Coincidências? escrita por Otsu Miyamoto


Capítulo 4
Quatro




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Shiryu chegou a seu apartamento de madrugada. No meio de todo aquele estresse, nem havia notado que a hora avançaou tanto. Felizmente, o trajeto do hospital até seu lar tinha sido rápido... Pediu um carro por aplicativo.

Chegando em casa, Shiryu encontrou apenas o porteiro e um segurança.

— Sr. Suyama, que raridade vê-lo chegar tão tarde. Muito trabalho na empresa? – Perguntou o porteiro.

— Quem me dera tivesse sido só isso mesmo – Comentou, andando rapidamente, sem ânimo para mais explicações.

Suas roupas estavam um pouco amarrotadas e sua expressão mais cansada, mas nada que demonstrasse que a pouco se envolveu em um acidente.

Caminhou calmamente em direção ao elevador e enquanto subia até seu andar, repassou em sua mente aquele dia tão incomum. havia começado como um dia igual aos outros, mas terminou de maneira tão desastrosa.

— Podia ter sido muito pior... – Suspirou aliviado, convencido de que não foi tão ruim, apesar de ainda se sentir culpado pelo fato de Shunrei estar no hospital. Já ele, saiu praticamente ileso do acidente e em breve estaria em sua confortável cama.

— Shunrei – Ele sussurrou pra si mesmo.  Aquele nome lhe trazia um sentimento diferente. Sabia tão pouco sobre ela.  Aliás, sabia somente o que a amiga tinha lhe dito. Pegou-se na vontade de saber mais.

Antes que percebesse, já estava diante da porta de seu apartamento, revirando os bolsos atrás da sua chave, que não achou.

Suspirou em desagrado. Se tivesse percebido antes, teria pedido uma extra na recepção. Mas, não se daria ao trabalho de voltar para buscar, pois sabia que alguém abriria a porta. Só precisaria de paciência para enfrentá-lo quando acordasse.

Passou a tocar a campainha insistentemente. Ele próprio já estava bastante incomodado com isso quando, após longos minutos, a porta se abriu revelando um jovem alto, de cabelos castanhos claros e bastante bagunçados. Os olhos eram da mesma cor dos cabelos e possuíam uma expressão de poucos amigos. Seu dorso bem definido estava nu, usava apenas uma calça larga de moletom.

Obviamente estava dormindo e infeliz por ter sido interrompido.

— Mas que porra é essa, Shiryu? – Esbravejou.

— Do que está falando? – Shiryu calmamente, enquanto entrava, acendendo todas as luzes da sala, o que deixou seu irmão ainda mais irritado.

— Ahh, Shiryu! O que está fazendo? Sabe que horas são? Onde está sua chave? Porque você estava trabalhando até tão tarde?

— Hmm... Eu estou voltando para casa. Não sei exatamente, mas já deve ter passado da 1h. Eu perdi e não estava trabalhando.

— Como é? – Disse com uma surpresa debochada – O "senhor organização" perdeu as chaves?

— Seiya, menos.

— Espera! Agora... Agora tudo faz sentido... – Seiya o fitou meio atordoado, deixando Shiryu curioso. Então o mais jovem caminhou com passos apressados até uma janela grande e afastou as pesadas cortinas que havia ali. Ele as odiava, mas Shiryu as mantinha de qualquer modo.

Observava atentamente o exterior da janela, parecendo procurar alguma coisa na cidade, parcialmente iluminada àquela altura da madrugada.

— O que está olhando?

— Você chegando de madrugada, com as roupas desalinhadas e sem as chaves. Eu nunca acreditei muito nessas histórias de fim de mundo, mas será que eu consigo aproveitar também?

— Muito engraçado, Seiya – Shiryu se jogou no sofá, cansado.

— Eu sei que sou engraçado. Mas, fala ai, o que te aconteceu? – Já mais calmo, sentou-se ao lado de Shiryu, conformado com a maravilhosa noite de sono que havia perdido e interessado em ouvir a versão dele.

