Aira Snape escrita por Ma Argilero


Capítulo 9
Voltando a ser trouxa


Notas iniciais do capítulo

Obrigada pelos reviews.
Não tenho muito o que comentar sobre o capíltuo, pois acho que o nome já diz tudo - mas se não entederem, mande-me reviews com suas dúvidas, que eu responderei.



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Treze anos. Puberdade e o desejo eminente de descobrir meu passado. Varava horas do dia absorta em pensamentos. Imaginava como era a aparência de meus pais e com qual deles eu mais era parecida. Meus “pais” não gostavam de saber que eu queria encontrar meus pais biológicos a qualquer custo. Eles tinham medo de que eu os abandonasse, mas eu não faria isso.

  Meus dias de garotinha estavam acabando. E horrendas espinhas começaram a aparecer em meu rosto. Se eu não soubesse como cuidar delas, elas teriam ficado piores. Não é fácil ser uma bruxa adolescente. Meus dias eram ficar no quarto e ler. Estava cansada de ler meus antigos livros, já os havia decorado.

  Queria redescobrir minha vida como trouxa. Se os meus colegas e amigos me vissem tendo esse desejo, pensariam que sou louca. Sai de casa e fui andar pelas ruas do meu bairro. Nunca tinha reparado em como as casas estavam mais diferentes. Tanto tempo longe dali, vivendo em um colégio interno e esqueci como era ser uma trouxa.

  Andar por aquelas ruas e as pessoas virarem o olhar pra mim não era mais constrangedor. Eu era diferente sim, diferente de todos eles, pois eu sou uma bruxa. Seus olhares não me incomodavam mais; olhares de repugno, inveja e maldade, não eram mais vistos por mim como insulto e sim que eu podia dar a volta por cima e fui o que fiz.

  Parei em uma antiga lanchonete, onde lanchava algumas vezes por mês com meus pais. Observei o lugar e estava como me lembrava, retirando o dono, que morrera e passou a propriedade para seu filho. Joaquim sempre fora gentil comigo e nunca me achou diferente e sim especial. Ele não sabia o quanto estava certo ao usar o termo “especial”. Sentia saudade do velho e das rodadas de sorvete grátis que ele me oferecia. Era como meu avô e ao saber da morte dele foi um baque enorme.

  Recebera a carta de minha mãe, ainda em Hogwarts com a notícia de que senhor Joaquim havia falecido. Não chorei, mas demonstrei tristeza e quando voltei pra casa, confirmei que ele partira. Uma das poucas pessoas que amava, partiu.

  - Algum pedido. Querida? – acordei de meus devaneios e olhei para a mulher a minha frente. Não era exatamente uma mulher e sim uma garota de dezessete anos, neta de Joaquim.

  Olhei para o cardápio e fiz o pedido do meu sorvete preferido. Mas não seria a mesma coisa, pois somente Joaquim sabia prepará-lo.

  - Duas bolas de sorvete de chocolate, com uma de morango, calda de leite condensado, pistache e uma cereja.

  Ela se afastou e eu me sentei em frente ao balcão. Estranho estar em um lugar que eu frequentava quando criança e vê-lo do mesmo modo que antes. Nas paredes existia a assinatura de todos que passavam por ali. Levantei-me e fui procurar a minha. Marquei-a ao lado de um buraco, ocasionado pelo próprio Joaquim em um acesso de fúria. Ele achou interessante como o buraco deu um ar despojado ao ambiente e o deixou ali e ainda assinou em baixo. Foram nós dois que começamos a mania de assinar as paredes, mas apenas uma assinatura por cliente.

  Avistei o buraco e a minha assinatura em uma letra infantil de uma garota de cinco anos. Sorri ao lembrar. Joaquim pegou-me no colo para eu conseguir assinar meu nome ao lado do dele. E o nome dele estava ali, em letras garrafais. Era uma honra estar ao lado dele.

  Coloquei a mão por cima da assinatura e depois sobre a minha. Como o tempo passa rápido! Parecia um sonho tudo que vive nos últimos anos, mas era real. Voltei ao meu lugar bem a tempo da garçonete entregar meu pedido. Como suspeitara: eles não sabem preparar o sorvete como Joaquim. Mas não recusei, trazia boas lembranças a cada colherada.

