A Pedra da Noite escrita por luizaac


Capítulo 21
Sessões


Notas iniciais do capítulo

OOOOOOi, pessoas. Tudo bem com vocês ? Agora vocês vão começar à ver minha história se unindo com a da minha amiga, espero que vocês gostem né ? Ah, seus comentários, eu leio todos, apesar de nunca mais ter respondido. Muito obrigada por todos, fico muuuuuuuuito feliz mesmo.



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Desci as escadas em um só galope. O choro alto de meu novo irmão me fez sorrir. Parei no fim das escadas, sem que ninguém me visse. Olhei para a sala. Keila segurava Ralph do jeito mais maternal possível, mostrando sua experiência no assunto, já que ele era o seu segundo filho. Ellie estava sentada do outro lado da sala, toda desconcertada na poltrona, mexendo freneticamente no seu celular. Revirei os olhos. Pelo menos ela podia fingir interesse, ou sei lá o que, afinal, a criança não era culpada pelo seu gênio. Fiz um coque no cabelo e entrei no campo de visão da família ali reunida.

    - Bom dia, Claire. – Keila sorriu para mim, pegou o braço gordinho de Ralph e acenou na minha direção.

    - Bom dia Keila. – abaixei na frente dela e de Ralph, vendo, pelo canto do olho, Ellie me encarar com sua “pior cara feia”. Ignorei. – Meu Deus, ele é igualzinho a você mesmo. Fala sério. – mexi na mãozinha pequena dele.

     - Ah, por favor, bebê assim tem tudo cara de joelho. – Meu pai chegava à sala com a chupeta lavada em mãos, provavelmente o motivo do chororô de Ralph.

     - Então ele é a cara do joelho da Keila. Pai, aceite, você foi esquecido nessa divisão. – Ele me mostrou um sorriso sarcástico e entregou a chupeta a Keila, que devolveu à pequena boca do mais novo membro da família McDonald De Bellefort.

    - Logo logo ele cresce e fica parecido comigo.

    - Ou não. – olhei para a pequena gordinha criatura que Keila acariciava com ternura. Ele parecia sorrir com os olhos.

    - Quer segurá-lo ? – Meus olhos brilharam.

    - Quero. – Keila me passou Ralph com todo o cuidado, parecendo a coisa mais delicada do mundo. Devagar, fui pegando o jeito, com ajuda de Keila e meu pai. Era como um bonequinho, um bonequinho pesado, que respirava e se movia. Nesse momento, senti um carinho tão grande por aquele pequeno e uma felicidade. Uma felicidade colorida, sem definição ao certo. Me inclinei para dar um beijo em sua testa, devolvi ao colo de sua mãe e levantei-me. Quase que instantaneamente, a felicidade colorida se dissipou, passando a ser uma simples felicidade. Foi estranho.

    - Tá tudo bem, Claire ? – Meu pai sentou-se ao lado de Keila, me olhando preocupado. Talvez fosse por causa da minha expressão confusa.

     - Tá, tá sim. – sorri e fui preparar o almoço prometido.

     O fim de semana foi assim, cheio de paparicos. A não ser, é claro, quando Ellie dava seus pitis. Um deles, o pior, fez Keila chorar. Mas eu já estava acostumada. E, sabe, me fez sentir normal, mesmo que eu não fosse. Até os “sobrenaturais” de Ellie tão naturais para mim me fizeram rir.

    O sol fraco da manhã de segunda me acordou, seguido pelo toque leve de Keila em meu ombro. Segui minha rotina matinal normal: banho, roupa, café, dentes. Tudo normal, a não ser a campainha que tocou antes de eu sair. Ellie correu para atender, como se fosse para ela. E quase caiu para trás quando viu quem era.

    - Leon ! O que você tá fazendo aqui ? – ela puxou ele para dentro, se agarrando nele, mesmo com todo o esforço de se afastar.

    - Hã, na verdade... Eu vim buscar a Claire pra gente ir juntos para a escola. – ele sorriu para mim, com aquele sorriso que eu amava, e que me fez corar, já que estávamos na frente dos meus pais. Ellie deu um passo para longe de Leon, cabisbaixa. – Ah, e dar uma olhadinha no Ralph, né ? Se possível.

     - É claro que é possível. – Keila trazia Ralph nos braços, sorrindo. Tinha reconhecido o Leon. – Esse é Ralph. Diz oi pro Leon. – Leon sorriu para Ralph. Eu senti aquela mesma sensação da felicidade colorida.

