Bokura no Love Style escrita por Shiroyuki


Capítulo 38
Capítulo 38 - Nakanaide




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/113485/chapter/38



— Então essa é a casa daquela Coelhinha estúpida – Hikaru disse, com confiança, porém sua imagem ruiu segundos depois, quando ele começou a andar de um lado para o outro, impaciente. Já fazia meia hora que ele estava rondando a casa de Hanako, hesitando entre tocar ou não a maldita campainha. – Não é como se eu estivesse preocupado com o fato dela não aparecer em nenhum dos treinos de férias do clube. E o acidente daquela garota Yoko afetou o Kaoru, eu sei disso. Ele nem aparece mais em casa, só fica naquele hospital... Mas eu não faço ideia do que está acontecendo! – ele divagava em voz alta, completamente confuso.

— Kaoru-san! - alguém gritou de dentro, fazendo Hikaru congelar – O que você está fazendo aqui? – avançou até o portão, com fúria. A pessoa em questão era pequena, embora Hikaru tenha avaliado que ela era ligeiramente maior que Hanako, e tinha cabelos curtos na altura do queixo e espetados, cor-de-mel. Os olhos dela eram iguais aos da Coelhinha, apesar de ameaçadores, e ela vestia roupas largas e quentes de inverno, embora uma peça não combinasse em nada com a outra.

— Eu não sou Kaoru – Hikaru se defendeu, mas a garota não o ouviu – Quem é você, pirralha?

— Por sua causa a Onee-chan chorou! - ela pulou sobre Hikaru, desferindo socos e golpes. Ele desviou, indignado com aquela recepção inesperada - Seu idiota, você nem se lembra de mim! Eu não devia ter confiado em você! Você fez a Hanako onee-chan sofrer! Imbecil!

— Eu já disse, não sou o Kaoru! – ele gritou, bloqueando um golpe inesperadamente forte da garota – Escuta aqui, onde está a Hanako?

Só então Izumi parou de distribuir socos, parando para analisar a situação. Lembrou alguma antiga conversa com Hanako, onde ela contava que Kaoru tinha um irritante irmão gêmeo, que era exatamente como ele. Ela recuperou uma posição digna, e encarou Hikaru com seriedade.

— Certo, eu vou levá-lo até ela, “Pessoa que não é o Kaoru”-san. – ela disse desconfiada, dando as costas para que Hikaru a seguisse – Mas tenha em mente que as cenas que presenciará são fortes. A mãe dela não está agora, pode ficar tranquilo. – ela disse, ao cruzar a porta da entrada, notando o desconforto aparente do ruivo.

Ela conduziu Hikaru até o segundo andar, e abriu uma porta, no fim do corredor. Do outro lado do quarto em completa escuridão, iluminado apenas pela luz da televisão, uma silhueta podia ser identificada. Estava enrolada em um edredon, e tinha a atenção focada nas imagens da TV. Izumi ligou a luz, e a figura se cobriu com o cobertor por inteiro, protegendo-se da luz cegante.

— O-o que... – Hikaru balbuciou, sem entender. Analisou bem Hanako, ao ver o rosto dela aparecendo em um pequeno espaço do edredon. Ela estava com os olhos desfocados e sem brilho, e espessas olheiras no rosto pálido. Seu cabelo estava solto, sem as costumeiras marias-chiquinhas baixas, e em completa desordem. Ela vestia um pijama amarelo, com a estampa de um coelho branco bem em frente.

— Ela tem estado assim desde o Natal, quando eles terminaram de vez. Está tentando escapar da realidade assistindo animes o dia inteiro, e só sai do quarto para comer e ir ao banheiro. Não sei nem se ela tem tomado banho ultimamente. Ela está em um estado grave de zumbificação, acho que são poucas as chances de recuperação.

Hikaru entrou no quarto em um rompante, parecendo um furacão em fúria. Jogou o edredon de Hanako para longe, erguendo-a pelos ombros e a chacoalhando de um lado para o outro.

— Que história é essa de que você e o idiota do meu irmão terminaram? – ele berrou, balançando tanto Hanako que ela mais parecia uma boneca de pano – E aqui está você, uma zumbi! O que é isso? Eu pensei que o relacionamento de vocês fosse forte o suficiente para superar qualquer obstáculo!

Hanako o encarou chocada por muitos segundos, até absorver o que ele dizia, e então baixou a cabeça, chorando novamente. Sua expressão era de pura e simples dor, somente, enquanto as lágrimas caiam umas por cima das outras, sem parar.

— Não havia outro jeito – ela soluçou – Tudo o que nós podíamos fazer era terminar. A Yoko... ela... ela está naquele estado por causa do Kaoru! Ela parou o tratamento para ver ele, e agora... agora... ela não tem muito tempo sobrando... Eu não posso construir a minha felicidade em cima da tristeza dos outros!

