A Pedra da Noite escrita por luizaac


Capítulo 15
A cena final.


Notas iniciais do capítulo

ooooooi, minhas lindas *-*
o nyah ficou um tempo em manutenção - e ainda tá um pouco -, e teve o carnaval e o caramba, entonces, não tentem me matar, estou postando agora. Eu não sei se vocês ainda lêem isso aqui, masok. Bom, eu simplesmente amei escrever esse capítulo, me extravazou realmente, viu ? Muito bom. Então, espero que gostem.



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    Recuperei minha consciência com minha cabeça quase explodindo de tanta dor. Forcei para tentar abrir o olho e olhar ao redor. Estava em uma sala úmida e escura, apenas com uma luz baixa. Estava bem suja. Espirrei por causa de uma poeira que entrou no meu nariz. Tentei me levantar, mas meus braços e pernas estavam bem amarrados, apertando meu gesso e meus arranhões. Por um momento, a dor das cordas me segurando foi maior que minha dor de cabeça. Mas logo a dor insuportável voltou. Gritei de dor, o que só fez piorá-la. Santa inteligência.

    Não demorou dois minutos desde que eu tinha gritado, e a porta abriu, escancarada. Dela, dois homens altos e fortes entraram, forçando uma pose de machão. Me segurei pra não rir, afinal, não sou tão idiota assim.

    - Ela acordou. – o mais alto e mais forte disse o óbvio, com sua voz de taquara. Olhei para o teto e depois para eles de volta. Um vulto se aproximou da porta escancarada, me fazendo encolher toda. A forma feminina encapuzada virou para os dois, que saíram parecendo dois cachorrinhos obedientes. Revirei os olhos. Quem quer que fosse essa pessoa – se é que era realmente uma pessoa – era alguém que tinha certo poder. Poder de controlar dois homens quase duas vezes maior do que ela. E esse alguém me sequestrara. Uma idéia veio na minha mente.

    - Ora, ora, se é que não é a pequena Claire. – a voz familiar apenas concretizou o que eu já esperava. Uma raiva súbita eliminou qualquer vestígio de dor que permanecia no meu corpo. – Não acredito que o Leon te deixou tão desprotegida assim. Sua amada – ela disse as últimas palavras com uma voz debochada. Vi seus olhos brilharem.

    - Lizzie... – me surpreendi com o tom agudo da minha voz. Calei minha boca, assustada. Lizzie abaixou o capuz, acabando com o “suspense”.

    - Você é bem rápida, Claire. Poderiamos ter sido ótimas amigas, se você não tivesse tomado a decisão errada... – eu ia retrucar, mas a minha voz tinha me assustado e eu não queria ouvi-la de novo. – Mas, adivinha o que vamos fazer hoje ? – ela deixou uma pequena pausa para que eu pudesse responder. Fechei mais minha cara. – Ah, poxa. Saiba brincar, Clairezinha. – Lizzie me encarou em silêncio mais uma vez. Deu de ombros. – Já que você não quer brincar, eu digo. Vamos cumprir nossas pendências. – um brilho maligno passou pelo seu olhar e eu me arrepiei.

    - Vai fazer o que ? Quebrar meu outro braço ? – revirei os olhos, com a certeza de que essa ignorância só ia me prejudicar ainda mais. – Lizzie, você é completamente louca. Não dá pra perceber que esses machucados em mim não vão mudar em na...

    - Cala a boca ! – o grito fez a sala toda mexer. Fiquei boquiaberta. – Cada palavra que você falar pode piorar sua situação, minha querida. E, olha, já não está boa. – dei de ombros.

    - Já sei que você vai me matar, Lizzie. Ok, tudo o que eu tinha que fazer, eu já fiz. Vá em frente, me mate. Só não vá se arrepender depois. – respirei fundo, tentando parecer ter autocontrole o suficiente para a situação. Mas, na verdade, tudo o que eu queria era sair dali, não queria morrer.

    - Não sabia que você era tão, hã, corajosa. E tonta. Você acha que eu vou te matar assim, tão facilmente ? Mas é claro que não. Você tem que sofrer.

    - Você sabe que vai morrer depois, né ? Que Leon vai nos encontrar e te matar sem a menor piedade, não é ? – tentei ser o mais firme possível, forçando a lágrima presa no canto do olho a ficar quieta.

    - Posso saber como ? Ninguém viu você, ninguém sequer notou sua falta ainda.

    - Mas vão. E vão me procurar.

    - A essa hora, já vou estar na Austrália. – ela deu de ombros. Lizzie estava com toda a razão. Ninguém ia nos achar e, quando o fizessem, eu já estaria morta e Lizzie já estaria do outro lado do mundo. Eu seria apenas mais um desses casos sem resoluções, todos iam ficar de luto pela minha morte e depois me esqueceriam com o passar dos anos. Minha garganta queimou com essa resolução de vida, ou melhor, de morte. Lizzie virou e saiu, fechando a porta. Me vi sozinha de novo, naquela sala nojenta, apenas eu e meu gesso.

