Sakura adentrou a sala do Hokage com um brilho triste nos olhos. A figura loira sentada atrás da escrivaninha levantou os olhos para a rosada assim que ela adentrou o recinto, e perguntou com um claro tom de ansiedade na voz:

–Então? Algum sinal dele? –A decepção voltou aos seus olhos no momento em que a rosada negou com a cabeça. Tsunade deu um suspiro aflito e olhou para uma foto na escrivaninha, a foto de um garotinho loiro de 12 anos sorridente e de olhos tão azuis quanto o mar. Ela levantou os olhos amendoados para a discípula e disse:

–Obrigada pelo seu esforço, Sakura. Era só isso que eu tinha para falar com você.

Sakura mordeu o lábio inferior levemente e olhou para sua mestra.

–Não se preocupe, Tsunade-sama. Nós vamos encontrá-lo. Você vai ver. Naruto sabe se cuidar. Tenho certeza de que ele está bem. –Tsunade lançou um olhar triste à menina.

–Espero que esteja certa. –Sakura assentiu e fechou a porta vagarosamente. Girou em seus calcanhares e caminhou pelo corredor, pensando:

–“Droga, Naruto, seu idiota! Onde foi que você se meteu?”

...

–Você está bem? –Perguntou Hinata ao ver a expressão distante do loiro, que estava deitado na grama ao seu lado olhando para as nuvens pensativo. Ele despertou de seus devaneios e virou o rosto para encará-la.

–Só estava pensando nos meus amigos do outro lado... Quero dizer, na minha vida antes do cometa. –E tornou a olhar para o céu. Hinata assentiu e se deitou ao lado dele.

–Você sente falta de lá?

–Às vezes. –Respondeu ele. Hinata se mexeu um pouco ao reproduzir na fala as palavras que perturbavam sua mente.

–Se você tivesse uma chance de voltar... Você voltaria?

Naruto tornou a olhar para a Hyuuga e deu um sorriso triste. Ela se sentou para retribuir o olhar melhor e ele fez o mesmo.

–Não sei... –Respondeu ele. –Não sei, Hinata. –Deu um suspiro triste e se surpreendeu quando ela o abraçou.

–É uma decisão difícil, né? –Naruto concordou com a cabeça.

–Aqui é maravilhoso. –Disse ele com um sorriso triste. –Tenho tudo o que sempre sonhei. E quanto a você, Hinata, acho que você não sabe, mas você foi a primeira pessoa de quem me lembro que disse que me amava. –Hinata sorriu e encostou sua cabeça na dele.

–Eu te amo desde a primeira vez que te vi. E sempre vou amar. –Encosta seu nariz no dele e esfrega levemente. Ele sorri e a abraça pela cintura.

–Eu sei. –E passando o polegar pelos lábios dela lhe dá um beijo carinhoso. –Eu também te amo, Hinata. –Ela abriu um lindo sorriso e deitou a cabeça no peito dele, enquanto ele acariciava seus cabelos, pensativo. –“Espero que eu nunca precise tomar essa decisão, -ttebayo. Se eu estiver sonhando... Se toda essa paz não for real... Então, não quero acordar nunca mais.”

...

Um grito desesperado saiu da garganta de Konohamaru ao ver a kunai indo ao encontro de Touya, o que fez os três gennins que a atacavam virar e deparar exatamente com ele. Konohamaru se levantou, mas nada podia fazer. O conhecimento de sua própria impotência o deixara paralisado.

Taro se virou e com um sorriso maldoso viu a kunai a poucos centímetros da Uzumaki. Iria acabar com a pirralha que ousara desafiá-lo de uma vez por todas.

Seu sorriso sumiu assim que um garoto pulou de dentro da água e agarrou a kunai no ar antes que ela chegasse à Uzumaki, caiu de pé sobre a água e lançou a kunai de volta contra o próprio Taro, que desviou com um pulo.

–HOSHI-KUN! –Gritou a ruiva de alívio. Hoshi sorriu.

–Não dizem que geralmente o herói chega na última hora? Então? –Ela sorriu. –Touya-chan, por que você só se mete em furada, ein?