  Olhei para um quadro presa a parede, atrás do balcão. Joaquim sorrindo. A garota olhou-me e pairou seu olhar sobre o quadro que eu observava.

  - Aira? – ela não me reconhecera antes tamanha a minha mudança. Estava mais alta do que a última vez que nos vimos, cabelos longos até o meio das costas, franja lateral e usando maquiagem para camuflar a deformidade que meu rosto aparentava tendo espinhas.

  Assenti com a cabeça.

  - Nossa! Você está diferente. Há quanto tempo não nos vemos?

  Forcei a memória à última lembrança que eu tinha dela. Fora ali mesmo, na lanchonete, mas há três anos atrás, antes de eu ter entrado em Hogwarts.

  Mais uma colherada minha e ela saiu, deixando-me sozinha. Três anos que não visitava aquele lugar. Três anos sem ver Joaquim e ele se foi sem antes eu lhe dizer adeus. Sue voltou com uma caixa e a depositou sobre o balcão.

  - Vovô queria que eu te entregasse isso – ela abriu e eu vi uma fotografia da minha família junto da dele em um dos meus aniversários. Fazia tempo que aquela foto havia sido tirada. E um colar em formato de estrela. – Ele estava esperando que você voltasse aqui, mas... – a lembrança de ter perdido o avô era forte pra ela. – mas antes de ir, nos pediu para guardar e entregar somente a você.

  Peguei o colar e o coloquei em meu pescoço. Olhei mais uma vez para a fotografia e fechei a caixa. Agradeci a ela, e novamente fico sozinha. Naquele horário a lanchonete não era muito movimentada, mas sempre tinha duas ou três pessoas ali. Terminei meu sorvete, deixei o dinheiro e saí, com a caixa em mãos.

  Desci a rua, pela qual viera mais cedo e encontrei dois garotos. Eu os conhecia. Tinha a leve impressão de que já os vira em algum lugar. Não me importei com a suspeita e continuei descendo a rua. Esse foi meu grande erro, pois eles me cercaram.

  - Licença! – pedi educadamente, mas eles continuavam impedindo minha passagem.

  - O que foi gatinha? – o garoto mais alto e moreno se aproximou de mim.

  Tinha o pressentimento que a abordagem era pra me paquerarem, mas tinha a desconfiança que poderia ser pior. Já estava acostumada com o modo de garotos agirem, mesmo os trouxa e bruxos são parecidos no aspecto de aproximação de garotas.

  Gatinha é horrível. Isso queria dizer que eu era feia?

  Olhei paciente para um loiro ao meu lado e depois ao moreno, a minha frente. Respirei e pedi novamente pra me darem licença. Eles não se moviam e o meu sangue começou a ferver. Não gostava de ser contrariada e era o que eles estavam fazendo comigo. Respirei pra não usar magia em frente a trouxas, por exemplo, lançar um Petrificus Totallus ou o feitiço das pernas presas como Malfoy fez com neville no primeiro ano.

  Eu sorri com o pensamento de enfeitiçá-los, mas se eu fizesse mais alguma magia fora da escola, seria suspensa imediatamente.

  - Querem tomar um sorvete? Tem uma lanchonete subindo a rua...

  E não é que eles aceitaram meu convite sem cogitar em nada. Já tinha tudo arquitetado em minha mente. Lembrei-me de onde os vira antes e queria me vingar daqueles dois idiotas.

  A vingança seria doce e prazerosa, e com o que eu planejara, eles receberiam o que merecem. Senti-me confiante de que receberia minha recompensa por suportá-los tanto tempo.

  Indiquei uma mesa pra eles se sentarem e fui até o balcão, onde fiz o pedido de dois sorvetes com calda quente, além de pedir a ajuda da Sue para por em pratica meu plano. Modéstia à parte, ele estava perfeito.

  Voltei para e mesa e sentei-me cruzando as pernas. Eu já sabia usar os artifícios da sedução; muito bem. Quando não se tem muita coisa pra fazer leio revistas, que mostram como chamar a atenção do sexo oposto. Joguei meu cabelo para trás e olhei rapidamente para o moreno e desviei meus olhos para a parede com autógrafos.