     - Ele é a sua cara, senhora De Bellefort. – olhei para meu pai com aquela cara de “eu te avisei” e virei para Leon.

     - Vamos ? – ele assentiu. Peguei minha mochila, abri a porta e saí de casa, seguida por Leon. Ele colocou a mão na minha cintura e me puxou para perto. – O que foi isso ?

     - Isso o que ? – eu sentia seu rosto em minha cabeça, um sorriso estava aberto.

     - Essa cena. Por que você veio me buscar em casa ?

     - Que tal porque não vamos a escola de verdade ? – eu revirei os olhos para minha idiotice.

     - Verdade. Ver Dhana de novo. – sorri. Ele deu de ombros.

    Chegamos ao submundo mais tranquilamente do que da última vez, eu já sabia o que me esperava. Começamos a correr na direção oposta ao vento, passando pela floresta sombria. Um borboleta preta e amarela, de asas grandes, se aproximou de mim e começou a voar no meu ritmo. Fiquei hipnotizada pela delicadeza de seu vôo que nem notei que o grande castelo branco já estava na nossa frente. Meu estômago revirou. Cheguei perto de Leon, preocupada com o que ia acontecer agora. Ele sentiu o meu medo, me abraçou e deu-me um beijo rápido.

     - Seja o que for, não tenha medo. A Dhana é louca, mas não morde. – Leon piscou para mim e olhou para Mason, pedindo que entrasse no castelo.

    Seguimos Mason pelo comprido corredor de paredes douradas cheias de quadros que havíamos passado há 3 dias. Paramos na porta do final do corredor. Leon bateu nela três vezes e abriu-a. Dhana estava sentada no sofá que ficava de frente para a porta, sorrindo.

     - Tavam demorando. Trânsito ?

     - Ah é, tava cheio de borboleta no caminho. – dei de ombros.

     - Borboletas ? Que bizarro. – Ela sorriu para mim. – Que cor ? – arqueei a sobrancelha. O que isso tem de importante ?

     - Preta e amarela. – dei de ombros.

     - Que legal. – ela olhou para Leon com um brilho no olhar. Olhei para ele também. Parecia... sei lá. Uma mistura de divertimento, irritação e confusão. Voltei a encarar Dhana. Ela assoprou um fio dourado que caía em seus olhos e sorriu para mim. – Está pronta para começar as sessões ? – engoli em seco. Isso que me preocupava, essas “sessões” que deviam acontecer antes da primeira semana. Que era daqui a 2 dias. Mas ok.

     - Pronta.

     - Leon, Mason, posso pedir pra vocês se retirarem ?

     - Pode até pedir, mas não vou sair. – Leon se esparramou na cadeira, mostrando que dali ninguém tirava-o.

     - Ah, não é ? – Dhana sorriu e, no mesmo segundo, Leon levantou e foi em direção a porta, seguido por Mason. Eles saíram por completo e a porta fechou num baque, me fazendo dar um pulinho. Dhana voltou o olhar para mim, satisfeita. – É isso o que você vai poder fazer depois de muito treino. – deixei meu queixo cair.

     - Foi você quem fez isso ? – ela assentiu com a cabeça.

     - Aham. Gostou ? – assenti, animada. – Pena que isso é só pra depois do terceiro ano... Mas enfim. Vamos começar ?
           - Va-vamos. – engoli em seco. Dhana abriu um sorriso de todos os dentes, como se sentisse o que eu sentia. Talvez até sentisse mesmo.

     - Não precisa ter medo. Vai doer, mas passa. Nada se compara ao que você já passou... – Estremeci.

     - Você deve ter razão...

     - Eu sempre tenho. – ela mandou um beijinho sarcástico, e eu ri, o nervosismo me vencendo. – Agora senta aí e relaxa. – Ela apontou para uma espécie de divã que tinha aparecido do nada. Pelo visto, ela também podia materializar as coisas. Sentei lentamente, como se estivesse na defensiva. Dhana foi acompanhando meus passos, sentando na pontinha do divã, de pernas cruzadas. – Se lembra quando o Mason te hipnotizou ? Você teve que relaxar, pensar em alguma coisa boa ? Faça o mesmo. – assenti e comecei a lembrar do que eu pensava.