    Fiquei descascando o gesso com a unha. Não entendia porque Lizzie não começava os trabalhos logo. Afinal, quanto mais tempo ela esperasse, mais tempo o Leon teria para me achar. Encolhi os ombros. Minha pequena esperança era sempre derrotada pela minha razão. Era fato, eu já estava morta. A única coisa que eu podia fazer era torcer pra que ela me matasse o mais rapidamente possível. Deitei da maneira que pude no chão gelado, lembrando de todos os poucos que eu amava nessa minha vida. Adormeci num sono leve, um sono calmo como o de uma criança imaginando um mundo fantástico. Minha última pontinha de felicidade, a última de todas. Não ia desperdiçar.

    Senti um arranhão pela minha perna, acordando e dando um tapa, por causa do reflexo. Minha perna estava úmida. Olhei rápido e vi que ela estava sangrando. Respirei fundo e levantei para tentar dar um jeito rápido. Onde eu teria machucado ? Olhei em volta e vi a origem do sangue. A faca levemente suja de sangue brilhava por causa da pouca luz que tinha no lugar. Lizzie segurava-a como uma criança segurava seu brinquedo favorito. Levantei com dificuldade, em vão. Lizzie me empurrou e me jogou no canto, me fazendo, mais uma vez, bater as costas no canto da parede. Gritei alto.

    - Você é fraca – ela fez como se tivesse lixando a unha com a faca ensangüentada. Gritei um pouco mais alto, estupidamente. Ela sorriu e chegou perto de mim, com a faca no meu pescoço, pronta para me decapitar. Engoli em seco. – Muito fraca – ela raspou a faca no meu pescoço, ardendo muito. Cuspi na cara dela. Lizzie usou a faca para limpar, revirando os olhos. – Você é ridícula, Claire, ridícula – ela me pegou pelo pescoço e me jogou para a outra parede. Outro grito desesperado. Ela veio correndo com a faca com todo impulso e parou do meu lado. – Está doendo ? – ela sussurrou no meu ouvido.

    - Sim... – disse, com o pouco resto de voz que eu ainda tinha. Ela sorriu e colocou a ponta da faca no buraco da minha orelha.

    - Isso vai doer um pouquinho. – ela soltou uma risada maligna. Eu me encolhi no pouco espaço que eu tinha. Puxou a faca, dividindo em duas a minha orelha. Urrei de dor. Ela me olhou e me encarou um pouco. Depois, botou a faca na outra orelha, a esquerda, e puxou. Gritei muito mais alto. Lizzie levantou, satisfeita, e ficou me encarando enquanto eu me contorcia de um lado para o outro. Ela sentou no chão e continuou a me olhar, como se fosse um programa de comédia me ver sofrer ali, urrando de dor.

     - Que tipo de bicho você é ? – perguntei, com certa dificuldade. Minha orelha pingava sangue.

     - O tipo mulher de coração partido. E esse, com certeza, é o pior deles. – ela sorriu, mostrando todos os dentes. Fechei a minha cara. Lizzie voltou para perto de mim, ainda sorrindo. Pegou a faca e começou a arranhar minha perna. – Vamos desenhar ? Contar uma historinha. – eu a encarei, perplexa. Se dependesse de mim, já teria saído correndo dali, mas minhas costas doíam muito. – Essa sou eu. – Ela desenhou uma forma de boneca, e depois um bonequinho. – Este é Leon. Eu sempre amei o Leon. – ela desenhou um coração. Eu tremia. – Eles estavam felizes, até que chegou você para atrapalhar. – ela desenhou a minha representação. – Aí eu fiquei infeliz. – ela desenhou uma cara infeliz na sua boneca e me encarou. – Sabe o que aconteceu depois ? – eu fiz que não. Ela jogou a cabeça pra trás e riu, maquiavélica. Pegou a faca firmemente e esfaqueou minha perna, bem no lugar onde estava minha boneca. Gritei. Ela continuava a colocar e tirar a faca da minha representação no desenho de sangue. E cada vez eu gritava mais alto. Ela começou a gargalhar. – Ela morreu. – Lizzie fez um biquinho debochado e depois olhou para o meu rosto completamente suado. – E é isso que vai acontecer. Coincidência, não ? Eu acho que não, hein ? Seu pior erro foi ter conhecido ele, Claire. – ela fez um circulo em volta do Leon. – Seu pior e único erro. – uma lágrima rolou pelo seu rosto.

    - Desculpa – minha voz quase não saía. Ela me encarou e, por um milésimo de segundo, achei que ela tinha meio que me perdoado. Mas minha crença não durou nada além disso. Ela levantou e balançou a cabeça levemente.

