For(n)ever. escrita por rumpelstiltskin


Capítulo 5
Capítulo 4 - So... Do you speak English?




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Capítulo Quarto.

I wanted to be just like you, so perfect, so untouchable.

Eu apenas queria ser como você, tão perfeito, tão intocável.

Now you want me to be with you.

Agora você quer que eu fique contigo.

Someone who used to have it all.

Alguém que costumava ter tudo.

         Os dias se passavam e William estava um pouco mais intimo do apartamento. Cada cômodo que ele abria era um novo aprendizado sobre si mesmo. Embora ele tivesse medo do que encontraria em cada um dos cômodos – que eram marcados com etiquetas que eram coladas em cada porta para ele não se perder -, cada lembrança era um estímulo para ele se jogar dentro de si mesmo.

         Ao fim do grande corredor do apartamento, havia uma porta de madeira maciça, grande e ameaçadora para William. As etiquetas que tinha feito haviam sido todas coladas nas portas e William não sabia ao certo se queria entrar ali e com passos pequenos, desconfiados, ele se aproximou da porta. Girou a maçaneta com receio, que ao acender a luz do cômodo, seus olhos adquiriam um novo brilho, aniquilando todo o receio que ele teve anteriormente por aquela porta. Seu rosto doce fora pequeno demais para um sorriso bobo e muito grande que se foi quase que imediato seguido de uma palavra de calão baixo, em surpresa. Estava frente a frente com o seu ateliê de pintura.

         Andou um pouco dentro do cômodo encontrando um quadro coberto. Quando ele tirou o pano branco que cobria, delicadamente, viu que era a pintura do rosto de Gabriel Saporta, sorrindo grandemente. Gabriel segurava uma pequena caixa – que já estava colorida de vermelho -, que provavelmente William deduziu que se tratava de um anel. Então, ao erguer um pouco o rosto pelo quadro, viu a foto que reproduzia. Gabe estava de smoking, com uma gravata-borboleta meio chamativa da cor roxa. William presumiu que aquele dia fora oficializou o casamento. Notou que os olhos de Gabe não eram surpresos, os seus – bem em frente a Gabe na foto – que estavam surpresos, então, concluiu que era o dia que oficializaram algum compromisso.

         Tudo naquele apartamento o remetia de alguma forma a Gabriel Saporta. Um pouco mais a frente, William encontrou um álbum de veludo vermelho, cravejado com letras douradas com os dizeres “Gabanti & Bilvy”. Ao abrir, uma avalanche de memórias surgiu em sua mente de forma desordenada, o fazendo soltar aquilo com muita pressa ao chão. Ele não conseguiu segurar uma só daquelas lembranças, apenas ofegou, afastando-se do álbum em passos pequenos, medrosos, tristes. Firmou-se mentalmente a promessa de, um dia, voltar a olhar aquilo com total calma. Ele só precisava de um pouco de tempo.

         Saiu daquele cômodo e fechou o lugar. Seus olhos ainda estavam assustados, tentando resgatar alguma lembrança da avalanche que lhe acometeu, não teve sucesso. Suspirou, porque tudo naquele apartamento o levava a um amor incondicional. Lembrou-se bem da voz de Gabriel traduzindo tudo o que o médico lhe dizia, que seria melhor que ele viesse a escrever um diário para que suas lembranças não viessem a se perder novamente. Ele decidiu que, mesmo estando um pouco sem norte, iria comprar um caderno para começar o seu diário novo, voltar a escrever o que acontecia, o que se lembrava e como reagiu a cada lembrança. E, por falar em nova vida, lembrou-se que deveria aprender espanhol com certa urgência.

         Com um pouco de preguiça, William tomou seu banho longo e desceu até a rua daquele bairro nobre de Montevidéu. Colocou as mãos nos bolsos da sua jaqueta de couro e foi andando em passos pequenos, deixando os óculos escuros cobrirem seus olhos amedrontados. O ex-cantor sentia como se aquela rua fosse tragá-lo a qualquer momento. Cada passo que dava era carregado de medo, principalmente quando sentiu que estava sendo seguido. Ao olhar para trás, percebeu uma mulher bonita lhe acompanhava com um gravador nas mãos. Will tentou apertar o passo, mas era tarde demais, ela já segurava docemente seu ombro e sorria. Isso o tranqüilizou.

“Beckett?” A mulher chamou, sorrindo. Ele retribuiu o gesto, parando e, embora não a olhasse diretamente, sorriu. “Pode me dar uma entrevista exclusiva?”

“Entrevista?” Franziu o cenho, desfazendo o sorriso. “Eu não me lembro da minha vida antes de acordar em um hospital... Ou mesmo de depois, algumas das lembranças se desfizeram.”

“Então você realmente não se lembra das brigas que tinha com Gabe?” Ela deu play no gravador sem que o menino notasse. William franziu o cenho e riu baixinho, divertido. Gabriel era tão doce e tão adorável que não acreditava ser capaz de elevar a voz para ele. “Ele me disse que você perdeu a memória, então é mesmo verdade?”