    A imagem de Leon me abraçando e acariciando meus cabelos no lugar mais tranqüilo de todas as dimensões voltou a minha mente. Senti meus músculos relaxarem, todos de uma vez e senti Dhana se aproximando. Ela me tocou com seus dedos gelados e fez uma leve pressão nas minhas têmporas. Estremeci. Mentalizei mais forte minha cena imaginária. Mas logo se dissipou. Uma dor de cabeça horrível tomou conta de mim. Talvez essa fosse a dor que Dhana falou. Me segurei para não gritar nem abrir o olho. Tentei, por mais difícil que fosse, voltar a mentalizar a cena. Mas tudo se transformava em sombras, em gárgulas, seres sobrenaturais. Tudo preto com uma noite sem luar.

     Abri meu olho, sufocada com as visões aterrorizantes. Dhana me olhou, com os olhos arregalados.

     - Você pode não abrir os olhos, por favor ? A não ser que queira que doa mais. Porque dói.

     - Não, eu fecho. – Incrivelmente, a dor de cabeça passou instantaneamente. Inspirei profundamente, fechei os olhos e assenti, para que Dhana voltasse a me torturar. Os dedos gelados dela voltaram a pressionar minhas têmporas e as imagens de sombras voltaram a rodear minha mente, acompanhadas pela adorável dor de cabeça. Fechei minhas mãos no estofado do divã. Engoli o grito que teimava em sair da minha garganta.

     - Pode abrir os olhos. – Fiz o que Dhana me mandou, alguns minutos de dor depois. Meu rosto já estava encharcado de lágrimas e minha mão doía de apertar o estofado. Minha visão estava levemente embaçada e a dor ia se dissipando aos poucos.

     - E aí, o que você fez ? – falava num sussurro.

     - Bom, por enquanto, eu só liberei o fluxo, se é que eu posso dizer assim. É possível que você ouça pensamentos um pouco mais claramente, só isso por enquanto.

     - Quer dizer que vão ter mais dessas sessões ? – ela assentiu, levantando.

     - Mas cada vez doem menos. – respirei aliviada.

     - Isso é bom, né ? – Dhana deu de ombros.

     - Seria bom se desse pra chegar na primeira semana com a telepatia pronta. Pelo menos você não... – ela parou bruscamente, como se quisesse realmente me irritar.

     - Eu não ?

     - Nada, esquece. Já pode ir, se quiser. – Eu comecei a me levantar, lentamente. – Se quiser ficar, pode me ouvir falar sobre...

     - Não, obrigada. – O sono bateu forte com mim. Queria chegar em casa e cair na cama quentinha, talvez até com Leon do meu lado. Abri a porta e hesitei um momento. Uma pergunta veio à minha cabeça. - Dhana, é possível ouvir pensamentos de bebês ? - ela pareceu assustada e interessada na pergunta.

     - Na verdade, eles ainda não pensam direito. Eles tem sentimentos e associam à outras coisas.

     - Tipo felicidade à cores alegres ? - ela assentiu com a cabeça.

    - Por que ? Você leu ?

    - Acho que sim. - Olhei rapidamente pra Dhana, sai do quarto e fechei a porta atrás de mim com um baque surdo. Leon estava encostado numa parede e Mason, na outra bem na sua frente. Eles se viraram para porta, e Leon se desmanchou num sorriso ao me ver.

     - Já ia arrombar aquela porta. Faz idéia do tempo que estamos esperando aqui ? – balancei a cabeça. Achei que tinha ficado uns dez minutos lá dentro, mas a pergunta de Leon me confundiu.

     - Não, não sei. Quanto tempo ? – ele arqueou a sobrancelha.

     - Apenas três horas. – arregalei meus olhos.

     - Três horas ? Pra mim não passaram nem 10 minutos. – me engasguei com a própria saliva. Leon sorriu e passou o braço em volta de mim.

     - Deve ser normal. – fomos em direção à saída do castelo, se é que poderia ser chamado assim. Entrelacei meus dedos no cabelo do Leon e sorri para ele. Leon encostou o nariz no meu e pressionou levemente seus lábios contra os meus.  – Queria poder dizer alguma coisa pra deixar Claire tranqüila. – dei um passo para trás, assustada. Com certeza, ele não tinha falado aquilo. Engoli em seco, começando a tremer.

     - E-eu ouvi seus pensamentos. – Leon arregalou levemente os olhos.

     - Parece que tá fazendo efeito. O que ouviu ?

     - Alguma coisa do tipo “Queria dizer alguma coisa pra deixar a Claire tranqüila”. – arfava.

