Bokura no Love Style escrita por Shiroyuki


Capítulo 40
Capítulo 40 - Yasashii Omoi




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Era fim de tarde na escola Ouran, todos os alunos já haviam terminado suas atividades em clubes, e preparavam-se para ir embora. Depois de um rápido banho no vestiário, Hikaru andava pelos corredores solitários, banhados pelos raios vermelhos do por do sol, com as mãos no bolso e um semblante indecifrável. Estava subindo as escadas, pensando em tirar um cochilo no telhado até a hora da escola fechar, quando ouviu uma voz muito familiar. Estancou, abaixando-se por reflexo e se aproximando da parede lateral, para ouvir melhor. Do outro lado, sentadas no próximo lance de escadas, estavam Hanako e mais duas kouhais do clube de karate, conversando animadamente. Hikaru permaneceu em silêncio, prestando atenção no que as garotas diziam, completamente indetectável.

— Hanako-senpai! Você é tão bonita e parece tão madura! Você deve ter um namorado, não é? – uma das novatas disse, entusiasmada. Hikaru não lembrava o nome de nenhuma daquelas garotas, mas recordava remotamente de duas calouras, as únicas meninas além de Hanako, no dia da apresentação do clube.

— Ah, não é verdade – Hanako respondeu, com um sorriso amarelo. Hikaru aguçou os ouvidos, curioso.

— Mas deve ter alguém de quem você goste, não é? – a outra indagou, fatalmente animada com a conversa.

— Não realmente. Eu só quero me concentrar nas atividades do clube e na escola – Hanako respondeu prontamente – Não estou interessada em relacionamentos amorosos agora.

— Hmm… o que você acha do Hitachiin Hikaru? Eu o vi nos treinos, e vocês pareciam próximos… Como posso dizer isso… Eu acho que vocês combinam um com o outro! – a primeira disse, um pouco hesitante.

“Aaah! O que é isso garota A?” Hikaru agitou-se, colocando a mão sobre a boca, para não provocar nenhum barulho que o denunciasse. Irremediavelmente, sentiu um certo entusiasmo, enquanto esperava pela resposta de Hanako “Continue assim, garota A!”

— Hikaru? Você acha que nós parecíamos próximos? – Hanako exclamou, surpresa – Bom, acho que não seria possível dizer que somos amigos…

“Isso! Não somos amigos! Ela vai dizer que é algo como mais que amigos? Será?”

—Ele é como um conhecido. Acho que seria mais como rivais. E… ele é tão… irritante! Inventando apelidos, e me chamando de estúpida! Ele é como um irmão mais novo, chato e incômodo!

“Rivais? Conhecido?! Irmão chato??!” Cada palavra acertou Hikaru como uma flecha certeira, e ele se segurou para não gritar e chamar Hanako de estúpida ali mesmo!

— Ah! Então você não se importaria se eu investisse nele, não é? – a outra garota indagou. Hikaru se surpreendeu, e levantou um pouco a cabeça, a fim de espiar e enxergar melhor. “Que audaciosa, garota B”. Via apenas a silhueta de Hanako de costas, e as outras duas garotas a sua frente, sentadas ao longo do degrau mais baixo. A que havia falado por último, era ligeiramente mais alta que Hanako, apesar de ser mais nova, e tinha longos e ondulados cabelos castanho-claro, amarrados em dois rabos de cavalo altos. Era bonita. Exatamente o tipo de Hikaru. Mas ele só conseguia olhar para a direção de Hanako, esperando pela reação dela.

— Você pode fazer o que quiser! Tenho certeza de que Hikaru aceitaria seus sentimentos, afinal, ele é esse tipo de pessoa. Mas… eu acho que não deveria…

— Porque?

— Hikaru… ele pode parecer durão e insensível, mas às vezes eu tenho a impressão de que ele é mais frágil do que deixa transparecer. Eu só não queria… que ele se machucasse, só isso – Hanako respondeu, hesitante, e Hikaru sorriu fracamente.

— Falando assim… faz parecer que você gosta dele, Hanako-senpai! – a primeira garota tornou a dizer, corando.

— O que? Não! Isso não seria possível. Como eu disse, ele é só alguém que eu conheço, nada mais.

Hikaru deixou seu peso ceder, e sentou nos degraus. Ouviu o som das garotas conversando se afastar, e deduziu que elas sumiram pelo corredor do lado oposto.

— Nada mudou, afinal – Hikaru suspirou, largando-se nas escadas – Se eu não me esforçar nisso, vou ficar na mesma pro resto da vida…

-

Uma semana havia se passado desde o retorno das aulas. Hanako aparentava estar cada vez mais recuperada, sorrindo e conversando com todos, embora ainda evitasse passar no corredor da sala de Kaoru. Conversando com Aiko, ela mantinha-se informada, e sabia que o estado de Yoko ainda era o mesmo, e ela passava dormindo a maior parte do tempo, sob o efeito dos remédios. Kaoru a visitava todos os dias, e havia deixado o clube de Karate.

