Vale Tudo escrita por Anna C


Capítulo 16
O Futuro É Logo Ali




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Narrado por Rose

Eu estava certa de que as coisas se ajeitariam com o tempo. A maior parte dos desentendimentos que haviam rolado no almoço de Páscoa estava resolvida ou, ao menos, caminhando para um desfecho. O meu problema especificamente estava numa posição intermediária. Por um lado, eu poderia namorar Scorpius sem ficar mais me escondendo. Por outro, eu sabia que ainda receberia alguns olhares tortos dos meus parentes, e talvez até de outras pessoas. Bom, nada disso importava. Eu tinha a impressão de que nós teríamos um futuro brilhante pela frente. Apenas a ideia de "futuro" era suficiente para manter o pensamento otimista.

Faltavam apenas alguns minutos para eu embarcar pela última vez para a escola. Meus pais, que conversavam comigo, já estavam mais tranquilos em relação às recentes notícias. Hugo havia conseguido se safar, mas ninguém estava vibrando com seu relacionamento. É, eu sabia qual era a sensação. Estavam sendo dias intensos para os Weasley.

– Rose – Hugo me chamou, olhando fixamente para algo atrás de mim.

Virei-me devagar e não contive o sorriso.

Scorpius me observava a uns dez metros de distância, com as mãos nos bolsos. Ele me pareceu irresistivelmente como um daqueles grandes astros do cinema trouxa, e aquele seu sorriso discreto que era tão "ele" me fez, naquele momento, me apaixonar mais um pouquinho pelo loiro. Ao mesmo tempo, começamos a caminhar em direção ao outro. Quando finalmente o alcancei, achei que o sonserino me abraçaria, mas uniu nossos lábios para um beijo inesperado. No primeiro instante, fiquei em choque. Depois, preocupada com o que os meus pais estariam pensando e com a reação dos demais. Por fim, mandei tudo para o inferno e me agarrei ao pescoço do garoto.

Ao nos separamos, Scorpius encostou sua testa na minha e me olhou nos olhos.

– Sabia que meu avô quase me matou? – seu tom era brincalhão.

Ele não falava sério – pelo menos foi o que deduzi.

– Bom, você está aqui e parecendo bem vivo.

– Agora, acho que o seu pai que quer me matar – ele olhava por cima do meu ombro.

Voltei-me ligeiramente para ver do que ele falava. Papai parecia que começaria a espumar pela boca, ou algo do tipo e mamãe o mirava com reprovação.

– Ele só precisa de um tempo para se acostumar com as novidades... – expliquei, dando um sorrisinho sem-graça. – Mas acho melhor maneirar nos beijos enquanto estivermos sendo observados.

– Desculpe, o que disse? – Scorpius se inclinou para me beijar novamente.

– Scorpius, pare – o repreendi, porém, meu tom autoritário era completamente estragado pelo meu sorriso de orelha a orelha.

De repente, o apito final para o embarque soou. Scorpius estendeu a mão para mim.

– Juntos?

Entrelacei nossos dedos firmemente.

– Juntos, sempre.

–x-x-x-x-

Durante a viagem, conversamos sobre nossos respectivos feriados. Encontrei-me aliava ao saber que, apesar de meio a contragosto, o Sr. Malfoy havia cedido e prometido não intervir. Seu caso era semelhante ao meu nesse aspecto, as ameaças de meu pai à parte.

Envolvida em seu abraço quente e aconchegante, deixei a cabeça repousar em seu peito. Pouco tempo depois, o ouvia ressonar, indicando que havia adormecido. Verdade, ele tinha um olhar cansado desde que o havia visto na plataforma, mas por alguma razão ignorei o detalhe até então. Quando relaxou seus braços, sua mão caiu virada para cima sobre a perna.

Prendi a respiração. Ali havia um corte de aspecto horrível atravessando sua palma e com toda certeza não estava lá antes do fim de semana. Até pensei em acorda-lo para questionar, mas logo percebi que ele teria mencionado se não fosse algo que queria esconder – ou evitar falar. Como já era previsto, uma onda de preocupação me atingiu.

Bom, algumas coisas talvez devessem permanecer incógnitas.

–x-x-x-x-

Narrado por Scorpius

O envelope em minhas mãos ficava cada vez mais amassado devido à maneira que eu o segurava. Estava encarando-o há vários minutos, senão há uma hora. Por sorte, ninguém havia entrado no dormitório para me encontrar naquele estado.

