Vale Tudo escrita por Anna C


Capítulo 15
Esqueça Romeu e Julieta




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Narrado por Scorpius

Estávamos no trem a caminho de casa, graças ao feriado de Páscoa. Eu não estava nem um pouco empolgado com isso – na verdade, nunca ficava, porque era um verdadeiro saco –, mas desta vez eu tinha um motivo em particular. Em algum momento nos próximos dias, eu seria deserdado e talvez até expulso de casa. Bom, talvez não o último item, mas com certeza eu não sairia ileso. Minha família descobriria que eu estava namorando uma Weasley e uma revelação dessas não acontecia todo ano.

Rose estava sentada ao meu lado, respirando toda afobada. Estávamos apenas nós dois naquela cabine. Fechamos as persianas para evitar olhares curiosos, mas eu estava certo de que algumas pessoas haviam nos visto entrando juntos. Bom, agora tanto fazia. Em breve, todos estariam sabendo mesmo.

Estranhei que Rose estivesse tão nervosa. Digo, mais nervosa do que eu. A garota estava uma pilha.

– Meu Deus, eu estou enjoada – ela disse, segurando minhas mãos com força.

– O que foi, amor?

Ela olhou para mim, sorrindo.

– Gosto que me chame assim – comentou, mas ainda estava com a respiração esquisita.

– Foi sem querer, quer dizer, foi meio que automático.

– Legal. Ah meu Deus... – ela exclamou novamente.

– Eu não entendo porque você está tão nervosa. Não era você que estava louca para que assumíssemos o namoro?

Ela balançou uma mão no ar como se estivesse apagando alguma coisa.

– Não é isso... Ok, eu vou perguntar e você vai achar idiota, mas... Por acaso, dá pra saber quando alguém não é mais virgem? Não sei, tipo, um sinal ou alguma coisa na cara, no jeito de andar, falar, comer...

Deu para ver quando prendi o riso, mordendo o lábio inferior para não cair na risada.

– Droga, eu sabia que você ia achar idiota.

– Não, não é idiota. É só que... Bem, respondendo a sua pergunta, não. Não dá para saber. A não ser que você diga ou, sei lá, o seu pai faça um exame de castidade em você toda vez que volta para casa ou algo assim.

– O quê? Não! Eca! Eu estou falando sério. E, além disso, não quero que meu pai te acuse de tirar minha pureza e inocência.

– Não tem como ele saber, você não precisa contar... Ah porra, você tá grávida? – arregalei os olhos. Agora eu que entrava em desespero.

– Não! Não estou!

– Ufa... – relaxei, afundando no assento.

– Por Merlin, Scorpius! Você não pode fingir ser um namorado compreensivo e me ajudar? – ela cruzou os braços, brava.

– Eu sou compreensivo. Ok, Rose, para todo mundo você ainda é o ser mais virginal que já pisou na Terra. Isso só vai mudar depois da sua lua-de-mel, quando os pais são obrigados a assumir que suas filhas não são mais puras e quando eles preferem acreditar que tenha sido a primeira vez delas.

Ela acenou positivamente.

– Certo. Lua-de-mel, tudo bem.

– Beleza, agora respira.

De olhos fechados, ela inspirou profundamente e depois soltou o ar demoradamente.

– Então, – Rose iniciou – quando vai contar?

– Na hora do almoço de domingo. Todos vão estar lá, então eu vou simplesmente dizer e acabar com essa história.

– Sim, eu também vou fazer isso. Pensei na mesma coisa.

De repente, alguém bateu na porta e a abriu parcialmente. Era Albus Potter. Cara, eu não gostava muito desse grifinório, ele me dava nos nervos.

– Estamos chegando – ele disse.

Olhei para a janela e, de fato, já era possível enxergar a estação.

– Está na hora, Rose – Albus ergueu as sobrancelhas.

– Tudo bem – ela lhe respondeu, se levantando. – Te vejo na segunda. Vai dar tudo certo – ela me deu um grande sorriso empolgado e um selinho.

– Isso nunca deixa de ser estranho. Tipo, é sério. – Albus fez questão de comentar.

– Vai se foder, Potter – mostrei o dedo médio para ele, que revirou os olhos.

– Scorpius, olha a boca! – minha namorada me advertiu e eu fiquei quieto, mas meio emburrado.

Depois que ela foi embora, não tive que ficar esperando por muito tempo. Logo, eu já estava tirando minha bagagem do lado de fora do trem e procurando por algum rosto conhecido na multidão da plataforma. Minha mãe se destacou dentre as pessoas, se aproximando com um sorriso caloroso e maternal.

– Scorpius, meu lindo, que saudades! – ela me envolveu num daqueles abraços de mãe. Daqueles que não se consegue sair.

Não que eu quisesse isso. Eu também estava morrendo de saudades, só era estranho demonstrar em público.

– Oi, mãe – eu sorri de volta quando ela se afastou. – Então, onde está o pai?

– Trabalhando. Mas ele vai se juntar a nós em casa. Ah, deixei-me ajudar com a mala... – ela se abaixou para pegar, mas a impedi.

– Não, mãe, você não precisa. Eu tenho dezoito anos e músculos, já posso carregar alguns quilos, sozinho.

Ela sorriu de lado, se dando por vencida.