     - Fascinante. – os olhos de Mason brilhavam para mim, me fez enrubescer.

     - Não precisa ficar coradinha não. – Leon passou os dedos nas minhas maçãs do rosto vermelhas. Corei mais. – Mason é doido assim mesmo com todo mundo. Ainda mais quando é com a Jane. – foi a vez de Mason corar.

     - Como é que é ? Conta tudo, conta tudo. – gargalhei. – Mason, vocês formam um casal fofo.

     - Ah, fala sério.

     - Não se deixe enganar por esse sorriso aqui, mon ami. Estou falando muito sério. – gargalhei mais alto. Leon me acompanhava, com uma risada deliciosa.

     - Cara, eu não mereço vocês.

     - Merece, claro que merece. E muito mais. – minha atenção na conversa me fez bater de frente com uma garota. Demos cada uma um passo pra trás, sendo que as coisas dela caíram no chão. Guardou as coisas de volta com ajuda do garoto que estava acompanhando-a e ela me olhou pela primeira vez. Reconheci-a de imediato.

     - Você... – tossi de leve. A menina de cabelos escuros arqueou a sobrancelha pra mim, como se eu fosse algum tipo de louca. Os olhos castanhos mostravam o medo que ela sentia. Estava confusa com essa nova história de sobrenatural, que nem eu. Senti afeto e pena dela.

     - Carter. – ela passou um pedaço dos cabelos castanhos para atrás da orelha. – Você me conhece ? – abri minha boca para começar a falar e depois parei. Devia ser difícil para ela lembrar da morte, assim como era para mim.

     - Hã... Eu vi seu... ritual. – ela se encolheu toda, constrangida. – Desculpa falar sobre iss...

     - Tudo bem, não se preocupa. Eu tenho mesmo que superar, hã...

     - Claire.

     - Isso, Claire. – Carter olhou para o castelo atrás de mim, apertando os dedos entrelaçados.

    - Peraí, você é o Mason ? Mason, cara, lembra de mim ? – o acompanhante de cabelos pretos de Carter sorriu para Mason, que estava atrás de mim e de Leon. Encarei seus olhos vermelhos e estremeci. – Luca, amigo do James, lembra de mim ?

      - Lembro, claro que lembro – eles se abraçaram, rindo de experiências passadas. Dei de ombros. – Como é que tá ?

     - Tá tudo bem.

     - Hã, Luca, esse é o Leon e a Claire é a...- Mason deixou a cabeça tombar de lado, sem saber como me denominar.

     - Namorada do Leon – Leon sorriu para Luca, que retribuiu. Estremeci. Ela tinha me chamado de namorada, como assim ? Me pegou de surpresa, com certeza. Tive que balançar a cabeça para voltar a prestar atenção na conversa.

     - Ah, é. Faz muito tempo mesmo. – Mason e Luca riam. Dei de ombros, já que não entendia nada. E, pelo olhar, sabia que não era a única. Leon apertava os braços em volta da minha cintura e Carter me encarava, numa mistura de confusão e admiração. Encarei-a também, tentando ler seus pensamentos.

     “Caraca, que garota estranha essa daí, viu ? E o que será que ela quis dizer com viu meu ritual ? Será que ela também estava envolvida com aquilo tudo ? Não, não acho.”

     Dei uma gargalhada alta dos pensamentos de Carter. Todos pararam de prestar atenção em qualquer outra coisa que estivessem prestando e me encararam, sem saber como reagir. Principalmente Mason e Leon, que estavam na defensiva. Considerando que eu tinha passado 3 horas enfurnada numa sala com uma transmutante fazendo sabe-se lá o que, eu até entendia. Dei de ombros para todos. Mason deixou de lado e virou-se para Luca.

     - Bom revê-lo. Mas agora temos que ir.

     - A gente também. – Luca passou o braço por volta de Carter e puxou-a levemente para perto, carinhosamente, enquanto ela olhava, aterrorizada, pro castelo atrás de nós. Mason cumprimentou Luca, que sorriu para mim e Leon. Retribui o sorriso.

    Prosseguimos nosso curso na velocidade do vento. As borboletas ainda estavam no caminho, inclusive uma idêntica aquela amarela e preta enorme. Mas nenhuma delas me atraíram a atenção. Todos os meus pensamentos estavam no mesmo lugar de sempre, Leon, meu namorado.  


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Notas finais do capítulo

Comenta aí, flores.



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