A Pedra da Noite escrita por luizaac


Capítulo 2
O livro velho


Notas iniciais do capítulo

Demorei um pouco por causa dessa confusão no rio, mas ainda tá na data qe eu disse *-* Não ficou tão bom, mas espero qe gostem (=



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    Eu tinha caído muito mal. Mas, ainda bem, eu só estava ralada e arranhada. Acho que minha mochila amorteceu minha queda.

    Eu olhei para cima. O buraco era bem grande, muito difícil de não ser visto. A não ser por alguém extremamente distraída, ou seja, eu. Tentei achar um lugar para eu me apoiar. Não encontrei nada. Respirei fundo para tentar me acalmar. Meu pai sempre dizia que a calma nos faz tomar decisões sábias. Mas acho que dessa vez não ia dar muito certo. Meus machucados estavam começando a arder. Eu me preparei para gritar, chamar alguém que tivesse passando na rua. Eu puxei o ar e...

    - Ei, você ta acordada aí em baixo ? – uma voz masculina, de jovem, vinha de cima. Eu olhei para cima, tentando ver quem era, mas o sol não me permitia.

    - Hã, to – eu falei, e tentei aumentar mais a voz – To sim. Me ajuda, por favor !

    - Como você está ? – a voz me parecia familiar.

    - To ralada. Só isso. Mas, ai !

    - O que foi ? – eu senti uma preocupação na voz dele. Eu sorri.

    - Nada, ta... ardendo. – eu respirei fundo – Hã, você pode me ajudar ?

    - Ah, claro – eu senti certo embaraço na voz dele – Er...

    - Pega minha mochila – eu joguei. Vi as mãos dele pegarem, com muita agilidade, a mochila no ar.

    - Você consegue ver minha mão ? – eu procurei a mão dele. Fechei um pouco os olhos por causa do sol.

    - To, to sim – tentei pegá-la. – Mas não consigo alcançar !

    - Então... vê se você consegue se apoiar em alguma coisa ! – eu procurei rapidamente um lugar mais alto para me apoiar. Tinham um pouco de terra aqui e ali. Juntei em um bolo maior. Com sorte, ele conseguiria me alcançar.

    - Pronto, tenta de novo ! – eu vi a mão dele. Estiquei-me um pouco para segurá-la. Ele apertou um pouco minha mão, fazendo arder um pouco o machucado – Pode puxar ! – ele segurou um pouco mais forte, ardendo mais ainda. Eu quase gritei. Mas me segurei. Um grito não ia ser bom para o meu resgate.

    Foi uma questão de segundos para eu chegar em cima de novo. Uma hora eu estava me segurando de dor, no escuro daquele imenso buraco. Na outra, eu estava de frente para o meu salvador, com minha mochila jogada de lado, com o sol fazendo meus machucados me matarem de ardência. Eu abri meus olhos, fechados por causa da dor, e olhei pela primeira vez o garoto que tinha me salvado. E quase caí pra trás de susto.

    - Le-le – eu gaguejei. Respirei fundo, e continuei a falar – Leon ? – eu estava perplexa. Como ? Eu nem tinha visto ele ! E por que ele estava lá, aquela hora ?

    - Hã, é, oi. – ele me pareceu meio envergonhado. Pôs uma das mãos no cabelo escuro e ficou olhando para o chão. – Vamos, vou te levar pro hospital, hã, qual seu nome mesmo ?

    - Claire – eu corei de leve – Claire De Bellefort. E eu não preciso ir pro hospital. Eu só me ralei um pouquinho, não precisa se preocupar.

    - Um pouquinho ? Você ta toda ralada ! Eu nem sei como você não se machucou mais ! Aquele buraco era muito grande, sabia ? Vem, vamos, vou te levar pro...

    - Não precisa ! Um pouco de água e alguns curativos... – ele me interrompeu, me pegando no colo. Eu dei um grito. – Me solta, ai, ta ardendo ! Leon, eu já disse que não precisa !

    - Mas eu vou te levar.

    - Não – eu tentei ser firme – Me solta, Leon ! – eu dei um tapa de leve nele.

    - Ai – ele me botou no chão. Eu me ajeitei rapidamente. – Isso machucou. – ele me olhou, fazendo uma cara de cachorrinho pidão.

    - Ah, fala sério, deixa de show – eu revirei os olhos.

    - Tudo bem, eu não vou te levar no hospital – eu sorri, vitoriosa. – Mas... Eu vou te levar para casa. Sem reclamações.