– Está bem, tem razão... Aw, eu senti tanto a sua falta – ela deu um beijo estalado no meu rosto.

– Mãe! Não aqui... – comecei a ficar constrangido. Ela fazia de propósito, porque sabia que eu ficava daquele jeito.

– Nós podíamos desaparatar desta vez, não é? Você agora é tão adulto e tudo mais – ela estava zombando um pouco de mim, mas não fazia mal.

– É, por que não? – peguei a mala com uma mão e arqueei o outro braço para que ela o segurasse. – Milady?

– Que encantador – minha mãe riu e como num estalo, desaparatamos.

–x-x-x-x-

Narrado por Rose

Após todo o reencontro na plataforma, meus pais, eu e meu irmão fomos para nossa casa que ficava no subúrbio de Londres. Era sempre uma viagem de carro animada, cheia de piadas e conversas entusiasmadas. Dessa vez não foi diferente, porém, eu não participei muito.

– Lembram-se daquela música, certo? – meu pai perguntou para nós enquanto dirigia. Eu nem sabia de que música ele estava falando.

Para ser sincera, eu não fazia a menor ideia sobre o que haviam conversado o caminho inteiro, só notei a euforia costumeira.

– Eu não... – ia falando.

– Ora, vamos, Rosie! Você canta essa música desde os sete anos. – Minha mãe, que estava sentada num dos bancos da frente, se virou toda sorridente.

Dei de ombros.

– Desculpe, eu não estava prestando atenção.

Ela olhou um tempo para mim e depois para o meu pai, que se manteve atento à rua. Ela continuou sorrindo, mas era um sorriso bem menor.

– Estamos falando de "Necks To You", aquela música do cara meio-vampiro. Era a sua favorita.

– Ah sim, – eu ri tentando transparecer naturalidade, mas era mais por nervosismo. – eu me lembro. É claro que me lembro!

– Certo – ela arqueou as sobrancelhas e se endireitou no assento.

Eu senti que o clima havia ficado tenso entre nós por alguns instantes, meu estômago voltou a me incomodar.

– Estamos chegando? – perguntou Hugo, que sempre fora ansioso.

– Quase lá, campeão – respondeu meu pai.

Fiquei olhando o rosto da minha mãe pelo retrovisor lateral até chegarmos. Eu não sabia o que aquela expressão queria dizer, porém, era certeza de que ela estava reflexiva demais.

–x-x-x-x-

– Lar, doce lar – meu pai destrancou e abriu a porta para que entrássemos.

– Ei, deixa que eu penduro pra você – minha mãe pegou o casaco que ele havia acabado de tirar.

– Valeu – ele agradeceu, sorrindo para ela.

– Por nada – ela pegou a peça de roupa e deu um beijo rápido nele.

Eu e Hugo nos entreolhamos, fazendo as caretas de nojo que sempre fazíamos.

– Ron, faz um chá pra gente? – mamãe pediu.

– Claro – então, ele foi para a cozinha.

– Ótimo! Crianças, vocês...

– Eu tô indo pro meu quarto – declarou Hugo.

– É, eu também – eu disse rapidamente, indo em direção as escadas.

Subi antes que ela me chamasse de volta e entrei na minha fortaleza – que não era fortaleza alguma, qualquer um entrava e saía quando bem entendia. E foi o que aconteceu. Após umas duas horas, alguém bateu na minha porta e a entreabriu.

– Olá – era minha mãe.

Eu estava deitada na cama, lendo um livro qualquer para passar o tempo. Quando a vi, sentei quase que por reflexo e deixei o livro de lado, sobre a cômoda. Ela se acomodou a minha direita.

– E aí? – perguntou com um sorrisinho esquisito e suspeito.

Olhei para os lados, confusa.

– "E aí", o quê?

– O que você tem feito?

– Ah, não muito. Estudando basicamente, ano de N.I.E.M.s, sabe como é...

Ela ficou me encarando, talvez esperando por mais.

– Hã... E o que mais? – droga, era isso mesmo.

– Treinando muito Quadribol – eu dei um sorriso fraco, sentindo a testa suar. – Acho que podemos ficar com a Taça se a pontuação contra a Corvinal for boa. Quer dizer, aquele outro jogo – precisei engolir a saliva antes de continuar. – foi anulado. Aquele jogo... Desastroso.

– É, eu fiquei sabendo.

Concordei, parecendo um daqueles bonequinhos que ficam mexendo a cabeça descontroladamente.

– E... É só isso?

– Hum, é...?

Ela cruzou os braços, me encarando pensativa. Então, começou a apontar o dedo para mim.

– Tem algo de diferente em você.

Aquele Scorpius mentira para mim! Ela havia sacado, como podia ser?

– Não, não tem – respondi rápido demais.

– Tem sim.

Maldição! Era melhor assumir logo e implorar por clemência. Espere, por que eu pediria? A não ser que ela contasse ao meu pai, o que seria o meu fim. Então, era melhor eu implorar de qualquer maneira.

– Há! – ela berrou, me sobressaltando. – Já sei!

– Ok, ok! – eu gritei ainda mais alto. – Nós fizemos, mas foi só uma vez e eu usei aquele feitiço...

– Rose, filha, do que você está falando? – ela me interrompeu, não entendendo.

– Do... Não, espera. Do que você está falando?