Apesar de se sentir melhor consigo mesma, ela ainda gostava de passar o tempo sozinha, como agora, em que estava durante o intervalo no terraço. Sentia a brisa fresca da primavera acariciar seus cabelos, curtos. Era incrivelmente revigorante.

Suspirando, ela apoiou a cabeça na grade de proteção, segurando-a com os dedos fracos, olhando para a vista da cidade lá embaixo. Quando estavam juntos, ela e Kaoru sempre se encontravam aqui, neste mesmo lugar, e almoçavam juntos, falando besteiras, sorrindo, apreciando a companhia um do outro. Hanako deixou-se levar pelas lembranças, que não conseguia evitar e que a acompanhavam por todos os cantos. Ela havia decidido não chorar mais, porém, mesmo agora, lágrimas ardiam em seus olhos, lutando para escapar.

Enquanto segurava o choro, sentindo subir o nó da sua garganta, Hanako ouviu barulhos de pessoas se aproximando. Decidiu que era melhor sair e deixar o telhado livre, então se encaminhou para a saída, no entanto, ao ver as duas figuras se aproximando, instintivamente escondeu-se atrás do pavilhão e esperou. Pasmou, ao ver quem eram as pessoas que estavam ali, logo a sua frente.

Hikaru, e a kouhai do clube de karate, Rie. Hanako encolheu-se, sem conseguir deixar de observar.

— Hikaru-senpai! Eu… quero que saia comigo! Eu gosto de você! – ela disse, com as mãos postas sobre o peito, com uma expressão suplicante.

— É uma pena, mas eu não posso aceitar, garota B – Hikaru respondeu, e a garota se assustou, sem ligar para aquele jeito esquisito de chamá-la. Hanako se mordeu de curiosidade. O príncipe pervertido, que ela conheceu, estava mesmo dando o fora em uma garota? Seria possível isso?

— Por que, senpai? Eu não sou bonita o suficiente?

— Não é isso, veja bem – Hikaru sorriu – Eu apenas… já tenho alguém que amo. Seria injusto com você.

— Está bem para mim – Rie se adiantou, colocando seu corpo tão perto quanto era possível do de Hikaru – Eu não me importo se você quiser apenas se divertir comigo. –  Hanako quase caiu, tamanha sua indignação. Esticou a cabeça, querendo ver mais de perto. Enxergou Hikaru, encurralado na parede pela garota, que sorria, fitando-o diretamente.

Hanako escorregou, indignada demais com a situação. Que garota atirada! E pensar que Hanako achou que ela fosse uma kouhai fofinha… aaah, ela só queria informações sobre o Hikaru, no final das contas, essa... “ E agora, Hikaru…?” Hanako pensava, enquanto roía as unhas apreensivamente, sem nem perceber o quanto estava nervosa “o Príncipe Pervertido vai atacar novamente?”.

— Que desperdício, e pensar que você é mesmo bonita… – Hikaru riu, empurrando Rie para trás – Se tivesse feito essa proposta há tempos atrás, eu concordaria na hora! Antes de conhecer ela…

— Então por que não pode aceitar agora? – Rie replicou, fazendo beicinho – Quem é a pessoa que te impede de ficar comigo?

—Wakamiya Hanako – Hikaru respondeu, sem hesitar – Eu a amo. Ela é a única que eu quero.

Hanako ofegou, sentindo-se repentinamente muito trêmula com aquelas palavras. Seus ouvidos estariam a enganando? Encobrindo o rosto absolutamente vermelho com a mão, ela escorregou até o chão, sentando com as costas na parede que a escondia. Logo depois, viu Rie passar por ela correndo e sumir pela porta, tão furiosa que nem mesmo notou sua presença. Logo depois, surgiu Hikaru ao lado, com as mãos no bolso e uma expressão indecifrável, olhando para cima. Hanako segurou a respiração, sem mover um músculo, enquanto pensava se seria possível rastejar até a saída sem ser detectada.

Logo depois, o ruivo suspirou longamente, e então, olhou para trás. Por um breve momento, o tempo pareceu parar, enquanto ele processava a situação. Hikaru encarou Hanako, assombrado, enquanto ela o fitava de volta, assustada. O rosto dele se coloriu inteiramente, tornando-se tão rubro quando uma maçã. Ele abriu a boca várias vezes, tentando formular uma frase coerente, mas nada além de murmúrios indistintos se formava.

