Surpresas do Coração escrita por EmyBS


Capítulo 4
UMA PIRRALHA IRRITANTE




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Um quarto, não um cubículo como aquele daquele chiqueiro que os Weasleys chamam de casa. Um quarto de verdade. Nada comparado com o seu quarto na Mansão Malfoy é claro, mas não podia pedir muito daquele detestável mundo trouxa por isso achava que o quarto que tinham lhe dado estava muito além do que poderia esperar.

Uma cama, não um pedaço imundo e fino de cobertor, não mesmo. Era uma cama, uma cama grande, uma cama de casal só para ele. Bem a sua cama era bem maior e mais macia que aquela, mas não podia reclamar novamente aquilo era um luxo que não esperava acontecer ainda mais naquele lugar nojento.

Abriu os braços de maneira preguiçosa.

Era incrível aquela sensação de dormir em lençóis de sede. O tecido parecia acariciar sua pele. Não que aquilo se comparasse aos lençóis que usava na sua cama, era a cada instante mais obvio o quanto aquelas coisas trouxas eram inferiores as suas e pateticamente superiores as daqueles pobretões Weasleys.

Sorriu irônico.

Tinha um quarto só para si, uma cama grande, um banheiro individual, estava praticamente no seu paraíso astral. Podia ter baixado o nível e estar numa maldita casa trouxa, mas era mil vezes melhor que naquela espelunca da casa dos pobretões.

Abraçou o travesseiro macio que tinha um leve perfume de frutas, não conseguia distinguir qual era a fruta, mas era bom e macio. Está certo que o cheirinho de orvalho das suas roupas de cama era mil vezes melhor, nada como ser caridoso e abrir concessões nesse caso.

Uma luz fraca entrava pelas frestas da cortina aquecendo levemente a pele de Draco que estava tão perdido naquelas sensações maravilhosas que mal ouvia um miado insistente no canto afastado do quarto.

- Apollyon! – parecia um chamado doce no fundo da sua mente, mas quem era Apollyon?

- Apollyon! Vem cá bichano! – a voz macia parecia mais próxima.

- Gatinho! Apollyon! – a voz aveludada se tornou mais nítida e pareceu ter escutado a porta do seu quarto ser aberta, mas podia ser tudo parte da sua imaginação fértil.

- Apollyn! Aqui está você, seu gatinho mau! – não havia mais nenhuma duvida, apesar de estar sonolento, a voz açucarada estava dentro do seu quarto.

Sentou na cama ligeiramente irritado por ter seu sagrado sono interrompido por aquela maldita voz melodiosa e se deparou com Elisabeth vestindo uma camisola comprida com um desenho estranho na frente agarrada a um minúsculo gato cinza sentada na poltrona do quarto próxima a janela.

 - Apollyon! Seu gatinho levado, quem deixou você fugir? – a garota tinha o cabelo bagunçado preso num rabo de cavalo feito de qualquer maneira, era notável que tinha acabado de acordar e não havia percebido que o quarto estava sendo ocupado.

- O que você está fazendo aqui? – Draco perguntou seco encarando Elisabeth com raiva ainda sentado na cama.

Ela soltou um gritinho de susto e corou ao encontrar o olhar dele ainda sentado na cama.

- Bo... bo... bom dia! – ela gaguejou apertando o gato que miou alto reclamando – Me desculpe, não sabia que tinham colocado alguém nesse quarto, pensei que estaria com seus amigos.

Draco deu seu sorriso irônico ao reparar que ela olhava para o chão.

- Eles não são meus amigos. – resmungou por fim entre bocejos cheio de sono.

Draco olhou para ela e a viu prestando atenção na janela, parecia perdida em pensamentos.

- Já está tarde, devia levantar e ir tomar café. – Elisabeth tinha a voz tranqüila e nem lembrava a garota da noite anterior – Me desculpe por ontem.

- Por você ter tentado me matar? – perguntou sarcástico.

- Eu não ia te matar. – Elisabeth se levantou irritada deixando a bola de pelo cinza ir ao chão com um miado e sair correndo porta a fora. – Só perdi um pouquinho o controle – murmurou parecendo constrangida.

- Não! Ia me socar até rachar a minha cara, bem melhor. – Draco também se levantou encarando-a, era bem mais alto que ela.

Os olhos de Elisabeth eram azuis, Draco não tinha percebido esse detalhe na noite anterior. Azuis, azul profundo, azul como o céu num dia claro, azul puro e simples.