    - Então ta bem. – vi que não podia discutir com ele. Peguei minha mochila, toda suja, mas ele pegou da minha mão, com um sorriso. Eu não podia acreditar no que estava acontecendo. Leon Thompson, o garoto popular lindo quase novo do colégio, tinha me ajudado e estava me levando para casa. Tinha alguma coisa errada. Não, como ele estava ali, bem na hora que eu caí no buraco ?

    - Ei, Claire.

    - Oi ? – eu olhei para os olhos castanhos claro dele.

    - Como você sabe o meu nome ? – ele me olhou, com um sorriso lindo.

   - Hã, bem – ele tinha me pegado. Eu falava a verdade para ele. Ele ia rir de mim para sempre. Pensando bem, não era tão ruim assim, e...

    - Claire ?

    - Ah, desculpa – eu corei – Quem não sabe o seu nome, não é mesmo ? Você é novo no colégio, bonito, natural que você seja popular e que todos conhecem seu nome. – eu olhei para ele, torcendo para que tivesse colado.

    - Ah. Você também me acha bonito ? – ele sorriu, brincalhão. Eu revirei os olhos.

    - Leon, por que você estava passando por aqui a essa hora ? Você não mora para esse lado, acho. E você não podia estar saindo da escola agora, a aula já acabou faz umas duas horas.

    - Hã – ele pareceu envergonhado de novo. – Eu estava na biblioteca procurando um livro.

    - Ah – ficou um silêncio tenso. Não que eu não gostasse de silêncio, mas não estava muito agradável. Tinha que acabar com isso. – Achou ?

    - Que ? Ah, não. – ele me olhou, surpreso. – Por que ?

    - Nada, só que o silêncio não estava agradável. – ele me olhou, em uma mistura de surpresa e divertimento. E começou a rir. – Por que você ta rindo ? – eu comecei a me irritar. Ele riu um pouco mais e parou, quase repentinamente.

    - Nada. Você é engraçada.

    - Obrigada, acho. Ah, é aqui. – tínhamos chegado em minha casa. Eu bati na porta e olhei para Leon, esperando que ele fosse embora – Obrigada por me trazer aqui.

    - É o mínimo. – Keila abriu a porta. Ele sorriu para ela e Keila olhou-lhe, um pouco assustada. – Hã, ela caiu num buraco. Eu queria levá-la pro hospital, mas ela não quis – Ele olhou para mim, revirando os olhos, e voltou a olhar para minha madrasta – Hã, desculpa qualquer coisa.

    - Não precisa se desculpar não – Keila sorriu, pela primeira vez – Sei como Claire é desastrada. – eu revirei os olhos. Legal, até Keila me incentiva.

    - Ah, hã. Obrigada Leon – eu dei um abraço nele.

    - Até amanhã. – ele retribuiu o abraço – Tchau – Leon saiu andando, com as mãos no bolso. Eu o acompanhei até sair de vista e entrei em casa.

    - Muito bonito esse seu amigo, Claire – Keila sorria de um jeito estranho – E simpático. Qual o nome dele mesmo ?

    - Leon – eu peguei a garrafa de água e botei no copo – Leon Thompson. Mas ele é só meu amigo.

    - Leon Thompson ? Seu amigo ? – Ellie estava na porta da cozinha, me olhando sarcasticamente – Impossível ! Gente popular simplesmente não é amiga da Claire. – eu revirei os olhos.

    - Você só fala isso porque ele te ignora. E eu não te devo satisfações. – peguei o material para os curativos – Tenho que fazer meus curativos. Licença, Keila.

    Subi, levando minha mochila, toda atrapalhada e ardendo. Lavei e botei curativos em todos os machucados visíveis, que não eram poucos.

    Sentei na minha cama, com a mochila na minha frente. Eu me lembrei do livro. Será que aquele livro velho do meu sonho significava alguma coisa de importante ? Peguei o livro dentro da mochila e respirei fundo.

    O livro tinha uma aparência velha. Não pouco velha, muito velha. Estava cheio de poeira, em um sinal claro que fazia tempo que não mexiam com ele. Ele estava escrito em uma língua que eu não consegui entender. Alemão, turco, eu não soube.

    Analisei um pouco mais. Resolvi abri-lo. Subiu um monte de poeira, que me fez tossir.

    - Claire – meu pai abriu a porta sem bater, me dando um susto e me fazendo fechar o livro – ta tudo bem ? Keila me disse o que aconteceu.

    - Ta tudo bem sim, pai. Você sabe muito bem como eu sou desastrada.

    - Sei, sei sim – ele estava me analisando – Quer comer alguma coisa ?

