Surpresas do Coração escrita por EmyBS


Capítulo 2
FINALMENTE VAMOS NOS MUDAR




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Foi difícil, mas conseguiu escapar dos gêmeos aquela noite. Talvez tivesse sido sorte a senhora Weasley estar tão preocupada, que perturbou tantos os garotos, com mimos e apertos que eles acabaram deixando as brincadeiras de lado. Talvez tivesse algo haver com o fato dele não ter comido nada e nem bebido.

Se arrastou ao andar de cima junto com os garotos mais parecendo uma sombra que qualquer outra coisa, isso não fazia diferença para ele, pois quando o Lorde das Trevas ressurgiu era assim que ele vivia dentro da sua própria casa como uma sombra para não ser notado. Na verdade isso era quase sua segunda natureza. Como um dom que ninguém nunca reconheceu. Sua mãe certamente odiava essa característica quando ele era pequeno.

Deitou no colchão frio, feliz por saber que seria a ultima vez que estaria naquela casa, não que fosse fazer muita diferença, pois ainda estaria com aqueles insuportáveis, mas talvez fosse para uma casa bruxa descente sem todos aqueles ruivos gritando em seu delicado ouvido. Aquele era uma grande diferença da sua casa para aquele chiqueiro, na Mansão Malfoy o silêncio imperava absoluto. Contudo aquele-que-não-deveria-ser-nomeado também gostava de gritar, assim com sua tia Bellatrix. Aquela seria uma característica em comum, que os Weasley, com absoluta certeza, não gostariam de saber.

Como já era esperado dormiu pouco, mas dessa vez decidiu levantar logo e tentar descobrir para onde seria levado com aqueles grifinórios estúpidos. Fez sua higiene matinal com tranquilidade e colocou uma das suas vestes negras favoritas. Sua mãe sempre dizia que o preto ficava bem com sua pele clara e seus olhos azuis acinzentados. Dizia que parecia um pequeno príncipe. Suspirou triste com a lembrança e desceu as escadas calmamente.

- Bom dia Malfoy! – ouviu a senhora Weasley dizer enquanto fazia o café.

- Bom dia! – resmungou sem nenhuma motivação para tentar parecer simpático.

- Tem café puro no bule... O resto ainda estou acabando. – a mulher gorda e ruiva sorriu para ele que apenas revirou os olhos e se serviu de uma xícara de café.

- Quanto tempo vou ficar aqui? – tentou parecer casual e desinteressado.

- Acho que menos tempo que esperávamos. – ela falou num tom cansado fazendo os itens do café irem para a mesa com um aceno de varinha.

- Vou voltar para casa? – comentou alegre mesmo sabendo que não era disso que ela falava.

- Acho bem improvável. – mais uma vez ela sorriu e ele se manteve sério, podia ouvir passos na escada.

- Bom dia querida! – o Sr. Weasley entrou na cozinha feliz se sentando ao lado da esposa na mesa – Bom dia Malfoy!

- Bom dia Sr. Weasley! – Draco respondeu educado como havia prometido a sua mãe. Odiava quando sua mãe fazia aqueles pedidos estranhos. Quem era educado com pessoas como aquelas? Amantes de trouxas, pobres e escandalosos! Principalmente escandalosos! A começar por aquele cabelo vermelho vivo, o rosto cheio de sardas e os gritos estridentes.

- Acho melhor chamar as crianças! – o Sr. Weasley disse serio – Moody deve chegar a qual quer momento.

- Alastor Moody? – Draco perguntou curioso desistindo de enumerar todos os defeitos daquela família asquerosa.

- Sim, vocês vão embora daqui. – mas o Sr. Weasley não pode falar mais nada, pois os gritos da senhora Weasley acordando as “crianças” chegou até eles. Draco revirou os olhos. Escandalosos e chamativos. Um feitiço despertador seria bem mais delicado e menos barulhento.

Não demorou muito para o som de portas batendo junto com resmungos se fez ouvir, até todos descerem para a cozinha fazendo caretas ao se depararem com Draco já sentado a mesa tomando seu café da manhã normalmente.

- Porque mesmo a gente tem que comer na mesma mesa que esse aí? – a garota ruiva apontou para ele como se fosse um bicho indesejável.