–Sei lá. Talento natural. –Hoshi riu levemente e se virou para encarar o outro time, com os punhos fechados e com cada célula de seu ser tremendo de raiva. Ao avistar o outro menino de cachecol com um sorriso aliviado no rosto, berrou para ele:

–O que tá fazendo aí parado?! Vem me ajudar, Sarutobi! –Ao ouvir aquelas palavras do Uchiha, Konohamaru imediatamente voltou à consciência e passou correndo por Taro e os colegas antes mesmo que pudessem mover um músculo. Sacou a kunai e cortou algumas das linhas que prendiam Touya, e antes mesmo que essa afundasse, ele a pegou no colo, evitando a queda. Olhou por um momento em seus olhos grandes e verdes antes que ela o abraçasse firme, mas ainda presa por mais algumas linhas. Hoshi, olhando para ele, disse:

–Cuide dela. Deixa o senpai comigo.

O Sarutobi assentiu e desatou a correr com a Uzumaki nos braços em direção à mata fechada nativa da floresta. Taro, vendo que estavam fugindo, bradou para os colegas:

–Touji! Nami! Não deixem que o Sarutobi escape! –Os dois assentiram e saíram correndo atrás de Konohamaru. Hoshi tentou impedir, lançando contra eles uma bola de fogo, mas eles habilmente desviaram e passaram pelo Uchiha. Os parceiros de Konohamaru, até então escondidos, saíram do esconderijo e seguiram os perseguidores de seu parceiro e da Uzumaki, gritando para o Uchiha ao passar por ele:

–Deixa com a gente! –E correndo rápido por cima da água, chegaram à outra margem e sumiram entre as árvores. Hoshi tentou correr atrás deles, mas uma kunai lançada por Taro passou rente ao seu rosto, fazendo um pequeno corte e um fino filete de sangue escorrer. Ele limpou o rosto com o dorso da mão e encarou o grandalhão com fogo no olhar. Entendera o recado. Teria de acabar com ele primeiro se quisesse se juntar à parceira.

...

–Você está bem, Touya-chan? –Perguntou Konohamaru preocupado. Touya assentiu fracamente.

–Sim... Só um pouco fraca. A menina do time do Taro-senpai drenou quase todo o meu chakra... –E fechando os olhos para respirar um pouco, recostou a cabeça ao peito do Sarutobi, que corou abruptamente. Ele parou alguns segundos para admirar o rostinho redondo, alvo e delicado da pequena Uzumaki, em contraste com os cabelos vermelhos como sangue. As marquinhas de bigode de raposa que tinha se destacaram ainda mais quando ela abriu os olhos e se deparou com o olhar dela sobre si e corou. Ela os desviou por alguns segundos, antes de ouvirem um barulho atrás de si e verem os parceiros de Taro com kunais na mão e olhando-os sérios. O garoto se adiantou e rosnou:

–Ei, você aí! Largue a Uzumaki no chão! –Konohamaru olhou para Touya por alguns segundos. Ela viu a firmeza em seus olhos e sacudiu a cabeça. –Não! Não, não faça...

–Já fiz. –Respondeu ele sério. Ela o encarou indignada por alguns segundos e ele a colocou sentada delicadamente no chão. Girou em seus calcanhares e encarou os gennins. –Já fiz. E o que vocês querem com ela?

–Taro quer se vingar pela humilhação que sofreu dela. –Respondeu o garoto. Konohamaru deu mais uma olhada pala Touya, que negou com a cabeça.

–Escuta aqui, eu não vou deixar que você e o Hoshi-kun se arrisquem por minha causa de novo, entendeu? Não vou deixar! –Tentou se por de pé, mas suas pernas bambearam e falhou. Ele riu desgostoso.

–Me poupe, Touya-chan. Você mal consegue ficar de pé. –E virou o rosto para os oponentes, com um olhar determinado. –Deixa comigo. Está tudo bem, Touya-chan. Eu vou te proteger.

...

Hoshi e Taro se afastaram bruscamente ao socarem um a face do outro. Hoshi se levantou e limpou o sangue da boca com o dorso da mão, ofegando e olhando para o senpai. Ele encarou o Uchiha por alguns segundos e disse:

–Você não é um completo desperdício de espaço, Uchiha. Agora, só quero saber por que se arrisca tanto só por causa aquela fedelha.