Eu estava com medo. E eu nunca tinha medo.

O selo que tinha o símbolo do Puddlemere United estava intacto e eu imaginava quando teria coragem para rompê-lo.

"Você pode fazer isso!" eu tentava me incentivar.

Cerca de duas semanas depois de retornarmos a Hogwarts, eu havia saído em um fim de semana – sem permissão, diga-se de passagem – e feito um teste para artilheiro.

Flashback

Não havia dúvidas de que eu possuía habilidade. Modéstia à parte, acho que nunca havia feito uma demonstração tão exemplar. Acertei a Goles nos aros e driblei os jogadores com a maior facilidade do mundo, nem eu próprio acreditava.

Quando fui conversar com o capitão do time, Simon Aspen, para receber o veredito, tive boas e más informações.

– Isso foi impressionante, Malfoy – o homem alto e corpulento que devia ter uns vinte e poucos me dizia.

– Obrigado – fiz uma leve mesura.

– Você tem talento e sabemos que é capaz, afinal, já foi capitão do time que jogava em Hogwarts... Porém, temos um pequeno contratempo – declarou Simon.

Franzi o cenho.

– E o que seria?

– Ouvi falar da sua trapaça em um jogo no início desse ano. Nós do United somos totalmente contra esse tipo de comportamento.

Senti como se tivesse levado um balaço no peito. O passado me condenava, as mentiras, aliás. Entretanto, eu havia feito aquilo por Rose e não voltaria atrás na minha palavra.

– Até lhe custou a vaga no time, não foi?

– Isso é verdade, senhor – concordei. – Porém, foi um erro que eu nunca devia ter cometido e que juro jamais cometer novamente.

– Falar é fácil.

Estava ciente de que minha expressão transmitia certa insegurança. Não havia maneira de provar que estava correto, simplesmente não havia. Porém, não podia desistir com tanta rapidez.

– Eu acho que... Que há pouquíssimas coisas que eu ame mais do que estar no campo, sentindo a adrenalina enquanto dou o melhor de mim em uma partida. Fui expulso do time e ver minha equipe jogar sem mim acabou comigo, os últimos jogos foram quase impossíveis de assistir. Eu daria tudo para estar lá, foi o que eu percebi. Tá, eu dei uma mancada das grandes, mas isso não quer dizer que não me arrependa. Eu só quero jogar, porque é o que faço de bom e o que gosto. Isso é basicamente tudo que eu desejo nesse momento, só preciso de alguém que acredite em mim.

Simon me encarou por um tempo de forma indecifrável.

– Obrigado por comparecer – foi dizendo. – Entro em contato em algumas semanas.

Fim do Flashback

Para mim havia ficado claro que todo o discurso não servira para nada. Eu realmente sentia aquilo, mas devia ter soado como um monte de blá-blá-blá.

Era difícil para mim. Agora que meu pai parara de fazer planos para mim, eu investira em algo que eu realmente queria. Mas havia uma enorme probabilidade de eu ter destruído minhas chances meses antes. No fundo, eu achava que já sabia disso, por isso, ninguém mais sabia sobre aquelas minhas expectativas para o futuro.

Inspirando fundo, puxei o lacre da carta. Agora, só faltava ver o conteúdo. Cheio de adiar as coisas, arranquei a folha de dentro do envelope e li as primeiras linhas.

Então, quer dizer que no fim Simon Aspen me dera uma segunda chance.

–x-x-x-x-

Narrado por Rose

Estávamos quase na segunda semana de junho, ou seja, os resultados das provas seriam no dia seguinte. Apesar de já ter uma vaga garantida no time de Quadribol Holyhead Harpies, havia me esforçado ao máximo para obter notas satisfatórias. Afinal, eu não seria jogadora para sempre.

– Sei que vai se sair bem – disse Enzzo.

Sorri e o fitei. Enzzo McKenzie sustentava um sorriso meio triste, não pude deixar de notar. Estávamos observando da beira do Lago Negro a Lula Gigante divertindo-se.

– O que foi, Enzzo?

Ele soltou um muxoxo.

– Nada não.

Ergui uma sobrancelha, descrente.

– Mesmo?

Enzzo suspirou.

Eu só pensei que, talvez... Sei lá.

Imediatamente, soube ao que ele se referia.

– Enzzo, eu sinto muito que alguém tenha feito aquela brincadeira de mau gosto no Dia dos Namorados. Eles são só um bando de babacas e você devia manda-los se ferrar!