— Eu sofri um acidente de carro. Estava no hospital até agora.

— o quê? Mas, eu não fui informado de nada.

— Não foi necessário. Eu permaneci acordado o tempo todo e o único dano físico que consegui foi esse – Levantou a franja, revelando a bandagem – Três pontos.

— Sério? Que bom, então. Até nisso você é sortudo. E o carro?

— O carro não tem conserto, pela avaliação preliminar do seguro, agora é só esperar.

— Perda total? – Deu um longo assobio – Caraca, sorte não. Foi Deus mesmo... Como saiu só pontos?

— Não foi um acidente grave, mas o ângulo da batida que destruiu alguma coisa lá... Não estava prestando muita atenção, Seiya.

Então está tudo resolvido?

— Tecnicamente... Eu... Acertei outro carro no acidente com tanta força que não sei como não matei a motorista. É como você disse, foi Deus mesmo. Estava no hospital com ela, até agora.

— Eita, sério? Uma mulher?

— Sim. Uma mulher linda. Primeira vez no volante, oficialmente. Ela tinha acabado de tirar a habilitação.

— Ah, já vi tudo. Mulher no volante, perigo constante – Ironizou.

— Nada disso! Eu que acertei o carro dela. Fui fechado por uma moto e invadi a pista contrária.

— Calma cara, estava brincando... – Seiya sabia que o irmão não gostava desse tipo de piada. Por isso que ele ainda fazia.

— Foi tudo muito rápido... – Ele continuou – O carro dela capotou e foi assustador – Fez uma pausa – Quando eu percebi o que tinha acontecido, corri até o outro carro e ela estava machucada, inconsciente. Foi horrível...

— E logo você que é tão cuidadoso, meticuloso, organizado...

— Já entendi Seiya.

— E estava chovendo, não estava? Eu fui dormir ainda estava chovendo.

— Sim, estava.

— E a garota?

— Está bem. Levou um tempo, mas acordou quando eu ainda estava no hospital. Não consegui vir embora sem antes trocar, ao menos, algumas palavras com ela. Felizmente, não foi nada grave. Um braço imobilizado, algumas escoriações e só.

— Graças a Deus.

— Sim, seria lamentável se ela tivesse morrido ou se ferido gravemente – Shiryu suspirou, recostando a cabeça no sofá, ficando mais a vontade – Shunrei tem um sorriso lindo... E eu sei que não saberia lidar com uma morte...

— Shunrei? – Repetiu Seiya

— É o nome dela.

— Humm, e o que mais você sabe sobre ela?

— Só o que a amiga me contou.

— Amiga? Isso está ficando mais interessante. Bonita também?

— Seiya... – Shiryu usou um tom claro de desaprovação.

— O quê? Perguntar não ofende.

— Você não leva nada a sério.

— Mas, está tudo bem, não é? Você está bem, Shunrei também está. Até o seu bolso está bem, já que o seguro vai resolver o problema – Sorriu divertido.

— Bom, se é esse o caso, nem tudo está bem.

— Por quê?

— Eu me ofereci para pagar o conserto do carro dela – Disse, sentando-se novamente – Não que eu esteja reclamando, já que eu insisti nisso.

— E o seguro dela?

— Ela não tem.

— Quem hoje em dia tem carro sem seguro, Shiryu?

— Elas. Na verdade, o carro não é da Shunrei, é da Srta. Kido, amiga dela. Quando ela chegou ao hospital estava apavorada, temendo pela amiga, então eu paguei um café pra ela. Tentei conversar e acalma-la enquanto esperávamos que Shunrei despertasse. Nesse ponto, também estava assustado com a possibilidade dela não acordar por algo mais sério – Fez uma pausa e Seiya permaneceu quieto, dando a brecha pra que Shiryu continuasse – Conversamos um pouco e ela me contou que moram juntas e fazem a mesma faculdade. Ela emprestou o carro pra amiga, porque disse que ela economizou e se esforçou muito pra tirar a carta, por um motivo sentimental particular dela. Não entrou em detalhes.

