For(n)ever. escrita por rumpelstiltskin


Capítulo 4
Capítulo 3 - 3 months later.


Notas iniciais do capítulo

Obrigada.



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Capítulo Três: Três meses depois.

Dear God the only thing I ask of you is to hold her when I’m not around.

Querido Deus, a única coisa que eu Te peço é que cuide dela enquanto eu não estiver por perto

When I’m much too far away. We all need that person who can be true to you.

Quando eu estiver muito distante. Todos nós precisamos dessa pessoa que pode ser verdadeira contigo.

But I left her when I found her.

Mas eu a deixei quando a encontrei.

         Willam Beckett já havia aberto bem os olhos. Eles ainda procuravam algo conhecido, mas nada ali lhe parecia familiar. No seu nariz, o aparelho incomodava, assim como o aparelho que pressionava seu dedo. Ele se sentia fraco e achava estranho nenhum familiar ter vindo lhe abraçar. O ex-vocalista do The Academy Is... friccionou os olhos em busca de alguma coisa que lhe trouxesse calmaria, nada veio ao seu encontro. Nada era suficiente para poder fazê-lo ficar feliz. 

         Seu quarto de hospital estava todo enfeitado com desenhos coloridos e um tanto quanto infantis de melhoras e, também, desenhos de fãs com seu rosto. Às vezes até desenhos de Gabe junto a William que não sabia qual o nome do dono do homem alto que lhe abraçava e sorria muito nos desenhos. Além disso, seu quarto era o mais enfeitado com flores, ursos de pelúcia. Todos presentes de fãs que ele não se lembrava de ter. Concluiu para si, por um momento, que era bastante querido por sua família.

         Pela milésima vez, o garoto de Chicago tentou ordenar seus pensamentos para então conseguir se lembrar, primeiramente, do seu nome. A sua volta, as enfermeiras que cuidavam dele se comunicavam em espanhol. Não eram uma língua estranha para ele, porque sabia que havia – em algum momento de sua vida – aprendido a montar algumas frases simples, já que estava naquela cidade. Onde é mesmo que ele estava?

Hola!” Disse a enfermeira simpática, sorrindo para ele. “Cómo estás?

         Beckett fechou os olhos, expressando com uma pequena balançada da cabeça que não havia entendido uma palavra sequer do que ela havia dito. A mulher franziu o cenho para o garoto e lhe fez a triagem. Estava tudo dentro dos padrões, era hora de deixá-lo descansar, porém o garoto segurou-a e tentou falar em sua própria língua.

“Hey, você fala inglês?” A garota franziu o cenho. A resposta era negativa.

Voy a llamar alguién.” O garoto não entendeu, mas assentiu, porque lhe soou como algum tipo de permissão. Ele a acompanhou com os olhos e mordeu o canto do lábio, na esperança de que achasse alguém que pudesse lhe explicar porque todos ali estavam falando em espanhol. Claro, ele era americano e estava nos Estados Unidos, certo?

Errado.  William não se lembrava de ser americano, mas deduziu que fosse pelo idioma que falou. Ele ainda continuava no Hospital de Traumatologia de Montevidéu e, algo lhe dizia, que ele poderia lembrar aquelas frases curtas da língua que lhe soara familiar.

         Em passos pequenos, o moreno foi entrando no quarto de William. Suas mãos tremiam de nervoso, com um pouco de medo do que ia acontecer. Sua mente fazia questão de lembrar do que o médico havia dito; a amnésia seria permanente, sempre estaria um pedaço faltando e as novas lembranças não existiria. E o seu coração teimava em desacreditar naquilo, é claro que perder a memória é coisa de desenho animado, era uma mísera esperança.

         Embora o vocalista da Cobra Starship estivesse bastante magro – até mesmo para o comum dele -, com a barba mal-feita, com olheiras enormes embaixo dos grandes olhos, William o achou boa pinta e sorriu. Achou-o alto demais, também, mas nada que viesse estragar o conjunto da obra.

“Fala inglês?” Perguntou receoso, Gabriel sorriu.

“Sim, eu falo.” Respondeu baixinho e o menor soltou um ‘thanks god!’ bem baixinho, fazendo-o Gabriel sorrir e o autor da frase corar.

“Onde eu estou?” William voltou a morder o lábio, ainda coradinho. Sem que lhe fosse permitido, Gabriel se aproximou e tocou carinhosamente o rosto do paciente, que franziu o cenho. “O que você tá fazendo?”

“S-só verificando a febre.” Respondeu gaguejando. “Eu sinto muito.”

“Não me respondeu.” Encolheu os ombros com muita dificuldade. “Onde eu estou?”

