— Nunca te vi trabalhar tão animada. Aconteceu alguma coisa boa? – Uma jovem loira perguntou ao notar o sorriso permanente de Saori.

— Aconteceu sim... Na verdade, muitas coisas boas, June... – Saori reforçou entregando alguns papeis a colega.

— E posso saber o que é? – Continuou.

— Consegui um partidão pra Shunrei, você nem imagina.

— Você e sua função extra de cúpido – Sorriu, revirando os olhos – Shunrei tem que ter mesmo muita paciência com você.

— Ah, para com isso que dessa vez deu certo. Eles estão juntos.

— Sério? – Seu olhar era desacreditado.

— Sem dúvidas, acabo de receber informações precisas do meu cúmplice – Falou mexendo em seu rabo-de-cavalo alto, como naturalidade.

— Cúmplice? – A loira sorria ainda mais – É formação de quadrilha agora?

— Para com isso... – Sorriu do modo como a colega falou – É o irmão do rapaz... Outro partidão.

— Saori, você não presta, sabia?

— Sabia! E você também não mediria esforços se os conhece. Eles são lindos, educados, divertidos... E se Shiryu beijar tão bem quanto o Seiya, a Shunrei está feita.

— Espera ai, você está saindo com o cúmplice, irmão do partido que queria arranjar para sua amiga? – Perguntou cética.

— Mais ou menos... – Saori sorriu travessa.

— Mais pra “mais” ou pra “menos”?

Saori pensou por um momento e deu de ombros.

— Ainda a decidir.

— Que férias proveitosas foram essas suas, colega.

— Você não sabe da missa a metade.

— Pois resolveremos isso agora mesmo. Faz tempo que quero parar pra saber as novidades... – Organizou sua mesa e colocou pausa no seu telefone. Levantou-se e pegou uma caneca vazia – Café e explicações. Agora... – Falou se pondo a andar em direção à salinha reservada para os funcionários poderem descansar por breves minutos ou apenas tomar um café. Saori a acompanhou enquanto falava.

— Shunrei sofreu um pequeno acidente de carro algumas semanas atrás. Nada grave, apenas nos assustou e nos serviu para conhecer essas beldades – Sorriu, pegando o celular e procurando algumas imagens – O rapaz que se envolveu no acidente é o Shiryu. Ele é do tipo que não se encontra hoje em dia, quase um lorde inglês. Super bonito, atencioso, educado. Ficou todo preocupado com a Shunrei, querendo saber como ela estava e querendo pagar os consertos do carro... E, bem eu deixei.

— Não que a neta e herdeira do Sr. Kido precisasse disso, não acha?

— Detalhes... Enfim, eu percebi de cara que ela se encantou com o rapaz. E para minha felicidade, ele também estava encantado com ela. E, para você ver como o destino joga, o irmão dele também tem função extra de cupido – Sorriu.

— Quer dizer que essa é uma função em alta no mercado? – Brincou sorrindo.

 — Ué, alguém tem que fazer alguma coisa por esses seres com o dom de complicar as coisas. June, eles são perfeitos um para o outro.  Era muito obvio, por isso unimos forças para fazer aquelas boas almas felizes. De nada.

A essa altura June sorria muito com a forma como Saori colocava as coisas.

— Você não existe.

— Menina, olha esses rapazes... – Disse, entregando o celular para que June visse fotos do pic-nic – Esse é o Shiryu e esse é o meu cúmplice... Na nossa quadrilha de dois – Quase gargalhou da própria colocação, fazendo June rir também.

— Saori, que achado! – Falou vendo as fotos – Eles são bonitos mesmo.

— Não admira muito porque você não pode. Está noiva, esqueceu?

— Nem se eu quisesse eu esqueceria. Os preparativos do casamento estão me enlouquecendo... Além do mais, amiga, o fato de eu estar de dieta não me impede de admirar o cardápio, certo?

Ambas sorriram, descontraídas. Então o celular de Saori tocou na mão de June.

— Ah, acho que seu cúmplice não terminou de reportar tudo – Falou, mostrando a tela para Saori que pode ver a chamada de Seiya piscar na tela. Ela deu de ombros e atendeu, enquanto a amiga se concentrava em seu café.

— Oi Seiya, tudo bem?

— Melhor impossível. Trabalhando muito?

— Agora eu estou em uma pausa... Naquela hora, foi Shiryu quem apareceu? O que aconteceu?

— Eu quero te contar pessoalmente. Você tem aula hoje?

— Ah, tenho... Vou direto daqui... – Falou em tom contrariado – Não pode me contar agora?

— Posso... É só você descer aqui.

Saori fitou June com uma sobrancelha arqueada. A jovem loira apenas deu de ombros sem entender.

— Aqui onde? – indagou.

— Estou parado aqui nesta... Mini pracinha... Se é que pode se chamar assim. Em frente ao seu prédio. Você pode descer?

A jovem sentiu seu estomago gelar. Pensou por um momento, no que fazer.  Ele já estava ali, não tinha por que não descer. Abafou a voz no celular e perguntou:

— June, pode segurar as pontas aqui, eu preciso descer uns minutinhos.

— Relatório da missão olho no olho? – Brincou – Aham, vai lá.

— Estou descendo... – Saori voltou á ligação, sorrindo.

— Te espero... – Confirmou e desligou.

— Ao que parece, os cupidos também são flechados... – June provocou, enquanto voltava para o trabalho.

Saori preferiu não rebater, afinal, Seiya tinha mesmo ganhado um espaço enorme em seu coração. Quando ele perguntou o que eles fariam, na primeira ligação, sentiu um frio na barriga. Ela quer continuar com ele, não há dúvidas, e é exatamente o que ela vai propor. Mas se ele não quiser, as coisas podem ficar bem estranhas.

Isso era tudo o que ela menos queria.

Desceu pelo elevador, apreensiva e empolgada ao mesmo tempo. Bateu seu cartão na catraca e saiu. O sol brilhava forte e, assim que passou pela porta, viu Seiya escorado no próprio carro do outro lado da rua.

Ele sorriu assim que a viu, sentindo o coração aquecer.

A jovem demorou poucos minutos para atravessar e arremessou-se aos braços do jovem, que a recebeu feliz.

— Ahh! Nem acredito que deu certo. Tento há tanto tempo arranjar um par para aquela menina – Falou, ainda próxima ao jovem, afastando-se o bastante para fitá-lo.

— Eu que o diga – Seiya pousou as mãos na cintura dela e voltou a encostar-se em seu carro. Permaneceu olhando-a – Shiryu estava com um brilho tão diferente nos olhos quando falou comigo que, se eu soubesse que a Shunrei existia, já a tinha caçado há muito tempo – Sorriu, sendo acompanhando pela jovem de cabelos arroxeados.

— Estou com uma sensação maravilhosa de dever cumprido. E você? – Falou, brincando com os botões da camisa dele.

— Eu também... – Rebateu, observando as feições da jovem – E aliviado, porque agora não precisamos mais fingir, certo?   

Saori sentiu o estomago se contrair. Seiya havia dito com tanta certeza que vacilou um pouquinho na sua determinação em pedir que continuassem.

— Certo... – Respondeu, com um leve sorriso. Decidiu que o escutaria antes de revelar sua vontade.

— Ótimo... – Seiya então a puxou para um beijo, sem dar chance de uma reação. Saori foi surpreendida á principio, mas então, lançou seus braços em volta do pescoço do jovem, entendendo o sentido de suas palavras.

Sem sombra de duvidas, também havia sido flechada.