Bokura no Love Style escrita por Shiroyuki


Capítulo 39
Capítulo 39 - Atarashii Kaze




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Hanako respirou fundo, sentindo o ar do final do inverno regelando-a por inteiro. A sensação do vento batendo em sua nuca era estranho, mas ela logo se acostumaria. Estava se sentindo tão leve que nada a perturbaria agora. Sorriu, confiante, e ergueu a cabeça, que estava muito mais leve agora. Ela era a partir de hoje uma senpai, estava no segundo ano do ensino médio. Agora era o início de um novo período, na escola. E de uma nova fase de sua vida, definitivamente.

Ela entrou, localizando rapidamente Haruhi, que estava sentada em um banco ao lado de Tamaki e Aiko. Aproximou-se deles, sem ser notada.

— Ohayo! – cumprimentou, ao perceber que eles não haviam a visto ainda. Haruhi e Aiko se assombraram, levantando-se e colocando-se ao redor dela em um salto.

— Hanako! O seu cabelo…

— É, eu quis cortar… ficou bom? – ela perguntou, tocando com os dedos os fios irregulares que se movimentavam ao redor do seu rosto, um pouco acima do ombro.

— Ficou muito bem em você! – Aiko sorriu afável, e Hanako sentiu alívio ao vê-la novamente. Ela estava um pouco melhor, mas a tristeza em seus olhos verde-água ainda era visível, assim como as leves marcas de noites mal dormidas logo abaixo. Como estaria a situação de Yoko, nesse momento?

— Por que você cortou? – Tamaki indagou, confuso – Eu pensei que as garotas valorizassem tanto o seu cabelo! – ele disse, recebendo um olhar de repreensão de Haruhi, que podia muito bem ter dois sentidos.

— Eu só achei que uma mudança seria bem-vinda agora. Não há melhor maneira de se sentir renovada do que renovando também algo na aparência… pelo menos foi o que minha prima disse…

— E ela tem razão! – Haruhi afirmou com convicção – Você ficou linda assim! E tenho certeza de que tudo ficará bem!

— Obrigada, Haru-chan – Hanako sorriu, sem graça – Eu também… me sinto mais confiante, agora.

— Você parece… eu não sei… mais adulta… – Aiko adicionou, em sua voz de soprano.

Os quatro sorriram, e mudaram de assunto, tentando deixar mais leve o ambiente. Conversaram por muito tempo ainda, até o primeiro sinal. Hanako se esforçava em corresponder os esforços de todos em mantê-la animada, conservando um sorriso. O sorriso não era seu, ela sabia, e ainda era um pouco doloroso tê-lo no rosto, parecia errado, mas ela não fraquejaria, não agora. Ela havia percebido que, provavelmente, experimentar o sofrimento pode nos fazer amadurecer. Não era apenas o corte, ou sua aparência. Ela também se sentia diferente, por dentro.

O segundo sinal para a entrada se fez ouvir, e calmamente, todos se dirigiram para as suas salas, após verificar no quadro da entrada em que turma estavam. Hanako e Aiko, que ainda estavam na mesma turma, foram juntas, conversando trivialidades que as deixassem distraídas o suficiente. Repentinamente, Aiko paralisou. Olhou aflita para Hanako, e fez menção de querer se afastar, e levá-la para o outro lado. Hanako não entendeu. Confusa, fitou o lado que Aiko queria evitar com tanto afinco. Então, ela o viu.

Lá estava Kaoru, junto com Kyoya, do outro lado do corredor. Ele também a havia visto, e interrompera sua conversa em voz baixa com o amigo, encarando-a com um semblante ilegível por muitos segundos. Hanako se preparou mentalmente para isso durante todo o fim de semana. Ela estava decidida a fazer Kaoru abandonar toda a sua culpa, e não iria mais mostrar a ele a sua cara de choro. Com muito mais tranquilidade do que ela julgara ser possível reunir, ela se manteve firme, e continuou em seu caminho, com Aiko a observando cuidadosamente. Cruzou por Kaoru, consciente dos seus olhares, e preparou o seu melhor sorriso. Foi também o mais doloroso.