“Montevidéu.” Reponde Gabe. “Uruguai.” William friccionou os olhos, como se tentasse se localizar. O outro ficava apenas a observar quieto. Segurando pra si a vontade que tinha de tocar Will, de dizer que o amava. Não crer no médico – naquele momento – corroeu o maior, porque por mais que seu coração não quisesse crer, ele estava mesmo fora de si. Sem saber quem era ou de onde veio.

“Por que todos esses desenhos e flores?” Falou bem baixinho enquanto o médico olhava o prontuário de William cuidadosamente e a enfermeira auxiliava o médico por ali. “Por que tantos?”

“Porque o mundo te ama, Bill.” Respondeu ao mesmo tom.

“Bill é meu nome, então?” Perguntou encarando o médico.

“Bill é teu apelido.” Gabe mantinha o pequeno sorriso. “Seu nome é William... William Eugene Beckett Junior.” William então sorriu doce, em agradecimento e o médico começou a falar em espanhol sobre o tipo de amnésia que o mais baixo tinha.

         Gabe traduziu tudo o que o doutor disse a William quase chorando, engolindo o pranto que queria – e às vezes teimavam – em sair por seu tom de voz. Cada palavra sobre a memória e o estado da mesma de seu namorado era como pequenas facas no coração do vocalista do Cobra. Ninguém jamais seria capaz de explicar a dor e a culpa que lhe corroíam a alma.

         William dormiu logo depois, deixando Gabe a falar sozinho. Ele estava fraco e o maior entendeu que era melhor deixá-lo sozinho. Deu um beijinho no topo de sua cabeça, carinhoso e cuidadoso, e saiu do quarto. Os demais integrantes do Cobra e sua mãe o esperava na sala de espera. Gabriel estava – e dava pra se notar a distância – ainda mais arrasado que nunca. Ele precisava se recompor, para quando o seu amado acordasse, ele estaria ao seu lado para lhe contar todo – ou parte – do seu trajeto até ali. Vicky foi a primeira a abraçar o vocalista com força, passando para ele toda a força que poderia. Ao ouvir as palavras baixinhas de incentivo da garota, o maior apenas assentia. Estava fraco demais para uma resposta. Fraco, mais decidido.

Ia reconquistar William, ia fazê-lo confiar nele novamente. Então, ele deixou um bilhete na mão de Will, um bilhete “Leia as cartas no seu criado-mudo.”

         “El cantante Gabriel Saporta habló hoy por la primer vez a respecto de tu novio, William Beckett, ex-miembro del grupo de rock The Academy Is... Saporta dicho que tu novio se encuentra bién, pero no se acuerda de nada ni nadie. Él dicho también que Backett está muy debil y pasa todo el tiempo dormiendo. Él ya está fuera de peligro.*”

         Gabe sorriu bem fracamente com a notícia. Estavam todos avisados da amnésia de William e talvez os repórteres não viessem mais incomodá-lo se fosse até o seu carro preparar o apartamento dos dois para a chegada de Will. Gabe chegou a ampliar o sorriso quando imaginou que William poderia voltar pra casa e conviver novamente com ele. Mas, seria tão fácil assim fazer com que William morasse com um completo estranho?

Ah, Gabe... Ilusões doem e as esperanças são as últimas que morrem. E esperanças doem.

         Os dias, meses se passavam iguais. Gabe não forçava a memória de William, mas também não estimulava. Victoria, Nate, Ryland e Alex iam lá de vez em quando, conversavam com o Beckett, brincava. Ele estava se sentindo rodeado de amigos, bons amigos. Ele não se lembrava do quanto aquele quinteto era mundialmente famoso. Não se lembrava que abriu mão da sua própria fama, magoando seus – verdadeiros – amigos da pior maneira possível. Beckett era egoísta?

Não. Ele era só um garoto apaixonado.

         Um mês a mais se passou e o Cobra se vê obrigado a sair em turnê pelos Estados Unidos. Era hora de voltar a fazer música. William Eugene Beckett Jr já estava bem, só ficaria mais algum tempo até terminar os estímulos da memória. O médico que tratou o ex-vocalista conseguiu extrair um bom resultado. William se lembrava de ser americano, de ter nascido em Chicago, de falar inglês e havia se lembrado das frases de sobrevivência que tinha aprendido. Quando teve alta, Gabe não estava com ele e não tinha noção de para onde ir.

“William?” Jeanette Saporta entrou no quarto de Will que arrumava numa pequena mala as coisas que ganhou naquele tempo que permaneceu no hospital. Will olhou para a mulher também e sorriu doce. “O meu filho me pediu para te levar pra casa.”