“Por que o Gabe mentiria sobre mim?” Encolheu os ombros docemente. “Ele não tem motivos pra mentir, certo?”

“Então eu tenho nossa entrevista exclusiva, não é?”

“Não.” Respondeu, balançando a cabeça. “Eu não posso responder coisas das quais não me lembro. Eu não sou famoso, nem nada assim. Eu só sou amigo do Gabe, ele que tem que ser o foco das atenções e não eu.”

“Obrigada de qualquer forma.” Sorriu falso e o menino acompanhou a garota com os olhos até que ela desaparecesse em seu campo de visão. Olhou pelo seu redor e percebeu que estava em frente a uma banca de revista. Analisou o que tinha dito à repórter e quis descobrir quem era – de fato – Gabe Saporta. Nem que gastasse todo o seu dinheiro com revistas e pôsteres da Cobra Starship.

         O menino simplesmente olhou tudo a sua volta e, com os seus olhos, encontrou uma banca de revistas. Ele sorriu, tendo ainda mais certeza que encontraria alguma coisa interessante sobre Gabriel Saporta e sobre a banda a qual pertencia. Queria saber sobre Vicky, afinal, ela estava sendo sensacional com ele ao se preocupar. Era realmente sua melhor amiga. Quando entrou na banca, Beckett arrancou um olhar do dono da banca, porque este o reconheceu. Fez um sinal qualquer para um de seus funcionários enquanto William passava as mãos pelas prateleiras buscando algo específico. A filha do dono da banca era fã de The Academy Is... e, conseqüentemente, de Beckett. Devido ao tempo no hospital, ele estava um pouco mais pálido, as olheiras estavam um pouco maiores e tinha um pouquinho da barba crescendo. William parou a mão em uma capa de revista, quando viu Saporta na capa com o título: “Y al final, él abrió su corazón y dice: yo nunca lo amé de lo jeito que hago hoy*.”

         Pegou mais algumas revistas, pôsteres e entrevistas de Gabriel, embora não entendesse uma só palavra sequer do que estava escrito. Pegou também algumas sobre a banda, conseguindo arrecadar uma pilha gigantesca de papéis. Tirou algumas notas do bolso – dólar – e entregou ao homem que sorriu ao receber e devolver algumas notas a Beckett.

¿Puedo sacar una foto contígo?” Perguntou. “¿Y darme, también, un autógrafo para mi hija? Ella te ama, y también tu banda, The Academy is...

         William pausou por um longo momento, observando a boca do homem se mexendo e analisando a sonoridade das palavras, na tentativa de achar sinônimos compatíveis com o inglês, mas ao perceber seu fracasso, deu um sorriso fraco e pediu:

“Desculpe, mas você não fala inglês?”

“Oh...” Respondeu o comerciante, coradinho ao que mordeu o canto do seu lábio. “Eu pedi um autógrafo para minha filha que é apaixonada por você e sua banda, The Academy Is...”

“The Academy Is...?” Perguntou, ligeiramente constrangido. Realmente tudo o que fora bom em sua vida havia sido apagado completamente de sua vida. O homem deu um tapa fraco em sua testa e sorriu, abrindo apenas um dos olhos.

“Desculpe-me. Eu me esqueci do acidente que quase o matou.” Mordeu o canto do lábio. “Minha filha quase morreu de preocupação e ficou dias parada no hospital. Você canta numa banda chamada The Academy is... Acho que tenho algo de vocês aqui.”

         O ex-músico assentiu e esperou o homem achar algumas revistas da banda. O homem entregou as revistas ao músico e uma delas este separou, escrevendo ali com uma caneta que achou pelo balcão do dono da banca. Escreveu: “Muito obrigado pelo amor e carinho, obrigado por se preocupar comigo. William Beckett.” Em inglês e entregou ao homem que sorriu de volta.  Após pagar pelas revistas, Will foi simpático e tirou a foto com o homem antes de pôr nos óculos escuros e sair da banca de revista cheio de sacolas.

         Ao andar alguns quarteirões, encontrou uma livraria por ali. Sem vontade nenhuma de pedir mais uma vez para as pessoas falarem em inglês porque ele era americano e não sabia sequer falar “olá” em espanhol, acabou se virando bem sozinho e achando um dicionário de espanhol-inglês e comprou junto com o caderno de espiral, além de comprar algumas canetas esferográficas. Seu médico havia indicado que ele escrevesse um diário novo para sempre recordar e passar aquelas lembranças para o campo seguinte do cérebro.

         Levou até o caixa, pagou o que havia comprado, voltou para casa. Aquele dicionário seria o suficiente – ou não – para traduzir aquelas revistas que levava. O que Gabe sentia era prioridade.


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Notas finais do capítulo

* e no final, ele abriu seu coração e disse: eu nunca o amei como faço hoje.



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