– De se você ir para o Holyhead Harpies ser mesmo a decisão certa a fazer. Você estava tão quieta, achei que isso estivesse ocupando os seus pensamentos. Bom, não importa o que decida, eu e seu pai vamos apoia-la.

Suspirei, aliviada.

– Obrigada, mãe.

– Mas não era disso que você estava falando... – ela ficou desconfiada.

Porcaria, eu teria que rebolar para sair dessa.

– Pois é! – dei de ombros. – É que eu estava com um pouco de peso na consciência. Eu e uns amigos bebemos um dia desses – ai, caramba. Estava saindo sem que eu raciocinasse direito. – Eu sei, eu sei, que ideia idiota! Eu passei o maior vexame, foi terrível e... E eu pensei que talvez você tivesse ficado sabendo, não sei, talvez pelo Hugo. Pelo jeito não ficou, mas agora você sabe de qualquer jeito. Nem comente com o Hugo, porque só agora ele parou de me encher sobre isso. – Meu Deus, que mentira cabeluda mais nada a ver. Eu nunca faria... Espere, eu fiz isso de certa forma no Natal, minha situação era pior do que eu pensava.

Mamãe pareceu até que convencida, mas algo a prendeu.

– E que feitiço é esse de que você falou?

– Ah mãe, você sabe... – certo, nem eu sabia. – Aquele feitiço, que a gente usa pra aquela coisa...

– Pra... Ressaca?

– É! Isso! – bati na testa, como se fosse muito óbvio.

– Rose, não existe feitiço pra ressaca – ela estava incrivelmente séria. Adotei a mesma expressão que ela.

– Mas é claro que existe! Mãe, você está claramente desatualizada. Não querendo insultar sua inteligência nem nada, mas você devia pesquisar mais.

Consegui. Ela agora estava totalmente aflita com a possibilidade de não ser mais a bruxa mais inteligente de sua idade.

– Será que eu devia? Eu acho que mais tarde vou dar uma olhada nisso... – ela se levantou, indo até a porta. – Até depois, querida.

– Até – dei um aceno alegre para ela.

Nossa, essa fora por pouco. Meu Merlin, como eu sobreviveria pelos próximos dois dias?

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Narrado por Scorpius

Quando chegamos à nossa casa, minha mãe ficou parada, parecendo sentir o cheiro de algo.

– Sente isso no ar? É a colônia do seu pai. Ele voltou mais cedo – ela sorriu. – Aposto que está no escritório, porque não vai falar com ele? Eu cuido da sua... – ela tentou pegar minha mala mais uma vez e novamente eu neguei. – Tudo bem! Então, só deixei-a aí, pois Winston levará para o seu quarto mais tarde, pode ser?

– Aham – eu soltei minha bagagem.

Assim que falei, comecei a ouvir um latido.

– Luck! – eu agachei e abri os braços para o meu rottweiler, que reconheceu minha voz ao longe. Ele era um desses cães que parecem super ferozes, mas era apenas um grande bobalhão. – Sentiu minha falta? – eu fazia carinho nele, que continuava a latir, me saudando.

Minha mãe torceu o nariz, pois não gostava muito dele. Acho que ninguém naquela casa gostava muito, além de mim. Eu não ligava, me deixaram ter um cachorro, que lidassem com isso então.

– Vamos, Luck – bati na lateral da minha perna para que ele me seguisse e assim o fez.

Subi as escadas de pedra polida e andei pelos longos corredores. A maior parte das pessoas nos quadros de meus ancestrais estava cochilando. Dois ou três fizeram cara feia quando eu passei, porque eles simplesmente não conheciam outras expressões faciais. Ignorei, como sempre.

A porta do escritório estava aberta.

– Filho – ele exclamou, feliz em me ver.

Aproximou-se para um abraço – menos empolgado que o de minha mãe, ainda bem – e fez sinal para que eu me sentasse numa cadeira. Ele se sentou na poltrona verde-escura do outro lado da escrivaninha, ainda sorrindo. A respiração audível de Luck não permitia que ficássemos em total silêncio. De certa forma, era melhor assim.

– Eu achei que estava trabalhando – comentei.

– É, mas liberaram todos mais cedo no Ministério. Véspera de feriado, entende?

Fiz que sim com a cabeça.

– Bom, e como vão as coisas? Alguma... Novidade? – meu pai tinha um tom de voz incomum.

– Eu acho que não, nada de muito importante – pigarrei ao fim da frase.

– Muito bem – ele se levantou e começou a andar de um lado para o outro atrás de mim. – Espero que, se você tivesse algum problema, já tenha resolvido.

Virei-me ainda sentado.

– O que te faz pensar que eu tinha algum problema?

Ele deu um sorriso astuto. As palavras "Fique atento. Você ainda é um Malfoy." vieram à minha mente quase que imediatamente.

– Filho, se quer saber, eu acho que Adivinhação é uma matéria completamente inútil. Essa história de clarividência... Eu simplesmente não acredito muito. Porém, há alguns momentos em que um homem tem uma intuição. Não é necessariamente uma previsão, apenas um pressentimento de que algo está errado...

Eu sabia aonde ele queria chegar, conhecia essa sua maneira de falar. Logo, o tópico se voltaria para mim.

– E, às vezes, pressentimentos são apenas pressentimentos... – ele deu de ombros, erguendo uma sobrancelha. – Mas, às vezes, o homem acerta – ele bateu a mão no encosto da minha cadeira para me provocar um susto, porém, sem sucesso.