“Eu tenho uma casa aqui?” Franziu o cenho e ela assentiu. “Droga, eu não me lembro.” Torceu os lábios e a mulher sorriu, andando vagarosamente até ele que a olhava com os olhos curiosos, como os de uma criança que acabara de nascer.

“Acalme-se.” Sorriu, doce. “Você tem uma casa aqui e eu vou levar você pra lá.”

“Obrigado.” Mordeu o canto do lábio, entrelaçando seus dedos. “Onde está o Gabe?”

“Está em turnê.” A mulher respondeu, sorrindo de leve. “Meu filho é famoso com a banda dele.”

“Eu queria ouvir.” Sorriu, fraco, voltando o olhar para suas coisas. Jeanette sorriu também, dando um beijinho protetor na cabeça de William.

A matriarca Saporta conseguira a confiança de William com muita facilidade. O ex-cantor gostada daquela senhora como uma mãe, porque quando conversava com ela, ele se sentia seguro, encantado. Gabriel tinha mesmo sorte. O médico veio até ele, sorrindo profissionalmente, se despedir. Ele já havia feito tudo o que poderia nesses meses de internação, agora, bastava à curiosidade de William levá-lo as suas origens.

         Eles se despediram do doutor, pegando a receita médica de Will e o levando para o carro. Ambos estavam bem felizes com aquela saída, afinal, Beckett precisava se redescobrir com fatos, com fotos, com pessoas e não só com o que ele via no hospital. Ele precisava de uma casa, precisava pensar que tinha uma família, mas será que de verdade, ele tinha uma família? Amigos independentes de Gabriel? Um patrão?

Ah, William Beckett, a ilusão em seu caso é tão doce, mas cuidado, a realidade pode te fazer cair.

         Jeanette Saporta entregou as chaves para o mais novo quando chegaram ao condomínio fechado de luxo onde eles compraram um apartamento lindo por lá. Os funcionários receberam William como se recebessem uma celebridade – e de fato tiveram que correr com ele devido o batalhão de fotógrafos querendo uma boa foto e um outro batalhão querendo uma declaração exclusiva – e Beckett se sentiu meio acuado. Além de não entender uma palavra do que falavam, ele ainda não estava suficientemente bom para falar. Ele apenas sorriu fraco para as fotos e o batalhão de flashs que lhe vinha de encontro. A matriarca levou o seu ex-genro para o elevador e então livrou-o dos flahs.

“Nossa, o Gabriel é tão famoso assim?” Perguntou, respirando aliviado.

“O mundo todo conhece meu filho.” Falou orgulhosa. “E o mundo todo estava preocupado com você, Bilvy.”

“Então o mundo é muito gentil.” Encolheu os ombros, rindo baixinho. A mulher riu com ele, que mordia docemente os lábios. “Eu moro aqui? É muito luxuoso.”

“É seguro.” Jeanette deu os ombros. “Gabe precisa de certa estabilidade, mas agora ele vai morar em um hotel.”

“Ele morava comigo?” Franziu o cenho, sendo assustado pelo barulho do elevador chegando ao andar que Beckett morava com o filho de Jeanette. “Por que ele vai morar em um hotel, mesmo?”

“Ele quer deixar você pôr a cabeça no lugar.” Entregou-lhe a chave. “É o 505 A o seu. Eu moro no andar de baixo, no 405 A. É só chamar que eu venho correndo vê-lo.”

“Obrigado.” Sorriu, dando um beijinho de despedida na sogra enquanto saia do elevador. Ficou por ali até o mesmo se fechar e se viu pela primeira vez em meses, completamente sozinho. Carregando sua mala, seus olhos procuravam o número dito pela mulher, para acabar logo com qualquer tormento. Ao encontrar, pegou as chaves e entrou. Sorriu pra si, embora o cheiro fosse de lugar fechado por muito tempo. Era uma boa escolha.

         As cortinas da sala eram apenas persianas. A porta foi fechada e trancada pelo morador e sua mala foi parar no sofá branco que tinha naquela sala bonita; bem decorada. Havia um quadro em cima da televisão de plasma. Um quadro abstrato, e ele sorriu, lembrando-se de um pintor que gostava muito – Pollock – mas quando se aproximou a assinatura era “Beckett”. Ele sorriu, negando com a cabeça.

“Pollock que me perdoe por me comparar a ele.” Riu baixinho, mordendo o lábio delicadamente em seguida. Gostou mesmo de saber que tinha algum talento antes de acontecer o acidente. Estava um pouco cansado, somente ali naquela casa tinha um milhão de lembranças para serem retomadas, afinal, tudo indicava que havia vivido ali por muito tempo.

