Ruki POV

            Fazia já três semanas desde que eu começara a estudar no colégio de Reita.

            Três semanas se passaram desde que o vi pela primeira vez, que vi seu sorriso, que toquei sua pele, que beijei seu rosto.

            Mesmo depois de tanto tempo, eu ainda lembrava de quando havia juntado coragem para me aproximar dele e depositar um beijo tímido em seu rosto.

            Claro que depois a coragem evaporou tão rapidamente quanto veio e corri para casa sem nem olhá-lo nos olhos.

            Lembro-me do susto que mamãe me dera, perguntando quem era meu novo amigo que eu havia acabado de beijar.

            Foi no mesmo dia que contei a minha mãe que havia terminado com Kyo e ela me enchera de perguntas preocupadas.

            Mas Kyo já era passado para mim. Ele não tentara mais nada desde o incidente com Reita.

            Essas três semanas foram muito divertidas. Estava cada vez mais amigo de Reita. E de Aoi e Uruha também. Era divertido ver Aoi ter que descolar Uruha de mim para poderem namorar e para salvar Kouyou das ameaças de morte de Akira.

            A intimidade já era tão grande, que eu já podia chamá-los pelo nome, e vice-versa. Ainda sinto as bochechas esquentarem quando Reita me chama gentilmente de “Taka”.

            Terminei meu chocolate quente e após deixar a louça na pia e pegar minha mochila, dei o matinal beijo em minha mãe e saí para a escola.

            Todas as manhãs, eu me encontrava com Reita, Uruha e Aoi a rua próxima ao colégio, para seguirmos juntos. Mas eu sempre encontrava Reita primeiro, já que morávamos mais perto um do outro.

            E lá estava ele, apoiado no muro da esquina, me esperando.

            Esse pensamento fez um sorriso bobo brotar em meu rosto.

- Ohayo Aki-chan. – Cumprimentei, chamando sua atenção para mim.

            O mais alto despertou do transe e virou-se para mim com um sorriso bonito, me deixando levemente corado.

- Bom dia, Taka. – Afagou meus cabelos, pegando a mochila de minhas mãos.

            Esqueci de mencionar que Reita insistia em carregar minha pasta até a escola.

            Eu gostava de me sentir mimado por ele, mas não queria que ele me visse como uma criança. Definitivamente não queria isso.

            Andamos lado a lado, conversando sobre coisas aleatórias, até encontrarmos Aoi e Uruha na outra esquina. Numa situação um tanto...Constrangedora para nós.

            Aoi literalmente agarrava o loiro mais alto, que estava contra uma parede. Um beijo daqueles de deixar muita gente com inveja, enquanto a mão de Uruha estava estrategicamente sobre a parte de trás do moreno e este estava com as mãos sobre as coxas do maior.

            Abaixei a cabeça, envergonhado. Claro que eu já tinha tido aqueles momentos, mas ver os dois ali me fez ter saudades daqueles amassos. Não que eu quisesse voltar com Kyo, mas fazê-los com outra pessoa...

            Inconscientemente meus olhos caíram sobre a figura loira ao meu lado e tratei de espantar aqueles pensamentos de minha mente.

            Ouvi Reita suspirar, fechando os olhos e seguir até os dois, cutucando o ombro do moreno.

            Yuu interrompeu o beijo, olhando enfezado para trás. Sorriu gentilmente ao ver Reita parado atrás de si, com uma cara de poucos amigos.

- Como conseguem ter tanta disposição a essa hora da manha? – Akira perguntou, suspirando cansado.

- Bom dia pra você também, Aki-chan. – Aoi completou sorrindo, soltando Uruha.

            O loiro mais alto logo correu até mim, abraçando-me com força e beijando minha bochecha.

- Ohayo Ru-chan! – Falou sorridente. Eu gostava muito do sorriso de criança do Kouyou. – Dormiu bem? – Parecia até minha mãe perguntando.

- Sim, muito bem. – Respondi sorrindo.

            Senti o olhar pesado de Reita sobre o loiro agarrado a mim e vi Aoi por a mão em seu ombro, comentando alguma coisa que fez o loiro o mandar calar a boca.

            O resto do caminho foi percorrido com Uruha andando ao meu lado, praticamente abraçado a mim, enquanto os outros dois nos seguiam mais atrás.

                                                           XxX

            Já na hora do intervalo, estávamos em nosso cantinho habitual, nos fundos da escola, embaixo de nossa árvore favorita, comendo o almoço que mamãe mandara.