– Bem, eu não poderia ter menos noção sobre o que você está falando, pai – me fiz de desentendido, dando o meu melhor sorriso inocente. Fazia tempo que eu não usava aquele sorriso, então estava meio enferrujado.

– Não mesmo, Scorpius?

– Sinto muito.

Ele inspirou fundo, decepcionado. A sua decepção sempre conseguia me atingir. Fiquei com uma sensação desagradável por dentro.

– Não, eu que sinto.

Parei de olha-lo presunçosamente e baixei a cabeça. Eu não diria nada, não agora.

– A viagem foi longa, vá descansar um pouco – ele sugeriu, dando dois tapinhas no meu ombro.

Chamei Luck e fui para o meu quarto. Tudo estava exatamente onde eu havia deixado. Joguei-me sobre a cama e Luck aconchegou-se aos meus pés na beirada. Peguei a minha velha Goles debaixo da cama e brinquei de joga-la para cima, de forma totalmente débil. A vida na mansão era tediosa. Ao menos, quando eu não tinha visitas. Era muito espaço para tão poucas pessoas e muito pouco lazer para um adolescente como eu. Olhei para o lado e vi um pedaço de pergaminho velho e uma pena sobre o criado-mudo.

Rose. Eu queria que ela estivesse comigo naquele momento. Ela provavelmente odiaria o lugar. Mas talvez o transformasse em algo bem mais confortável. Eu não sabia, teria que trazê-la um dia para descobrir.

"Oi, R.

Isso está sendo tão torturante para você como para mim? Eu odeio isso. Meu pai está desconfiado e, para melhorar, fez aquela cara de decepção. Sabe como acaba comigo. Você acha que ele ainda vai me considerar seu filho depois que eu contar tudo?

Não deveria ser grande coisa, nós só estamos apaixonados! Os outros não deveriam estar torcendo por nós? Com a gente, tudo é o oposto do que devia ser. A culpa é desse seu sobrenome! E do meu, é claro. Deixe pra lá, não importa de quem é a culpa.

Estou contando os minutos para isso acabar... E para te ver. Já quero te ver de novo.

Eu te amo,

S."

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Narrado por Rose

"Querido S.,

Você definitivamente não é o único. Eu só quero que seja manhã de segunda e que estejamos no trem de novo. Quase dei com a língua nos dentes antes da hora e pus tudo a perder. Detesto essa situação.

Você não devia se torturar tanto por causa da desaprovação do seu pai. Ele te ama, apesar de tudo, e vai continuar amando mesmo depois que isso terminar. Acho que muito disso é só coisa da sua cabeça... O que você precisa entender é que não está fazendo isso só por mim, mas por você mesmo.

Eu amo você, lembre-se. E boa sorte.

R."

Quando mandei minha resposta pela coruja, já passava das dez da noite. Enquanto voltava para o quarto, flagrei papai dormindo no sofá. Sorri. E o meu pai? O que ele acharia de mim após a minha revelação? Só esperava que não me tratasse diferente. Pelo menos, não para sempre.

–x-x-x-x-

O sábado passou voando. Foi até mais rápido do que eu gostaria. Apesar da minha ansiedade, eu gostava de aproveitar os meus últimos momentos como Rose-perfeita-que-não-faz-nada-de-errado-Weasley. Ela agora era passado, e eu preferia assim. Gostava mais da pessoa que havia me tornado no decorrer daquele ano.

Meu pai, eu e Hugo jogamos um pouco de Quadribol de manhã. Foi como nos velhos tempos e eu fiquei imaginando quando teria uma oportunidade daquelas de novo depois que me formasse dali a umas dez semanas. Depois disso, à tarde, fiquei discutindo os livros que havia lido recentemente com minha mãe na biblioteca. Ela defendia suas ideias com tanta energia que era até contagiante. Ao fim do dia, jantamos uma refeição que ela havia queimado. A elogiamos mesmo assim, como de costume. Ninguém nunca teve coragem de dizer à mamãe que ela não tinha dom para culinária.

Subi para o primeiro andar e joguei um antigo jogo de tabuleiro com Hugo. Quer dizer, nem nos lembrávamos das regras, por isso, foi uma verdadeira bagunça e não teve vencedor. Não tinha problema, havia rendido umas risadas. Então, fui me deitar.

Fiquei me revirando na cama incansavelmente, achando que nunca dormiria. Quando já estava certa de que poderia amanhecer a qualquer segundo, adormeci.

Sonhei que aquele dia se repetia sem parar e que os problemas nunca me alcançavam. É, era só um sonho.

–x-x-x-x-

No domingo, fomos todos muito bem vestidos para a casa dos meus avós. Acabamos sendo os primeiros a chegar, graças à pontualidade infalível de minha mãe.

Eles nos encheram de carinhos e ovos de Páscoa como em todos os anos, não importando se eu já era maior de idade. Afinal, eu ainda era sua netinha querida – porém, talvez não por muito tempo.

Não demorou muito e mais um grupo havia chegado.

– Hey, Rosie, como vai? – tio-chato-aperta-bochechas nº1, também conhecido como tio Percy, me cumprimentou. Eu podia jurar que minha cara ficava mais elástica toda vez que ele aparecia.