         Olhou para a mesinha de centro e encontrou um caderno com a capa preta e dura. Em cima dele havia um bilhete, franziu o cenho para aquele lugar e deu uns pequenos passos até a mesinha de centro e pegou o caderno. Separou o bilhete e abriu o caderno. Sorriu para si ao ver uma caligrafia caprichada. Voltou seus olhos para o bilhete e leu-o em voz alta:

Caro Beckett. Gabe tirou suas coisas daí, para que você pudesse viver um tempo em paz até colocar todos os seus pensamentos em ordem. Na verdade, por mais que eu dissesse a ele que o apartamento é tão seu quanto dele e, que ele realmente tem todo o direito de dividir com você, ele não quer pressioná-lo. Enfim, quero dizer que tudo o que você precisa está – de comer – na geladeira, tem roupas e, se quiser viajar, o Gabe sabe onde você escondia o dinheiro. Procure-o. Esse caderno é seu diário, por favor, leia-o. Na última página, tomei a liberdade anotar alguns endereços, telefones de Chicago, que é onde você morou antes de ir parar na America Latina. Até uma próxima, Nate Novarro.”

William torceu os lábios e ficou um pouco ali sentado no chão, pois o sofá era tão branco que ele ficou meio receoso de sentar. Estava meio atordoado e sem saber ao certo o que fazer. Estava perdido, completamente em um mundo estranho e novo para si. Tudo era novo e diferente, isso causava um certo desânimo. Porque, querendo ou não, a vida só tem sentido quando você aprende com seus erros, mas para aprender, é preciso lembrar.

         Ao direcionar seus olhos para um pequeno criado-mudo que ficava próximo ao sofá  e onde tinha um belíssimo abajur de porcelana, conseguiu ver um porta-retrato com a moldura feita em vidro com uma foto muito especial nela. Esticou seu braço e pegou cuidadosamente aquele objeto, trazendo-o para seu colo. Quando teve a moldura em suas mãos, encarou a fotografia com exatidão. Tratava-se de uma bela foto de um pouco mais que o rosto e William Beckett beijando Gabriel Saporta. Ao encarar bem a foto, viu em seus lábios um sorrisinho e concluiu em voz alta.

“Eu acho que era feliz.” Voltou o porta-retrato para o lugar e mordeu o canto do lábio para esconder o sorriso e havia acabado de descobrir porque quando estava com Gabe o olhar do mais velho tinha um brilho especial, porque ele quase chorou ao traduzir sobre o problema de memória e porque ele retomou a turnê com William ainda no hospital. 

         Suspirou e levantou do chão, pegando sua mala e foi andando por um corredor grandioso e iluminado. Precisava deixar aquela pequena mala em algum lugar e começar a tomar coragem para viver a sua nova vida sem uma identidade. Sua busca estava apenas no começo. Ao encontrar um quarto luxuoso, com apenas a parede do fundo pintada de um alaranjado fluorescente e as demais paredes em branco, sorriu maiorzinho. Havia mais quadros ali ao estilo de Pollock e, em cima da cama box, um legítimo Pollock. O “Ocean Greyness.” [n/a: esse quadro aqui http://twitpic.com/2djg4k]

“Esse sim!” Exclamou Beckett contente, ao olhar a assinatura no rodapé do quadro. “E deveria estar lá na sala.”

         Após observar cada um dos seus quadros com todo cuidado e atenção, um pouco cansado, Beckett decidiu tomar banho e colocar uma roupa mais leve e um pouco menos apertada. Ao que abriu o armário que tinha ali, descobriu que ele não tinha nenhuma roupa menos apertada, apenas o pijama. Sorriu para si mesmo, pegou o pijama e foi ao banho. Na pia do banheiro, achou um par de óculos com a armação preta. Olhou contra a luz na lente de acrílico e percebeu que estavam sujas. Resmungou baixo e levou os óculos consigo para o box.

         Gabe Saporta estava meio desanimado no camarim, enquanto aquecia a sua voz pro próximo show. Alguns críticos já havia posto seus alvos em Gabriel Saporta e sua falta de vontade de se animar. Naquele momento, o vocalista não se importava, mas o roadie da Cobra Starship não estava gostando em nada daquilo. Quando entraram no palco, o show fora um martírio. Todos compreendiam, o vocalista estava indeciso sobre o que fazer com sua vida pessoal, o grande amor de sua vida não se lembrava sequer quem ele era.

