O vestido preto batia na altura do joelho ossudo, assim como os cabelos pretos e sujos batiam na altura do queixo pontudo. Havia cicatrizes nos braços e pernas, mas o que mais chamava atenção eram os sapatos. Sapatos de bico fino. O Sr. Gregory sempre dizia que não se devia confiar em mulheres, principalmente nas que usavam sapato bico fino, mas Tom não conseguia dizer não àquela garota. Ele sabia que era errado. Ele sabia que se arrependeria. Mas quando Alice sorria, ele sabia que havia esperança ou pelo menos era nisso que ele queria acreditar fielmente enquanto seguia a garota estrada abaixo.  Ela podia ser uma garota e podia usar sapato bico fino, mas ainda não era uma feiticeira. Ele a defenderia até que não tivesse mais jeito e, se no fim, ela se entregasse às trevas ele sabia que não haveria jeito e abriria um buraco perto de uma árvore frondosa e a selaria com grossas barras de ferro, após amarrá-la com fios de prata, mas Tom não queria pensar nisso nesse momento.  Ele queria sorrir para ela e fazer de conta que não percebia que ela usava sapato de bico fino e que existiam manchas vermelhas na barra do vestido e podia ignorar o cheiro adocicado e enjoativo ou os dedos ensanquentados. Por enquanto ele a seguiria e estaria tudo bem. Quando chegasse a hora ele faria seu trabalho, porque ele era Thomas Ward, o sétimo filho do sétimo filho, o aprendiz de caça-feitiço e ele não deixaria nenhum ser das trevas a solta, mesmo uma feiticeira menina e mesmo que essa fosse Alice. Ele só gostaria de acreditar que isso nunca iria acontecer. Mesmo parecendo inevitável a cada manhã.