— Você… a-agora mesmo, você ouviu? – ele finalmente conseguiu proferir, depois de alguns minutos de choque inicial. Hanako levantou-se, vacilante, sem conseguir pensar em nada para dizer – Anh, eu… como posso dizer… – ele varreu o chão com os olhos, cobrindo o rosto com as mãos – O que eu disse antes… é verdade… Eu… eu am-

— Não diga isso! – Hanako gritou, suplicante, saindo em disparada logo depois, tão rápido quanto suas pernas bambas permitiam. Desceu as escadas de acesso, pulando degraus, e sentindo que estava quase indo ao chão a qualquer momento. Seu coração batia alto e descompassado, parecendo prestes a saltar para fora. Ela não podia, não conseguia! Se ouvisse Hikaru dizer aquelas palavras, com aquele rosto tão sério… acabaria cedendo, sabia disso. Ela não queria machucar mais ninguém, não queria ser machucada. Já havia cansado desse tipo de coisa. Ou para ser sincera… estava com medo.

— PARADA, COELHINHA ESTÚPIDA! – Ela ouviu Hikaru berrar às suas costas. Ele se aproximava rapidamente, correndo logo atrás dela. Hanako terminou de descer as escadas num pulo, virando e seguindo pelo corredor, desviando das pessoas enquanto corria ainda mais rápido – SUA PIRRALHA! POR QUE ESTÁ FUGINDO?! – ele gritava, enquanto acelerava ainda mais. Os outros alunos, atônitos, viam os dois correndo pelos corredores da escola, em alta velocidade.

— Pare de me perseguir! – Hanako bradou, sem diminuir a velocidade. Sentia que já estava correndo em círculos, e não fazia ideia de que andar em que estava.

— VOLTA AQUI, ESTÚPIDA! QUANDO ALGUÉM ESTÁ SE DECLARANDO, VOCÊ NÃO DEVE FUGIR!!! AO MENOS ESCUTE A CONFISSÃO ATÉ O FINAL!!! EU ME APAIXONEI POR VOCÊ, COELHINHA! QUERO QUE SAIA COMIGO!

Hanako olhou para trás por um instante, e viu a figura borrada de Hikaru, correndo com todas as forças, com o rosto obstinado, ainda corado. Ela cerrou os olhos com força, tentando pensar com clareza.

— Não seja tão barulhento! Isso é constrangedor!!! – ela censurou, quase tropeçando nos próprios pés. Era tão repentino ter Hikaru confessando-se para ela! Não sabia o que fazer.

— Quem está constrangido aqui sou eu!!! Ei, Coelh- cuidado!

Ao ouvir isso, Hanako abriu os olhos. A sua frente, dois garotos que pareciam ser do clube de informática carregavam caixas de papelão aparentemente pesadas, um de cada lado.

Hanako não conseguiria frear a tempo, porém, antes que ela tivesse a chance de perceber o que aconteceria, sentiu um impacto as suas costas, segurando-a protetoramente e puxando-a para trás, impedindo o que seria um terrível acidente.

Ofegante, Hanako analisou sua situação, enquanto abria os olhos com dificuldade. Abaixo dela, estava Hikaru, de olhos fechados, recuperando o fôlego. A mão dele segurava firmemente o seu pulso, não dando chance a ela para fugir novamente.

— Hikaru… você está bem? – ela indagou, quando notou que o ruivo não exibia nenhuma reação.

— Finalmente… – ele murmurou - te peguei! – disse, abrindo os olhos e levantando ligeiramente a cabeça. Hanako arquejou, sentada no chão. Hikaru ergueu o corpo, puxando Hanako pelo braço que mantinha seguro em sua mão, e trazendo-a para perto. Sem dar a ela oportunidade de pensar, cercou-a em um protetor abraço.

— Espere… – Hanako tentou se desvencilhar, mas Hikaru era obviamente mais forte, e a apertou contra si, enterrando a cabeça na curva do seu pescoço. Hanako sentiu todo o calor do corpo dele atingindo-a, lentamente, com a respiração descompassada e cansada soprando calidamente em sua pele.

— Eu te amo. – ele sussurrou, com a voz baixa e rouca ecoando pelos ouvidos dela – Eu te amo, eu te amo, eu te amo muito! Não fuja de mim! Eu quero estar com você. Por favor, me deixe ficar com você…

— Hikaru… – Hanako balbuciou, com o rosto em brasas e algo como cigarras loucas revoando em seu estômago. Percebia ao longe que havia muitas pessoas olhando para eles. Devia ser uma cena digna de atenção, realmente, depois daquela louca perseguição, os dois acabarem abraçados no chão do corredor.

Hanako não sabia o que deveria dizer. Deixou aquele calor inesperadamente gentil vindo de Hikaru a atingir, e sem querer, sentiu-se confortável nos braços dele. Queria poder continuar assim, por algum motivo. E então, em meio a todos os olhares de desconhecidos, fixos nela, ela encontrou um par de olhos dourados, sem brilho ou qualquer traço de emoção.

Kaoru os observava, sem esboçar qualquer reação.


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