— Bom dia, Kaoru-kun! – ela disse, animadamente, e continuou em seu caminho rumo à sala de aula. Kaoru continuou a observá-la, sem conseguir formular nem mesmo uma palavra.

— Aquela era a Wakamiya-san? – Kyoya indagou, intrigado – Ela cortou o cabelo… ficou bem assim.

Kaoru permaneceu em silêncio, cerrando os punhos, e então continuou corredor à frente, perdido em pensamentos.

Hanako andou de cabeça erguida, até a sala de aula, e chegando lá, desabou em sua classe, suspirando pesadamente. Ela queria mostrar a Kaoru o quando estava bem, e que ele não precisava mais se preocupar com ela. Foi difícil ver o rosto dele tão perto, os olhos dele completamente focados nela, e não poder dizer nada mais. Tudo nela gritava, implorava pela presença dele. Haveria algum dia em que essa necessidade, esse impulso de correr para os braços dele não existisse mais? Essa dor arrebatadora que tomava o peito dela… poderia sumir toda de uma vez?

Hanako queria pensar que sim, queria com todas as suas forças. Ela queria pensar que chegaria o dia em que alguém ainda mais maravilhoso do que Kaoru apareceria para ela, e ela se apaixonaria novamente, e esqueceria todo o sofrimento. Mesmo que não seja possível prever o que acontecerá, Hanako queria lutar pelo seu futuro. Ela seria corajosa. Levantaria sua cabeça com confiança, caminharia dignamente, rumo à sua vida, que estava somente começando.

— Está tudo bem, Hanako? – Aiko perguntou, ainda assombrada com sua atitude da amiga.

— Está mais ou menos, Aicchii – Hanako respondeu com sinceridade, sorrindo melancolicamente – Mas eu acho que em breve estará tudo bem de novo. Aiko sorriu fracamente, acenando com a cabeça, e foi para o seu lugar, do outro lado da sala.

— Ei, Coelhinha! – a voz conhecida surgiu do nada. Hanako não se sobressaltou, reconhecendo o costumeiro apelido, e viu o lugar ao seu lado sendo tomado. Aparentemente, o lugar de alguém havia sido descaradamente surrupiado pelo ruivo, a fim de sentar-se ao lado dela. Desleixadamente, Hikaru sentou na cadeira, apoiando os pés sobre a classe – Bom dia. – ele disse, sem olhar na direção dela.

— Bom dia! – Hanako sorriu gentilmente, querendo parecer animada. Hikaru a fitou por alguns instantes, e então, sorriu também.

— O seu cabelo… você cortou. – ele disse.

— Sim… eu acho que o cabelo comprido incomoda um pouco… – ela disse sem jeito, um pouco feliz por Hikaru ter reparado.

— Ficou bem em você… – ele disse, baixando os pés e se inclinando na direção da garota, que recuou minimamente com a aproximação inesperada. Ele tocou a ponta dos cabelos castanhos, acariciando-os suavemente – Você ficou linda… – ele disse, mirando-a fixamente com aqueles felinos olhos âmbar. Hanako corou, surpresa.

— O-obrigada…  – ela gaguejou, constrangida. Hikaru enfim percebeu o que fazia, e se afastou subitamente, corando também.

— Não é como se você não fosse mais uma Coelhinha estúpida, só por que cortou o cabelo! – ele disse, virando o rosto ruborizado para o outro lado, com o semblante irritado. – Quero dizer, eu já vi mulheres muito mais… mais… Você ainda é só uma criança! É isso!

— Tem razão… – ela sorriu, vendo a face escarlate e atrapalhada do garoto – Eu sou só uma criança…

— Ei, tem um assento vazio aqui – alguém que organizava os lugares percebeu, chamando a atenção – a quem será que pertence?

— Ouvi dizer que a garota que deveria sentar aí está atualmente no hospital – outra pessoa respondeu, sussurrando, mas ainda assim, Hanako ouvia tudo – É aquela garota bonita que foi transferida no inverno.

— Ah! Então os rumores dela estar com uma doença grave eram verdadeiros…

— Sim, parece que ela não vai aguentar muito mais tempo…

— Ouvi dizer aquele garoto do karate, o Hitachiin, é seu namorado, e passa o tempo todo no hospital cuidando dela.