- Gina, por Merlin! – Hermione ralhou enquanto a senhora Weasley olhava feio para a filha – Bom dia Malfoy!

- Estava aceitável. – Draco respondeu seco tomando mais um gole do seu café puro.

- Quem você estava defendendo mesmo Mione? – a Weasley sorriu marota vendo a Granger ficar levemente vermelha.

- Bom dia! – Potter prestava atenção em limpar os óculos ao sentar na cadeira em frente a Granger.

- Bom dia! – Weasley praticamente se jogou na cadeira ao lado da Granger caindo em cima dela que reclamou sorrindo. – Ah! Você está aqui! – ele virou o nariz ao se deparar com Draco. – Acho que perdi o apetite!

- Sério! Então eu deveria ficar mais vezes, não sei como seus pais conseguem te sustentar do jeito que você come. – Draco disse com desdém na sua voz arrastada e se esforçou muito para não se encolher quando Rony se levantou da mesa quase indo em sua direção.

Não que Draco fosse um garoto completamente magrelo e baixo para se intimidar, tinha um corpo esguio com seus 1.80 de altura, mas Rony tinha se desenvolvido assustadoramente nos últimos anos e já tinha mais de 1.90 de altura com ombros largos e braços fortes pelos treinos como goleiro da Grifinória. Não era algo seguro vê-lo se erguer e fechar o punho ao seu lado. Não era mesmo, mas Draco tinha uma sorte incrível.

- Ron! – Hermione segurou o braço do ruivo que já estava vermelho de raiva – Não vale a pena!

- Porque só você pode bater nele? – Draco sentiu ânsias de vomito pelo jeito meloso com que aquele grandalhão se inclinou para a sangue-ruim piscando seus grandes olhos azuis fazendo carinha de inocente.

- Rony! Isso foi no terceiro ano! – Granger corou e colocando um dedo na ponta nariz comprido dele – E eu sou mais controlada!

- Vocês ficam tão bonitinhos assim! – a Weasley falou fazendo careta e logo caiu na gargalhada junto com Potter enquanto Draco apenas fechou ainda mais a cara revirando os olhos para aquela cena patética a sua frente.

- Idiotas! – Draco resmungou baixo voltando toda a sua atenção para o seu café, que por sinal estava na terceira xícara naquela manhã.

O forte som de aparatação chamou a atenção de todos para a porta de entrada.

- Bom dia! – ouviram a voz bondosa de Dumbledore assim que a Sra. Weasley abriu a porta.

- Bom dia Dumbledore! Alastor! Querem comer alguma coisa? – a Sra. Weasley disse sorridente acompanhando os homens até a mesa.

- Bom dia! Que bom que já estão todos de pé! - Moody comentou sério mancando e com seu olho mágico observando a todos.

- Por quê? – Potter perguntou nervoso parando de comer e encarando o homem.

- Vamos levar vocês para um novo esconderijo. – quem respondeu foi Dumbledore aceitando uma xícara de chá oferecida pela Sra. Weasley.

- Porque estamos nos escondendo? – Potter parecia irritado com aquela condição. Claro, como bom grifinório deveria preferir fazer algum ato heróico e estúpido como de costume. Eles deveriam permitir e assim algum dia o maldito não teria tanta sorte e acabasse morto de vez. Ou conseguiria mais uma vez chamar a atenção por um brilhante desfecho. Lamentável!

- Porque vocês ainda são crianças para lutarem. – o tom rude de Moody calou o garoto-cicatriz.

- Mas Harry já encarou você-sabe-quem muitas vezes! – a ruivinha sorriu confiante fazendo todos os jovens, menos Draco sorrirem.

- Mas nunca com o Lorde das Trevas tão forte. – a voz arrastada de Draco fez todos os presentes se virarem para ele.

- O jovem Malfoy está certo. – Dumbledore olhava com uma expressão indecifrável para Draco.

- Terminem o café e arrumem suas coisas queremos partir o quanto antes. – Moddy olhava nervoso par o relógio.

- Certo! – disseram os garotos juntos se levantando.

Gina percebeu que Draco continuava parado apreciando sua xícara de café e resolveu questioná-lo.