- Você é insuportável garoto! – Elisabeth disse visivelmente irritada saindo do quarto batendo o pé no chão com força.

Silencio.

Uma sensação estranha.

Draco queria o silencio, mas pareceu tão vazio agora. Devia ser pelos meses de confinamento naquela maldita casa apinhada de gente por todos os lados. Já estava desabituado com a tranqüilidade e privacidade.

- Pirralha irritante. – resmungou indo para o banheiro.

O banheiro, bem não tinha uma banheira confortável como o da sua casa ou as toalhas macias e verdes que sua mãe utilizava, mas era aceitável. Podia espalhar seus próprios produtos sem se importar que aqueles pobretões usassem suas coisas caras e muito menos precisava dividir com algum deles. Podia tomar um longo e relaxante banho sem se preocupar com pessoas batendo na porta ou gritando palavras toscas.

Voltou enrolado na toalha e decidiu que não iria colocar aquela roupa trouxa irritante que tinham obrigado-o a vestir no dia anterior, mas também não tinha nenhuma roupa daquele mundo idiota. Resmungou irritado revirando a mochila até achar algo seu que pudesse utilizar, tinha sorte da sua mãe ter praticamente virado seu guarda-roupa na mochila. No fundo encontrou algo que poderia usar ali, uma calça preta e um suéter igualmente negro com o símbolo da Sonserina que usava na sala comunal no inverno. Perfeito!

- Não, não está perfeito! – Draco se olhou no espelho e viu que a calça por ser antiga estava um pouco curta e o suéter apertado, se xingou mentalmente por não ter prestado tanta atenção nas aulas sobre ajuste de roupas, mas conseguiu algo aceitável.

Desceu as escadas ainda ajeitando a roupa e trombou em algo que vinha na direção oposta. Sentiu o ímpeto de jogar longe aquilo que tinha tocado nele quando viu os olhos azuis desnorteados de Elisabeth que vestia uma camiseta branca com um enorme sorriso amarelo e um short azul.

- Você não olha por onde anda pirralha? – perguntou seco.

- Desculpa... Eí! Eu não sou pirralha! – ela gritou indignada indo atrás dele que tinha continuado a descer as escadas ignorando a presença da garota.

- Pra mim você é uma pirralha irritante! – continuou se dirigindo para a mesa da sala de jantar onde estava sendo servido o café.

- Eu não sou pirralha! Eu tenho quase dezesseis! – Elisabeth bufou contrariada se sentando à mesa com um enorme bico.

- Uau! E eu tenho quase dezoito! Então fica quietinha que sua voz irritante já está me dando dor de cabeça! – Draco disse impaciente se sentando na outra ponta e verificando o que tinha na mesa com os olhos.

- Malfoy! – a Granger disse num tom agudo e assustado.

- A única voz irritante aqui é a sua, seu imbecil. – certo, os grifinórios estavam presentes e o ruivo tinha que se pronunciar naquela manhã que tinha começado tão bem. Porque mesmo tinha saído do quarto?

- Cala a boca Malfoy! – rosnou Potter, o santo salvador de pirralhas inocentes e irritantes.

- Nossa Potter! Agora realmente você me magoou. – sorriu irônico servindo sua xícara de café preto.

- Não liga não, Elisabeth – a ruiva igualmente pirralha se sentou ao lado dela, não a ruiva não parecia tão pirralha perto da loirinha irritante – Ele é um idiota! Ignore-o!

Elisabeth olhou para cada um deles com uma expressão confusa e depois olhou para Draco dando os ombros como se não se importasse com nada daquilo.

- Ele é só um garoto insuportável! – sorriu se servindo também de café puro.

- E você uma pirralha irritante! – Draco disse baixo encarando com raiva a garota na sua frente.

- Malfoy, você quer parar! – reclamou Granger, mas ele não estava interessado na opinião daquela sangue-ruim.

Elisabeth mantinha o olhar dele igualmente irritada, cada gole de café que tomavam parecia uma afronta ao outro, e Draco estava tão concentrado nessa batalha de olhares que quase levou um susto quando Elisabeth colocou a língua para fora numa careta e se retirou da mesa comentando alguma coisa sem importância.

Aquela garota irritante tinha tido a ousadia de dar a língua para ele? E ainda por cima o deixará ali sem nenhuma explicação como se ele não fosse nada importante? Quem aquela trouxa pensava que era para fazer isso com ele? Maldita pirralha insolente, ele era um Malfoy e não se dava as costas a um Malfoy. Apenas se obedecia a um Malfoy.