    - Não há tempo para sentir pena. Nem há tempo para desculpas. – Ela gritou a palavra desculpas. Me encolhi mais ainda. Lizzie me pegou pela blusa. – Chega disso, Claire. Nada vai mudar. Nada !

    - Eu já sabia. – ela me sacudiu e me jogou no chão. Minha coluna fez um barulho estranho e lágrimas rolaram pelo meu rosto como nunca. Nunca pensei que existisse dor tamanha.

    - Claire, você não sabe como eu me sinto, como dói ! É a pior dor do mundo, a pior. – Lizzie abaixou e começou a chorar. Me arrastei para perto dela e fiz um leve carinho, como forma de compaixão. Ela me encarou, com raiva. – Tira sua mão de mim ! – gritou, afastando meu gesso sem a menor piedade. – Até parece que você se importa comigo. Até parece ! – ela levantou e começou a andar de um lado para o outro. Com absoluta certeza, aquela que eu via não era a verdadeira Lizzie. Era uma Lizzie que nem a própria conhecia. Era totalmente burro da minha parte, mas eu sentia muita pena dela.

    Lizzie ficou andando por um tempo, balbuciando palavras sem o menor sentido, pelo menos para mim. Creio que estava falando francês ou algo do gênero. Desviei o olhar dela e fiquei olhando para a parede, tentando dar um jeito no sangue que ainda saia, mesmo com as cordas me prendendo.

    - Tudo culpa dela. Dela ! – me virei de volta para Lizzie quando ela gritou palavras que eu entendia. Ela me encarou, sorrindo, talvez feliz com o resultado parcial. Uma Claire presa, com gesso, sangrando, totalmente suada e suja. E sofrendo. Mas isso não bastava para ela. Não, isso só ia terminar quando eu nunca mais pudesse perturbá-la.

    Lizzie veio em minha direção e subiu em cima de mim. Encarei-a, com medo do que iria fazer. Ela pegou a faca com um só movimento e levantou um pouco da minha blusa.

    - Será que doeria um corte bem aqui ? – ela passou o dedo pela minha barriga. Segurei a respiração. – Acho que sim, né ? Você ficou branca – Lizzie começou a rir desesperadamente. Estava fora de si, com certeza. Pegou a faca, passou o dedo pela lâmina e encostou na minha barriga. Rapidamente, ela cortou minha barriga, fazendo um corte bem profundo. Gritei muito e fiquei me contorcendo. Ela saiu de cima de mim, ficou me encarando e desatou a rir. Rir com vontade, como se tivesse vendo a coisa mais engraçada do mundo ali mesmo. Eu mal conseguia respirar.

    - Isso não é amor, é obsessão. – Agora eu tinha usado minha última voz. Ela me encarou, furiosa.

    - Você não sabe de nada ! – disse, entre dentes, jogando a faca bem na minha mão. Gritei e tentei tirar ela de lá, mas a faca estava presa no chão também e eu mal tinha forças agora. Lizzie olhou para a faca e começou a rir. Rir mais ainda. Ela caiu no chão, rindo feito uma abestada. Eu a encarei, bastante fraca.

    - Você é louca – disse, num sussurro.

    - Completamente louca pelo Leon. – ela continuou rindo, mas tirou a faca da minha mão. Gritei muito alto. Lizzie olhou a faca e sorriu. – Que lindo. – De repente, ela começou a pular pela sala, como uma criança que acabara de ir ao melhor parque de diversões do mundo.

    Sentia-me cada vez mais fraca. As coisas começaram a ficar embaçadas. Era realmente o fim. Mentalizei meus momentos bons com cada um que eu amava. Meu pai brincando comigo. Eu, Jane e Ronnie rindo igual a dois loucos. Keila me dando um abraço apertado. Eu e Leon na casa dele. Até o rosto do meu novo irmãozinho, que eu não conheceria, eu imaginei. Comecei a chorar. Chorar baixinho, eu estava quase morta.

    Um barulho estrondoso chamou não só a minha, mas a atenção de Lizzie. Parecia que uma porta tinha sido arrombada.

    - Não, não, não. Não acredito ! Como ? – Lizzie parecia desesperada. Melhor, estava desesperada. Ela me olhou, como se tivesse pensando o que fazer. E eu me toquei o que estava acontecendo. Ele estava aqui, com certeza estava. Sorri com muito esforço, eu poderia vê-lo pelo menos mais uma vez antes de ir. Lizzie veio correndo até mim, um pouco pesarosa. – Eu queria muito brincar mais um pouquinho com você, mas, infelizmente, não dá.

    A porta se abriu num susto. Lizzie me olhou, com a faca na mão, e fez seu gesto final. De repente, a dor sumiu e tudo escureceu. Para sempre.


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Notas finais do capítulo

Comentem pra eu poder saber se vocês ainda estão aí, pois é.