-Você quer fazer o que? – Eva indagou pausadamente.

-Aiden gosta de mim, Leon gosta da Noelle e Sean de mim – digo atropelada – E...

-Calma aí – Rachel me cortou deixando sua expressão suave – De onde tirou a idéia de que Aiden ama você e o Leon ama a Noelle?

-Eva me mostrou isso – digo como se fosse a coisa mais óbvia do mundo.

-Como eles pensam errado das coisas – ela resmunga para si mesma – Acontece que Leon teve uma divida com Aiden em relação a Noelle que se trata de ser a irmã de criação dele.

Eva a olhou tal como eu de maneira confusa.

-Leon mentiu para o Aiden em relação a ela – Rachel esclareceu – Quando desespero toma conta de alguém, a coisa torna-se complicada.

-Do que estamos falando precisamente? – Eva perguntou meio solene.

-Noelle estava em uma situação difícil como serva de uma deusa que não me lembro nome –ela começou a explicar cruzando os braços – Leon e ela ao que soube foram criados juntos, por isso são meio chegados. Assim ele resolveu fazer alguma coisa para ajudar a irmã e então disse que a amava para Aiden e que não podia deixar uma Guardiã como ela nas mãos da tal deusa.

-E então Aiden resolveu ajudar o amigo – reflito mordendo o lábio inferior – Mas e os Arcanjos?

-Eles não contam nada do que pensam aos deuses – Rachel explicou me olhando – Tão tal que fico um pouco sentida ao ver o tremendo esforço que Noelle faz para ficar no topo dos Guardiões.

-Então nada que eu mostrei a Selena é verdadeiro? – Eva indagou meio irritada.

-Temo dizer que não – Rachel soltou um sorriso suave.

-Então por que me trouxe aqui? – indago ofendida levantando-me, farta das mais inúmeras mentiras que me apresentavam – Mentir mais ainda?

-Óbvio que não – ela disse solene – Sente-se e escuta.

Olho-a irritada, mas acato seu pedido.

-Te trouxe aqui, porque você precisa saber algumas coisas – ela continuou – Ocorre que é verdade que Leon enfrentou os Arcanjos para que você ficasse com os deuses em nome de Aiden, porque naquela época é certo que ele sentia algo por você, mas como era de se esperar foi apenas fogo de palha ou como estamos acostumados. Ele estava a fim de brincar com todos.

-Isso é baixo – comentou serena.

-Fala isso pra ele então – ela replicou dando de ombros – Segundo, Noelle cuidou de você a pedido de Leon que sim, ganhou afeição por você, mas por conta da quebra do trato com Sean e posteriormente aquele acordo de que não deveria ter relação alguma com você. Ele resolveu ficar o mais distante deixando que Dythan e Seth cuidassem de sua educação também acompanhados de Wade. Até...

-Até? – a instigo a continuar.

-Até que fosse enviada para os Arcanjos – Eva tomou a vez de falar olhando o céu pela janela. – Daí em diante não sabemos o que foi feito de você, até que retornou quinze anos depois.

Arregalo meus olhos de surpresa engolindo a saliva antes de me voltar para Rachel.

-Você é uma Guardiã – digo franzindo a testa – O que aconteceu comigo nesse período?
Ela deu um sorriso de escárnio ou foi de apreensão?

-Eu já não estava mais na “ativa” – ela disse nostálgica – Mas soube que uma certa Guardiã andava sendo o centro das atenções no Distrito 15, não apenas lá, mas nas rodas angelicais e até mesmo entre Arcanjos era conhecida e respeitada.

-E essa tal Guardiã – digo receosa – Era eu?

-Bem – ela pondera por um segundo – Foi na época que você foi desapareceu do mundo dos deuses e não soube de nenhuma outra Guardiã de tal calibre.

Passo a mão no meu cabelo.

Parecia que minha cabeça estava preste a explodir com tudo que tinha acontecido naquelas horas.

-Pode me dizer o que é verdade de tudo que me contaram até agora? – peço quase suplicando olhando-as.

-Sean tornou-se obcecado por você, fez o maldito acordo com Leon que age como idiota desde então, apesar de ficar bastante preocupado com você algumas horas. Você, em alma, é uma Guardiã que topou fazer um trato com Cassiel em troca de um corpo demônio para continuar viva. Agora existe algum Deus atrás desse corpo e não descobrimos quem é – Eva disse descarrilada – Mais alguma coisa que queira saber?

Abro minha boca, mas não produzo nenhum som.

-Só que ainda não chegamos ao principal de tudo – Rachel pronunciou-se me deixando tensa – Quando retornou parecia mudada, muito mudada. Tal como agia com Leon de uma maneira estranha.

-Como assim? – pergunto confusa.

-Antigamente você quebrava mais ossos dele do que qualquer um que encostava o dedo nele – ela respondeu pensativa – E sempre discutiam por coisas bestas, mas quando retornou, parecia ter se esquecido totalmente daquela atitude violenta, tratava-o como ele te tratava. Friamente.