Kaoru soltou os ombros de Hanako, assombrado, e ela levou as mãos ao rosto, soluçando audivelmente.

— Isso...

— Kaoru pertence à Yoko agora... – ela disse, enxugando as lágrimas, com a voz embargada

— Aquele... aquele filho duma... aaaaaaaargh Kaoru! – ele berrou, furioso, e um rugido gutural se formou em sua garganta – Eu vou matar você!!! – e dizendo isso, avançou contra a porta, empurrando Izumi para o lado e descendo as escadas como um raio.

— Não! Hikaru, espere! – Hanako gritou aflita, sem saber o que fazer. Izumi jogou algumas peças de roupa para ela, que começou a sem vestir rapidamente. Amarrou os cabelos em um coque malfeito no alto da cabeça e colocou o sobretudo cinza por cima das roupas, correndo para fora do quarto, a tempo de ver Hikaru enrolado na entrada, calçando os sapatos novamente.

Precipitou-se na direção dele, quase rolando escada abaixo, mas ele foi mais rápido e correu para fora. Sem pensar duas vezes, ela correu na direção por onde ele foi, mas obviamente Hikaru era muito mais rápido do que Hanako, e desse modo, ela o seguiu até o hospital, quando ele finalmente parou para respirar, logo na entrada.

— Espere, Hikaru! Me escuta! – ela gritou, segurando o seu braço com força, e o impedindo de avançar. Hikaru estava assustador, com uma áurea assassina ao seu redor, e um semblante de pura fúria no rosto. – Qual o sentido de correr até o hospital?

— Cala a boca! Me deixa ir! – ele tentou novamente avançar para a entrada, e Hanako o impediu, segurando ambos os braços dele enquanto rodeava para encará-lo de frente.

— Por que? O que você vai fazer?

— Eu vou matar aquele bastardo, é claro! E eu preciso entrar no hospital para matar ele, entendeu? – Hikaru bradou, exaltado.

— Por que está tão bravo? – Hanako suplicou, ainda segurando Hikaru. – Este é um assunto entre mim e o Kaoru, apenas. Hikaru não tem nada a ver com isso!

— Isto é... – Hikaru cerrou os dentes, surpreendentemente corado – Eu só estou... é que... ele... é por que ele fez você chorar... – ele sussurrou inaudivelmente.

— O que? Eu não posso ouvir você direito...

— Droga! Eu não disse nada!!! Nada!!! – ele berrou, constrangido – Me larga agora! – jogou Hanako para o lado, avançando novamente em direção à porta de vidro – Você foi abandonada por ele, e mesmo assim continua o defendendo! Vá embora, não me segura! – ele terminou de gritar, e marchou na direção do hospital, sem ligar para os olhares aterrorizados das pessoas ao redor.

— Não, Hikaru! Espera! – ela tentou novamente impedi-lo, sem forças. Instintivamente, circundou os braços ao redor do corpo dele, afundando o rosto em seu peito.

— O qu... – ele corou furiosamente, sem saber se ficava feliz por ter sido abraçado, ou com raiva. Na dúvida, permaneceu paralisado.

— Eu não vou deixar você ir! - ela bradou com determinação, ainda abraçada a Hikaru com todas as suas forças, que não eram realmente muitas – Kaoru-kun não fez nada de errado! Não posso deixar você bater nele!

Hikaru ficou em silêncio. Ele não entendia. Ela continuava a proteger aquele cara, mesmo depois de ele escolher outra mulher ao invés dela. Mesmo depois de ele quebrar seu coração em pedaços, e pisar nele com toda a força. O quão patética ela podia ser? Segundos depois o óbvio bateu a sua porta. E não era ele mesmo, o mais patético de todos? Continuava a proteger Hanako, mesmo depois de ela declarar seu amor incondicional a outro garoto, e escolhê-lo. Ele sentia por Hanako o mesmo que ela sentia por Kaoru, agora entendia. Quanta ironia! O mundo gostava de fazer esse tipo de piada de humor negro, e era muito bom nisso.

Alguns instantes depois de Hanako abraçar Hikaru, ela percebeu uma movimentação. Seu coração se sobressaltou, dolorosamente.

— Rápido, esconda-se! – ela exclamou para que apenas Hikaru ouvisse, e o empurrou para o lado, até que os dois estivessem perfeitamente encobertos pelos arbustos da entrada, agachados ao lado da porta.

— Ei! – Hikaru ia protestar, mas Hanako colocou a mão sobre sua boca, com o dedo indicador da outra mão sobre os lábios, fazendo sinal de silêncio.

