Música Tema: Everything You’re Not

-E o que você pretende fazer agora? – perguntou Sterling.

-Sei lá. – falei bebendo um gole de alguma-coisa-com-álcool.

Ele me encarava com um sorriso torto, mas com o resto da cara séria.

Totalmente irônico.

Eu já havia contado-lhe a história todo da vingança. E sobre o que havia acontecido para eu querer uma vingança.

-Então... – ele limpou a garganta. – Como foi na clínica?

Ele não havia perguntado até ali. Ele nem havia hesitado quando eu pulei de “...Daí eu resolvi me internar. De algum lugar a Taylor tirou a idéia. Juro que não sei de onde...”

Me concentrei na pergunta. Ignorando todas as memórias.

-Legal. – falei. Notei a besteira que tinha falado.

Sterling me olhou realmente preocupado.

-Legal. – ele ecoou. – Legal, Demi? Você se afastou de todos por meses. Só saiu no natal e voltou no mesmo dia. Você deve ter tido que falar sobre tudo o que te dói! Desde o bullying da época em que você estudava até o termino com o Joe. – eu me surpreendi com aquela. Ele sabia do bullying? – Eu sei que pode ter sido tudo, menos “legal”.

Olhei-o com as bochechas cheia de ar, prendendo a respiração.

Se você reparar em Sunny, ela faz muito isso quando não sabe o que dizer. Bom, isso não é uma mania só da personagem. Tá, eu sei. É meio bobo.

Voltei a pensar na resposta. E na clínica. Mas não consegui evitar a lembrança.

-Demi, calma! – Samantha, a médica, me disse.

As lágrimas caiam compulsivamente dos meus olhos.

-CALMA!? – berrava com tudo. – Você não entende! Meus pais se separam comigo pequena. Isso dói, as vezes, sabe? Ter seus pais sem se falar direito, com você na linha de fogo. Eu sinto falta do papai. – isso falei baixo. Mas voltei a berrar logo depois. -  Depois, na escola, tiveram aqueles... Idiotas, que me fizeram mal. Você não tem idéia do que é bullying até passar por ele. Isso me volta na mente e me faz chorar. Chorar mesmo. Lembrar do que me chamaram, das maneiras que me agrediram. Na 7ª série! Era tão inocente na época. Como puderam? – minha voz morreu.

-Isso já passou. – ela falou tentando se aproximou.

-Não na minha mente! – gritei empurrando-a levemente. – ME DEIXA.

Então corri pra debaixo das cobertas enquanto tentava me acalmar.

-Demi? – falou Sterling me puxando de volta a terra. – Desculpe. Não precisa me responder.

Levantei a cabeça, bastante porque nem o salto me deixava com os quase 1,80 de Knight. Engraçado, são 20 centímetros exatos de diferença. É, ele tem 1,78. E é, ter 1,58 é triste.

Era em altura que eu estava pensando quando Knight me abraçou.

-Desculpe. – ele falou no meu ouvido. – Você não esta em surto nem nada, certo?

Olhei pra ele quase rindo. Teria rido se não fosse a lembrança de 3 segundos atrás.

-Não. – falei. – Já pode me soltar.

-É que dizem que tem que dar um tapa ou um susto na pessoa. Achei que te abraçar seria susto suficiente. – ele ria pra mim.

Então devolvi o sorriso.

E comecei a falar.

-Foi difícil. – ele ia perguntar “O quê?”, mas se deu conta do que eu falava. – Tem várias coisas que me machucavam. Agora já não ligo tanto. – Pensei por um minuto. – Não, machucam sim. Mas não incomodam, sabe? É um machucado tratado. Está lá, mas já não dói, a menos que você cutuque. – ele concordou com a cabeça, analisando meu rosto. – Joe terminar comigo não foi a parte mais difícil. A mais difícil foi o termino da amizade. Ele era um bom amigo. – murmurei a ultima frase.

Havia sido atacada por outra memória.

Estava realmente escuro naquela sala.

Eu estava com medo.

-Então, Demi, - o psicólogo falou. – me fale do Joe.

-Ele era meu amigo. – falei como uma demente. Mas eu estava assustada. Só não sei de que. – Mas sempre tive um grande queda por ele. E um dia ele me notou. Namoramos. Ele me traiu com a Greene e está namorando com ela.

-Como você se sente sobre isso? – ele disse de algum lugar que eu não conseguia enxergar de onde.

Bufei.

-Na hora mal. Mas o que me machucou foi saber que ele me namorou pra promover Camp Rock 2. – não baixei o tom. – Nick me contou.

-E como a sua relação com o Nick? Ele me parece...

-Demi, de novo não! – Sterling estalou os dedos na minha frente.

-Opa. Desculpa. – falei rindo. Ri de verdade. Ele era engraçado. Ou era o álcool. Mas, acho que foi pela preocupação dele. – Eu lembro das coisas e volto.

Ele me estudou.

-Então vamos mudar o assunto...

-Não, tudo bem. Não ligo. – interrompi-o dando de ombros.

-Hã-hã. – falou sorrindo. – Vamos falar de... – ele pensou. – E o Nick?

Hã?

-Que tem ele? – falei procurando a parede pra me escorar. Ele me seguiu e colocou o braço ao lado da minha cabeça se apoiando. Fazendo com que a sua cabeça ficasse a centímetros da minha.

-Ah, - ele disse descontraído. – alem da paixão arrebatadora que ele tem por você? Temo que ele também ficou chateado porque o plano não deu certo.

-Do que você ta falando? O Nick...