– E como vai a sobrinha preferida da tia Audrey? – tia-chata-aperta-bochechas nº2 era mulher do tio Percy. Mas que casalzinho...

Molly, a filha mais velha, era muito quieta e só acenou para mim com a mão. Lucy, a mais nova de dez anos, arrancou o laço branco da cabeça que combinava com seu vestido de babados assim que os pais sumiram de vista, e até o pisoteou. Ela era exatamente o oposto de todos eles.

– Oi, Rose – ela disse num tom entediado. Eu a compreendia.

– Oi, Lucy – sorri e ela devolveu um sorriso pequeno.

Depois deles, apareceram tio George e o pessoal, que salvaram o clima. Tia Angelina era sempre muito simpática e me deu outro ovo de chocolate. Meu primo Fred estava exibindo seu corte de cabelo novo e apresentando suas ideias revolucionárias para a loja do pai. Por fim, Roxanne sempre atrapalhada, estava contando a todos sobre um acidente que tivera com um explosivim na semana anterior. Ela tinha até as marcas para comprovar.

– Nossa, isso deve ter doído – fiz uma careta ao ver as queimaduras.

– Oh não, eu tinha me entupido com uma poção indolor mais cedo, então, eu não senti praticamente nada – ela ria de si.

Tio Bill chegou com o maior grupo. Tia Fleur estava linda como sempre e cumprimentava a todos com elegância. O pequeno Louis era totalmente adorável e educado. Dominique não estava aí para nada e não olhou para cara de ninguém além dos meus avós antes de subir para um dos quartos, para ficar sozinha. Típico. Victoire e Teddy expunham seus anéis de noivado para quem quisesse ver e praticamente só conseguiam falar sobre o casamento.

– Marcamos a cerimônia para Agosto – Teddy dizia.

– E esperamos que todos estejam lá – Victoire deu um riso, mas depois ficou fatalmente sisuda. – Estou falando sério, é melhor estarem lá.

Teddy riu, constrangido.

– Não se preocupe, meu bem. Eles estarão, hehe.

Ui, noivazilla à solta.

Tio Charlie chegou acompanhado de uma moça loira, alta e bela, com sotaque forte. Possivelmente, sua mais nova namorada da Romênia. Ela era legal, sem muito a declarar.

E, para concluir, os únicos Weasley que não eram Weasley bateram na porta. Os Potter. A primeira coisa que reparei foi no olhar que Lily e Hugo trocaram. Talvez, se alguém tivesse visto, tivesse suspeitado de algo. Mas não, tinha sido apenas eu. James chegou já zoando para todos os lados. Tia Ginny me abraçou e me prometeu que mais tarde daria algumas dicas em relação ao Holyhead Harpies, pois ela própria já jogara no time. Tio Harry, o melhor padrinho de todo mundo, veio logo falar comigo.

– Relaxa, Rose. Você vai sobreviver até o fim do dia, eu juro – ele devia ter visto a agonia no meu rosto que ninguém mais notara. O motivo por trás dela, isso ele não sabia.

– Eu espero que sim, mas talvez você não deva jurar. Só por precaução.

Tio Harry me encarou, levemente desconfiado e por fim, riu.

– Ai, Rose, você é engraçada – ele deu uma bagunçada nos meus cabelos e foi procurar meu pai.

– Oi, Rose – alguém disse atrás de mim.

– Albus! – eu o abracei, o que o pegou de surpresa.

– Nervosa?

– Desesperada! Mas como você está?

– Bom... Levando.

Ele ainda estava chateado com a história da Kate, apesar de já fazer algumas semanas que ela fora suspensa – ela já havia até voltado a frequentar as aulas. Segurei sua mão, comprimindo os lábios.

– Me ajuda a me preparar? – pedi.

– Ajudo sim – ele deu um sorriso.

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Narrado por Scorpius

Alguém havia posto música clássica, tocada pela Orquestra Sinfônica Mágica de Moscou ou algo assim. Era sempre o mesmo tipo de música soando ao fundo, enquanto tínhamos o almoço de Páscoa. Tente suportar isso por dezoito anos.

Meu pai e minha mãe ficavam nas pontas da mesa, pois agora eram os anfitriões. Todos estavam posicionados de acordo com alguma frescura de etiqueta, inclusive eu, que estava praticamente no centro.

Winston, o mordomo – não tínhamos mais elfo doméstico desde a abolição da escravidão élfica (se não me enganava, a mãe de Rose tinha algo a ver com ela) –, servia o banquete. Era sempre mais comida do que podíamos comer. Meu pai e meu avô falavam sobre alguma coisa relacionada ao Ministério. Eu até tinha ideia do que se tratava, mas preferi não argumentar. Sempre sobrava para mim.

De repente, senti algo gelado acertando meu rosto. Limpei e vi que se tratava de molho branco. Ergui os olhos para a peste da minha prima mais nova, Sylvia Haloway, filha da minha tia Daphne. Aquela garotinha desprezível sorria maleficamente. Respondi com uma cara de desdém. Teria feito algo mais expressivo, mas alguém poderia reparar.

– Então, o Scorpius parou de bancar o grifinório? – ouvi vovô Lucius dizer. Já não podia mais ignorar a conversa.

Meu pai riu, como se disfarçasse algo.