            Eu me encontrava entre as pernas de Kouyou, que me abraçava pelos ombros enquanto conversava animadamente comigo.

            O rosto de Reita estava fechado e o punho se fechava freqüentemente. Mas eu duvidava muito que Uruha estivesse percebendo.

- Uru, vem até o banheiro comigo? – O moreno aproximou-se do namorado, murmurando em sua orelha.

- Pra que, koi?  - Piscou confuso, virando o rosto para o moreno.

- Você não quer que eu fale na frente do Reita e do Ruki, quer? – O moreno sorriu, mordendo a orelha do maior.

            Uruha estampou um sorriso divertido no rosto e levantou-se, deixando-me livre de seu aperto.

            Os dois saíram abraçados, parando diversas vezes no trajeto para trocarem beijos. E então sumiram de nossa vista.

- Uruha está ficando impossível. – Reita bufou. Eu não sabia se era um comentário ou um pensamento alto.

- Eu me preocupo se um dia Aoi ficar irritado... – Comentei, olhando para frente.

-Aoi não se incomoda...Não é em ele que fica irritado... – A última frase foi dita bem baixinho, mas eu pude ouvir.

            Reita desviou o olhar para o chão, enquanto eu encarava seu rosto levemente corado.

            Eu até podia classificar aquela irritação como ciúmes, mas aí teria de concluir que Reita gostava de mim. Mas aí eu estaria sonhando demais.

            Eu não podia confundir as coisas. Akira era meu amigo, não ia estragar uma amizade pensando que ele podia querer alguma coisa comigo.

- Ei Taka, tudo bem? – Despertei de meus pensamentos, ouvindo a voz de Reita.

- Sim está. – Respondi sorrindo.

            Foi então que percebi que Reita estava bem mais perto de mim. Seu rosto estava a poucos centímetros do meu e nossos braços se roçavam de leve.

            E lá vinha a maldita vermelhidão subir de meu pescoço até minhas bochechas. Meu coração falhou uma batida. Isso acontecia toda vez que o loiro se aproximava muito de mim.

- Aquele cara não te perturbou mais né? – Percebi que ele ficou meio nervoso ao me perguntar isso.

- Kyo? Não. Nunca mais o vi. – Falei simplesmente. Não gostava muito de tocar no assunto Kyo.

- Hum...que bom. – Virei-me para encará-lo, vendo ele bater na própria testa. – Digo, pra você! Porque...ele era um cretino... - Tentou se corrigir de pressa, me fazendo sorrir.

            Reita afundou a mão nos fios loiros, suspirando longamente. Timidamente, eu levei minha mão até a sua, tocando-a de leve.

            Abaixei meu rosto vermelho, esperando ele puxar sua mão ou repelir a minha. Mas ele não o fez. Reita segurou minha mão com a sua, acariciando-a carinhosamente.

            Reuni um pouco de coragem, olhando em seu rosto, vendo-o sorrir. O que me fez sorrir também.

            E meu coração novamente falhava uma batida.

                                                                       XxX

            O último sinal finalmente tocara, anunciando o final das aulas.

            Juntamos nossas coisas o mais rápido possível e saímos da sala, voando pelas escadas em direção ao pátio.

            Cruzamos o pátio, conversando animadamente. Mas ao chegarmos ao portão, os três pararam surpresos, olhando para frente.

            Todos encaravam uma garota, muito bela por sinal, de cabelos pretos compridos e um uniforme diferente do de nossa escola.

- O que ela faz aqui? – Uruha questionou mal humorado, colocando a mão na cintura.

            A garota virou o rosto e assim que viu Reita, saiu correndo em sua direção, com um enorme sorriso nos lábios e jogou-se nos braços do loiro.

-Aki, amor, que saudades! – A garota exclamou, abraçando fortemente o loiro.

            E meu queixo caiu até o chão. Eu estava surpreso, em choque, magoado, chateado e triste.

            Ela havia o chamado de “amor”?

            Então Reita tinha uma namorada...Agora sim eu sentia todas as minhas esperanças evaporarem.

            Não agüentei mais ficar ali, parado, olhando aquela cena.

            Virei para o portão e me pus a correr o máximo que pude. Sem me despedir de Uruha, Aoi e principalmente sem olhar para Reita.

            E mesmo quando ouvi a voz do loiro gritando meu nome, eu não parei. Já sentindo as lágrimas brotarem em meus olhos, continuei a correr para casa.