  Sue chegou, com os dois pedidos. Eu me levantei rapidamente e propositalmente, fiz com que ela derrubasse os sorvetes em cima dos dois. Fiz expressão de culpada e peguei até um pedaço de papel toalha para ajudar a limpar a sujeira, mas os dois se levantaram e olharam feio pra mim e pra Sue.

  - Desculpa, mas foi sem querer...

  - Vou pegar outro sorvete por conta da casa – disse Sue e saiu.

  Fitei-os e comecei a rir. Tinham varias pessoas ali, que também riam com o modo de como eles estavam imundos.

  - Vocês estão umas gracinhas... – adoro sarcasmo. Ainda bem que existe essa figura de linguagem. – Yan e Peter sujos e humilhados em público. Bem vindo ao clube.

  Eles não gostaram do deboche.

  - E quem é você pra dizer isso? – perguntou Yan, o loiro.

  Eu soltei uma gargalhada de escárnio e os olhei.

  - A memória de vocês é muito fraca – estava deliciando minha vitória contra eles. – Não se lembram da garota que vocês humilhavam diariamente, dizendo o quão feia e como era estranha? – estava falando de mim em terceira pessoa. A expressão deles era de interrogação. – Depois ela começou a usar preto e vocês aumentaram a humilhação, deixando-a mais ferida e com mais sede de vingança – não acreditava os idiotas não se lembraram imediatamente de mim. – Então bem, a garota mudou de atitude e personalidade. Está mais viva do que nunca – sorri e estalei meus dedos, um por um. – A hora de vocês chegou, pois Aira Stwert vingou-se. Eu sou a garota que vocês humilhavam e caíram na minha cilada. Quem diria que eu seria tão atraente pra vocês dois...

  Eles estavam estarrecidos. Não era pra menos, eu estava tão diferente que nem mesmo aqueles imbecis poderiam me reconhecer de imediato, mas me achar bonita, isso eu nunca pensaria que aconteceria um dia.

  - Aira? A esquisita que usava preto e que sempre ficava afastada?

  - Ela mesma em carne e osso! – exibi meu maior sorriso de triunfo. – A mudança de escola foi boa pra mim. Descobri quem eu era de verdade e o quão tenho valor lá. Não sou apenas mais um aluno e sim apenas eu.

  Sue chegou com os sorvetes, deixando-os sobre a mesa e foi limpar a sujeira. Eu fui ajudá-la, pois eu que tive a ideia de fazer aquilo.

  - Você continua estranha – comentou Peter.

  Eu me levantei e apertei um copo descartável em minha mão direita. Como eu queria enfeitiçá-los. Virei-me e deixei o copo cair de minhas mãos. Respirei fundo e avancei até Peter, ficando a centímetros de seu rosto.

  - Mas você gostou do meu corpo – puxei a gola dele e olhei dentro de seus olhos. – Gostou de ver o quão desejável eu sou. Eu sei que estou atraente e sei também que nunca irei me filiar a vocês, seu cretinos – empurrei ele e peguei minha caixa. – Desculpe Sue. Eu pagarei por toda essa bagunça – olhei aqueles cretinos. – Espalhem para seus amigos trogloditas de que Aira Stwert está de volta e que terá a sua vingança, em passos lentos mais terá.

  Saí da lanchonete, sorrindo e desci a rua. Agora quem tinha o sorriso de satisfação era eu e não eles. Era eu que estava por cima, que estava humilhando...

  Cheguei em casa e fui direto ao meu quarto, aproveitar o resto de meu dia com a vingança. Ainda tinha muitas pessoas a quem me vingar e eu sabia o nome de cada uma e a aparência. Se os idiotas não mudaram quase nada, esses também não teriam mudado.

  No dia seguinte voltei à lanchonete e encontrei Sue limpando o balcão. Sentei-me e coloquei o dinheiro sobre o balcão.

  - Não precisa, Aira...

  - Pegue! Não precisa ser orgulhosa e não fará falta.