Ele balançou a outra mão. A outra ainda estava do meu lado. Ele tinha cheiro de perfume caro, mas de fundo eucalipto.

Seu cheiro e o que ele disse estavam me confundindo.

-Vamos pular a parte onde você não crê que ele está apaixonado e eu explico tudo, pra parte que eu pergunto, e você? – olhei pra ele confusa e ele riu. – Mesmo ainda amando o Joe, corresponde a Nick? Gosta dos dois?

Encarava-o.

O Sterling bebeu demais.

-Não sou apaixonada por Nick. – disse certa dando de ombros. – Ele é só meu melhor amigo. E ponto. Amo ele. Mas só assim.

Sterling pareceu pensar naquilo.

-Então prepare-se pra quebrar o coração dele. E antes que você pergunte, a Taylor já deve ter percebido. A Miley e a Selena já gostaram dele, então não perceberiam. Mas a Taylor deve ter visto no momento surto do Nick. Qualquer um perceberia. Menos, - ele revirou os olhos – você e Joe. E Selena e Miley. Mas elas são diferentes. – ele fez um sinal com a mão de “menos”.

Ual.

Eu nunca tinha visto esse Sterling. Cadê o cara que gravava comigo?

E Nick apaixonado por mim? Possível?

E como ele tem tanta certeza que eu amo o Joe? Eu disse que não sabia.

RAIOS.

-Posso fazer uma pergunta que estava na minha cabeça? – falei tentando ignorar tudo o que eu pensava.

-Vá em frente. – ele disse erguendo as sobrancelhas. Ele não ria desde minha confusão. O sorriso era belo nele.

-Como você estava ali? Tipo, eu vi o Joe e o Nick, mas não vi você. E eu te beijei onde o Joe deveria estar. Como? Alias, de onde você surgiu? – eu me enrolei na hora de falar.

-Hmm, - ele disse fingindo pensar. – Eu vim receber os prêmios. Não foi só você que fez um filme esse ano. Starstruck ganhou como melhor filme. E Sunny, é claro. – eu já ia dizer que não era aquilo que eu queria dizer, mas ele continuou. – Você me beijou, porque eu estava indo pra casa. Tinha acabado de sair do banheiro, - tinha um banheiro ali e eu tive que cruzar o salão as escuras? Valeu, Taylor. – e não consegui escapar nos 10 segundos. Então achei melhor ficar parado. Só que só parei quando tudo já estava escuro. Sou meio teimoso. – ele riu. – E sortudo.

Eu tive que rir.

-Por que indo embora tão cedo? – perguntei. Ele pareceu sombrio.

-Levei um pé da minha namorada. – ele disse dando de ombros.

-Ai meu Deus, me desculpe. Nem sabia que você tinha namorada. – então abracei-o.

Sabe, pra consolá-lo. Era o que eu faria com uma amiga.

Só que claramente ele não sabia disso, porque ficou bem surpreso.

E claramente ele não era uma amiga.

Aquilo me fez lembrar de Nick. Antes da clínica. Bem antes.

-Melhores amigos? – ele disse.

-Pra sempre. – falei rindo. – Alguns anos de amizade, hein?

-É. – ele estava distante. – Continue apresentando-me suas amigas. – dei-lhe um tapa.

-É, já namorou duas delas. – revirei os olhos.

-Hunhum. E você é afim do meu irmão.

Fiz cara de boba.

-Não tenho culpa.

-Sei disso, Lovato. – ele deu um meio-sorriso. Seu mais típico.

Pensei por um momento.

-Se pudéssemos escolher quem amar, - murmurei. – eu escolheria amar você e você escolheria me amar. Porque assim, teria meu melhor amigo como meu amor. É uma pena que não.

Dei de ombros.

Ele pareceu analisar o que eu disse.

-É, uma pena. – ele murmurou também.

Também, não precisávamos falar alto. O lago estava vazio e silencioso.

-E sabe, - comecei a matracar novamente. – se você fosse uma garota, diria que você era minha BFF, mas fazer isso com você assim seria te chamar de gay. Melhor te chamar de Best.

Ele revirou os olhos.

-Valeu, Demi. Valeu. Valeu meeeeesmo. – ficou meio ofendido com toda sua masculinidade.

Eu apenas ri, tacando-lhe uma pedrinha.

Sacudi a cabeça ainda no ombro de Sterling e forcei a pensar nele.

-Não, - ele disse se afastando de mim – tudo bem mesmo. Você foi a minha salvação.

Ri pra ele.

Ele voou por um momento. Se pareceu até comigo.

-Sabe, é uma pena que você ainda ame o Joe. – ele disse – Você merecia alguém melhor, o Nick seria o candidato perfeito.

-Eu não sei se amo ele, ok? – ele ia protestar, mas ignorei. – Eu quero tudo que ele não é. Não quero falsidade, não quero propaganda. – minha voz saiu com nojo. – Não quero nada do que ele me fez passar.

-Everything You’re Not. – ele murmurou. – Suas músicas soam irônicas agora. – ele disse brincando, mas não teve graça. – Olha, quer carona? – neguei com a cabeça. – Tenho que ir. Só uma coisa. As pessoas mudam por amor. Lembre-se. Tchau, Demi.

Então, me deu um aceno de cabeça e se meteu no meio da pista de dança onde as pessoas balançavam ao som de alguma música que eu nem prestava atenção.

Tinha que achar as meninas antes de ir.

Mas o fiz com a voz dele ainda na cabeça. As pessoas mudam por amor.

Joe mudaria? Isso que ele quis dizer?

-DEMI! – alguém gritou. Notei ser Selena. – Me conta TU-DO!

Essa conversa seria longa...