— Se ela nem tinha um carro, porque ela se esforçou tanto pela carta?

— Eu não sei.

Houve mais um momento de silêncio. Shiryu estava cansado e seus olhos estavam pesados. Precisava dormir. Apesar de seus ferimentos serem leves, o médico achou por bem dar-lhe dois dias de repouso, para que se recuperar completamente.

Repouso que ele não faria, já que a empresa que herdou de seu pai precisava dele, independente dele ter sofrido um acidente ou não. E Shunrei? Quanto tempo será que ficaria lá?

— Srta. Kido... Hmm... –Seiya resmungou , trazendo seu irmão de volta a realidade.

— Conhece?

— Ah, não. Só estou curioso.

— Com o que?

— Uma você tratou pelo sobrenome, já Shunrei... Esse é o primeiro nome da garota que você tentou matar, não é?

— Não tentei matar ninguém! Não fala assim... E do que você esta falando? Ela me pediu pra chamá-la pelo primeiro nome, qual o problema?

— Nenhum, eu só estava pensando...

— Estou com medo de perguntar... – Suspirou – O que você está pensando afinal?

— Bem, sabe que relacionamentos duradouros surgem de situações de alto estresse. E você quase matou a Shunrei, acho que isso se enquadra nessa situação.

— Seiya, menos, por favor.

— Shiryu você precisa de uma mulher cara, e eu sei que gostou dela.

— Sabe o que, Seiya? Já disse pra você parar de tentar me arranjar namoradas. Estou sim preocupado com ela e é mais do que normal na minha situação, já que ela está no hospital por minha causa. Nem sei como você pode pensar nessas coisas diante dessa situação.

— Você é sempre muito sério. Relaxa... No final das contas ela está bem e você vai pagar tudo... Alias, você devia ficar preocupado com isso. Se o seu carro não tem conserto, o dela deve estar destruído. Vai ter que comprar outro, cara. E sabe que prometer cheque em branco pra mulher... – Seiya disse zombeteiro, e Shiryu, ainda mais cansado com aquela conversa, se levantou.

— Já deu pra mim.

— Ei, calma. Eu paro.... Mas falando sério, eu estava me referindo aos elogios que você estava fazendo da garota Shunrei. "Uma mulher linda"; "Sorriso lindo”, e tals. Vai negar?

Shiryu apenas o fitou, ponderando a questão.

— Apenas disse a verdade.

— E desde quando você é tão sincero com relação ao sexo oposto? Desculpa, mas nunca te vi elogiando a aparência de ninguém, só a eficiência e como profissional ainda. Se fosse pelo menos, em outro sentido de eficiência...

— Seiya, me faz um favor? – Falou, cortando o irmão. Levou a mão até a testa, onde ainda havia o curativo. A cabeça doía e não era por causa do acidente... – Para de pensar.

— Ah, mano você precisa se decidir. Sempre me diz pra pensar melhor nas coisas, agora é pra eu parar de pensar. Assim eu me perco.

— Seiya, vai dormir vai – Suspirou, caminhando em direção ao seu quarto. Em poucos segundos, sumiu no corredor.

Seiya permaneceu sentado, com um sorriso bobo no rosto. Típico de irmão caçula que adora atormentar o mais velho.

Na verdade estava aliviado de ver que Shiryu estava bem. Só ele mesmo pra sair de um acidente de carro como se nada tivesse acontecido. Ambos foram adotados, em tempos diferentes, mas o admirava como um verdadeiro irmão. O que realmente Shiryu sempre foi.

— Fácil falar, já perdi o sono – Suspirou se levantando.

Apagou todas as luzes e caminhou para o mesmo corredor que Shiryu, onde também ficava o seu quarto.

Uma boa noite de sono era tudo que eles, principalmente Shiryu, precisavam.


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