Coincidências? escrita por Otsu Miyamoto


Capítulo 5
Cinco




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Shiryu acordou com o som estridente do seu despertador.

Apesar de ter dormido bem, sentia-se cansado e, estranhamente, mais dolorido que antes de se deitar. Levou em consideração pegar os dias de descanso que o médico lhe receitou, mas logo afastou essa ideia da cabeça. O despertador ainda fazia barulho e, pela primeira vez na vida, teve vontade de jogá-lo pela janela... Mas apenas se esticou e o desligou.

Sentou-se na sua enorme cama e olhou ao redor, como se não reconhece o próprio quarto. Era amplo e bem organizado, com poucos móveis. Pensou que talvez devesse mobilhá-lo mais. Quem sabe, mudar a cor das paredes que atualmente tinham um bege sem vida.

Franziu o cenho. Que pensamentos eram esses? Desde quando se importava com esses detalhes?

Talvez o acidente tenha mudado alguma coisa dentro de si. Uma sensação estranha o perseguia desde o momento em que o seu carro parou de balançar, instantes depois da batida.

Não podia ser diferente... Ele temeu por sua vida e sentia-se aliviado por ter saído praticamente ileso. Mas, o alívio era seguido de perto pela culpa. Afinal, como ele podia sentir-se aliviado e livre para fazer planos quando Shunrei ainda estava internada naquele hospital, impossibilitada de desfrutar da própria casa, como ele fazia naquele momento.

Além disso, ela também havia se machucado mais do que ele. Sua mão direita subiu inconscientemente até bandagem, cuidadosamente.

A culpa não foi dele, sabia disso, mas acaso ou não, foi o carro dele que acertou o de Shunrei.

A bela jovem de olhar tão tímido que lhe provocou curiosidade. Ela tinha cabelos longos e escuros, pele clara, lábios rosados... Um sorriso lindo, do qual ele não conseguia esquecer.

Ela parecia ter sido moldada.

Ele próprio sorriu, não podendo negar a vontade de revê-la.  Assim que percebeu esse desejo, surpreendeu-se. Não costumava se deixar levar assim por alguém que se quer conhecia bem. Odiava ter que admitir, mas seu irmão  podia estar certo.

Estava interessado.

Desistiu de seus pensamentos por um momento e olhou mais uma vez para o relógio, antes de levantar-se.

Arrumou a própria cama, como fazia todos os dias e caminhou a passos lentos até o banheiro e se permitiu demorar mais do que o habitual em um banho quente. Após fazer sua higiene habitual e trocar o curativo, voltou até o quarto e se trocou rapidamente. E, como sempre, vestiu-se de social: um terno de tom azul, camisa social branca e uma gravata.

Estava dando um nó na mesma, enquanto caminhava até a cozinha para preparar o café, contudo, surpreendeu-se por reconhecer o cheiro de café fresco. Terminou o nó da gravata e colocou as mãos no bolso, escorando na parede de entrada da cozinha.

Seiya estava preparando o café da manhã...

Ele não só levantou mais cedo que Shiryu, como também fazia o café... Dois feitos quase impossíveis de se ver, no dia a dia.

O jovem de cabelos castanhos ainda não havia notado a presença do irmão e continuava a preparar panquecas, despreocupadamente. Quando se virou para colocá-las na mesa, finalmente o viu e se assustou, quase derrubando tudo no chão.

— Qual é a sua, vindo assim de fininho atrás dos outros? – Esbravejou.

Seiya estava devidamente vestido com uma calça social preta e uma camisa azul clara, com os dois primeiros botões abertos. Shiryu considerava esse “estilo” muito descuidado para um profissional do nível dele, mas não odiava de tudo.

— Desculpe, não tive essa intenção, mas considerei estar alucinando vendo você acordado tão cedo, vestido para o trabalho e preparando o café.

— Como assim? Estranho é você estar de pé! O médico não deu nenhum dia, não? – Perguntou, finalmente colocando as panquecas na mesa – Ah! Como se isso fizesse diferença, você é o chefe cara. Devia estar na cama, deitado.

— O médico me recomendou dois dias, mas eu não preciso deles, estou bem.

— Você sofreu um acidente de carro noite passada, Shiryu.

— Obrigado por me lembrar. Mas, como eu já disse, estou bem. Posso ir para a empresa.

— A empresa não vai à falência se você não aparecer hoje, Shiryu. Alias, nem se você sumisse o ano inteiro ela iria quebrar. Papai ficaria orgulhoso de todo o seu empenho até aqui.  Agora vai descansar... – Terminou de passar o café e colocou a cafeteira na mesa, sentando-se em seguida.

Shiryu sorriu com a preocupação do irmão que sempre parecia ser tão despreocupado com tudo. E ficou comovido que ele tenha mencionado o pai.

Desde que ele morreu, Shiryu vinha se comportando da maneira mais responsável e correta possível. Focando-se na empresa que eles haviam herdado e esquecendo-se de viver pra ele mesmo. Era assim, pelo menos, como Seiya via a vida do irmão.

A perda dos pais f oi muito difícil para ambos e, apesar do que aparentava ser, Seiya era bem responsável também.

Bom, na maioria das vezes.

Shiryu caminhou em direção à mesa e sentou-se.

— Não quero ficar em casa sozinho. Seria mais útil na empresa, me distraindo – Serviu-se um pouco de café e uma panqueca.

— Sei... – Seiya suspirou, sabendo que não o convenceria a ficar – O que é preciso acontecer pra você curtir um pouco? Levar um tiro? – Disse ríspido e Shiryu sorriu.

— Eu estou perfeitamente bem… Bom, um pouco dolorido, nada mais que isso. Se algo mais sério tivesse acontecido eu ficaria.

— Ou iria com maca e tudo. Se isso te faz feliz cara, vai na paz. Se eu soubesse, teria deixado você fazer o café da manhã. Graças ao seu acidente, eu tive uma péssima noite de sono – Seiya sorriu, deixando o mau humor de lado.

— Ah, sim... Lamento ter atrapalhado seu sono. Mas, só assim pra você fazer o café da manhã.  Acho que vou sofrer um acidente toda semana.

— Por mim tudo bem, se você conseguir enrolar o seguro – Sorriram. O restante do café da manhã foi normal, natural.

Qual foi a ultima vez que tomaram o café assim? Junto e tão descontraídos.

Shiryu chegou a considerar que o acidente não tinha sido tão ruim… De algum modo. Isso até se lembrar de Shunrei... Pra ela tinha sido só ruim...

 Queria vê-la, se certificar de que estava tudo bem.

— Vou precisar de você até que o seguro me dê um carro.

— Traduzindo: você precisa do meu carro.

— Precisamente.

— Sorte sua trabalharmos na mesma empresa – Seiya sorriu.

— Quero ir ao hospital também. Saber como Shunrei está.

— Ahhh! Claro. Te levo com muita boa vontade, alias, podíamos ir agora mesmo.

— E porque toda essa solidariedade repentina?

— Que isso, sou seu irmão! – Seiya mal fingiu ressentimento. Sorriu provocativo enquanto se levantava – Por isso eu estou curiosíssimo em conhecer a garota que conseguiu despertar o seu interesse – Saiu da cozinha sem dar chance a uma resposta, que na verdade, não viria.

Shiryu não queria dar corda às provocações do irmão. Até mesmo porque, dessa vez precisava admitir, era verdade.


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