-- Eu sei quem é! Ele parece mais como um fantasma, todo branco, e magro. Não anda nem dormindo ou comendo direito, ao que parece. Mas ele deve amar muito ela, pra fazer tudo isso!

Hanako, ouvindo a conversa dos dois garotos, fitou fixamente a sua classe, perdendo-se em pensamentos. Não se permitiria chorar, ou qualquer outra reação patética como essa. Havia outras pessoas, como Aiko, por exemplo, que possuíam mais motivos para render-se às lágrimas do que ela. Ela não tinha o direito de se lamentar nesse momento.

— Ei, vocês dois! – Hikaru irritou-se – Parem de fofocar feito tias solteironas, e vão cuidar das suas vidas!

Os garotos balbuciaram qualquer coisa, e então se afastaram. Hikaru percebeu a angústia nos olhos de Hanako, mas nada conseguiu dizer. Não sabia lidar com consolos ou qualquer coisa que ajudasse, no fim das contas.

-

No dia seguinte, seria a cerimônia de entrada dos calouros, e todos os clubes preparavam-se para recrutar novos membros. Honey-senpai e Mori-senpai já haviam se formado, durante aquela primavera, e não faziam mais parte do clube, oficialmente, embora sempre aparecessem. O novo presidente seria Kaoru, mas com suas ocupações no hospital, o cargo foi ocupado temporariamente por outro garoto, o mais antigo do clube.

Os novos alunos adentravam na escola, alguns amedrontados, outros cheios de expectativas, e os clubes, inclusive o de karate, se empenhavam em fazê-los inscreverem-se, com cartazes coloridos, demonstrações e palavras de incentivo.

— Você aí! É melhor se juntar ao clube de karate! – Hikaru apontava para um kouhai particularmente pequeno, que tremia dos pés a cabeça.

— E-eu estava pensando em entrar no baseball… – o garoto gaguejou, temeroso.

— O que? Você não vai se juntar ao nosso clube? – Hikaru sibilou, ameaçador, estralando os dedos das mãos.

— E-eu… e-e-eu… – o garotinho mal se aguentava em pé, buscando uma saída.

— Hikaru! Você não está ameaçando ninguém, não é? – Hanako surgiu de algum lugar, trazendo os folhetos que deveriam ser entregues para os alunos.

— Claro que não, por que eu faria isso? – Hikaru declarou em tom inocente, e o kouhai teve sua chance de fuga com aquela distração. – Você acha que eu estou preocupado com aquela nossa aposta, para ver quem consegue mais membros? É claro que não!

— Sei – ela riu, notando a mal disfarçada irritação de Hikaru – Não deve ter sido por isso também que eu recebi a informação de que você estaria seduzindo inocentes calouras para que elas entrassem no clube, não é?

— De inocente elas não tem nada, eu garanto – Hikaru pronunciou, seguramente – Eu só estou querendo recrutar membros, nada de mais.

— Claro. Mas eu ainda estou ganhando de você, não se esqueça. O placar está 6 para mim e 2 para você, sendo que uma das garotas iludidas acabou de desistir por que achou um cara mais bonito no clube de esgrima. Parece que você vai ter que pagar meu almoço por um mês inteiro, hein?

— Ainda não acabou! – o ruivo rosnou, inconformado – é obvio que eu sou melhor que você!

— Veremos! – Hanako bradou, em tom de desafio, e voltou a distribuir folhetos, alegremente.

Hikaru continuou a observá-la, em silêncio, ignorando a tola aposta ou qualquer outra coisa. Ela estava muito mais bonita do que ele se lembrava. Seria verdade que as garotas que têm seu corações partidos se tornam mais belas? Aquele sorriso… apenas não parecia certo. Ela estava tão obstinadamente mascarando sua dor, e mesmo assim, Hikaru conseguia ver através dela, perfeitamente. Ela ainda sofria, mas era capaz de sorrir naturalmente, em frente aos outros. Hikaru queria protege-la dessa dor, abraça-la com força, e tirar toda a magoa do seu coração. No entanto, tinha certeza de que jamais teria a oportunidade para isso.


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