Surpresas do Coração escrita por EmyBS


Capítulo 3
O DETESTAVEL MUNDO TROUXA




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Aquela geringonça trouxa que eles chamavam de carro andava devagar, mas podia ser pior. A cidade era deixada para trás e Draco percebeu que entravam numa área nobre da cidade mais ao sul de Londres. Os prédios cor de tijolo da cidade eram deixados para trás conforme uma nova paisagem começava a aparecer, inicialmente, tímida com pequenas árvores beirando a pista até tomar conta de tudo onde sua vista poderia alcançar.

Verde, muito verde e espaço livre.

Estavam num luxuoso condomínio trouxa, Draco conhecia aquele condomínio, era de pessoas importantes, um “amigo” de seu pai havia dado uma festa ali após a Copa de Quadribol. Não tinha prestado muita atenção na época e tinha ido via lareira, mas sabia que era o mesmo condomínio, pois tinha explorado o lugar junto com outros garotos em busca diversão.

Um lugar cheio de trouxas.

Esse mesmo “amigo” do seu pai havia vendido a casa no ano seguinte não agüentando a vizinhança. Insuportáveis como ele havia dito. Agora Draco Malfoy entrava mais uma vez naquele condomínio metido e trouxa, um lugar onde aqueles seres inferiores tinham a ousadia de se acharem melhores que eles, bruxos puro sangue. De qualquer maneira, as mansões lembravam a sua casa, não fazia idéia de como estaria a Mansão Malfoy agora e se algum dia iria voltar a morar lá. Esse pensamento o deixava triste.

Os gramados verdes passavam, as árvores passavam, o dia começava a escurecer fazendo as ruas amplas se iluminarem naquele tom amarelado e artificial deixando o lugar com um aspecto sombrio e fantasmagórico.

- Uau! – ouviu a pequena Weasley exclamar.

- São enormes... – concordou Potter.

- Não são maiores que a minha... – resmungou Draco deprimido demais pra espezinhar os dois grifinórios.

- Malfoy, pra você nada é melhor que as suas coisas... – respondeu acida a garota ruiva.

- Eu não tenho culpa se tudo é melhor que as suas coisas! – devolveu Draco no mesmo instante.

Draco sentiu ser esmagado e receber tapas diversos e algumas cotoveladas, Potter parecia estar dividido entre segurar a ruiva e ajudá-la.

- Senhorita Weasley! – disse calmo Dumbledore, como aquele velho idiota conseguia ficar calmo sempre, só podia ser porque não era ele que estava sendo estapeado por aquela Weasley neurótica.

- Ele que começou diretor. – defendeu o “Santo Potter”, que mania irritante de defender todo mundo tinha aquele garoto.

- Meninos comportassem nos chegamos. – concluiu com um sorriso o velho gagá idiota já saindo do carro.

Era uma mansão, uma mansão grande, uma mansão enorme e isso era muita coisa na visão de Draco Malfoy. Odiava coisas maiores que as dele e aquela mansão era maior, talvez fosse só impressão. Podia ver uma garagem na direita, muros altos, uma rua asfaltada, um piscina, não, não uma piscina, mas um conjunto de três piscinas mais ao fundo. Na entrada parecendo um pouco receoso estava Rufus Scrimgeour, chefe dos aurores.

- Dumbledore. – cumprimentou o homem – Não sei se é uma boa hora.

- O que houve Rufus? – perguntou Moddy preocupado olhando todo ao redor.

- Uma tragédia! – o bruxo tinha um ar cansado – Assassinaram meus cunhados.

- O que? – praticamente gritaram aqueles grifinórios histéricos.

Draco por sua vez continuava encostado no carro incomodado com aquela roupa trouxa de quinta que fora obrigado a usar e muito irritado com todo aquele falatório. Queria sair daquele lugar o quanto antes.

- Houve uma festa ontem, coisa de trouxas e meu cunhado me fez ir junto com a sua irmã para acertarmos os últimos detalhes da estadia dos jovens aqui. – dizia desolado o homem enquanto Draco bocejava entediado.

- Um ataque de Comensais? – perguntou Potter naquele tom grifinório de coragem, honra e todos essas baboseiras heróicas.

- Sim. – concordou Scrimgeour – Aparentemente eu era o alvo, mas acertaram meus cunhados trouxas.

- Isso é terrível! – falou compadecido o velho gaga, imagina se isso era terrível, eram apenas trouxas, grandes coisas.

- Estou preocupado com Elisabeth.