– Ora, Scorpius não tem nenhuma qualidade de grifinório. No máximo, seus instintos falaram mais alto naquele dia...

– O que aconteceu? – minha avó Narcissa indagou, preocupada.

– Aquele paspalho do Hagrid deixou um erumpente entrar na escola. Aquele lugar está definhando, Narcissa... E você acredita que o seu neto se colocou na frente de uma mestiçazinha, aliás, uma Weasley, para salva-la daquele bicho? Você acredita nisso? – disse meu avô.

Vovó pôs a mão sobre o coração, me olhando extremamente atordoada.

– Você poderia ter morrido! Meu Deus, Scorpius...

– E por absolutamente nada. Teria sido um favor se o animal tivesse a atacado.

Quebrei o copo que segurava, espalhando cacos de vidro pela mesa. Eu sentia minha mão arder. Imaginei que estivesse sangrando, mas não conseguia desviar o olhar mortífero que direcionava ao meu avô para ter certeza.

A mesa ficou em absoluto silêncio por alguns segundos e até minha prima insuportável ficara assustada.

– E-eu vou buscar toalhas – disse o mordomo.

Vovô Lucius começou a dar uma risada.

– O que é isso, Scorpius?

– Vovô... Eu acho que você deveria ficar quieto agora.

Meu avô parou de rir e olhou para o meu pai, em busca de auxílio.

– Filho, o que você está fazendo?

Não consegui olha-lo por muito tempo, então comecei a fitar minha mão sanguinolenta. Relaxei o aperto no copo, mas minha expressão era ainda de ira. Eu estava furioso, extremamente.

– Eu não quero que fale assim dela – eu disse, firmemente. – Eu nunca mais quero que ninguém fale assim de Rose Weasley! – meu tom era exageradamente imperativo. Eu sentia as veias das têmporas pulsarem e o meu rosto ficar vermelho e quente por causa da raiva.

Vovô recomeçou a risada de deboche.

– Não acredito! O pequeno Scorpius está apaixonado por uma Weasley! Oh Deus – ele teve que parar para recuperar o fôlego. – Isso é simplesmente um disparate! Esperem – ele se ergueu com alguma dificuldade e ajuda da bengala. Levantou sua taça de vinho para mim. – um brinde ao amor jovem. Tão comovente e tão poderoso. – Levou a taça aos lábios e deu um gole. – Isso está uma delícia, Draco. É um Château Latour, 1961?

Levantei-me também, ainda sem encarar ninguém e apoiando as mãos na mesa.

– Você pode usar todo o escárnio que quiser – eu disse. – É só um velho triste – finalmente, ergui o rosto para olhar para cada um à mesa – Se vocês têm um problema com ela, então também têm um problema comigo. E se você, pai, – ele era o mais difícil de olhar. – está desapontado... Bom, eu nunca pedi esse sobrenome que carrego pra começar.

Levei o guardanapo de pano para limpar a mão ao deixar a mesa. Enquanto subia as escadas, já podia ouvir os gritos de fúria.

Eu sabia que seria terrível. Agora, só me restava esperar no meu quarto até que fosse a hora de ir para King's Cross.

–x-x-x-x-

Narrado por Rose

De repente, tive essa sensação horrível de que tudo iria pelos ares. Todos comiam, riam e falavam sem parar.

– Me passa os sapos cozidos?

– E foi quando eu disse: se não quer ajuda, então que o lobisomem te devore!

– Terça-feira, passei na casa dela e ela estava com uma cara terrível... Estou falando sério!

Ficava procurando o momento certo para falar, mas a verdade é que não havia.

– Pessoal, por favor! – papai batia numa taça com um garfo para chamar a atenção de todos. – Eu tenho um comunicado... – estranhamente, todo mundo se calou para escuta-lo. – Tenho orgulho em dizer que minha filha mais velha, Rose, monitora-chefe e capitã do time da Grifinória, estará até o fim do ano jogando com os profissionais na Liga Internacional, pelo Holyhead Harpies!

Gritos de viva e aplausos vieram de todos os cantos. Eu estava roxa de vergonha e sorria acanhadamente.

– Bem, - eu estava incerta do que dizer. – eu fiz alguns testes no meio do ano passado e recebi uma carta de confirmação há uma semana. Uhul! – agitei os braços no ar, feito uma idiota. Todos bateram palmas. – E eu estou namorando Scorpius Malfoy – disse a última parte mais baixo e rapidamente, e me apressei a pegar meu copo de suco para beber.

Os sorrisos começaram a se desfazer um a um.

– Desculpe? Rose? – minha mãe recuperava o sorriso, como se eu tivesse feito uma piada que ela não entendera.

Pousei o copo de volta na mesa, percebendo os rostos confusos e chocados ao meu redor. A ausência de som não era nem um pouco motivadora.

– Sabe, na verdade é uma história engraçada! – eu comecei a rir sozinha. – Lá estava eu, lá estava ele... Vocês sabem, nós dividimos a mesma sala comunal e fazemos rondas de monitoria juntos. Eu o detestava profundamente, ele queria ser melhor que eu em tudo! Isso era muito irritante. Bom, daí teve o firewhisky... Aquilo foi completamente humilhante. M-mas não aconteceu nada! Eu sei que soa estranho, mas... Enfim... – sorri mais uma vez, como se tentasse resgatar o restinho de simpatia que tinham por mim. – No Ano Novo, nós... Nos beijamos, o que foi totalmente e imprevisto e...