–TOUYA-CHAN NÃO É FEDELHA! Ela é uma boa garota e uma ótima ninja! Uma ninja muito melhor do que você! –Ele cuspiu as últimas palavras e viu a raiva subir no rosto de Taro, que investiu contra ele com toda a sua cólera. Hoshi mal teve tempo de reagir aos rápidos e brutos golpes de Taro, que quebravam suas defesas muitas vezes e tinham força devastadora, bloqueados ou não. O grandalhão lhe acertou um soco no rosto tão violento que o jogou longe 10 metros, fazendo com que o Uchiha caísse no lago. Hoshi afundava devagar, sentindo seu olho direito latejar e inchar, doendo tanto quanto quase todas as partes de seu corpo.

–“Droga, mil vezes droga! Não posso falhar agora! Touya-chan...” –Fechou os olhos por um instante e veio à sua mente o rosto da pequena Uzumaki sorrindo para ele, puxado de uma lembrança sua de um dia normal de treino. Lembrou-se de Satoshi e seu jeito relaxado. Hinata-sensei e sua meiguice. Seus irmãos, seu pai, sua mãe... –“NÃO!” –A ferocidade de seu espírito e a adrenalina tomaram conta de seu corpo. Ele sentiu um formigamento atrás dos olhos e concentrou o chakra nos pés. Quando chegou ao fundo do rio, deu um impulso nos pés e seu chakra ampliou em muitas vezes a força, lançando-o para fora do rio. Taro, que já se sentia vitorioso e andava tranquilamente para seguir Touya e Konohamaru, virou-se surpreso e viu o Uchiha sendo praticamente cuspido para fora do lago, armado com kunais nas duas mãos e os olhos vermelhos com pequenas vírgulas faiscando de raiva. Taro chocou-se.

–Não é possível! O sharingan!

–Engula isso! –E lançou as 10 kunais em sua direção, que desviou por pouco. Ele pousou sobre a superfície do lago e correu em direção a Taro, dando-lhe uma voadora no rosto que o deixou desnorteado. Taro recuperou-se rapidamente e tentou revidar os golpes, mas Hoshi desviava de todos com extrema facilidade prevendo-os e revidando com velocidade e força superiores às suas normais. Ele mesmo se surpreendeu com sua habilidade e continuou prevendo e revidando os ataques do senpai, cansando-o rapidamente. Aplicou-lhe um gancho de esquerda forte. –Esse é por mim! -Deu-lhe um de direita. –Esse é por ter xingado minha parceira e atacado ela! –E quando Taro já estava bem tonto, ele lhe acertou um gancho abaixo do queixo que o fez voar alguns metros. –E esse é por ser um cretino covarde! –Hoshi cambaleou um pouco quando Taro caiu inconsciente no chão. Suas pernas bambearam e ele caiu de joelhos, sentindo cada músculo de seu corpo doer. Ouviu uma voz conhecida ao longe chamando seu nome enquanto sua visão embaçava e quando caiu para frente, sentiu dois braços finos o amparando. A pessoa olhou em seus olhos e ele reconheceu os olhos verdes de Touya. Ele sorriu.

–T-T-To-Touya-chan... Q-que bom que você tá b-bem...

–Claro que estou bem! –Exclamou ela. –O Konohamaru-kun cuidou dos parceiros do Taro-senpai pra mim e... Hoshi-kun! Você tem o sharingan! –Exclamou ela surpresa. –Hoshi-kun! –Chamou ela quando os olhos dele voltaram ao negro normal e saíram de foco, antes de tudo ficar escuro. –HOSHI-KUN!!

...

Ele abriu os olhos e viu as copas das árvores sobre si assim que sua visão começou a normalizar. Sentiu algo acima de si e viu que alguém o tinha enfiado em seu saco de dormir. Ouviu vozes, discussões ao seu lado e virou a cabeça para olhar. Viu seus parceiros e o time de Sarutobi Konohamaru conversando. O ponto de foco era um pergaminho da terra que estava entre Touya e Satoshi e Konohamaru, Moegi e Udon. Hoshi sorriu ao ver o estado de Touya. Ela estava bem!

–Konohamaru-kun que o pegou, então por que não podemos ficar com o pergaminho? –Perguntou Moegi.