- Você não vai arrumar suas coisas Malfoy? Não vamos esperar-lo. – o tom irônico fez os outros garotos rirem e Hermione fechar a cara contrariada.

- Sou eu que estou esperando vocês – apontou sua mochila pronta ao lado dele – ruiva idiota... Aí!

- Não chame minha irmã de idiota, sua doninha! – Rony reclamou voltando a subir as escadas.

Draco ouviu uma grande correria nos andares de cima e ficou muito feliz por já ter arrumado suas coisas, tudo o que não queria, era ter que ficar esbarrando com aqueles grifinórios metidos. Quase uma hora depois os garotos desceram com suas malas.

- Ah já ia me esquecendo, por favor, usem roupas trouxas. – Moddy alertou vendo as vestes negras de Draco quando ele se levantou, era o único com roupas bruxas.

- Eu não tenho roupas trouxas! – se indignou contrariado o loiro cruzando os braços.

- Acho que posso ver alguma do Ron pra você, querido! – a Sra. Weasley saiu em busca de uma roupa enquanto Rony e Draco torciam os rostos em uma careta.

- Eu não vou usar uma roupa trouxa e do Weasley! – o nojo era palpável na voz de Draco.

- Merlin! Queime essa roupa depois dela encostar nesse Comensal! – Rony recebeu um tapinha de Hermione e ouviu os risos abafados de Harry e Gina.

- Certo Malfoy acho que tenho uma roupa velha do Dudu que possa te emprestar. – Potter disse sarcástico puxando uma roupa muito larga da mochila.

- Acho que vai ficar ótima em você Malfoy! – Gina gargalhou com a cara de incredulidade de Draco para aquelas roupas que deviam dar duas voltas nele.

- Acho que você já pode se trocar, querido! – a Sra. Weasley pareceu entrar na brincadeira dos meninos que iriam obrigar Draco a vestir aquelas roupas.

- Eu não vou vestir isso! – Draco mal conseguia olhar para aqueles trapos em sua mão.

- Vai sim! – todos disseram num único coro fazendo-o se encolher e subir resignado em direção ao banheiro antes que lhe obrigassem a trocar de roupa ali na sala.

Aquilo era humilhante demais. Nem mesmo as roupas de Crabbe ou Goyle ficariam tão largas nele. Tentou fazer alguns ajustes com mágica, mas mesmo assim aqueles trapos velhos ficavam enormes no seu corpo esguio. Depois de muito custo desistiu de tentar parecer descente, pois seria inútil e desceu as escadas para alegria daqueles grifinórios sem classe.

Quando Draco apareceu na sala com aquelas roupas todos, sem exceção, caíram na gargalhada. Aquele garoto nojento e metido estava hilário com aquelas roupas trouxas. Nem mesmo Dumbledore aquentou segurar o riso com a imagem de Draco emburrado de braços cruzadas vestindo uma camisa branca no mínimo uns três números maiores que ele e uma calça jeans gasta e amarrada precariamente na cintura fina do garoto. Nunca em toda a sua vida Draco pareceu tão magro quanto naquele instante.

Draco bufava de raiva diante das gargalhadas, mas não podia fazer muita coisa. Era horrível estar a mercê deles, só podia esperar pelo pior. Cruzou os braços impaciente completamente vermelho de vergonha. Se algum dia lhe dissessem que ele passaria por aquelas situações ele nunca admitiria. Em momentos como aquele ele imaginava se não era melhor receber alguma maldição imperdoável do Lorde das Trevas, tinha a impressão que doeria menos, pelo menos seu ego estaria intacto. Ele tinha receio se restaria algo para preservar depois que todo esse inferno acabasse e finalmente voltasse para o seu lar.

Expirou pesadamente ao se dar conta que nunca voltaria para o seu lar, nunca seria como antes, nunca mais teria seus pais juntos, nunca mais seriam uma família, nunca mais...

- Acho que o jovem Malfoy está aceitável. Podemos ir então. – Dumbledore sentiu a angustia do jovem a sua frente e decidiu intervir, mas era inegável que com toda aquela pose de superior o jovem Malfoy ficava cômica daquela maneira tão trouxa.

