o senhor apareceu? – perguntei ao suposto palhaço.

- Pouco antes do Popó aí meter a mão na cara do amigo. Mas não tive como estacionar porque encheu de gente pra ver a briga.

- Ele não é nosso amigo. – Jake e eu falamos ao mesmo tempo.

Depois de esclarecidos os fatos, deixamos os dois engraçadinhos irem à frente se explicar pelo sumiço de Fred e pelo quase-enfarto de minha tia.

- Muito bem, agora me deixa ver direito esse rosto. – falei assim que perdi o carro de vista. Estava realmente preocupada com os possíveis estragos mesmo que seu nariz não estivesse mais sangrando.

- Eu to bem. – ele disse a contragosto, mas abaixou a cabeça para me deixar ver. Não estava inchado, o sangue que ainda faltava ser limpo secara e não parecia doer tanto.

- Que bom. – falei – Fiquei preocupada.

- E é só isso que eu ganho? – fingiu ficar triste.

- Quer apanhar mais? – brinquei.

Jake foi mais rápido; segurou-me pelos pulsos (ok, eu não ia bater nele de verdade) e me beijou de forma tão brusca que quase caí. Separamos-nos ofegantes e voltamos (devagar) para o restaurante, se bem que provavelmente teríamos que encontrar outro lugar pra comer.

Viramos a esquina e a expressão cuidadosamente moldada de meu primo se desfez assim que vimos a mãe dele montada no irmão. Tio Jared gritava enquanto servia de pangaré para tia Margareth e minha mãe (caramba, ela me mata de vergonha) tentava a todo o custo desmontar a irmã das costas do palhaço.

Graças a tudo o que há de bom a confusão foi contida, mas a essa altura o aniversário de Ed foi pro espaço. Acabamos por comer no primeiro McDonald’s que encontramos e comemoramos com um McFlurry para cada um.

Voltamos pra casa. Tudo o que eu queria era ficar sozinha até o cair da noite quando começariam a chegar os convidados (lê-se: o resto da família, o que não é pouca gente), mas com a sorte que eu tenho...

- Zoey! – minha mãe chamou pela segunda vez em meia hora. – Vá à doceria com o Jake e ajude ele a trazer o bolo e os docinhos. E não demorem! – ela gritou enquanto eu me afastava – Vou precisar de ajuda com os balões. Comprei cinco pacotes de 200 unidades pensando que eram de 100.

Revirei os olhos, mas fui. Sentei ao banco do carro agora tão familiar para mim e segui calada a viagem de carro inteira, apenas pensando. A família inteira estaria na festa e eu não poderia me isolar. Vieram à minha mente diferentes maneiras de sair às escondidas, porém nenhuma à prova de suspeitas. Não queria perguntas do tipo “Aonde você vai? Senta aqui com a gente” assim como não queria parecer grossa.

Por que eu queria ficar sozinha? Nem eu sei. A vontade veio do nada e tudo o que eu queria era um tempo pra mim. Sem irmão, sem primos, sem parentes até mesmo sem Jake. Procurava não demonstrar o quanto a notícia da volta às aulas antecipada me pegou de saia justa e frustrou meus planos de dois meses de pura diversão.

- Tudo bem? – Jake perguntou na volta já que eu não dissera nada o percurso inteiro e fizera questão de esperar no carro.

- Tudo bem. – respondi por fim.

- Você ainda lembra os nossos códigos?- ele perguntou mais para quebrar o silêncio que novamente se formara que para iniciar uma conversa.

- Piscar é “quero falar com você”, fingir espirrar é “não” e... Não lembro o resto – confessei.

- Acho melhor acabar com isso, então. A gente quase não usa e nas poucas vezes que a gente tentou causou a maior confusão essa brincadeira.

Brincadeira?! Era isso! Descobri como escapar do resto da família durante boa parte da festa e principalmente das perguntas nada discretas que certamente viriam da maluca da Mariana.

Voltei cheia de sacolas, mas com o ânimo renovado, pronta para pôr em prática meu plano. Tudo o que eu esperava era conseguir convencer um número aceitável de pessoas a aprovar a idéia sem levantar suspeitas.

Ajudei com a decoração exagerada da minha mãe e a casa ficou parecendo mais um parque de balões que uma festa de aniversário, mesmo assim deixei de lado a obsessão dela com enfeites e fui tomar um banho rápido, porém relaxante antes que a tropa que eu chamo de família resolvesse chegar.