- Vocês aumentaram a segurança? – Moddy nem percebeu as palavras de Scrimgeour.

- Sim, sim... o ataque não foi aqui...

- Quem é Elisabeth? – perguntou Granger sabiamente, tinha que ser a sabe-tudo.

- Minha sobrinha.

- Como ela está? – Dumbledore agora caminhava para dentro da “casa” levando Scrimgeour pelo ombro e fazendo todos os restantes o seguirem, inclusive um mau humorado Draco Malfoy.

- Estranha, ela viu os feitiços, não conhecia do nosso mundo.

- E agora? – perguntou a Weasley abrindo espaço entre o irmão e Potter.

- Eu não sei... ela se trancou no quarto...

Nesse instante se ouviu passos na escada e todos viraram para olhar. Era uma garota e só podia ser a tal da Elisabeth, trouxa, pequena, frágil, os cabelos loiros batiam até um pouco acima da cintura, vestia calça preta e uma blusa de alça também preta, seus olhos não denunciavam se tinha chorado ou não, mas seu olhar parecia perdido.

- Querida... – começou Scrimgeour mas foi interrompido pela garota.

- Essas são as pessoas que você havia ido falar com meu pai. – o tom era seco e arrogante deixando todos desconfortáveis.

- Sim esses são... – mais uma vez foi cortado.

- Eles são como você e aqueles mascarados?

- sim, são bruxos, mas...

- Porque eu hospedaria pessoas como vocês? – a sensação de desconforto era tão absurda que até Draco estava se sentindo incomodado, a garota olhava para eles como se fossem aberrações.

- Elisabeth! – uma senhora surgiu na sala falando de maneira firme e severa, era magra, bem baixinha e tinha os cabelos presos num coque firme e usava um vestido negro simples e reto.

- Está é a Madalena Bonvintém, nossa governanta. – apresentou Scrimgeour ainda parecendo nervoso com a situação.

- Que seja – a garota deu os ombros – Mostre os quartos para eles Madalena, eu vou voltar para o meu. – ia dizendo e voltando a subir as escadas.

- Espere vamos pelo menos apresentá-los afinal eles são pouca coisa mais velhos que você – disse Dumbledore com sua voz bondosa e excessivamente doce – Estes são Harry Potter, Rony e Gina Weasley, Hermione Granger – cada um deles sorriu para a estranha garota que continuava parada no meio da escada esperando para sair dali.

- E este é Draco Malfoy.

- Quantos Malfoys existem no seu mundo? – a garota loira perguntou se virando para Draco estreitando os olhos.

- Só a minha família. – Draco respondeu ríspido na sua voz arrastada.

Ninguém entendeu muito bem o que aconteceu a seguir. A velocidade com que Elisabeth voou para cima de Draco seria considerada mágica se eles não soubessem que ela era uma trouxa. Ele sem esperar por aquilo acabou caindo de costas no chão com a garota sobre ele socando o seu rosto descontroladamente. Doía horrores, tinha certeza que seu nariz estava quebrado, não conseguia nem raciocinar para pegar sua varinha e tira-la de cima dele.

Tão rápido como ela começou a socá-lo Elisabeth parou começando a chorar caída sobre o peito de Draco que mal conseguia respirar com o sangue que escorria do seu nariz. Estava irritado, tinha sido agredido naquela casa trouxa de malucos e tudo o que queria era sair dali. Não ficaria com aquela louca. Porque ninguém tinha ajudado-o? Ele sabia que os grifinórios ridículos não ajudariam, mas Dumbledore? Scrimgeour?

- Elisabeth? – ouviu a voz de Scrimgeour chamar a menina.

- Foi esse o nome que chamaram ele... Vamos embora Malfoy... – Elisabeth praticamente gritava desesperada entre choro e raiva agarrada as vestes dele soluçando – Esse é o nome do assassino dos meus pais!

Draco estava estático. Seu pai havia assassinado os trouxas pais dela? Seu pai era um assassino? Draco sabia que seu pai fazia coisas ilegais, que muitas vezes torturara trouxas, mas eram brincadeiras bobas, nunca passou pela cabeça de Draco que seu pai mataria realmente uma pessoa. Trouxa ou não. Parecia surreal pensar que seu pai poderia fazer algo dessa maneira.

