Humanoids In Action. Or Almost. escrita por milena_knop


Capítulo 2
O quase-acidente que deu ação ao meu dia




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Estava quase dando meio-dia quando eu finalmente pude sair da faculdade. Eu estava morrendo de fome, e isso não era lá tão normal porque eu já estava acostumada demais a sair de casa sem tomar meu café e ficar com a vontade de comer controlada até chegar em casa novamente. 
Aquele não havia sido um dos melhores dias de aula. Fiquei sonolenta a manhã inteira porque cheguei em casa uma hora da manhã depois de um festinha pequena na casa de uma amiga minha. Entre um intervalo e outro, a única coisa que eu consegui fazer foi rir até chorar contando o que as meninas tinham dito na festa da noite anterior e que a Audrey distorcia direitinho até me fazer rir da situação mais insignificante:
- Se liga – eu estava com uma voz de bêbada que dava gosto, estava com muito sono, mas enfim – A menina virou e disse que não consegue mais dormir sem ouvir o “boa noite” do namorado pelo telefone, se é que alguém que está com você a duas semanas e meia pode ser chamado de namorado e talz...
- Você é muito megera Becca – ela riu de leve, fechando uns cadernos, abrindo umas apostilas.
- EU?! De onde você tirou isso?
- Você não tem sentimentos e fica culpando os outros por terem demais. Agora, de uma coisa você não pode reclamar: quem namora fica mais retardado, então você deve morrer solteira, porque se piorar...
- É, deve ser por isso que você é débil mental desse jeito então, namoro de três anos não faz bem pra sua sanidade.
- Eu pelo menos consigo dormir sem ouvir o “boa noite” do meu namorado.
Nós duas nos entreolhamos e rimos muito alto, tão alto que metade da sala nos encarou. Depois disso eu só tive que tolerar mais 50 minutos de aula quando eu enfim poderia ir embora.
Saí da faculdade e fui andando mais devagar do que o normal, aproveitando o sol fraco que insidia em Munique naquele dia. Desde que eu me mudei de Portugal pra cá eu tive que me acostumar com muitas coisas, mas acabei gostando de estudar aqui no sul da Alemanha. Pra mim era mais fácil do que ir pro Canadá, porque minha prima voltou de lá falando que quase morreu pra conseguir alguma coisa. Eu gostava de desafios, mas dessa vez eu realmente queria um lugar onde ninguém tivesse ido, exatamente pra não dar opinião no que eu deveria fazer. Eu detestava isso, e viver com o dinheiro que meus pais mandavam já era um baita de um desafio.
Quando cheguei em casa, me contentei em fazer alguns nuggets pra comer com arroz e tomar A-Q-U-E-L-E copo de refrigerante. Deixei as panelas ligadas e fui colocar minha mochila no quarto. Subi as escadas com uma preguiça quase maior que eu, entrei no quarto e atirei minha mochila o mais longe que eu pude. Ela estava meio aberta, sinal de que eu a fechei "muito bem" antes de sair da faculdade. Um dos meus cadernos caiu de dentro dela, e quando me abaixei para pegá-lo, me lembrei de que eu não iria dormir a tarde toda como eu queria: eu tinha que ir na biblioteca ler um livro de literatura pra dali a dois dias.
Eu quase gritei um palavrão, mais concluí que meus vizinhos não tinham culpa da minha vida universitária. Desci as escadas de cara fechada e vi que o arroz e os nuggets estavam quase queimando. Era incrível como eu era ninja pra quase sempre queimar a comida.
Eu comi o mais devagar que pude, tentando adiar ao máximo minha volta pros estudos, mesmo sabendo que não iria adiantar muito. Escutei meu celular chamando lá de cima, e fiz uma cara de zumbi concluindo que do jeito que eu estava subindo e descendo aquilo hoje, eu ganharia massa muscular nas coxas.

Stop calling, stop calling, I don't wanna think anymore, I left my head and my heart on the dance floor. Stop calling, stop calling, I don't wanna talk anymore, I left my head and my heart on the dance floor. Eh, eh, eh, eh, eh, eh... Stop telephoning me-Eh, eh, eh, eh, eh, eh... I'm busy!

Subi as escadas cantando alto a parte do "Stop telephoning me".
- Alô?
- Oi Becca, tenho uma ÓTIMA notícia pra te dar.
- O que você quer agora Audrey?
- O Dean acabou de me ligar e a gente vai dar uma saída hoje, só que tudo indica que vai estar fazendo frio hoje a noite e...
- Pelo amor de Deus, não me fala que você deixou seu casaco de “oi 20seduzir” aqui em casa?
- Como você é danadinha, adivinhou!
- Nossa Dri, eu não acredito...
- Que horas eu posso ir pegar ele?
- Você não pode, hoje eu vou ficar a tarde inteira na biblioteca e se você vier aqui no horário que eu vou chegar já vai ser tarde pra pegar ele.
- MAIS EU NÃO POSSO SAIR SEM ELE REBECCA DINKSON!
Eu quase dava a luz a um filho quando a Audrey dava esses ataques que tinha início por causa de alguma coisa relativa ao namoroBARRAnamorado, isso sempre deixava ela mais histérica que o normal.
- Ahn... Eu vou sair com o carro então. Daí quando eu terminar de ler aquele livrinho com 63 páginas de inutilidade, eu levo o casaco na sua casa.
- AH BECCA, eu não sei o que eu seria sem você!
- Eu também não sei. – eu ri.
- Ok, te espero aqui então, tchau.
- Tchau.