– Que romântico – Dominique comentou, para piorar minha barra.

– B-bom, – retomei, sentindo as mãos tremerem sobre o colo. – eu fui muito mal no último jogo contra a Sonserina. E quando eu digo mal, quero dizer uma catástrofe! E ele mentiu para todos porque senão a minha carreira nem iniciada como jogadora seria provavelmente arruinada. Eu nem havia pedido isso a ele, fez simplesmente porque quis. Ele é bom, sabem. Tentou salvar a minha vida quando um enorme e perigoso animal invadiu a festa de ex-monitores. Vocês viram! – olhei para meus pais e para os meus tios que estavam presentes naquele dia, procurando alguma confirmação. – Ele foi tão corajoso. E, sabe, - olhei apenas para o meu pai. – ele me deu um presente: um jogo lindo de xadrez, pai. Eu tenho certeza de que você vai querer ver. Todas as peças são esculpidas no cristal, é demais. Bom, em resumo, estamos namorando há alguns meses e... Eu achei que quisessem saber.

As expressões de praticamente todos eram exatamente iguais. Eu não sabia se aquilo era desprezo ou apenas o abalo do momento. Parecia que queriam me punir com seu silêncio.

– Ok, você me deve uma – Dominique se levantou. – Eu estou namorando o melhor amigo dele – ela deu de ombros, com um sorrisinho irônico. – Ele é um sonserino e dos bem malvados. Que tal, papai? – ela ergueu as sobrancelhas para o tio Bill.

Os burburinhos iniciaram.

Senti Lily apertar meu braço antes de se pôr de pé também. Meu foco foi de Dominique para ela, eu não entendia o que a ruiva estava fazendo.

– Certo – ela fechou os olhos com força e inspirou fundo. – Eu estou saindo com o meu primo.

Oh mon Dieu! – Fleur olhou horrorizada para o filho de onze anos.

– Ele não! – Lily levou a mão à testa.

Fred ergueu os braços em rendição.

– Não olhem pra mim.

– Caramba, ele! – Lily disse, apontando para o meu irmão. – Aquele Weasley!

– Mas que merda, Lily – Hugo reclamou, tentando esconder o rosto com uma mão.

– Tudo bem, já que geral resolveu confessar algo, eu também quero dizer que... – James se levantou assim como as outras duas. – O Albus , - ele colocou uma mão sobre o ombro do irmão. – finalmente se encontrou e quer muito que vocês conheçam o Juan Pablo, pois eles estão pensando em adotar um bebê e comprar uma casa em Porto Rico.

– Ah, vai se foder, James!

Basicamente, virou uma zona depois disso. Eram berros de todos os lados, eu não conseguia nem pensar com clareza. De repente, senti que estava sendo observada. Eram mamãe e papai. Minha mãe tinha um olhar decepcionado e meu pai... Eu achei que fosse me jogar um Avada Kedavra.

– Precisamos conversar – ele disse secamente. – Você é o próximo! – dirigiu-se a Hugo que até encolheu a mão que usava para cobrir o rosto.

A última coisa que vi acontecendo na sala foi tia Ginny tentando socorrer tio Harry, que estava engasgando com um pedaço de frango.

Fomos até o quarto que havia pertencido ao meu pai quando ele era menor. Ao fechar a porta, os encarei, receosa.

– Então...

– Você mentiu – minha mãe foi a primeira a falar.

– É, menti, mas eu nunca gostei de fazer isso.

– Não muda o fato de que inventou mentiras.

– Tudo bem, e o que você queria que eu fizesse? Vocês odeiam os Malfoy. Ele – apontei para papai. – me incentiva a odiá-los desde que nasci. Se eu aparecesse aqui com o Scorpius, vocês teriam lhe jogado uma maldição imperdoável, ou sei lá!

– Nunca faríamos isso – ela ia dizendo.

– Talvez, eu fizesse – papai se pronunciou.

– Ronald!

– Inaceitável! Anos e anos, o desprezando... Eu não entendo, Rose. Você era tão ajuizada e esperta, de repente, está se associando a um Malfoy...

– E o que importa o sobrenome? - eu falei, com o rosto ficando ensopado. – Não quero dar uma de Julieta, nem nada, mas...

– Pera, quem é Julieta? - ele me interrompeu, olhando para sua esposa.

– É de um conto chamado "Romeu e Julieta", de William Shakespeare – ela respondeu, impaciente. – Duas famílias nutrem um ódio mortal pela outra, mas os filhos se apaixonam, se casam, consumam o casamento, são separados e no fim se suicidam por amor.

– Wow – ele ficou levemente impressionado. – Que drama.

– Pai, eu não quero ser uma Julieta – eu disse por fim. – Não estou dizendo que vou me matar se você não concordar com o nosso namoro. Só estou dizendo que gostaria que a minha história não tivesse um fim trágico. Olha, não estou nem te pedindo para gostar do Scorpius, apesar de que eu acho que vocês poderiam se dar bem se colocassem as diferenças de lado. Eu superei minha rixa com ele, talvez você também devesse deixar o passado pra trás.

Mamãe me olhou de forma terna e preocupada. Veio até mim, me envolvendo em seus braços.