O italiano riu.

– Você tem consciência de que eles são cinco vezes maiores que eu, não é? – de fato, Enzzo era tão fraco e mirrado, que devia pesar menos que eu.

– Bom, nesse caso, espere alguns anos e quando for o chefe deles, os faça pagar e se arrepender. Duvido muito que Mike Nott vá muito longe com aquele cérebro...

– O quê? – ele riu ainda mais e eu apenas dei os ombros. – Sabia que eu já tive uma quedinha por você?

– Por Merlin, isso é sério? – levei as mãos ao rosto.

– É sim, era tão improvável assim? Mas já tem alguns meses... Eu até confrontei o Malfoy depois daquele jogo em janeiro. Sabe, aquele que você me explicou tudo o que realmente aconteceu.

Sim, eu contara para Enzzo toda a verdade sobre absolutamente tudo. No fim, descobri que era bem melhor tê-lo como melhor amigo do que Kate – definitivamente.

– Mas relaxa! Eu já superei – Enzzo pareceu estar sendo sincero.

Levantei-me, estendendo-lhe a mão.

– Vamos? Já são quase seis horas, melhor voltarmos para dentro.

Ele aceitou minha ajuda para se por de pé e, com meu braço enlaçado ao dele, andamos de volta para o castelo.

Eu estava lhe contando uma piada idiota que Albus havia me falado mais cedo, porém, fui interrompida quando alguém veio de encontrão conosco. Papéis e livros para todos os lados. Agora, havia três pessoas caídas sentadas no chão.

– Que merda! Desculpem-me, eu sou tão desastrada...

– Roxy! – exclamei.

A morena ergueu os olhos para mim.

– E aí, Rose? Que bom que esbarrei em você, é um prazer te ver viva depois de... Você sabe – ela deu um risinho de nervoso.

– É – sorri – Roxanne, onde está indo com todos esses livros? Digo, as provas finais já acabaram.

Ela tentava equilibrar a pilha de material novamente nos braços com auxílio meu e de Enzzo.

– Eu sei, eu sei. Estou só vendo se encontro alguma solução para as brotoejas alérgicas que estão aparecendo no meu braço direito – dizia, ficando de pé.

– Você também? Bem, eu sei exatamente o que deve fazer. Já tentou pasta de losna? – sugeriu Enzzo.

Roxanne jogou tudo de novo no chão de um jeito dramático, colocando as mãos na cintura.

– Oh meu Deus! Não brinca!

Enzzo ficou assustado com ação da minha prima, mas sorriu.

– Verdade! E no dia seguinte, já sumiu tudo.

– Caramba, você salvou minha vida! Sabe, é insuportável ter alergia a frutos do mar e chocolate, porque eu simplesmente adoro e vivo me esquecendo de que não posso comer. Quem diria que camarão era um fruto do mar? Você sabia isso? Fiquei chocada. Frutos do mar me fazem inchar feito um baiacu e chocolate me deixa toda empipocada.

Enzzo arqueou as sobrancelhas em concordância.

– Eu sei precisamente o que você quer dizer. Teve uma vez que tomei um copo de leite sem saber e, olha, foi simplesmente traumatizante.

Os dois ficaram se olhando com certa fascinação, até o moreno dizer:

– Ah, eu sou Enzzo McKenzie, por sinal.

– Roxanne Weasley, - eles se cumprimentaram com um aperto de mãos. – prima dela. – A garota apontou vagamente para mim, mas nenhum dos dois me olhou.

– Acho que tenho um pouco da pasta no meu malão, se quiser. Você é da Grifinória também, certo? – Enzzo mais afirmou do que perguntou ao olhar a cor da gravata de Roxanne. – Posso aproveitar e te ajudar com todos esses livros.

Eu estava impressionada com a desenvoltura de Enzzo. Ele não gaguejava, nem estava tímido, era como se tivesse tomado um tônico especial ou coisa assim. Após recolherem tudo, me olharam.

– Tudo bem se eu acompanha-la, Rose?- vi que a apreensibidade de Enzzo continuava ali, ainda que bem mais branda.

– Imagine, pode ir – fiz sinal para que fossem em frente. – Nos falamos mais tarde – pisquei um olho.

Cheguei à conclusão de que aquilo não podia ser coincidência.

