até Nascer o Sol escrita por TomSchwallier


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Ouvi a música ''Depois Da Meia Noite - Capital Inicial'' enquanto escrevia. -q



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   Já amanheceu e eu ainda não dormi, decido apenas calçar os sapatos e caminhar, sentir a brisa gélida tocar minha pele enquanto observo os carros e as pessoas apressadas, comparando meus passos lentos e despreocupados com os deles; rápidos e urgentes. Provavelmente algumas daquelas pessoas sentiriam inveja de como minha vida era, ao menos a princípio. Primeiro a inveja, falta de interesse, tédio e cansaço por notar que tudo não passava de doces sonhos, então elas sentiriam tristeza e não saberiam lidar com ela... Isso pelo fato de minha vida ser como é, vazia.    Caminho até uma praça e me sento em um dos bancos, começo a admirar as árvores, esperando por algo. Qualquer coisa. Desejando que o destino fosse ainda mais aleatório e que eu pudesse presenciar algo real que me causasse surpresa, que me fizesse sentir adrenalina e até quem sabe alegria.    Fecho meus olhos com força cerca de duas horas depois de ter chegado ali, respiro fundo e solto o ar lentamente enquanto reabria os olhos, me levanto enquanto enfio as mãos nos bolsos do agasalho. Desde quando tenho esperado por algo?

- Desde sempre. - Resmungo voltando a caminhar.

   Tiro uma das mãos do bolso e passo a mesma por meus cabelos, decidido por vasculhar em minha mente algo que eu realmente gostaria de fazer, a única coisa que surgiu foi uma imagem onde eu era a figura sentada em uma cama, com um computador em cima das pernas e um cigarro na mão esquerda. Fumar. Era isso. Olhei em volta e rapidamente avistei um boteco, caminhei até o mesmo e entrei no local, sem me importar com os olhares que se focavam em mim até que saí de lá com um maço de cigarros no bolso.Talvez beber uma garrafa de vodka inteira também pudesse ser algo que eu gostaria de fazer, mas o horário não permitia, ainda era cedo e pensar na dor de cabeça que certamente me causaria me fez de súbito contentar-me com os cigarros.    O farol estava amarelo e logo estaria vermelho, me permitindo atravessar a rua. Quando finalmente os carros param a centímetros de distância da faixa de pedestres eu caminho pela rua sem a mínima preocupação até chegar do outro lado da calçada, havia um grupo de amigos parados a cerca de três metros de distância de onde eu estava, todos jovens e em busca de adrenalina, provavelmente. Os olhei por pouco tempo, sem avaliá-los muito, mas o suficiente para perceber seus olhares focados em mim. Reviro os olhos e enfio a mão no bolso da blusa de frio, tirando o maço de cigarros e abrindo o mesmo em seguida, o isqueiro estava no bolso direito da calça, como sempre; pego e o acendo, olhando para sua chama por uns dois segundos, antes de acender o cigarro. Aproximo-me deles sem me preocupar com seus olhares avaliativos e curiosos, passo a língua por meus lábios e olho-os firmemente pegando alguns de surpresa e fazendo com que os mesmos desviassem o olhar. Será que a busca por adrenalina deles teria melhores resultados que os meus? Provavelmente sim, já que as chances de um grupo de amigos saber como sentir o gosto da liberdade e da emoção ser bem melhores e maiores que as minhas. Uma das pessoas que compunham o grupo solta um ''Oi'', demonstrando expectativas em sua expressão, a diferença de idade e meu aspecto de sono não pareceram importar. Esbocei um leve sorriso ao imaginar as agradáveis, porém pequenas possibilidades de cortejá-la, meu ânimo não colaborava há algum tempo já.    Naquele momento ir para casa parecia a coisa mais coerente a se fazer, mesmo que isso não significasse que eu teria muito o que fazer lá, na verdade não o teria, iria para casa e não faria nada, o mesmo que vem acontecendo desde que Tom viajara: Nada. Viro-me de súbito ao sentir uma mão puxando meu braço direito, franzi o cenho ao ver a pequena parada me olhando timidamente e mesmo assim parecia estar animada.