Pirralha, trouxa, chata, irritante, baixinha, loira, olhos azuis, boca pequena, mãos pequenas, aquela garota parecia toda pequena e desde quando ele ficava analisando trouxas? Aquela convivência com os malditos grifinórios estava fazendo mal a ele.

Terminou seu café e subiu para o quarto sem dar satisfação para aqueles idiotas. Estava cansado. O simples fato de respirar o mesmo ar que aqueles trouxas cansava, será que não poderiam fazer uma lei que proibisse essa aproximação desnecessária de seres inferiores? Seu pai bem podia se tornar o Ministro e melhorar a vida da comunidade bruxa com leis brilhantes como essa. Talvez um dia ele se tornasse Ministro e poderia fazer mudanças maravilhosas no mundo bruxo.

- Nunca mais uma sangue-ruim metida à sabe-tudo colocaria os pés em Hogwarts... – se jogou na cama pensativo e maravilhado com a genialidade dos seus pensamentos. Já podia se imaginar com rigorosos trajes bruxos na capa do Profeta Diário sendo aplaudido por suas idéias.

Sorriu convencido e sentiu algo peludo na sua mão direita.

- Eí, o que essa bola de pelo está fazendo aqui? – Draco olhava enojado para o pequeno gato cinza que se roçava nele e miava baixinho.

A porta do seu quarto foi escancarada e Elisabeth entrou com o cabelo enrolado numa toalha rosa vestindo uma saia com pregas estilo colegial marrom, uma regata branca, meias brancas ¾ e um sapato boneca preto.

- Eu não acredito! Apollyon! – Elisabeth gritou olhando para o gato que agora se aninhava nos braços de Draco.

- Acho que o seu gato prefere pessoas de classe. – Draco sorriu acariciando o gato apenas para irritar Elisabeth, no fundo odiava gatos.

- Seu traidor! – Elisabeth bufou apontando para o gato – Quer ficar com esse ser insuportável! Então fique!

Draco continuou olhando para a sua porta aberta. Tão rápido quanto entrou a garota saiu da peça deixando um perfume levemente adocicado no ar. Franziu a testa desconfiado. Não era um perfume pobre e comum como o da Weasley ou seco e forte como o da Granger. Nem era doce enjoativo como o que as meninas da Sonserina costumavam deixar pelo salão comunal que o faziam ficar espirrando. Esse era suave.

Balançou a cabeça irritado, só havia uma mulher que usava um perfume que ele gostasse e essa mulher o havia entregue para aqueles grifinórios estúpidos. Continuava sem notícias dela ou do seu pai ou dos seus colegas de classe ou do mundo bruxo em geral.

Estava isolado.

Sozinho.

Abandonado naquele mundo insano.

Olhou desconfiado para o gato no seu colo alheio a todos os seus pensamentos e sentimentos e o pegou colocando-o na altura dos seus olhos. Quando era pequeno um daqueles seres teve a ousadia de arranhar seu braço e Draco nunca mais havia deixado algum deles chegar tão perto de sua delicada pele. Aquele parecia que não o faria mal, mas era bom não exagerar.

- É bola de pelo, parece que somos só nós dois. – disse sem emoção e jogou o gato na poltrona oposta do quarto voltando a deitar na cama.

- Merlin! Acabei de acordar e...

Mal conseguiu continuar, pois agora Granger com um conjunto simples de calça jeans, camiseta e casaco aparecia na sua porta para importuná-lo.

- Malfoy, vamos com a Elisabeth na escola dela. – a garota não olhava para dentro do quarto e parecia contrariada.

- Estou pouco ligando! – Draco nem se dava o trabalho de olhar.

- Não estou avisando Malfoy, estou comunicando que você vai junto! – a sangue-ruim disse num tom mandão e saiu da porta do quarto.

- Eí! – Draco levantou e correu para a porta – Eu não tenho essas roupas trouxas para ficar andando por aí. – disse irritado.

- Estou pouco ligando! – ouviu Granger rir dando os ombros e descendo a escada.

- Cretina! – deu um soco na parede com força.

- O que está acontecendo? – Elisabeth apareceu no corredor terminando de escovar o cabelo, agora vestia uma blusa bege por cima da regata.

- Eu não tenho roupas do seu mundo idiota! – Draco rosnou.