Draco se manteve distante quando as despedidas começaram, não tinha porque se despedir daqueles dois Weasley mais velhos. Estava ali obrigado e contra a sua vontade. Pegou a sua mochila e colocou no ombro. Tinha ganho aquela mochila do seu pai no inicio do ano letivo, antes dele ter sido preso, antes do seu mundo perfeito desmoronar. Uma mochila preta de couro de dragão com o símbolo da Sonserina estampado.

- Adeus Malfoy! – a Sra. Weasley lhe deu um abraço apertado o pegando desprevenido, não estava acostumado com aquele tipo de coisa. Arregalou os olhos e permaneceu mudo, sentiu tapinhas no seu ombro e viu o Sr. Weasley também se despedindo.

- Cuide-se.

- Vamos criança! – Moddy chamou da porta.

- Para onde vamos? – perguntou Potter já com a sua mochila velha nas costas, era mesma mochila que comprara no segundo ano com o símbolo da Grifinória.

- Para a estação de King’s Cross de lá vamos pegar outra condução. – Dumbledore explicou enquanto todos se preparavam para partir. – Vamos de chave portal! – todos os oito seguraram o arco que Dumbledore mostrou.

Draco sentiu ser puxado e não aguentou não sorrir torto ao ver todos aqueles grifinórios estatelados no chão quando chegaram a uma área vazia da estação, apenas ele, Dumbledore e Moddy permaneciam de pé. Os outros levantaram reclamando e olhando torto para o loiro que mantinha os braços cruzados, sem conseguir manter uma pose superior com aquelas roupas largas.

- Droga! – ouviu Potter reclamar recolocando os óculos.

- Por aqui meninos! – Moddy os levou para a entrada onde dois veículos os esperavam.

- Vamos de carro? – a Granger perguntou entrando pela porta que Moddy tinha aberto e sendo seguida por Rony.

- O que é isso? – Draco perguntou confuso olhando para o veiculo estranho.

- Carro Malfoy, Malfoy carro. Agora entra idiota. – a pequena Weasley disse empurrando o loiro para dentro do veiculo.

Estavam num diferente do de Rony e Hermione. Havia um homem ao volante e assim que o Potter fechou a porta e Dumbledore se acomodou no bando da frente aquele estranho meio de transporte começou a andar.

- Você nunca andou num carro Malfoy? – Potter perguntou divertido da expressão de espanto de Draco.

- Porque eu andaria numa coisa dessas Potter? – o outro respondeu com desdém, mas analisando tudo a sua volta.

- Como você vinha a estação? – Gina perguntou, pois sempre iam no carro encantado do pai.

- Via Rede Flú. – Draco revirou os olhos como se fosse obvio.

- E o Nôitibus? – perguntou Potter agora realmente curioso – É o mesmo estilo.

- Isso é para bruxos pobres, eu nunca viajei num deles! – Draco empinou o nariz ainda olhando pela janela. – Porque estamos viajando pelo meio trouxa?

Os três se viraram para Dumbledore que parecia distraído deles.

- Porque esse é o único meio de chegar no mundo trouxa, principalmente quando ele recebeu proteção de bruxos. – Dumbledore disse do seu jeito risonho.

- Então nosso destino... – a Weasley também parecia um pouco desconcertada com aquela informação.

- Vamos ficar no meio de trouxas? – Draco quase gritou não acreditando em como sua vida podia cair em níveis alarmantes.

- Exatamente, Sr. Malfoy. – Dumbledore sorriu do desespero do menino.

Draco voltou a olhar para a paisagem assustado, se achava que tinha sido ruim numa casa bruxa pobre como a dos Weasley não conseguia imaginar como seria numa casa trouxa.

Viver entre trouxas?

Ele com certeza estava sendo muito castigado. Devia ter feito algo muito grave, algum ancestral devia ter cometido um crime hediondo para ele estar sofrendo tudo isso. Como poderia encarar um puro sangue depois disso? Como poderia encarar seu pai depois disso? Como poderia se olhar no espelho? Ele um puro sangue iria conviver no meio daqueles imundos trouxas, já não bastava viver no meio de traidores do sangue? Teria que conviver com aquela ralé? Se ele acreditasse em astrologia tinha certeza que estava vivendo o seu inferno astral.


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