- Hey, eu e meus amigos queremos saber se você nos emprestaria seu isqueiro. Quero dizer, você deve ter um. - A garota que há minutos atrás havia feito um simpático cumprimento falou gesticulando e eu olhei para o cigarro em minha mão.

- Não acha que é muito nova para fumar? - Pergunto com o tom de voz divertido e ergo a sobrancelha esquerda. Seus cabelos escuros caiam por seu ombro e balançavam quando o vento os tocava, seus olhos escuros e bem marcados pela maquiagem me olhavam curiosos, seu corpo com curvas bem definidas era como um convite tentador e seu sorriso, bem, ele definitivamente parecia espontâneo e combinava perfeitamente com os traços de seu rosto.

- Você também não parece ser muito velho. - Cruzou os braços e ergueu as sobrancelhas, como se houvesse me encurralado.

- Vinte e um. - Falo e volto a tragar o cigarro, virando o rosto um pouco para soltar a fumaça, voltando a analisá-la em seguida. - Você deve ter... Dezessete?

- Dezesseis. - Murmurou enquanto me olhava. - O que faz por aqui á essa hora? Se me permite perguntar, é claro. - A pequena disse e balançou os ombros.

- Procurando algo. - Falo enquanto me lembrava da tentativa frustrante.

- Esperando alguém? - Perguntou e semi-serrou os olhos.

- Não necessariamente... Eu diria adrenalina.

- Emoção?

- Sim, emoção, adrenalina... Na verdade, qualquer coisa que mude meu dia.

- Eu posso ajudar se quiser. - Propôs e sorriu de canto. Olhei rapidamente para o cigarro em minha mão e joguei o mesmo fora, eu não teria nada a perder, teria?

- Como? - Pergunto com um tom de voz desafiador voltando a olhá-la.

- Me espere aqui, está bem? - Falou ainda sorrindo e se virou, correndo na direção dos amigos assim que eu assenti com a cabeça.

   Eu observava cada um de seus movimentos enquanto esperava ali parado, como ela havia pedido. Ela disse algo aos amigos assim que chegou até eles, pegou uma mochila vermelha que antes estava nas costas de uma garota loira, que não pareceu se importar com o feito. Antes que ela voltasse correndo até onde eu estava eles disseram algo que a fez rir, isso fez com que minha curiosidade aumentasse ainda mais. O que ela pretendia?

- Pronto? - Perguntou ofegante e ao mesmo tempo animada, o sorriso em seus lábios não deixaria ninguém pensar o contrário. - A propósito, qual seu nome? - Franziu o cenho e segurou em meu braço, fazendo-me caminhar ao seu lado.

- Bill. - Falo indiferente enquanto caminhamos. - E o seu?

- Isso importa mesmo? - Pergunta me fazendo olhá-la, enquanto ainda sorria.

- Sim, eu acho... - Faço careta e ela ri. - Você aparece do nada e vai me levar sabe-se lá para onde, para me proporcionar emoção e adrenalina, acho que importa mesmo. - Falei, rindo em seguida.

- O suspense fará parte da emoção. - Disse em tom de mistério e riu. - Sentiu o mistério?

- Certo, acho que posso suportar o suspense. Mas posso saber ao menos para onde vamos?

- Vamos ao parque. - Falou enquanto sorria exageradamente.

   Caminhamos lado a lado por cerca de quarenta minutos, até chegarmos ao parque, já havia ido lá antes com meu irmão, então foi inevitável não me lembrar de momentos vividos com o mesmo. No caminho conversamos sobre coisas aleatórias, pois a pequena não quis revelar muito sobre si, disse que se falasse perderia a graça, além de sua idade descobri apenas que se tratava de uma adolescente imprudente, fazia tudo que lhe parecia divertido e até arriscado. A prova disso foi ela ter me levado até uma parte mais reservada do parque, era a parte mais elevada e tinha uma pedra enorme, subimos nela sem muita dificuldade, nos sentamos e ela abriu a mochila, enfiou a mão dentro da mesma enquanto me olhava com expectativas no olhar, tirou de dentro um saquinho, abriu o mesmo e dentro havia droga.

- Você usa drogas? - Pergunto pasmo e então rio.

- Não precisa fazer nada que não queira. - Falou e balançou os ombros, como se não se importasse, ela usaria aquilo mesmo se eu não quisesse acompanhá-la.