Elisabeth o olhou de cima a baixo desistindo de pentear o cabelo e colocando um dedo na boca pensativa, balançava a cabeça fazendo o cabelo liso deslizar com o seu movimento. A figura dela ali o observando fazia-a parecer extremamente frágil na percepção de Draco.

- Vem! – disse passando por ele e se encaminhando pelo corredor.

- Por quê? – perguntou cruzando os braços.

- Acho que tenho roupas que cabem em você. – ela respondeu simplesmente se dirigindo para um dos quartos mais afastados.

- Você é uma garota! – Draco reclamou a seguindo.

Elisabeth riu.

- Não são minhas, são do meu primo. – ela abriu a porta de um dos quartos e se encaminhou para o guarda roupa.

Draco bufou ainda de braços cruzados.

- Vejamos... Você não gosta de nada colorido...

Ela dizia pensativa olhando as roupas dobradas no armário e Draco apenas a observava desconfiado, em alguns instantes ela se voltava para ele como se quisesse conferir alguma coisa.

- Também não acho que coisas coloridas fiquem bem em você... Preto...

- Verde e prata... – ele disse olhando sobre a cabeça dela.

- O que? – ela se virou confusa.

- Verde e prata são as cores da minha casa em Hogwarts. – Draco respondeu dando os ombros.

- Hog o que? – Elisabeth continuou a olhá-lo confusa.

- Hogwarts é a minha escola.

- Ah! – Elisabeth cruzou os braços e estufou o peito – Então o tão mais velho Sr. Draco Malfoy ainda freqüenta a escola. – ela desdenhou.

- Olha aqui pirralha! – Draco apontou um dedo em direção ao rosto dela que o virou no mesmo instante.

- Não aponte esse dedo para mim! – Elisabeth estreitou os olhos.

- Irritante! – ele rosnou.

- Insuportável! – ela devolveu se voltando para as roupas.

Draco observou o quarto que era mais simples que o seu e não tinha nenhum atrativo, na verdade nada naquela casa trouxa tinha algum atrativo para ele. Ali era pequeno e tinha uma cama de solteiro no canto, não parecia ter banheiro próprio e as cores eram claras, pasteis para ser sincero. Sua mãe gostava de tons pastel. Ela vivia reclamando que queria redecorar seu quarto, mas ele gostava do contraste verde e branco das suas coisas.

- Aqui! – voltou para olhar Elisabeth que tinha um conjunto de roupas na mão.

Pegou as roupas com cuidado e concluiu que eram uma calça social preta simples e uma blusa também social branca. Haviam outras peças também junto.

- Acho que essas servem em você! – Elisabeth disse hesitante e se afastando para a porta – Você irá precisar de outras roupas, acho que podemos sair para comprar algo. – ela deu um pequeno sorriso e o deixou sozinho no quarto.

Suspirou pesadamente e começou a tirar o blusão apertado e a calça curta, talvez não fosse tão insuportável usar aquelas roupas. Vestiu apressado e se olhou no grande espelho que tinha atrás da porta. Estava razoável.

- Está pronto? – ouviu a voz melosa de Elisabeth perguntando atrás da porta.

- Sim. – abriu a porta encontrando a garota impecavelmente vestido com seu uniforme marrom.

- Deixa eu arrumar... – ela puxou a manga da camisa dobrando-a de maneira perfeita até o cotovelo. Draco pensou em reclamar, mas desistiu intrigado em como mãos tão pequenas podiam fazer um trabalho tão delicado, talvez fosse por isso mesmo. Ela tinha unhas curtas, pintadas num esmalte clarinha e não usava anéis.

- Você tem um bonito anel. – ela comentou percebendo que ela analisava suas mãos.

- É o símbolo da minha casa em Hogwarts. – ele respondeu acariciando o anel em seu dedo.

- Um dia você me conta? – a garota perguntou mordendo o lábio inferior terminando der arrumá-lo.

- O que? – encarou os olhos azuis do céu.

- Sobre o mundo de vocês. – viu o rosto dela corar antes de ter abaixado o olhar.

- E porque eu perderia meu tempo explicando algo para uma trouxa como você? – e ele nem esperou resposta saindo dali e se encaminhando para o andar de baixo.

Quando chegou à sala não se deu ao trabalho de falar com os grifinórios que esperavam Elisabeth, já arrumados, encostou-se a uma das paredes longe deles também esperando. Não demorou muito ela desceu com a fisionomia irritada e essa imagem fez Draco sorrir. Era tão gratificante irritar as pessoas, principalmente trouxas e seres inferiores.


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