Os primeiros convidados aparecerem antes mesmo de eu sair do banheiro. Ouvi as risadas de Ashley da suíte (e a porta estava fechada!), mas não me apressei. Se eu fosse sair daquele quarto seria relaxada. Só que não tive tempo de sair.

- Que bom que você ainda ta aqui. – Jake falou entrando sem bater e fechando a porta atrás de si. – Se eu tiver que ouvir mais uma palavra sobre o namorado da Ashley ou ver os dois se engolindo mais um segundo eu enlouqueço.

Ri da cara de desespero que meu primo fazia e aproveitando nossos poucos segundos a sós expus o plano que tracei cuidadosamente. É. Decidi incluí-lo; o coitado estava desesperado.

- Quer dizer que vamos propor um jogo de esconde-esconde? – ele recapitulou.

Assenti e ele continuou:

- Então convidamos os primos pra jogar e estabelecemos algumas regras...

- ...Como a de ter no máximo duas pessoas no mesmo esconderijo. – completei.

- Aí pegamos a bicicleta que ta jogada no canteiro na frente da casa e vamos à sorveteria.

- Aonde nunca vão nos procurar. – concluí.

- E voltamos uma meia hora depois como os grandes vencedores e propondo outra partida.

Eu sinceramente não havia pensado na parte da volta, mas gostei da idéia.

Saímos da suíte rapidamente e já tinha chegado mais gente. Cumprimentei as gêmeas, irmãs de Ash, que conversavam e gargalhavam tão alto quanto a irmã cujo paradeiro eu não sabia nem me dei ao trabalho de perguntar.

Falei com a parentada que já entupia a sala e chequei o número de crianças e primos mais novos. Razoável. A barulheira era tanta que tive que gritar para me fazer ouvir:

- QUEM QUER BRINCAR DE PIQUE-ESCONDE?

A maioria das mãos levantou e entre elas a de Ashley e a do namorado sem-graça dela, Daniel. Sacanas...

Ditei as regras e fomos tirar na sorte para ver quem contaria. Sobrou pro Fred. Resmungando ele concordou em contar até 100 meio devagar pra dar tempo de todos se esconderem conforme as regras e Jake e eu corremos para a calçada pegar a bicicleta.

Por sorte ninguém nos viu e meu primo pedalou até a sorveteria comigo na garupa. Largamos a bike ao lado de uma das muitas mesas vagas e meu acompanhante foi pedir as casquinhas (como sempre, eu pedira de limão).

- Aqui. – ele entregou meu sorvete.

- Qual o teu? – perguntei como quem não quer nada. Acham mesmo que eu não ia querer uma prova? Desisti assim que vi a gororoba verde que ele lambia por todos os lados.

- Menta. – ele respondeu depois de se certificar que não sobrou nenhuma parte intocada do sorvete. – Quer uma prova? – girou a casquinha na minha frente. NOJO!

- Não, obrigada. Aceita? – estendi o meu pra ele.

- Só se você pegar um pouco do meu depois. – ele sorriu sacana.

- Só se for depois. – apontei para a calçada não acreditando no que meus olhos viam.

- O que eles estão fazendo aqui? – Jake perguntou prestes a ter um ataque. Se a situação não fosse tão delicada eu teria rido.

Ashley e o namorado atravessavam a rua nada movimentada de mãos dadas, completamente alheios ao que estava ao seu redor, conversando e rindo. Jake me fez levantar num salto.

- O que foi? – perguntei confusa.

- Se eles descobrem sobre a gente estamos ferrados! – o cara tava com a macaca.

Fui arrastada por meu primo até uma porta não muito convidativa.

- Entra! – ele praticamente rosnou e eu, besta (e com medo), obedeci.

Aquele banheiro me dava ânsia, mas as gargalhadas de Ash indicavam que ela estava na sorveteria e adivinhem: na porta mais próxima daquele buraco mal-cheiroso que ousaram chamar de banheiro conforme verificamos pelo rombo onde era para ter uma fechadura.

Morrendo de nojo do lugar que cheirava a bicho morto, praticamente esqueci o sorvete. Jake, derrotado, jogou a casquinha dele no lixo e ficamos só escutando a conversa dos pombinhos enxeridos que atrapalhavam nosso plano e, acima de tudo, nossa noite.

- ...Não vou demorar. – ouvi a voz de Ashley, mas não entendi direito até ver minha prima se levantar da cadeira e dar uns três passos na direção do cubículo onde estávamos escondidos Jake e eu.


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Notas finais do capítulo

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