Desci as escadas DE NOVO e terminei de comer minha comida que a essas alturas já tinha congelado. Tudo desceu junto com meu último gole de refrigerante. Deixei a mesa como estava e parei em frente a escada, analisando aquilo com um olhar crítico. Isso porque o banheiro também ficava no segundo andar. Respirei fundo antes de começar a subir aqueles dez mínimos degraus, mas eu realmente estava com muita preguiça naquele dia. Escovei os dentes, fiz um rabo de cavalo meio bagunçadinho, peguei minha mochila, o casaco nenhum pouco provocante da Audrey e a chave do meu carro.
Tranquei a casa, e antes de abrir o meu carro, notei um outro veículo na esquina da minha casa. Não sei por que, mas eu senti que já tinha visto aquele carro em algum outro lugar. Se eu realmente tivesse visto, coisa que eu não tinha certeza, eu não me lembrava ao certo onde eu o tinha visto. Nem me preocupei em reparar se tinha alguém dentro do carro ou não, ele estava estacionado mesmo, então, devia ser só uma impressão bobinha.
Abri a porta do meu carro e taquei tudo no banco do passageiro sem nem prestar atenção no modo como eu fiz isso. Liguei o aparelho de som e deixei o CD que estava lá dentro rolar, mesmo sem fazer a menor idéia de qual tinha sido a última coisa que eu havia colocado ali.

I make them good girls go bad… I make them good girls go (good girls go bad!)

Tava ótimo. Com uma dançinha meio estranha, dei a partida no carro e fui em direção ao meu destino nenhum pouco caloroso. Eu provavelmente demoraria uns 10 ou 15 minutos até chegar ao centro de novo. Eu estava tolerando meu dia até demais, até que o sinal de trânsito da rua que eu estava abriu. Acelerei pra passar pela avenida de pista tripla que cortava aquela em que eu estava, e no meio da avenida, eu tive que meter o pé no freio pra não bater na lateral de um carro cinza que tinha passado pelo sinal fechado. Por um momento fiquei orgulhosa de mim pela manobra altamente ninja que eu tinha acabado de fazer, e fui estacionar por pelo menos 1 minuto pra poder me recuperar do susto. Alguns motoristas passaram olhando pelo vidro do meu carro que estava aberto e perguntaram se eu estava bem. Eu respondia calmamente que sim e logo em seguida dizia um obrigado. Olhei pelo retrovisor e vi o motorista do carro cinza saindo de dentro dele. Ele tinha parado o carro um pouco atrás do meu. Na hora o sangue me subiu a cabeça: Eu era que nem meu pai, e iria xingar o coitado até a última encarnação dele se ele viesse me encher o saco.
- Me desculpe, por favor, é... Eu sou novo por aqui.
- Aham, e de onde você veio não existia sinal de trânsito não? - eu disse, descendo do carro.
Eu respondi isso baixo e nem estava olhando pra cara do garoto. Eu só olhei sem querer pro carro que estava parado logo atrás do meu, e do estágio de olhar, passei a encarar o carro.
- Me diz uma coisa... Há quanto tempo você mora por aqui? – eu perguntei pro cara e vi que ele ficou meio surpreso com a pergunta – Quer dizer... Não que isso me interesse, desculpe a pergun...
- Um pouco mais de um ano – Ele cortou minhas desculpas pra responder a minha pergunta anterior. Ele não parecia se importar por ter respondido aquilo, mas... O carro... – Por que a pergunta? – ele continuou, me fazendo olhar de novo pra ele, porque eu estava olhando pro carro outra vez.
- Não, é por que... É porque eu acho que já tinha visto esse carro seu em algum lugar... Quer dizer, não existem muitos modelos desse por aqui não é?
- É... Eu comprei ele a um tempo já.... Mas enfim, você está bem mesmo não é? Realmente me desculpe, eu me distraí e...
- FALANDO EM DISTRAÇÃO – eu falei um pouco mais alto do que devia – Eu estou super atrasada, eu tenho um compromisso, quer dizer, uma obrigação e... Aff, a Audrey vai me matar se eu não chegar a tempo...
Eu já estava pra fechar a porta do carro quando o garoto me chamou novamente:
- Escuta... Qual é o seu nome?
Olhei pra ele e não vi expressão alguma, nem de interesse, nem de curiosidade, nem de malícia. Supondo que ele estava na cidade fazia pouco tempo e que não devia conhecer muitas pessoas, não me importei em responder.
- Rebecca Dinkson, e o seu?
- Ahn... Bill Kaulitz. – ele olhou pro seu carro e logo completou – Ahn, mais uma vez me desculpe, e eu espero que você não se atrase.
Ele só baixou a cabeça num cumprimento educado, entrou no seu carro, deu a partida e saiu antes de mim. Achei ele meio estranhozinho, mas pelo menos eu não tinha estragado meu carro e ele não tinha enchido minha cabeça, então, estava tudo bem.


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Notas finais do capítulo

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