- Já fiz isso antes, relaxa.

    As horas passaram tão rápido que mal pude acreditar, mas ainda estávamos ali, com cigarrilhos que nós mesmos havíamos preparado nas mãos e o cheiro dos mesmos pairando no ar, era fácil concluir que usávamos drogas, mas por sorte ela havia escolhido o lugar certo para o fazermos, provavelmente já fizera isso antes na companhia de outras pessoas. Seu olhar estava perdido, como se houvesse mergulhado em seus pensamentos e creio que eu não estava muito diferente. O vento gelado não incomodava mais, pelo contrário, o incômodo havia passado por completo, antes mesmo de termos corrido pelo parque sem rumo algum.

- Você é legal. - Disse enquanto me olhava, em seus lábios havia um sorriso bobo, atoa. Jogou o que sobrara de seu cigarrilho em qualquer lugar e deitou a cabeça em cima de minhas pernas, sem qualquer preocupação, observei-a sem me importar, me perguntei por um momento se ela ainda tinha mais da droga em sua mochila. Traguei novamente a fonte de adrenalina que se encontrava em minha mão, sentindo meu corpo ficar leve, minha visão pesada, tudo a minha frente parecia girar, o tempo corre quando se está assim.

   Eu estava entorpecido fitando o céu laranja e o Sol que logo partiria, dando lugar à escuridão, Lua e estrelas. A pequena, ainda com a cabeça deitada em minhas pernas estava com os olhos fechados, observo seus traços por longos minutos, aproximo nossos rostos sem a mínima pressa e selo nossos lábios depois de chegar a conclusão de que eu realmente não tinha nada a perder, eu a desejara, então deixo meus instintos falarem mais alto. Apartei o beijo por um momento e ela se sentou, ficando de frente para mim, sua expressão era calma, seus cabelos estavam desalinhados e seus olhos me fitavam ansiosos. Coloquei uma de minhas mãos em seu pescoço, puxando seu rosto para perto, a pequena rapidamente se encarregou do resto, ao iniciar um novo beijo. Nossos lábios aos poucos entraram em sintonia, nossas mãos acariciavam a pele e os cabelos um do outro sem urgência alguma, éramos apenas nós e o pôr-do-sol a nossa frente.

   A noite logo chegou e a Lua se instalou no céu, podíamos vê-la de onde estávamos, mas não tínhamos muito tempo para fazê-lo, estávamos andando apressados; o parque logo fecharia e nós éramos praticamente os únicos que ainda restavam ali. Passamos pelo portão principal do parque e então finalmente voltamos a caminhar sem pressa, a rua era escura e pouco movimentada, o vento soprava forte e a pequena, já vestida com minha blusa de frio, segurava em meu braço esquerdo enquanto caminhávamos.    O trajeto até minha casa pareceu demorado, talvez por termos andado em uma velocidade consideravelmente lenta e por não termos trocado nenhuma palavra enquanto o fazíamos, quando voltamos a nos falar de novo já estávamos em minha casa sentados no sofá, ela parecia exausta e eu não deveria estar com um aspecto muito diferente. Viro meu rosto e a olho, estico meu braço e pego em sua mão, puxando-a para perto, ela se levantou sem contestar e com um passo dado, pára à minha frente, puxo-a novamente pela mão e então a pequena cai em meus braços.    Daquele momento em diante as horas pareceram ter sumido, o tempo havia parado para nós, apenas horas depois - quando estivéssemos exaustos, com nossos corpos nus um sobre o outro - eu pensaria que havia passado extremamente rápido. Os beijos, toques e carícias preencheram cada minuto até que o Sol nasceu; à pequena dormiu em meus braços, eu continuei acordado, apenas contemplando seu corpo nu enquanto fumava um cigarro, tragava e soltava a fumaça do mesmo, deixando o quarto esfumaçado aos poucos.    Já amanheceu e eu ainda não dormi, mas pela primeira vez em algum tempo não precisarei ir em busca de algo. A pequena em meus braços era a resposta das vezes que havia desejado por algo novo e que me causasse sensações adormecidas, não importava se ela simplesmente fosse embora, porque ela esteve aqui e eu sempre me lembraria dela.


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Notas finais do capítulo

Merece review?



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