  Sorri e ela guardou o dinheiro na caixa registradora. Olhei para um cartaz, que eu não havia visto no dia anterior. Estavam precisando de uma ajudante para atender as mesas.

  Imaginei-me de garçonete. Estava decidido! Pelo restante de minhas férias, seria ajudante.

  - Posso ajudar você – ela olhou-me. Apontei para o cartaz.

  - Quem decide é o meu pai – ela arrumou os enfeites, impecavelmente vendo a posição de cada. – Vou ver se consigo.

  Ela entrou por uma porta e eu fiquei observando o que tinha ali de interessante que pudesse me distrair por longos minutos. Peguei o recipiente de canudos e os tirei todos e depois fui colocando um por um, fazendo a contagem. Quando eu estava no ducentésimo trigésimo e quinto, pela segunda vez, já que somente existiam duzentos e quarenta canudos e eu na primeira vez contei muito rápido, Sue saiu pela porta, com um sorriso estampado no rosto.

  Eu havia conseguido o cargo.

  - Só poderei até o último dia de agosto.

  - Não faz mal. Ele concordou em meio período e somente ajudante nada mais.

  Sorri e agradeci a Sue, que me serviu um refrigerante. Fazia mais de um ano que não sabia o que era degustar um refrigerante. Quando redescobri o sabor, como se eu voltasse ao passado e ainda fosse uma criança.

  Meu primeiro dia como ajudante da Sue fora no dia seguinte. Não havia muito que fazer, pois eu somente ajudaria e não faria mais nada. A roupa era ridícula, mas eu estava ganhando pra usar aquilo e no final da semana receberia meu salário.

  A única coisa que eu fazia era limpar as mesas, quando a Sue anotava os pedidos. Senti-me estranha fazendo aquilo, mas se eu fizesse todos os anos, conseguiria guardar um bom dinheiro. Eu já estava planejando o meu futuro. Não queria depender de meus pais pelo resto de minha vida.

  De vez em quando eu anotava os pedidos, mas o que eu mais fazia era ajudar a preparar alguma coisa na cozinha. Nem sempre fui boa em culinária e acabei descobrindo em um desses dias de trabalho, que não sou tão ruim quanto eu pensava. A minha especialidade era preparar o meu sorvete preferido, que se tornou o mais pedido depois que entreguei o primeiro pedido.

  Joaquim’s tornou-se a lanchonete mais bem sucedida por causa do sucesso que era o sorvete Aira. Ele fora inventado pela minha combinação e de Joaquim, quando eu era criança e ele colocou no cardápio intitulado com meu nome, mas a única pessoa que pedia era eu.

  Um dia eu estava com fome e não estava com vontade de preparar algo complexo para me reabastecer, então preparei o sorvete e experimentei pela primeira vez algo que eu mesma fizera. Era muito parecido com o que Joaquim fazia, mas não havia comparação. Sempre que ele cozinhava, cantava uma música linda em espanhol, que eu nunca entendi seu significado e acabei por esquecer a letra e o ritmo.

  Cantar era um de seus segredos. Eu não cantaria nada, enquanto estivesse cozinhando, mas eu pensava em coisas boas que haviam acontecido comigo e isso também dava resultados.

  Em meu último dia de trabalho, recebi minhas contas e revelei o meu segredo para Sue continuar. Mas antes pedi pra que ela demonstrasse.

  Ela cantava umas melodias lindas, fazendo-me pensar em coisas alegres e divertidas. Era a mesma canção que Joaquim cantava. Com certeza ela não deixaria os clientes insatisfeitos e traria muito orgulho ao falecido.

  Despedi-me dela e desejei boa sorte. Sue queria se corresponder comigo, mas eu não diria aonde estudava. Somente lhe entreguei o endereço de minha casa aonde mandaria as cartas e meus pais saberiam o que fazer com elas.


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Notas finais do capítulo

Se mereço reviews? Eu acho que sim, pois estava sem inspiração e de repente veio em mente esse capítulo.Uma recomendação? Sim, pois a história a cada dia fica mais emocionante e prometo surpresas e emoções fortes para os próximos capítulos e a continuação da fic.