–Porque vocês já têm o da terra. Não precisam dele. –Respondeu Touya cruzando os braços e fuzilando a outra menina com o olhar. Konohamaru, se colocando entre as duas, disse:

–Moegi, Touya-chan tem razão. Nós nos metemos na briga deles e além do mais, ela me ajudou a bater naqueles caras. Nós não precisamos do pergaminho da terra. Já temos um. Então, precisamos procurar um do céu.

–Você sempre fica do lado dela! –Berrou Moegi. Touya ficou séria.

–Deixe de ser infantil. Vocês me ajudaram e eu agradeço muito, mas prender esse pergaminho com vocês só servirá para eliminar equipes!

–Então que elimine! Melhor do que deixá-lo com você!

–Moegi-senpai, deixe disso. O pergaminho é do Konohamaru-senpai. Cabe a ele decidir. –Acrescentou Satoshi calmamente, para remediar a situação. Konohamaru pegou o pergaminho e todos os quatro olharam diretamente para ele. Moegi, furiosa, perguntou:

–E então, Konohamaru? Quem você escolhe?

Ele a encarou por alguns segundos e entregou o pergaminho para Touya. O rosto de Moegi ficou vermelho de raiva.

–Então é ela, né? Pois bem! –Bateu o pé, girou em seus calcanhares e saiu pisando firme.

–Moegi-chan, espera! –Gritou Udon e saiu correndo atrás da parceira. Konohamaru suspirou e balançou a cabeça.

–Perdoem a Moegi. Ela é assim mesmo. Logo ela esquece. Ja ne! –E correu para alcançar seu time. Touya ficou parada por um tempo, olhando para o lugar onde ele sumira pensativa, com o pergaminho da terra na mão. Hoshi quebrou o gelo, dando um susto nos parceiros:

–Graças a Kami eles foram embora. Eles são muito barulhentos.

–HOSHI-KUN! –Exclamou Touya abrindo um enorme sorriso e enquanto o Uchiha se levantava, ela o abraçou, aos prantos. –Ah... Hoshi-kun, eu fiquei tão preocupada...! –Hoshi a abraçou de volta, sorrindo um pouco pela preocupação dela. Porém, o pequeno sorriso se esvaiu ao ver a aflição da ruivinha. Ele a abraçou com mais força, apoiando a cabeça na sua.

–Eu estou bem, Touya-chan. E fico feliz que você também esteja.

Ela levantou os olhos para encará-lo e soluçou mais ainda, batendo no peito dele com toda fúria.

–Baka! Nunca mais faça isso! Nunca mais se arrisque desse jeito por mim! –Continuou batendo nele e se surpreendeu quando ele agarrou seus pulsos e olhou fundo em seus olhos.

–Pois eu continuarei fazendo isso todas as vezes que você precisar. Eu te amo, Uzumaki Touya! –Ele olhou fundo nos olhos esmeralda dela que se arregalaram imediatamente após a declaração. Hoshi levantou seu rosto com o dedo e se aproximou do rosto extremamente corado. O coração dos dois batia muito depressa quando os lábios se tocaram, Hoshi transmitindo todo o seu sentimento naquele pequeno gesto. Afastou-se rapidamente e a largou, que ainda tinha uma expressão assustada. Satoshi, vendo que estava sobrando e super corado, disse para quebrar a tensão:

–Então... er... Tá. Temos o pergaminho, e agora, Touya-chan? –Olhou para a menina, que se sentou em um tronco caído de árvore e olhava para o nada. Hoshi interveio.

–Agora que temos o pergaminho, não precisamos mais atacar. Agora, nossa tarefa será nos deslocarmos até a torre o mais rápido possível e sem sermos vistos. –Satoshi assentiu.

–Ok. Amanhã a gente continua. Vamos dormir. Vem, Touya-chan. –Ele tocou rapidamente o ombro da menina que o olhou, quase como reflexo, saindo do transe. Ela assentiu e andou até a barraca, murmurou um “oyasuminasai” baixinho para eles e foi deitar. Satoshi ficou com o primeiro turno de vigia e Hoshi acompanhou Touya até a barraca, deitando no saco de dormir ao lado e a observando. Aos poucos o sono o foi embalando e ele adormeceu.