    - Não, obrigada – eu tentei esconder o livro com uma almofada. Não sei por quê.

    - Então ta, qualquer coisa chama.

    - Ta bom, pai – ele fechou a porta. Eu respirei aliviada. Eu não entendia o meu estado. Por que eu estava tão nervosa com esse livro ? A curiosidade me matava.

    Abri o livro e tentei ler a primeira página. Não consegui. Estava em uma língua que eu não entendia e tinha uns desenhos indecifráveis. Comecei a folheá-lo, esperando entender alguma coisa. Nada.

    Eu já estava na metade do livro quando uma espécie de buraco me chamou atenção. Passei rapidamente as páginas até chegar a origem do buraco. Eu fiquei boquiaberta com o que eu vi.

    - O que é isso ? – eu sussurrava de espanto. O livro estava simetricamente cortado. Um corte profundo o suficiente para esconder alguma coisa.

    Uma pedra. Uma pedra ovalada e transparente. Era isso que estava escondido dentro do livro velho. Ela estava apertada no buraco retangular e isso explicava o porquê de eu não ter ouvido-a batendo de um lado para o outro.

    Boquiaberta, peguei a pedra com todo o cuidado. Não sei se eu estava louca, mas ela brilhou. Uma luz roxa passou pela pedra e eu quase a deixei cair. Botei de volta no seu “esconderijo” dentro do livro, respirei fundo e peguei de volta, analisando cada detalhe da pedra com calma.

    Por que aquela pedra, aparentemente comum, estava escondida num livro que ninguém mexia numa biblioteca de colégio ? Qual segredo, qual o mistério que envolvia aquela pedrinha ? Quem teria escondido ?

    - Claire, vem comer alguma coisa ! – Keila me gritava do andar de baixo. Eu quase dei um pulo de susto e deixei a pedra cair.

    - J-já vou – gritei de volta. Guardei a pedra no esconderijo, peguei o livro e botei numa gaveta com chave do meu armário. Resolvi trancar a gaveta. Não sei porque.

    Cheguei perto da janela para tomar um pouco de ar. Olhei as pessoas se movimentando do lado de fora. Já estava anoitecendo – um anoitecer lindo, diga-se de passagem. Tinham algumas crianças andando de bicicleta, com seus pais observando e conversando entre si – minha cidade era extremamente calma e quase livre de violência -, a lanchonete em frente tinha alguns clientes, um garoto de olhos azuis penetrantes olhava para a minha janela, me fazendo corar de leve... Tudo na mais perfeita paz. Esse clima de paz me deixou calma.

    Desci e uma bela mesa de lanche me esperava. Pão, queijos, geléias, sucos... Tudo do bom e do melhor. Isso me fez sorrir. Eu estava com muita fome, apesar de todos os acontecimentos terem desviado minha atenção dela.

    Com cuidado, sentei à mesa e comecei a preparar meu pão para comer.

    - Eu queria entender – disse Ellie, entre uma golada de suco e outra. Lá vem ! – porque alguém tão bonito como Leon Thompson é amigo de alguém como a Claire. – eu revirei os olhos, acompanhado de Keila – Ou será que não era ele, e a Claire está mentindo ?

    - Olha, o garoto era bem bonito...

    - Ih, Keila, não precisa se explicar não. – eu botei meu cabelo pra trás – Não lhe devo satisfações. Acredite no que quiser, querida Ellie. Com licença – eu peguei meu lanche e fui para o quarto.

    - Claire ? – meu pai bateu na minha porta entreaberta.

    - Pode entrar paizinho.

    - Filha, não fica brava com que a Ellie diz. Ela é muito imatura.

    - Não, pode deixar. Eu não ligo para o que ela fala – revirei os olhos. Ele sorriu.

    - Essa é minha menina. – ele me deu um beijo no alto de minha cabeça. – Tenho muito orgulho de você.

    - Obrigada, pai. – eu sorri – Você me criou assim.

    - Te amo – ele sorriu.

    - Eu também pai – dei um abraço nele.

    - Vou deixar você lanchar em paz – ele saiu do quarto e eu fiquei com um sorriso no rosto. É por isso que eu o amo.

    Comi tudo em silêncio, pensando nessa maldita pedra. Não sei por quê. Ela deve significar alguma coisa, eu sonhei com o livro que a abrigava. Ou não. Pode ser só mais uma bobagem da minha imaginação fértil.

    Depois do lanche, arrumei meu quarto e rapidamente cai no sono. Estava muito cansada e meus machucados estavam ardendo.

     Eu dormi profundamente, mas a noite foi bem agitada.


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Notas finais do capítulo

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