Não conseguia acreditar em tudo aquilo estava apanhando de uma simples trouxa, seu pai era um assassino, a cada instante afundava ainda mais naquele lamaçal que havia se tornado a sua vida, mas uma coisa chamava a sua atenção agora. A maluca que chorava, sujando ainda mais as suas vestes, murmurava sem parar uma mesma frase como um mantra, era tão baixo que só ele deveria estar ouvindo por ela estar tão próxima. A garota repetia sem parar que não queria ser igual ao seu pai. 

- Eu não quero ser igual ao meu pai... eu não quero ser igual ao meu pai...

Por mais absurdo que a situação pudesse parecer Draco conseguia compreender um pouco a trouxa insana que chorava desesperada em cima dele, pois ele também não queria ser igual ao seu pai, não mais, não queria ser um assassino, mesmo que fosse um assassino de trouxas, não queria aquilo para a sua vida e pela primeira vez Draco entendeu a traição de sua mãe. Ela sabia no que seu pai estava se metendo e não queria que o seu único filho tivesse o mesmo futuro dele. Teria que agradecer eternamente sua mãe por o ter salvo.

Isso se a trouxa estúpida não o matasse antes.

- Elisabeth... – ouviu uma voz suave chamar a menina e Draco sentiu o peso sob o seu corpo ser reduzido e percebeu que Elisabeth estava se levantando, mas seu olhar não dizia nada, parecia perdido.

- Mostre os quartos Madalena, eu vou me retirar para o meu. – e ela subiu as escadas sem olhar para trás.

Assim que ouviu os passos na escada Draco se levantou meio tonto, pelas caras que os grifinórios faziam tinha certeza que seu rosto estava muito machucado. Mal tinha posto os pés naquele mundo nojento e já tinha levado uma surra. Se sentou no sofá e olhou para suas mãos que estavam cheias de sangue, do seu sangue.

- Draco! – ouviu a sangue-ruim lhe chamar, olhou para ela e viu que ela tinha a sua varinha em punho numa clara tentativa de ajudá-lo a se curar.

- Nem pense em chegar perto de mim, sua sangue-ruim. – Draco disse sentindo o gosto de sangue na boca.

- Nem apanhando você aprende. – ouviu o Weasley dizer.

- Venha aqui meu jovem. – Dumbledore o chamou fazendo Draco ir até ele de muita má vontade – Vai ser a ultima vez que vocês irão usar magia, será melhor se manterem incógnitos. – com um giro Dumbledore limpou o sangue e fechou alguns cortes, arrumando o nariz dele no lugar, depois deu uma poção para Draco tomar.

- Até mais minhas crianças! – Dumbledore partiu deixando os cinco jovens sozinhos com a governanta que iria conduzi-los para os quartos.

Draco olhou abobalhado para a porta por onde Dumbledore, Moddy e Scrimgeour haviam passado, era isso mesmo? Ele iria ficar ali sozinho naquela casa com um trouxa assassina e um bando de grifinórios? Não! Aquilo não podia estar acontecendo, tinha que ser um pesadelo. Ele fechou os olhos com força para tentar acordar, precisava voltar para a sua cama quentinha na Mansão Malfoy, ser acordado pela sua mão fazendo carinho no seu cabelo platinado, praticar quadribol no seu vasto jardim.

Aquilo tinha que ser um pesadelo! Tinha que ser!

- Me desculpe por isso. – a governanta estava no pé da escada indicando o caminho e cortou seu lamento.

- Não se preocupe com ele... – interrompeu a Weasley – Ele merecia de qualquer maneira.

- Mas a senhorita Elisabeth é um doce de menina... – a mulher lamentou olhando para o chão – O assassinato dos pais a deixou apática para a vida.

- Nós iremos tentar ajudá-la! – o sempre bom samaritano Santo Pothat tinha que se manifestar.

- Eu ficaria muito feliz com isso crianças! – a mulher sorriu subindo as escadas e sendo acompanhada pelos demais.

Draco olhou mais uma vez para a porta de saída e suspirou. Poderia tentar fugir, mas para onde iria? Sua mãe estava escondida e seu pai preso. Seu pai era um assassino. Não tinha mais tanta vontade de voltar para o lado de pai e seguir seus passos. Engoliu o bolo que se formou na garganta voltando a subir as escadas. Tinha muitas perguntas a fazer ao seu pai, mas esperar e ficar distante parecia, a melhor das opções naquelas circunstâncias. Só podia torcer para que seu pai sobreviver àquela guerra e quando tudo acabasse pediria as explicações necessárias. Quando tudo acabasse talvez o mundo voltasse a fazer sentido.


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