         A banda desceu do palco, ouvindo mais uma vez o roadie falar sobre os críticos e que o público merecia mais do que aquilo. Ele estava certo, os integrantes prometeram – pela centésima vez – que iam melhorar isso. Gabe, saiu na frente dos demais, indo desaquecer a voz. Na verdade, Gabriel cogitou a idéia de ficar um tempo sozinho e beber um pouco, mas os amigos jamais deixariam. Mais que nunca, a banda estava toda unida.

         Quando Gabe saiu do banho, Vicky entrou, xingando os meninos por deixarem o banheiro quase sem condições de uso, todos riram, menos Gabe que estava vestido de qualquer jeito e as olheiras já faziam parte do visual de Gabriel. Não eram exibidas com orgulho, mas também não eram disfarçadas. Uma nova rotina havia acometido o cantor. Ele já não dormia mais, não comia direito e todos os seus pensamentos eram focados no bem estar de William. Porque era sua culpa o fato de William ter bebido e, de tão bêbado, ter sido atropelado. Era tudo sua culpa. Ele se jogou no sofá do camarim, colocando a cabeça no colo do melhor amigo e uma parte das pernas no colo de Ryland.

“Como você está?” Nate perguntou baixinho, enroscando uma das mãos nos cabelos crespos de Gabriel que encolheu os ombros e sorriu apático.

“Com a cabeça no meu Bilvy, pra variar.” Respondeu ao mesmo tom. “Isso dói um bocado, a final ele ainda não respondeu minhas cartas, não deu sinal de vida. Talvez eu devesse entender que ele não me quer por perto.”

“Não fala isso.” Disse Alex, sorrindo fraco, confortador. “William só precisa de um tempo pra pôr suas idéias em ordem.”

“Quer cancelar tudo outra vez?” Perguntou Novarro, mantendo a carícia. Gabe focou os olhos com desinteresse na televisão que tinha ligada ali e suspirou baixinho, triste.

“Seria uma boa opção...” Murmurou “mas eu tenho um compromisso com essa banda.”

“Se quiser ir cuidar dele, a gente compreende.” Ryland falou baixinho, dando um tapinha carinhoso nas pernas de Gabriel que voltou a negar com a cabeça.

“Ele não vai lembrar-se de mim se eu fizer isso.” Voltou a sorrir falsamente, se obrigado a fazê-lo. “Eu tenho que tocar minha vida agora, gente. Agradeço vocês, de verdade.”

         O baterista assentiu contrariado, mantendo a carícia nos cabelos do maior que fechou os olhos. Curtiu a carícia por um momento e pegou o controle da televisão, começando a passar pelos canais da televisão sem realmente se importar, até parar na MTV hits onde passava um clipe qualquer. Nate e Ryland se entreolharam quando um clipe do The Academy Is... começou a passar. Torceram para ser um clipe com o novo vocalista, para não causar tanta dor assim. Os olhos do baterista fixaram em Gabe que não conseguia deixar os olhos fora da televisão. Quando o rosto doce de William apareceu, Gabriel deixou-se invadir pela voz do seu ex-namorado e mordeu o lábio, pra engolir suas lágrimas.

         Antes que os companheiros reagissem, Gabe saiu do sofá e correu para fora do camarim. Nate abaixou a cabeça e suspirou baixinho, apenas acompanhando o movimento do vocalista com os olhos. Ryland que foi atrás dele. Alex aproximou-se bem devagar de Nate e o abraçou com doçura. Vicky sorriu ao passar com sua mala por eles, mas não disse nada. Nate tombou a cabeça no ombro do companheiro de banda e suspirou baixinho.

“Ele tá indo de mal a pior.” Nate murmurou baixinho. “Me preocupa.”

“Shh, mamãe...” Alex brincou. “O Gabe vai ficar bem.”

“Como você sabe, hm?” Novarro levantou a cabeça, apoiando o queixo no maior.

“Ele só precisa aceitar que não tem culpa.” Nate girou os olhos e Alex apertou o abraço. “Vamos, já devem estar nos esperando.”

“O Gabriel não vai aceitar isso nunca.” Alex riu baixinho, pegando ambas as malas e saindo do camarim. Era hora de ir para uma nova cidade e encarar o ônibus da banda naquela tristeza por causa de Gabe e Vicky-T.

Fim do Capítulo Terceiro.


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Notas finais do capítulo

* "O cantor Gabriel Saporta falou hoje pela primeira vez a respeito de seu namorado, William Beckett, ex-membro da banda de rock The Academy Is... Saporta disse que seu namorado está bem, mas não se lembra de nada nem ninguém. Ele disse também que Becket está muito frágil e passa a maior parte do tempo dormindo. Ele já está fora de perigo."



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