– Ron, ela está sendo sincera. Veja o rosto dela – ela ergueu meu queixo. – Rose ama esse rapaz.

Papai ficou olhando de uma para a outra, de cenho franzido. Então, pareceu que a luta que travava dentro de si teve fim.

– Tá, tá, que seja... – ele agitava as mãos no ar, meio desdenhoso.

Não importava se ele não parecia muito contente. Um sorriso enorme se espalhou pelo meu rosto e eu olhei para minha mãe, sentindo-me iluminada.

– Mas! – ele veio logo dizendo. – Na primeira mancada, no primeiro pisar de bola com você, eu o mato. De verdade, mas antes o castro. Não ligo se vou pra Azkaban, esse rapaz vai ser fatiado em pedacinhos e jogado pros cães comerem.

Engoli a seco.

– Nossa, isso foi um pouco perturbador, pai.

O homem ajeitou a gravata no pescoço.

– Seria merecido. Aliás, eu faria isso agora mesmo, mas prometo tentar controlar meus impulsos.

Eu sabia que ele estava se esforçando para levar tudo numa boa, por isso, sorri para ele.

– Obrigada, papai – o abracei fortemente. Ele suspirou, exausto, afagando os meus cabelos.

– Agora, que história é essa do Hugo com a Lily? E quem é esse Juan-das-quantas de quem o James falou?

– Ih, longa história...

–x-x-x-x-

Narrado por Scorpius

Fui ver quem batia na porta do meu quarto, de mau humor. Eu não tinha vontade ver ninguém que morasse naquele lugar ou que estivesse durante o almoço.

– O que você quer? – questionei, abrindo e só então vi Draco Malfoy ali, esperando.

Ele fez um aceno com a cabeça pedindo licença para entrar. Luck rosnou e eu o mandei ficar quieto.

– Eu sabia que era isso, antes mesmo de você dizer. Bom, não podia esperar que eu ficasse satisfeito com essa história – ele massageava as têmporas.

– Não estou pedindo nada, pai – revirei os olhos.

– Então, o que quer de mim? – ele perguntou, excedendo um pouco o tom de voz.

– Eu não sei, talvez que você tire essa cara de "pai frustrado" que você faz toda vez que algo não sai como você planeja. Fui um filho exemplar até o começo desse ano, mas minha vida era uma droga. Eu fiz toda porcaria de coisa que você queria que eu fizesse. Por que eu não posso ter um momento pra mim, mas um de verdade?

– Desculpe, é simplesmente impossível eu gostar disso – meu pai balançava a cabeça, indignado.

– Você não tem que gostar! Já está rolando e não vai parar por sua causa. Só é muito injusto que a sua opinião importe tanto para mim, e você não esteja nem aí desde que nada saia do seu controle.

Ele realmente odiava o que eu estava fazendo, isso era nítido. Mas então, pareceu inquieto.

– Nunca quis que você se sentisse assim. Eu achei que... Que você queria essas coisas também. Que nós tínhamos os mesmos princípios e...

– De certa forma, sim. Mas eu não vou mais fazer parte dessa sua "vingançazinha" de primeiro ano. Já deu. Se você ainda tem algum ressentimento, não é minha culpa! Eu realmente achei que o filho que devesse ser o imaturo da história...

Então, apareceu esse olhar diferente. Era um olhar compreensivo, o qual eu raramente via vindo do meu pai.

– Você gosta mesmo dessa garota, não é?

– Não, pai. Eu a amo.

Ele ficou surpreso com a resposta e me fitou com seriedade.

– Eu não estou dizendo que acho certo, muito menos que concordo... Porém, se o meu filho único não consegue descansar em paz só porque eu não dei minha aprovação, acho que em algum momento lá atrás eu exagerei.

– É, exagerou.

Deu de ombros, derrotado.

– Faça o que quiser.

– Como assim?

– Fique com a garota, se é isso que deseja! Eu não vou estar aplaudindo na arquibancada, mas não vou te censurar. Você já tem idade pra saber o que quer e estou cansado de discutir. Só, de forma alguma, arranje um encontro de família ou qualquer coisa parecida. Jamais.

– Você quer dizer que... Não vai me deserdar?

– Por ora, não. A menos que você esteja escondendo mais alguma coisa – ele semicerrou os olhos. – Nesse caso, eu não me responsabilizo pelos meus atos.

– Nem me expulsar de casa? Jogar alguma azaração em mim?

– Scorpius, falta muito pouco pra minha paciência acabar, você devia tomar cuidado.

– Desculpe.

– Afinal, o que essa Weasley tem de tão especial? Por que logo ela?

Sorri, pensativo.

– Eu não sei, pai. Essa é uma daquelas coisas que não fazem o menor sentido, mas que não poderiam ser de outro jeito.



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Notas finais do capítulo

N/a: Bom, não sei se gostaram do capítulo, mas quanto ao tamanho, não dá pra negar que eu me esforcei. Claro que quantidade nem sempre equivale à qualidade, só espero ter atingido suas expectativas. O fim da fic está próximo, sendo que o último é mais um epílogo curtinho. O próximo não será muito extenso, mas eu o considero necessário e prefiro separá-lo do 17 ainda que fiquem dois pequenos.
Anyway, é só isso. Devo postar o próximo em algum momento da semana que vem, mas me digam sua opinião sobre esse antes de mais nada ;)
Beijooooos!