Coincidências? escrita por Otsu Miyamoto


Capítulo 28
Vinte e Oito




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/114525/chapter/28

A primeira coisa que Shiryu fez ao entrar no carro foi fitar a jovem ao seu lado, completamente admirado, enquanto ela permanecia adoravelmente tímida.

— Eu já disse isso, mas você está linda... – Repetiu.

— Obrigada... Você também está muito bonito... – A jovem disse baixo, pois a voz ainda estava vacilante.

Shiryu a fitava com tanta intensidade que ela simplesmente não sabia como reagir. Para piorar, o coração bateu descompassado quando ele se inclinou em sua direção e levou a mão até a altura de seu rosto, porém passou direto, pegando seu cinto de segurança e puxando para afivela-lo. Ele percebeu quando ela prendeu a respiração.

— Está nervosa? – Quase sussurrou.

— Acho que ansiosa é a palavra certa... – Respondeu no mesmo tom.

O rapaz sentiu o peito aquecer e não resistiu ao ímpeto de beija-la, encerrando o espaço entre eles. Inicialmente, tocou seus lábios aos dela com firmeza, se permitindo aproveitar aquela sensação maravilhosa que o preenchia. O beijo tomou mais forma e, sem motivos para se reprimir, aproveitaram o momento.

Quando o beijo se encerrou, eles se fitaram, por alguns momentos, sem dizer nada. Então Shiryu se endireitou no banco, tentando conter um sorriso que teimava em dançar em seus lábios. Estava feliz, e ficou ainda mais ao perceber o mesmo sorriso contido nos lábios dela.

— Melhor irmos, o caminho é longo... – Falou, já ligando o carro.

— Pra onde vamos?

— Surpresa...

Shunrei sorriu e se permitiu desfrutar dos momentos que seguiram. Conversaram coisas leves uma parte do tempo e, nos momentos em que houve silêncio, não foi constrangedor. Estavam curtindo cada segundo na companhia um do outro.

— Estamos chegando – Shiryu murmurou após alguns minutos, manobrando o carro.

 — Eu conheço esse lugar – Shunrei disse admirada.

— Já veio aqui?

— Não, eu li sobre ele em uma revista, tinha vontade de conhecer.

— Gostava muito de vir aqui com minha mãe. Depois que a perdi, eu não tive mais interesse em vir... Até agora... – Confessou, finalmente parando o carro – Espere aqui.

Shiryu saiu do carro, rapidamente dando a volta até o lado de Shunrei, para então abrir a porta.

— Obrigada... – Ela respondeu corada, segurando a mão que lhe era oferecida. Shiryu entrelaçou seus dedos nos dela, apertando levemente sua mão, pois apesar de ser um simples toque, a sensação era maravilhosa.

O restaurante era lindo. Bem iluminado e com toques rústicos, por toda a estrutura. Um enorme lago ficava visível desde a entrada.

Shiryu confirmou a reserva com o atendente que, por um instante, pareceu levemente surpreso, e então sorriu cordialmente, pedindo que o acompanhassem. Os guiou pelo restaurante e Shunrei percebeu quando acabaram passando direto por todas as mesas, até saírem, para o que parecia ser os fundos do restaurante. Curiosa, fitou Shiryu, que pareceu ter percebido o olhar sobre si, a fitando de volta, com um meio sorriso.

O atendente indicou o caminho e informou que em breve seriam atendidos.

Foi então que ela viu que estavam em um deck, sobre o lago. Não era muito grande, mas largo o bastante para uma pequena quantidade de pessoas ficarem com tranquilidade. Havia algumas luzes espalhadas pelo guarda-corpo, decorando todo o ambiente, e uma música suave tocava, vinda de algum lugar. Havia  também uma única mesa posta.

Tudo estava tão bonito que Shunrei não sabia como por em palavras.  A noite agradável de lua cheia tornava tudo ainda mais mágico.

Ao se aproximarem da mesa, Shiryu puxou a cadeira para que ela se acomodasse.

— Obrigada. Que ideia maravilhosa ter uma mesa aqui, tão perto do lago.

— Que bom que gostou. A ideia foi minha... – Shiryu disse, sentando-se do outro lado da mesa, enquanto Shunrei o fitava surpresa – Eu pedi que fizessem isso, só pra essa noite. Queria que fosse algo só nosso.

— Shiryu, eu nem sei o que dizer – Corou, realmente encantada.

— Você ter gostado é minha recompensa.

— Eu amei. É tudo lindo demais...

Um garçom surgiu com uma garrafa do que parecia ser vinho e Shunrei surpreendeu-se. Ela não gostava nenhum pouco de álcool e sabia que Shiryu também não era adepto, por isso apenas esperou.

O garçom colocou o liquido escuro nas taças e anotou os pedidos de ambos, dizendo que voltaria com os pratos, em alguns minutos.

Shunrei pegou a taça e levantou, seguindo o exemplo de Shiryu, então brindaram. A jovem levou o liquido até os lábios e bebericou um pouco, reconhecendo o sabor.