–x-x-x-x-

Narrado por Scorpius

– É isso aí, cara! Conseguimos – disse Mark lendo pela segunda vez minha carta de aceitação. – Conseguimos tudo que queríamos esse ano.

– E outras coisas que não prevíamos – comentei, deitado na cama.

Ele riu.

– Com certeza.

– Então, o que vai fazer quando tudo acabar?

Mark sentou-se na cama ao lado.

– Estou pensando em ir pro Profeta, ver se tem algo que eu possa fazer lá. Posso virar editor-chefe um dia, quem sabe.

– Meu amigo, de você não duvido nada.

Ele se arremessou de costas no colchão.

– Foi um ano e tanto, hein?

– Surpreendente, para dizer o mínimo – respondi.

Mark ergueu a cabeça levemente.

– Valeu, Scorpius. Quero dizer, de verdade. Por causa da uvinha e tudo mais, pela sua amizade.

Sorri.

– Eu que agradeço. Não acho que teria tido coragem para fazer metade das coisas que fiz se você não estivesse lá.

Ficamos um momento em silêncio e então, caímos no riso.

– Isso soou um pouco gay, não foi? – perguntei.

– É, totalmente, mas foda-se! Eu te amo, cara.

– Tudo bem se eu não disser nada de volta? Está pegando mal para minha reputação essa conversa.

– Você nem tem mais reputação, esqueceu?

– Putz, tem razão. Ah, tanto faz – cruzei os braços atrás da cabeça. – Não querendo parecer gay de novo, mas nós vamos continuar a nos ver quando o ano acabar, certo? Quer dizer, ainda somos melhores amigos.

Mark riu.

– Eu sou que nem merda grudada na sola do seu sapato. Não vou a lugar algum.

– Bela metáfora, Cooper.

– Estou dizendo, sou ótimo com as palavras. Tenho futuro no jornalismo.

– Ora, eu nunca disse o contrário.

–x-x-x-x-

Na semana seguinte, recebemos nossas notas. Rose e eu brincamos, apostando quem tiraria os melhores resultados. Sacanagem do destino ou não, ficamos com as mesmas notas. Exatamente as mesmas.

Tivemos as comemorações de encerramento do ano e, logo a seguir, o jantar de despedidas que antecederia a nossa volta para casa.

A Diretora McGonagall fez o discurso inspirador que fazia todo ano – eu quase já havia decorado após sete anos. Corvinal levou a Taça das Casas e Grifinória, a Taça de Quadribol. Não fiquei chateado, era merecido.

Todos pareciam agitados e alegres, menos a antiga "amiga" de Rose, Kate Smeath, que parecia não ver a hora de dar o fora dali. Mark e Dominique ficaram trocando olhares inapropriados sentados a suas respectivas mesas. O Potter parecia mais animado que de costume, conversando com um grupo de amigos grifinórios. O irmão mais novo de Rose e a outra Potter se falavam, cheios dos risinhos. Er... Ok, então. Por fim, ali estava ela. Minha namorada – há, eu podia chama-la assim agora. Apenas a ruiva mais fantástica do mundo, as outras que me perdoassem. Ela sorria para mim, um sorriso que dizia "Tudo está perfeito". Devolvi-lhe o sorriso.

De fato, eu não conseguia imaginar as coisas melhores do que estavam.



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Notas finais do capítulo

N/a: Ah, postei mesmo! Tava tudo prontinho aqui, pensei em aguardar mais uns dias, mas vocês merecem capítulo, hunf. Agora, só resta o epílogo, que por sinal é bem curtin... Detesto finalizar histórias, me dói que é uma coisa! Bom, despedidas deixo para a próxima. Ainda não é o completo fim. Eu não tenho intenção de fazer nenhuma continuação, mas acho que todos concordam que essa fic é melhor sendo a única.
Tenho ideias para outra Rose/Scorpius (será que um dia eu me cansarei deles?), todo mundo deve estar de saco cheio das minhas fics desse ship. Whatever. Provavelmente, vou escrever e postar HAUSHAUSHU' Descobri que é quase impossível voltar a escrever em 3ª pessoa - o epílogo foi uma triste tentativa. Sei lá, peguei o hábito de usar a 1ª pessoa e agora não consigo mais largar. (Eu ia fazer alguma piada besta agora, mas melhor ficar na minha.)
Não temam, queridos leitores... Para sua infelicidade, sempre estarei aqui escrevendo sobre a nova geração. Aww, my little babies *-*
Beijooooos!