Ao lado deles, a porta de vidro automática se abriu, e dela surgiu Kaoru, com um semblante absolutamente fechado, acompanhado de Tamaki e Kyoya. Hanako sentiu-se vacilar ao vê-lo tão perto, e mesmo assim, não poder tocá-lo, ou sentir seu cheiro. Era uma tortura insuportável, e inconscientemente, ela segurou a manga do casaco de Hikaru, com a outra mão posta sobre a boca, que se abriu em choque. Seu rosto estava inesperadamente corado, algo que ela não esperava depois de tanto tempo. No entanto, Kaoru não estava exatamente como ela se lembrava. Ele parecia muito mais velho, trazendo uma seriedade que não era sua característica. Seus olhos pareciam cansados, e ele estava visivelmente mais magro.

— Desculpa pelo transtorno de virem aqui para verem a Yoko – Ele disse, num tom de voz tão inexpressivo que fez o coração de Hanako apertar-se. Ela se segurou com mais força a Hikaru.

— Não foi nada – Kyoya respondeu – Nós precisamos ver como Hazuki-san estava, e você também, é claro. E não é problema algum, você sabe, esse é um dos hospitais da minha família. Qualquer coisa que você precisar aqui, pode contar comigo.

— E a Aiko-chan? – Tamaki indagou – Haruhi disse que ela não apareceu em nenhuma das aulas de férias, ou no clube de Culinária, e ela não a viu quando foi na casa dela.

— Ela fica o tempo todo aqui no hospital, e quando não pode ficar ao lado de Yoko no quarto, fica vagando pelos corredores, sem nenhum rumo. Não fala com ninguém, nem comigo. Ela está pior do que todos nós aqui, ela e a irmã não estavam muito próximas, mas sempre foram muito ligadas... Ela nem mesmo se alimenta. Ontem mesmo, eu tive que comprar um ramén instantâneo e forçá-la a engolir ele inteiro, senão, ela passaria o dia inteiro sem por nada na boca. Ela está, aos poucos, se fechando para o mundo... – concluiu, com pesar – Hmm... E a Hanako? – Kaoru deixou a pergunta que fervilhava em sua mente escapar, antes que Kyoya e Tamaki fossem embora – A Haruhi disse algo sobre ela?

— A Haruhi foi visitá-la ontem, mas ela não quer ver ninguém. Ela disse que a Hana-chan que está em algum tipo de transe, e passa o dia inteiro vendo anime, Haruhi disse que ela parece um zumbi – Tamaki informou, tentando não ser muito agressivo ao falar, embora soubesse que aquelas palavras machucariam o amigo – E também, não tem aparecido nos treinos do clube.

— Isso é tudo culpa minha... – a máscara de seriedade enfim deixou o rosto do ruivo, e ele cerrou os dentes, escondendo o rosto nas mãos pálidas – A doença da Yoko se agravar, a Aiko estar nesse estado, fazer a Hanako chorar... Tudo!

— Kaoru... – Tamaki lamentou, sem saber o que dizer. Colocou a mão nas costas do garoto, tentando em vão consolá-lo de alguma forma.

— É melhor você descansar um pouco. – Kyoya aconselhou, racionalmente – Ficar o tempo todo cuidando da Hazuki-san, sem descanso, só irá levar o seu corpo à exaustão.

— Ele parece estar prestes a desmaiar a qualquer momento – Hikaru observou, assim que os três se afastaram, e sentiu Hanako apertar ainda mais seu casaco, quase arrancando seu braço fora. Ele observou a garota, que tinha silenciosas lágrimas rolando livres pelo rosto suplicante, com a mão cerrada sobre o peito, como se quisesse dessa forma aplacar a dor que a atingiu nesse momento.

Hikaru esqueceu sobre o lugar em que se encontravam, e sobre as pessoas que os observavam. Agiu puramente por instinto, como ele estava acostumado a fazer. Precipitou-se sobre Hanako, aconchegando-a em seu colo, e deixando que ela chorasse tanto quanto quisesse. Abraçou-a com força, acariciando os cabelos castanhos e desalinhados com afeição. Sentiu-a tremer e soluçar em seus braços, e a apertou com mais força. Por fim, ela se afastou, enxugando as lágrimas.

— Não! Eu não vou mais chorar! Eu não vou mais lamentar! – ela bradou, decidida. Hikaru permaneceu em silêncio, sabendo que tudo o que ela precisava agora era de alguém que a escutasse. – Se eu continuar chorando, Kaoru-kun irá se culpar para sempre! Da próxima vez em que nos encontrarmos, eu quero ser capaz de sorrir e conversar normalmente com ele! Eu tenho que mostrar a ele que eu sou forte, que eu consigo me levantar sozinha!

— Você não precisa se levantar sozinha, Hanako – Hikaru sussurrou enquanto fitava o chão – Você tem a mim.






Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Bokura no Love Style" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.