-Onde quer chegar? – pergunto cruzando os braços; rodeava e não queria chegar ao ponto.

Paciência.

-Aconteceu algo no meio tempo que ficou sem falar com os deuses que fez você mudar completamente – ela respondeu pensativa – O que todo mundo quer saber é o que houve?

-Ela não tem lembranças – Eva se intrometeu – Esqueceu que Cassiel fez isso com ela?

Rachel mordeu o lábio inferior, mas logo retornou sua atenção para a direita em direção a entrada do pub.

-O que foi? – pergunto curiosa já me levantando.

-Parece que temos visitas – ela respondeu sussurrando – Vou olhar.

Eva ergueu-se e já foi se locomovendo para o outro extremo, só que antes se voltou pra mim com o indicador nos lábios pedindo silêncio, coisa que consenti balançando a cabeça.

Ela então se afastou deixando-me sozinha não ouvindo nada além dos meus próprios batimentos.

Engulo em seco sentindo o ar fica mais denso, gélido, deixando-me temerosa. Olho para os lados procurando por Eva e Rachel, mas nenhuma delas estava ao alcance da minha visão.

Levanto-me já começando a me mover em direção à entrada, só que Rachel aparece vindo da esquerda parecia bastante apreensiva.

-Preciso tirar você daqui – ela disse já me puxando pelo pulso.

-O que aconteceu? – pergunto tentando me manter em pé pelo menos.

-Finalmente os Guardiões te acharam – ela respondeu com certo escárnio na voz – Não posso deixar que caia nas mãos deles.

-Eles podem querer apenas conversar – supus não tão certa assim.

Ela solta uma risada baixa antes de abrir a porta dos fundos.

-Acredite que o tipo de conversa deles é bem diferente do que você está pensando – ela disse olhando para os lados – Vamos por aqui.

Sem me dar chance para discordar ela me guia rumo à direita andando cada vez mais depressa deixando arfante tentando acompanhar seus passos.

-Onde está Eva? – pergunto equilibrando-me em meus próprios pés – Pensei que estivesse com ela.

-Está detendo os Guardiões com os demais Deuses – ela respondeu virando a esquerda – Não fale muito.

-Pra onde estamos indo? – pergunto a olhando curiosa.

Sua expressão estava estranha.

-Algum lugar onde possa deixar você segura – ela respondeu olhando para um prédio que havia na nossa frente – Aqui deve servir por hora.

Com um forte puxão atravessamos a rua indo em direção ao prédio que parecia ser de eventos ou coisa parecida considerado a arquitetura dele e a decoração que era pra lá de requintada ao mesmo tempo em que exótica. Rachel apressa ainda mais o passo quando entramos de vez no estabelecimento.

Sinto que meu pulso já doía e meu braço também, mas ela não parecia ia parar.

-Angelique! – ouço alguém gritar meu nome fazendo-me olhar para trás.

Vejo de relance Noelle acompanhada de Dythan e Seth, mas Rachel puxa-me novamente dessa vez com a violência de querer arrancar meu braço.

-São Guardiões – ela explicou olhando para os lados procurando algo – Devemos escapar deles.

-São Noelle e deuses – discordo – Devem estar aqui para nos ajudar.

-Engana-se – ela disse com escárnio – Tenho que te deixar segura, para depois cuidar deles.

-O que está acontecendo de verdade? – pergunto a olhando curiosa enquanto seguíamos por um corredor em direção a sala no final deste que por sinal estava fechada – Rachel o que aconteceu?

-Já disse – ela respondeu forçando a porta com as mãos – Os Guardiões conseguiram achar você no pub e tivemos que arrumar um jeito de segurá-lo, até que decide tirar você de lá.

-A porta não vai ceder – digo vendo seu esforço.

-Veremos – ela replicou afastando-se um pouco.

Cruzo os braços sentindo-me meio tensa.

Ela chuta com força a porta que cede deixando-nos ver seu interior que era como uma câmara de igreja ou coisa do tipo, só que sem imagem alguma. Apenas a pintura cinza e o salão vazio contando apenas com algumas cadeiras, tronos na verdade, distribuídos no semicirculo.

Giro ao meu redor olhando para tudo bestificada.

Poderia ser simples, mas o problema é.

O que aquele tipo de sala estava fazendo neste tipo de prédio?

-Fabuloso – Rachel disse solene, na verdade, de maneira triunfante o que me fez olhar pra ela.

Rachel vinha na minha direção estalando os dedos, o que faz com que a porta atrás de si feche-se com brutalidade enquanto um sorriso forma-se em seus lábios. Dou um passo para trás ficando amedrontada com sua expressão que me parecia lembrar alguém, mas não sabia quem ainda.

Até que a risada fina e estridente ressoou em todo o salão e a fisionomia dela transformou-se de uma menina que queria nunca mais olhar na cara.

-Ária – digo solene a encarando.

-Surpresa – ela disse juntando as mãos formando mais um sorriso nos lábios.