— Gostou? Não tem álcool – Ele disse, pouco depois de também experimentar o líquido – Eu sei que você não gosta e eu abandonei há muito tempo... Além de ser uma das filosofias que eu simpatizava, do meu mestre de Karatê... No acidente em que eu perdi meus pais, foi por causa de um motorista embriagado, desde então eu não bebi mais.

— Ah, eu sinto muito... – Shunrei disse, compadecida.

— Tudo bem... Eu não me importo com o álcool – Falou, esticando a mão para alcançar a de Shunrei, apenas para sentir seu calor – Parece que acidentes de carro perseguem minha família, não é?

— Foi por isso que você se culpou tanto?

— Talvez... – Os dedos deles se tocavam com suavidade – Não sei como eu teria reagido se você tivesse se ferido gravemente, ou pior. Hoje penso que, de qualquer forma, aquela noite mudaria minha vida completamente, para o melhor ou para o pior. Felizmente, foi para o melhor. Muito melhor...

Shunrei sorriu, entendendo bem o que ele queria dizer.

O garçom retornou com os pedidos e desfrutavam de uma maravilhosa refeição, trocando poucas palavras e muitos sorrisos.

Shiryu estava extremamente satisfeito com tudo dando tão certo. Ele não conseguia desviar os olhos da jovem, observando cada detalhe daquele rosto angelical. Os olhos brilhantes, o sorriso encantador, a pela rosada, que parecia pedir o tempo todo para ser tocada.

— Estava maravilhoso – Shunrei comentou, após finalizar o jantar.

— Eles são excelentes. Eu já sabia, mas não lembrava que era tão bom – Shiryu concordou.

— Ah, eu conheço essa música! – A jovem disse de repente e parou por um instante, focando-se apenas no som melodioso, sem letra – Sim! Era a música favorita do meu avô, tenho certeza – Falou animada, fechando os olhos para aproveitar o instante – Ele a ouvia sempre... Saudade...

Shiryu sentiu o coração disparar, engolindo em seco. Ela era tão linda, tão única.  Admitiu naquele momento, para si mesmo, que a amava. Sabia que a conhecia há pouco tempo, mas era o que estava sentindo, não tinha dúvidas. E queria que ela soubesse, mas conteve o ímpeto de confessar seus sentimentos apressadamente, com medo de assustá-la.

— Quer dançar?

Shunrei finalmente abriu seus olhos e o fitou levemente surpresa, mas concordou, balançando suavemente a cabeça.

Shiryu se levantou e aproximou-se, oferecendo-lhe a mão. Shunrei aceitou e ambos se afastaram um pouco da mesa e se puseram frente a frente. Shiryu encerrou completamente o espaço entre eles, colocando as mãos na cintura da jovem. Shunrei envolveu o pescoço dele com os braços e olharam-se ternamente, enquanto balançavam lentamente, ao som suave da melodia que dominava o ambiente.

— Essa é uma das melhores noites da minha vida – Shunrei revelou, após alguns momentos – Shiryu, muito obrigada, por tudo o que tem feito por mim.

— Eu estou apaixonado por você... – As palavras apenas saíram e Shiryu se surpreendeu com o quanto ele se tornava vulnerável perto dela. Com o quanto o seus pensamentos não sincronizavam com suas ações. E com o quanto ele gostou de perceber que não precisava, e nem queria, controlar tudo – Pode parecer muito cedo pra dizer isso, mas me parece muito tarde também.

O coração dela acelerou. Sentiu a pele aquecer e a respiração falhar por um instante. Mal podia acreditar em tudo o que estava acontecendo. Mas, acima disso, agradecia. Por que ela também se sentia apaixonada por aquele homem. Inexplicavelmente, há muito mais tempo do que realmente era.

— Desde que eu te conheci, o tempo não funciona direito. É como se eu estivesse esperando uma vida pra ouvir isso – Shunrei pronunciou baixo – Eu também me apaixonei por você.

Shiryu sorriu, não contendo a emoção que lhe preenchia naquele instante. Nunca havia sentido isso por ninguém. Nunca se permitira sentir isso por alguém... Sempre preocupado demais com o que tinha que fazer, como fazer e quando fazer.

Preocupou-se tanto, com tantas coisas, que precisou de um susto que o fizesse parar e baixar sua guarda. Felizmente, Shunrei estava lá... E o dominou antes que pudesse reerguer qualquer muro novo. Felizmente ela era sua segunda chance... Felizmente, ela era dele.

O rapaz levou uma mão até o rosto da jovem, fazendo um carinho suave.

— Namora comigo? – Murmurou.

— Sim... – Ouviu antes de selar o compromisso com um beijo.

Shiryu pensou que já tivesse tudo para ser feliz, até conhecer aquela jovem e descobrir que não conhecia, de verdade, a felicidade. Sem saber que tanta alegria ainda estava reservada pra ele. Para aquele momento e, talvez, toda uma vida.

Sem saber que a felicidade tinha um nome, um sorriso lindo, um beijo inesquecível. 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Coincidências?" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.